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Os Deliciosos Sabores do Pará (VM #62)

Por Filipe Morato Gomes | Volta ao Mundo América do Sul Belém do Pará Brasil
Atualizado em 22.12.2018 | Tempo de leitura: 9 minutos

Banca de frutas no mercado Ver-o-Peso, Belém - Volta ao Mundo

Entro no sul da Bahia, Brasil, onde avisto baleias em Caravelas, passeio pelas ruelas de areia de Caraíva, um vilarejo de pescadores, e aprecio a beleza ímpar de uma noite de lua cheia numa praia de Porto Seguro. Sigo depois para Belém, capital do estado do Pará, onde me delicio com a magnífica gastronomia local. Nomes como açaí, cupuaçú, piracuí, sururú, tacacá, tucunaré e tucupi tornam-se definitivamente familiares. E o palato agradece.

Experimentar as gastronomias locais é um dos maiores prazeres de viajar. Testar sabores novos, condimentos diferentes, pratos de nome indecifrável, comidas de aspecto duvidoso, enfim, arriscar. Em tascas de rua ou restaurantes mais requintados. Se os olhos se deleitam com uma paisagem deslumbrante e o olfacto com um cheiro misterioso, é imperioso permitir que o paladar também se surpreenda. Aconteceu já em inúmeros locais por onde passei – a carne de morcego que provei no Laos, por exemplo, figura entre as mais improváveis iguarias que já tive ocasião de saborear – e voltou a suceder assim que cheguei a Belém, capital do estado brasileiro do Pará. Uma semana dedicada ao palato.

Mercado Ver-o-Peso, Belém do Pará
Vista geral do mercado Ver-o-Peso na cidade de Belém, Brasil

Uma das primeiras coisas que fiz em Belém, porém, nada teve a ver com culinária. Visitei o belíssimo Teatro da Paz – orgulho da capital paraense -, um edifício extraordinário, de cor rosada e porte imponente. Quando lá entrei, decorria um ensaio para uma ópera. Era necessário silêncio absoluto. A visita foi, por isso, muito curta. Mas o suficiente para me aperceber da magnificência daquela sala de espectáculos que, juntamente com o Teatro Amazonas de Manaus, são as mais emblemáticas da região norte do Brasil.

Segui depois para o incontornável mercado Ver-o-Peso, localizado na baía de Guajará, do qual dizem ser o maior mercado ao ar livre de toda a América Latina. De tudo se vende nas quase duas mil bancas do Ver-o-Peso. Açaí na cuia – uma espécie de malga -, simples ou com peixe. Sumos naturais e frutos tropicais, como a acerola ou o cupuaçú. Deliciosos. Peixes de todos os tamanhos, como o surubin, a piramutaba, o pirarucú ou o tucunaré, a pescada branca ou a amarela. E camarão salgado, carnes, farinhas, tapioca, legumes, temperos, ervas aromáticas e artesanato, de tudo se encontra no Ver-o-Peso.

Há também mezinhas como o “viagra natural”, cujos supostos efeitos facilmente se adivinham e que o “Seu Luizinho” tanto insistiu para que eu levasse. E ainda, claro, uma das principais curiosidades do mercado: as poções “mágicas”. São vendidas em frasquinhos de vidro com rolhas de cortiça e – dizem! – curam qualquer maleita, quebram qualquer feitiço, afastam o mau-olhado ou atraem o amor de alguém desejado. Acredite-se ou não nos efeitos, o simples acto de percorrer as excêntricas bancas e falar com os alegres vendedores é, por si só, fascinante.

Pormenor de uma banca de peixe
Pormenor de uma banca de peixe

O artesanato, esse, encontra-se não só no Ver-o-Peso. A cerâmica marajoara – a mais carismática arte da região, oriunda da Ilha do Marajó – está presente por toda a cidade. Visitei um atelier na zona de Icoaraci, pólo principal de desenvolvimento da cerâmica marajoara situado a vinte quilómetros do centro de Belém, onde pude apreciar a forma como o trabalho era executado. Cem por cento artesanal. O resultado eram jarros, cinzeiros e um sem fim de peças decorativas de indiscutível beleza. Como aquela réplica de uma tanga “tapa-sexo”, de forma quase triangular, utilizada pelos elementos femininos da tribo indígena Pano, habitantes das margens do Rio Ucayala.

À noite, de volta ao centro de Belém, era altura de conhecer uma das renovadas áreas da cidade: as docas. Outrora uma zona portuária decadente, alberga agora um complexo cultural e de lazer de muito bom gosto. Pontificam lojas de artesanato, um auditório, bares e restaurantes elegantes. O mesmo conceito aplicado nalgumas cidades portuguesas, proporcionando um local aprazível para um início de noite descontraído ou um jantar à beira-rio.

