As paixões são assim, assolapadas. Estava a planear a minha viagem à Andaluzia e a tentar escolher onde ficar em Granada quando vi as primeiras fotos de Albaicín. Soube logo que era amor.
O bairro Albaicín é um deleite visual. As paredes são maioritariamente caiadas de branco, com cerâmicas (pratos e vasos) coloridas nelas penduradas, a fazer lembrar a decoração dos pátios tradicionais de Córdoba.
Há portas de origem árabe. Janelas profusamente trabalhadas. Há cor e vida e alma nas ruas estreitas e empedradas que criam um labirinto onde só dá vontade de se deixar perder. É mesmo um bairro, na verdadeira aceção da palavra.
As ruelas formam uma rede que vai desde a zona mais alta de Albaicín, em San Nicolás, até ao Rio Darro, lá em baixo, onde Albaicín termina. Uma área que integra a lista de Património Mundial da UNESCO em Espanha, visualmente bem distinta do centro de Granada.
Usando as palavras de Samar, simpaticíssima anfitriã de origem marroquina a viver em Granada, é ir descendo que “Albaicín acaba quando acabarem as pedras” nas ruas. E era assim mesmo, a maioria das ruas do bairro era de empedrado, o que lhe conferia um ar ainda mais charmoso e característico.
E assim, entre uma visita a Alhambra e um jantar memorável no centro de Granada, era no bairro Albaicín que me sentia bem. Não apenas pelos palácios e mesquitas, por praças como a Plaza Larga, pelos miradouros de Los Carvajales, San Cristobal ou San Nicolás, pelas mercearias de bairro, pelos cafés e esplanadas, pelas vistas sobre Alhambra; mas, fundamentalmente, pelo ambiente, pelo ar que se respira, por tudo aquilo que se sente mas dificilmente se explica.
É daqueles lugares onde as pessoas me cumprimentam quando nos cruzamos nas ruas (e quanto eu adoro estas coisas simples da vida em comunidade!). Sentia-me em casa. E ter ficado hospedado no bairro contribuiu ainda mais para essa sensação de familiaridade.
Era como se estivesse numa versão granadina de uma Alfama ou Mouraria bem cuidadas, com turistas quanto baste em alguns períodos do dia e locais específicos – como o final da tarde no Miradouro San Nicolás -, mas tranquila no resto do tempo e lugares.
E assim, dizia, foi em Albaicín que passei a maior parte do meu tempo em Granada. Quase sempre na rua, com uma incursão ao vizinho bairro Sacromonte e esporádicas idas “lá a baixo“, ao centro da cidade.
Ainda assim, não deu para conhecer tudo. Ficaram por visitar as teterias (casas de chá) de Albaicín – instituições cuja existência descobri demasiado tarde -, um ou outro palacete e vários pátios que se escondem atrás das portas mouriscas. Mas para isso teria sido preciso mais tempo.
Seja como for, e apesar das expectativas muito elevadas, nem por um momento o bairro Albaicín me desiludiu. É mesmo o tipo de ambiente onde me sinto bem. Sim, quando vi as primeiras fotografias, antes de viajar até à Andaluzia, soube logo que Albaicín era amor. E não me enganei!
Mapa: pontos de interesse em Albaicín
Guia prático
Quando ir
Embora teoricamente seja possível visitar Granada em qualquer altura do ano, eu recomendo a primavera e o outono, por forma a evitar as temperaturas mais extremas da Andaluzia.
Transportes
A melhor forma de explorar Albaicín é a pé; e o trajeto até à parte baixa de Granada faz-se bem caminhando. Para quem fica hospedado no centro de Granada e não quer caminhar, há também a hipótese de subir ao bairro em mini-autocarro, nomeadamente usando as linhas C31 (Albaicín – Centro) e C32 (Alhambra – Albaicín). Encontra mais detalhes sobre as linhas que servem o bairro Albaicín nesta página.
Segurança
Há quem escreva que o bairro Albaicín é perigoso e que é preciso “ter cuidado”. Honestamente, julgo que esse é um preconceito que permanece fruto de uma época em que o bairro teria sido, por assim dizer, mal frequentado.
Hoje em dia, Albaicín é um bairro tranquilíssimo. Tem a sua dose de indigentes e pessoas com formas de vida alternativas – e talvez isso contribua para o preconceito; mas nunca, por um minuto, senti qualquer animosidade ou insegurança em Albaicín. Em suma, não senti grandes diferenças em relação a outras partes de Granada consideradas mais “seguras”.
Excursão a Albaicín
Caso prefira visitar o bairro Albaicín com um guia experiente, veja este excelente passeio a pé ao pôr do sol em Albaicín e Sacromonte, um tour organizado que permite conhecer o melhor do bairro em duas horas e meia.
Onde comer
Em Albaicín, há alguns restaurantes tradicionais bem referenciados, nomeadamente o Torcuato, o El Picoteo e o Aixa (recomendações de habitantes locais). Entre eles, tive oportunidade de provar o afamado rabo de boi andaluz na esplanada do restaurante Aixa, em plena Plaza Larga, e um delicioso salmorejo cordobês no El Picoteo. Quanto ao mais famoso Torcuato, estava encerrado na noite em que tentei lá jantar.
Veja também o post sobre o que fazer em Granada, para uma sugestão gastronómica adicional (imperdível).
Onde ficar
Escrevi um texto específico sobre a questão onde ficar em Granada (centro ou Albaicín) e posso adiantar que, para mim, a escolha é óbvia: prefiro o bairro. Leia o post para perceber qual das áreas se encaixa melhor no seu perfil de viajante.
Eu fiquei numa casa-gruta chamada Flintstone House, que adorei, reservada no airbnb. Fica na parte alta do bairro (a minha preferida), mas manda a verdade dizer que não foi barata. Valeu a pena por sermos um grupo de cinco pessoas, mas há excelentes pousadas em Albaicín mais em conta.
No que toca a apartamentos, há uns extraordinários chamados Smart Suites Albaicín, que estive quase para reservar. Valem mesmo a pena e a localização é excelente, no coração do bairro.
Alternativamente, o tradicional Palácio de Santa Inés é lindíssimo e muito recomendado, embora seja um pouco caro para o meu orçamento habitual. Fica localizado na parte baixa de Albaicín, pelo que é especialmente indicado para viajantes que prefiram não ter de subir as ladeiras do bairro tantas vezes. Neste segmento – com conforto, qualidade e preços médios -, recomendo ainda o Hotel Santa Isabel La Real, a La Posada de Quijada e a Casa del Aljarife. Ficará muito bem instalado em qualquer um destes hotéis.
Se prefere poupar no alojamento, os mais económicos Cuevas Coloras Hostel e White Nest Hostel (ambiente jovem), ou o Hotel Plaza Nueva (mais tradicional) são das melhores opções. O primeiro fica numa típica casa escavada numa zona alta de Albaicín mais afastada (veja se a localização lhe agrada). Os restantes ficam ambos na parte baixa do bairro, junto ao rio; são simples e bastante elogiados.
Por último, não escolha o seu hotel em Granada sem antes conhecer o Shine Albayzín, um dos hotéis arquitetonicamente mais extraordinários de Albaicín.
Seguro de viagem
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