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Amizades eternas, em El Nido (Pikitim #22)

Por Luísa Pinto | Volta ao Mundo em Família Ásia Filipinas Palawan
Atualizado em 29.11.2020 | Tempo de leitura: 7 minutos

Jardim-escola em El Nido
Miúdos da idade da Pikitim no jardim-escola, El Nido

A Pikitim tem resistido a “fazer amigos” e a travar conversa com outras crianças que não falem a mesma língua, mesmo quando a levámos à toca do lobo, que é como quem diz à sala dos meninos da sua idade na escola primária de El Nido, às portas do fotogénico arquipélago Bacuit. Mas, por vezes, entrega-se de maneira surpreendente a companheiros de viagem que conhecemos na estrada, como a holandesa Astrid, de quem jura ficar “amiga para sempre”.

Dez dias. O tempo que acabámos por ficar alojados num quarto com vista privilegiada para a linda baía de El Nido, uma povoação situada no topo norte da ilha Palawan. Motivos de tão prolongada estadia? Vários dias de chuva intensa e o maravilhoso arquipélago Bacuit que, de tão bonito e agradável, parece cenário de filme turístico promocional. Ele há sítios dos diabos!

Os planos em El Nido passavam por fazer muitos passeios entre as ilhotas de Bacuit, mas a baixa pressão que nos perseguiu desde o sul da ilha reteve-nos no vilarejo por uns dias. No entanto, malgrado as condições climatéricas adversas, El Nido fez por merecer uma estadia prolongada, principalmente porque, ao contrário de muitos locais procurados por turistas que rapidamente se transfiguram em algo sensaborão, sem sal nem alma, El Nido mantém, no essencial, apesar da pressão, a sua identidade.

Tem no turismo a sua principal fonte de rendimento, é certo, mas é também suficientemente grande para albergar uma larga comunidade escolar e gente cuja vida não depende dos dólares estrangeiros. Há mercados, mercearias, restaurantes locais baratíssimos, campos desportivos, uma igreja.

Basta recuar uma ou duas ruas paralelas à Hama, a artéria turística de El Nido que comprime pousadas, bares e restaurantes contra o areal, para se encontrar um povoado com vida e pulsar próprios, independente dos fluxos de mochilas, havaianas e tatuagens. Prova disso são as imensas crianças que andam, a todo o momento, nas ruas – coisa sempre alegre numa urbe.

Rua de El Nido, Palawan
Crianças a caminho da escola de El Nido

Certo dia, caminhando pelas ruas de El Nino, perguntámos à Pikitim se não queria ir à escola estar com esses miúdos. Disse que sim. Aproximámo-nos da escola; havia meninos e meninas no exterior, junto às portas das salas de aula, em uniformes com t-shirt branca e calção ou saia azul escuro. Uns brincavam, mas outros esperavam numa fila ao fundo das arcadas exteriores onde caminhávamos. Estava a ser distribuída uma refeição, uma espécie de caldo de arroz – não era o pequeno-almoço, porque essas crianças tomam-no com os pais, entre as 6h30 e as 7h00, regra geral arroz com frango ou tocino – um pedaço de porco. A Pikitim estava muda e tímida.

Quando parámos à entrada da primeira sala, fomos recebidos por uma simpatiquíssima “Madame Harin”, professora da segunda classe que imediatamente se voluntariou para nos fazer uma visita guiada a toda a escola. As portas e janelas estavam abertas (tinha acabado de chover, mas o calor era muito), pelo que pudemos observar a notória sobrelotação das salas de aula. Sem rodeios, Madame Harin explicou que as turmas tinham “no mínimo” 50 crianças, porque “há falta de salas e de professores nas Filipinas”. Para nossa surpresa, nos quadros de argila o giz branco desenhava palavras para nós inteligíveis: “Os meninos começam desde cedo a aprender inglês”, explicou.

Crianças em El Nido
Sorrisos bonitos dos alunos da escola de El Nido

Madame Harin mostrou-nos a biblioteca, a modesta sala de computadores, a sala dos professores e, finalmente, levou-nos até um edifício localizado um pouco adiante. Era a sala dos meninos “com quase cinco anos”, como a Pikitim. A nossa anfitriã perguntou-lhe se ela queria ficar com eles “a brincar e a aprender” um bocadinho. Os educadores corroboraram o convite, e instaram-nos a entrar (afinal, não é todos os dias que uma criança estrangeira visita os meninos da sala).

Eram cerca de uma dúzia de crianças, estavam a fazer puzzles de madeira e tinham alguns livros espalhados pelas mesas. No quadro preto estavam já escritas todas as letras do alfabeto, em maiúsculas e minúsculas. A Pikitim continuava muda e tímida.

Apesar dos reiterados convites das professoras, da tentativa de algumas crianças de interagir com ela e mesmo da nossa insistência para que se sentasse a brincar com os meninos, o mais que conseguimos foi assustá-la. Só abanava a cabeça a dizer que não queria brincar e que queria ir embora dali. Desistimos, completamente frustrados pela oportunidade perdida.