E foi precisamente em almoços e jantares que mais me surpreendi em Belém. De garfo, faca ou colher em punho, apreciei as malgas de açaí com tapioca. Apaixonei-me pelos sucos matinais de cupuaçú. Repeti o badalado pato no tucupi e comi muito, muito peixe e marisco. Como um apetitoso tucunaré recheado e assado no forno. Enxova com salada de camarão. “Unhas” de caranguejo. Ou uma inacreditável torta de piracuí. E, para terminar, uma verdadeira iguaria degustada numa barraquinha de rua em Icoaraci. A versão paraense do tacacá, uma espécie de caldo grosso e forte feito à base de mandioca – de onde se extrai uma goma esbranquiçada -, jambu – uma verdura da região -, camarão salgado e pimenta. Sublime.

Praia Itacemirim, Porto Seguro
Noite de lua cheia na praia Itacemirim, em Porto Seguro, sul da Bahia, Brasil

Refeições à parte, e ainda antes de voar para Belém, tinha decidido passar uns dias no sul da Bahia. Na verdade, fui à Bahia com uma missão específica: mergulhar no Arquipélago de Abrolhos, a partir da povoação de Caravelas. Abrolhos, juntamente com Fernando de Noronha, constituem os mais paradisíacos de todos os pontos de mergulho conhecidos do Brasil. Um desejo que, no entanto, rapidamente se afundou. Os preços praticados pelos centros de mergulho eram proíbitivos.

Desgostoso, apesar de ter avistado baleias jubarte ao largo de Caravelas, prossegui para norte onde haveria de atracar em poisos bem conhecidos dos turistas portugueses. O já gasto Porto Seguro, as noites bonitas e agitadas de Arraial d´Ajuda, e o ambiente alternativo de Trancoso. Mas, por entre lugares sem novidade, haveria de “descobrir” um muito especial. Era um pequeno povoado que mantinha o charme romântico de um lugarejo de pescadores e em que o meio de transporte que percorria a areia das ruelas era uma carroça puxada por uma mula. O seu nome? Caraíva. Não me surpreenderia se, em breve, se tornasse no próximo lugar da moda do litoral sul da Bahia.

E assim passei dias de total descontracção, ao melhor ritmo baiano. Sempre rodeado de amigos, dormindo em redes colocadas numa varanda frente ao mar e ouvindo música brasileira. Ou apreciando a beleza ímpar de uma lua cheia na praia, enquanto bebericava umas caipirinhas. O aperitivo perfeito para as refeições que viria a degustar no Pará.

Esta é a capa do livro «Alma de Viajante», que contém as crónicas de uma viagem com 14 meses de duração - a maioria das quais publicada no suplemento Fugas do jornal Público. É uma obra de 208 páginas em papel couché, que conta com um design gráfico elegante e atrativo, e uma seleção de belíssimas fotografias tiradas durante a volta ao mundo. O livro está esgotado nas livrarias, mas eu ofereço-o em formato ebook, gratuitamente, a todos os subscritores da newsletter.

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Comentários sobre “Os deliciosos sabores do Pará”

Rica vida! De se ficar de água na boca!
Abraço grande e boa viagem de regresso.

Comentário enviado por Ricardo Ferreira (Bidros) em 19.SET.2005 – 12:31

Também experimentei (quase) todos esses sabores… maravilhosos, não é? Ficarei eternamente com o sabor do suco de Taperebá na boca… e com o Jaraqui assado na brasa… como diriam os manauinos: “Quem come Jaraqui, nunca mais sai daqui”. Pelos vistos comigo não funcionou… ainda bem 😉

Serás, com certeza, bem-vindo de volta! Abraço.

Comentário enviado por Diogo em 20.SET.2005 – 01:02

Da rápida passagem pelo Nordeste, transcreves apenas pouco mais de dois parágrafos… a decepção com Abrolhos justifica tamanho desdém? Só te apeteceu a caipirinha na praia, a rede na varanda e a lua cheia? Pena… tanto a ser visto e revisto!

Pois saiba que na esquina do Brasil também há sumos naturais e bombons de cupuaçu, açaí na tigela e deliciosos gelados de cajá – fruta equivalente ao “taperebá” do Norte. Por aqui também é possível ganhar calorias com as castanhas do Pará e depois as perder ao som do Calypso e do autêntico forró “pé de serra”. Saímos em desvantagem se a opção for degustar o peixe no tucupi ou a maniçoba, mas em contrapartida as “patolas” de caranguejo e o camarão no jerimum com queijo de coalho são inesquecíveis, como tantas outras cores e sabores do paraíso tropical. Ah, e ainda há Noronha, que talvez fizesse compensar seu desgosto com Abrolhos…
Enfim… quem sabe, um dia, ainda mereceremos uma crónica à altura…

Que leves então na memória a praia, a rede e a lua. Boa continuação de viagem!

