Durante a minha estadia em Tóquio, optei por ficar alojado num pequeno apartamento no coração de Harajuku, razão pela qual o Parque Yoyogi era praticamente o meu jardim privativo. Não houve dia que não atravessasse a Rua Takeshita e passasse pelo menos duas vezes na entrada do Yoyogi.
Acontece que, por ponderada opção, decidi esperar uns dias – até ser domingo! – para passear no Yoyogi. Aguardavam-me casamentos tradicionais, jovens vestidos de forma muito estranha, famílias a brincar no parque, gente a dançar Rock & Roll a achar-se um Elvis Presley e um sem número de criaturas, digamos, curiosas (como um indivíduo com cabeça de cavalo a tocar bateria na rua). E, pelo meio, ainda houve tempo para conhecer um dos melhores cafés de Tóquio.
Acabou por ser um daqueles dias redondinhos de tão perfeito, razão pela qual partilho esta espécie de roteiro para passar um domingo junto ao Parque Yoyogi (e arredores).
Roteiro no Parque Yoyogi
Visitar o santuário Meiji Jingu
Visitei o santuário xintoísta Meiji Jingu ao início da manhã. A ideia era evitar as multidões naquele que é um dos templos mais visitados de Tóquio.
Durante o caminho para o templo, estava em frente a dezenas de barris de sake doados ao santuário e expostos no trilho, ainda antes de atravessar o torii de madeira gigante que delimita o terreno do santuário, quando vi a primeira mulher vestida com o tradicional kimono.
Na altura, não associei imediatamente a qualquer celebração mas, à entrada do santuário Meiji, vi outras cinco jovens japonesas de kimono e fez-se o click. Era domingo: dia de casamentos.
Lá dentro, havia muita gente a escrever pedidos e orações em folhas de papel para pendurar no templo. Outras pessoas estavam em oração. E havia alguns turistas, maioritariamente japoneses. Sem surpresa, foram as noivas que me chamaram a atenção.
Recolhidas num pequeno descampado sem acesso público, uma noiva de cada vez era convenientemente vestida e fotografada sentada numa cadeira. Seguia depois para uma sala à entrada do templo, onde se encontravam familiares e amigos. Aí, decorria uma curta cerimónia que não pude presenciar; só depois, ladeada pelo marido, seguia os sacerdotes até ao santuário propriamente dito e desaparecia nas salas interiores. Tudo muito ritualizado, cerimonial, quase mecânico, com poucos sorrisos.
Estava fascinado. Fiquei tempo suficiente para assistir às cerimónias de três casamentos distintos.
Aos poucos, o santuário xintoísta Meiji Jingu foi ficando mais cheio, pelo que decidi prosseguir o passeio. Iria atravessar o Parque Yoyogi em direção a um café muito especial.
Passear no Parque Yoyogi
Depois da visita ao santuário, voltei pelo trilho até à estrada e contornei a mancha verde até alcançar a entrada principal do parque (não há ligação direta de Meiji Jingu ao Parque Yoyogi). Fui caminhando pelos trilhos no parque, tranquilamente, observando.
O ambiente era mais familiar do que eu antecipara. Havia gente a passear os animais de estimação. Casais a passear com carrinhos de bebé. Japoneses de todas as idades a correr ou fazer jogging. Um fotógrafo tirava fotografias de moda a uma modelo (seria mesmo modelo?) japonesa. E um ou outro artista solitário praticava o seu instrumento, como aquele japonês de porte atlético e cabelo comprido que, num trilho secundário de terra batida, tocava violino para os arbustos e folhas de outono.
Do outro lado do parque, o Little Nap.
Café no Little Nap Coffee Stand
Para mim, apesar da sua simplicidade, o Little Nap Coffee Stand está entre os melhores cafés de Tóquio que tive oportunidade de conhecer. É uma espécie de lugar de culto entre os amantes de bom café.
Ora, como fica bem junto ao Parque Yoyogi, “do outro lado” para quem está em Harajuku, a combinação foi perfeita. Depois de visitar Meiji Jingu e de atravessar o parque, nada melhor do que uma pausa para descansar e tomar um café feito com paixão.