Porque todos os dias a Pikitim fala da escola e dos amigos que deixou e entretém-se a antever como vai ser “quando regressar a Portugal”. Queríamos proporcionar-lhe contacto com miúdos da sua idade, mesmo que não tendo uma língua comum. Mas ela queria ver, não queria “estar”. Ou, pelo menos, não queria ser empurrada para isso!

Praia El Nido
Amanhecer na praia de El Nido

Não foi a primeira vez que os planos de socialização que vamos fazendo caíram por terra, mas a visita à escola de El Nido serviu-nos de lição: pressionar não é a melhor estratégia. E assim acabámos por perceber que não vale a pena “impor-lhe” contactos, nem amizades. Ela decide a hora de os fazer. E consegue surpreender-nos.

Por exemplo, a amizade que travou com Astrid, uma holandesa que vive em Espanha há mais de 40 anos e que conhecêramos no autocarro público que liga Puerto Princesa a Sabang. Nessa viagem, mal falou com ela, mas bastou uma refeição em conjunto para a Pikitim “adotar” por completo a cinquentona Astrid.

Separámo-nos por uns dias, mas ficou radiante quando, após um telefonema, soube que Astrid e o companheiro Manuel viriam ao nosso encontro em El Nido. E a verdade é que, no tempo em que estivemos juntos em El Nido, com passeios por ilhas de vegetação luxuriante, muito snorkelling em águas cristalinas e jantares a cinco, nunca mais largou Astrid.

Após navegar entre as ilhas de Bacuit com o simpático casal, a Pikitim disse ter pedido um desejo: “O desejo que eu pedi no barco foi que fossemos amigas para sempre…”. Quando chegou a hora das despedidas, com uma pulseira oferecida no pulso, avisou: “Mamã, não vou tirar esta pulseira do meu pulso nunca. E, todas as noites vou olhar para o céu e procurar a estrelinha mais brilhante, porque a Astrid disse que essa estrela era ela a pensar em mim”.

El Nido
El Nido

Foi precisamente em El Nido que a Pikitim se começou a soltar. Fomos fazer um passeio de fim de tarde sem rumo definido, e acabámos no meio de uma aldeola muito simples, com algumas dezenas de casas de bambu povoadas por gente sorridente e miúdos aos pulos. E desta vez, não instámos a Pikitim a dizer “olá” às crianças, nem insistimos para que respondesse às muitas meninas e meninos que lhe dirigiam palavra.

Mudámos de estratégia e começámos a ser nós a fazê-lo: “Hello! What’s your name? My name is Filipe”. Invariavelmente, acabavam por perguntar o nome e a idade da Pikitim, e também de que país éramos. Às tantas, a Pikitim começou a responder, a querer falar e encontrar mais crianças, a “fazer amigos”. Quase no fim do passeio, concluiu: “Pai, hoje conhecemos muitos meninos. Da próxima vez quem mete conversa sou eu, ok?”.

Guia prático

Onde ficar

Convém notar que El Nido é uma Meca mochileira, pelo que abundam hostels simples e baratos, e não tanto alojamentos de qualidade. Ainda assim, são recomendáveis espaços como o moderno Cuna Hotel, ou ainda os hostels Spin Designer e o The Cavern Pod – ambos com boa relação qualidade/preço e elogiados pelos hóspedes.

Se é conforto que procura, talvez seja melhor afastar-se um pouco da povoação El Nido. Nesse caso, dificilmente encontrará melhor do que o sumptuoso Vellago Resort. Não fiquei lá a dormir, mas os hóspedes dizem maravilhas! Boa aposta poderá também ser o Frangipani El Nido, em Coron Coron. Seja como for, não faltam excelentes hotéis em El Nido e arredores, como pode facilmente comprovar no link abaixo.

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Sobre o Diário da Pikitim

Este post pertence a uma série que relata uma volta ao mundo em família, com 10 meses de duração. Um projeto para descomplicar e mostrar que é possível viajar com crianças pequenas, por todo o mundo. As crónicas da viagem foram originalmente publicadas em 2012 na revista Fugas e no blog Diário da Pikitim.

Veja também o post intitulado Viajar com crianças: 7 coisas que os pais devem saber.

Saiba mais sobre: Volta ao Mundo em Família Ásia Filipinas Palawan

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Sobre o autor

Filipe Morato Gomes, blogger de viagens

Olá! O meu nome é Filipe Morato Gomes, vivo em Matosinhos, Portugal, sou blogger de viagens, co-autor do projeto Hotelandia e Presidente da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses.

Tenho 51 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, fiz dezenas de viagens independentes e fui líder de viagens de aventura.

Mais recentemente, abracei um novo desafio chamado Rostos da Aldeia, onde se contam histórias positivas sobre as aldeias de Portugal e quem nelas habita.

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