Comentário enviado por Gi em 20.SET.2005 – 06:51

Gi,
Sou apaixonado pela Bahia como, aliás, pela maior parte do que conheço do Brasil. Acontece, no entanto, que a escolha dos temas a tratar em cada crónica reflecte, por um lado, as experiências por mim vividas num determinado lugar e, por outro, o julgamento que faço sobre o interesse que elas poderão ter para os leitores portugueses. E, feliz ou infelizmente, o litoral bahiano é demasiado conhecido em terras lusas. Daí a opção de omitir, neste texto, os excelentes dias que por lá passei. Está muito longe de ser desdém…

Grande abraço.

Comentário enviado por Filipe Morato Gomes em 20.SET.2005 – 17:12

Todos os sabores, cores, cheiros, sons, lugares e pessoas descritos em todos os seus textos são uma viagem pela geografia do mundo, mas ler um texto como esse, nos leva a uma viagem pela “geografia” da alma humana… nos mostra o outro lado do Filipe. E só quem vive a magia de uma noite especial, num lugar como esse, com sabores, cheiros, sons, cores, luz e principalmente a energia da Bahia, com as bênçãos da lua pode entender o que se passa no coração do escritor. Tenho certeza que para os amigos que contigo estavam, você foi um presente da vida, do destino, a todos eles.
Grande beijo, muita paz e realizações na sua volta.

Comentário enviado por Mani em 20.SET.2005 – 21:20

Grande viajante,

Quero desejar-te uma boa viagem de regresso ao nosso belo rectangulo à beira mar plantado e agradecer-te por teres partilhado connosco essa grande aventura que levaste cabo. Espero, no entanto, que continues a actualizar o site com as histórias dos momentos finais da tua viagem e que nos mantenhas informados sobre eventuais exposições públicas que venhas a fazer para dar a conhecer os locais por onde deambulou a tua aventura.
Um abraço e bom regresso.

Comentário enviado por Paulo César Santos em 22.SET.2005 – 14:36

Caminhos são nos proporcionados, só basta dizermos qual deles queremos seguir e assim que escolhemos, muitos obstáculos, muitas expectativas, muitas felicidades e também muitas tristezas o nosso coração sente, mas ao sabermos que a cada passo nós podemos fazer uma história, a satisfação é bem maior. Lute! Vença! E jamais se esqueça o que passou e que ainda não terminou, a estrada é longa e ainda há muito caminho pela frente, emoções, conquistas, amigos, felicidades, barreiras virão, mas nunca perca seu brilho e jamais desista. Afinal, você é forte e pode vencer, acredite! Seja sempre uma pessoa amiga, sentimental, cheia de esperanças, companheira e batalhadora, pois aqui da arquibancada da vida estarei torcendo por você. Muitos te deram a mão e te ajudaram a construir esse caminho, e todos são importantes, mas quero estar entre aqueles que jamais deixaram o brilho da esperança apagar na sua vida…
Filipe, sorte na viagem de volta, discernimento para escolher as novas direções, e muita felicidade em cada sorriso amigo que reencontrar. Obrigado por estes meses lindos pelo mundo. Até já.

Comentário enviado por Mani em 22.SET.2005 – 16:16

Filipe
Bom regresso a Portugal. Obrigada pelas crónicas. Pena que tenham chegado ao fim. Ficamos à espera de mais, quem sabe?

Comentário enviado por Luísa em 23.SET.2005 – 10:03

Olá Filipe…
Isto vai ser tipo o lançamento do Space shuttle! Pelas minhas contas faltam 8 horas e meia para embarcares para viagem de regresso. Em Huston, tudo controlado. Boa descolagem.

Comentário enviado por Telmo em 23.SET.2005 – 13:35

Seguindo as contas do meu controlador aéreo preferido, devem estar a faltar umas 7 horas para o início da viagem de regresso.
Tenho uma sugestão, que tal saltares de pára-quedas no meio do Atlântico? Estaríamos cá todos à tua espera, todos e mais UMA!
Beijos grandes e boa viagem.

Comentário enviado por Dália em 23.SET.2005 – 14:57

Nesse momento deves estar no aeroporto… Que tenhas uma viagem linda… e viva intensamente a sua volta!

Comentário enviado por Mani em 23.SET.2005 – 21:05

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Olá! O meu nome é Filipe Morato Gomes, vivo em Matosinhos, Portugal, sou blogger de viagens, co-autor do projeto Hotelandia e Presidente da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses.

Tenho 52 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, fiz dezenas de viagens independentes e fui líder de viagens de aventura.

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