O lugar é minúsculo, mas vale bem a pena.
Almoço em Omotesando (ou Harajuku)
É certo que há centenas de restaurantes em Harajuku mas, porque não aproveitar a proximidade geográfica para percorrer a Avenida Omotesando e as ruelas residenciais do homónimo bairro?
Foi o que fiz (incluindo atravessar de novo o parque em sentido inverso), e acabei por saborear um delicioso almoço vegetariano num restaurante onde o orgânico e o saudável são as palavras-chave. Chama-se Brown Rice Cafe, e fui lá por recomendação de um japonês vegetariano. É a minha sugestão para o almoço deste roteiro de domingo no Parque Yoyogi.
Se preferir não sair de Harajuku e estiver a salivar por um bom ramen, não precisa de andar muito. O restaurante Afuri tem dos melhores ramen de Tóquio. Palavra de honra.
Atravessar a Rua Takeshita
Não há lugar mais emblemático em Harajuku do que a Rua Takeshita. Como estava a morar junto à Takeshita, pude observar, diariamente, as personagens mais estranhas de Tóquio. Gente vestida de forma muito criativa, digamos assim. São as cosplay japonesas.
Cosplay é a arte de se transformar num personagem utilizando maquilhagem, interpretação, vestuário e demais técnicas exigidas pelo alter ego do artista ou do personagem que está interpretando.
Ao domingo, no bairro Harajuku, tudo parece ser permitido; nada é estranho. Eu estava curioso mas, ao mesmo tempo, com aquele ar de quem não entendia o que se passava à minha volta. Não é fácil compreender. Por que razão, por exemplo, um indivíduo se mascara de cavalo e vai tocar para a rua?
Ao observar as pessoas feitas personagens que passeavam pelas ruas de Harajuku, era para mim nítido que ser cosplay é como um escape. Um statement contra às rígidas regras da sociedade japonesa, completamente orientada para o sucesso na vida profissional. Sim, pareceu-me uma forma de afirmação da liberdade individual.
E assim, Harajuku é um lugar de excessos, vibrante, quase anárquico, onde tudo é aparentemente tolerado.
Para o viajante, pode até ser estranho; mas é muito divertido.
Regresso ao parque
Não sei se é regra mas, quando percorri o parque de manhã, senti falta daquela fauna maluca que eu estava à espera de encontrar: as cosplay. Decidi, por isso, voltar ao parque durante a tarde, depois de cirandar pela Rua Takeshita.
Nessa altura, já havia muita gente nas ruas. Isto porque, num espaço contíguo ao parque, estava prestes a começar um concerto de alguém aparentemente muito famoso. Era uma espécie de boys band japonesa, pelo menos a avaliar pelas fotos que decoravam as carrinhas publicitárias que passaram em frente à estação de metro de Harajuku.
Assim que reentrei no parque, Já não havia apenas famílias com crianças, gente a correr ou a passear o seu cão. Havia também muita gente a exercitar as suas liberdades individuais. Um grupo de homens e mulheres dançava Rock & Roll à entrada do parque. Outro grupo de gente mais jovem cantava música coral num local à sombra e recatado. Um homem mostrava os seus dotes musicais com um hang, um dos instrumentos mais fascinantes que conheço. Três meninas gravavam vídeos delas próprias a cantar. Uma ou outra cosplay passeava-se pelo parque.
Para mim, estava a ser um dia fascinante.
Mas era um domingo normal em Yoyogi.
Guia prático
Localização
Onde dormir em Tóquio
Eu gostei muito da zona de Harajuku / Omotesando e, apesar de ter poucos hotéis, julgo que é uma excelente base para visitar Tóquio. Em todo o caso, para perceber melhor a cidade, recomendo a leitura do post sobre onde se hospedar em Tóquio.
No caso de escolher ficar alojado perto do Parque Yoyogi, sugiro que veja o hotel Dormy Inn Premium (excelente relação qualidade/preço). Se o que procura é luxo, o Park Hyatt Tokyo (onde foi filmado o filme Lost in Translation) é uma escolha quase imbatível; fica em Shibuya. Para outras alternativas, pesquise diretamente no botão abaixo.
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