O Bons Sons é um festival diferente, original e arrojado. Imagine uma pequena aldeia no interior centro de Portugal, longe dos grandes aglomerados urbanos do litoral, organizar um festival de música portuguesa com quatro dias de duração no perímetro da própria aldeia.
Sim, o Festival Bons Sons acontece no interior da aldeia de Cem Soldos. Mais do que isso, os habitantes da aldeia – incluindo os mais velhos – não são meros espectadores.
Ao invés, são participantes ativos na organização do festival; fazem o que é preciso; adaptam as suas casas para vender petiscos. E todos beneficiam com o Bons Sons.
A minha experiência no Festival Bons Sons
Mais do que um festival de música portuguesa, o Bons Sons é uma experiência única. A aldeia de Cem Soldos é fechada e o seu perímetro delimita o recinto que acolhe oito palcos, cada um dedicado a uma linha programática, perfeitamente integrados nas suas ruas, praças, largos, igreja e outros equipamentos. Além desta característica, o Bons Sons promove uma relação de proximidade com o seu público, envolvendo a população na realização do festival.
São os habitantes que acolhem e servem os visitantes, numa partilha especial entre quem recebe e quem visita, proporcionando a vivência ímpar de um evento musical. A selecção criteriosa do programa, o recinto único que é Cem Soldos e o envolvimento da população na realização do Festival são marcas que distinguem o Bons Sons da oferta cultural nacional. – in site oficial
É pública a minha admiração pelo Festival Andanças, que frequentava todos os anos enquanto teve lugar em Carvalhais, em São Pedro do Sul, ou junto à barragem de Póvoa e Meadas, na zona de Castelo de Vide, a hora e meia de viagem de Tomar.
Mas a verdade é que, apesar de eles serem quase sempre em datas muito próximas e eu andar há muito a pensar conhecer o Bons Sons, nunca tinha ido ao festival. Até este ano.
Cheguei à aldeia de Rendufas vindo de Cáceres, onde passara os dias entre o final do Andanças e o início do Bons Sons, para me instalar no turismo rural Casa das Rendufas.
Acampar não era desta vez opção e eu preferia ter ficado a dormir em Tomar, mas quando decidi ir aos Bons Sons já era demasiado tarde e não consegui alojamento na cidade.
No primeiro dia do festival, aproveitei a manhã para visitar o Convento de Cristo, em Tomar. À tarde, e perante o calor sufocante instalado no centro do país, não me restou alternativa senão ficar a usufruir da piscina do alojamento. Só ao início da noite rumei a Cem Soldos, entusiasmado e pronto para vivenciar o meu primeiro Bons Sons.
Cheguei de carro a Cem Soldos.
Por altura do festival Bons Sons, há quatro locais por onde se pode entrar no recinto. Que é como quem diz na aldeia. Por indicação dos voluntários colocados na estrada, segui para o parque de estacionamento junto à entrada das “Hortas”. Eu e quase todos os outros. As outras entradas estavam aparentemente sem gente. Resultado? Uma hora de espera para trocar os bilhetes pelas pulseiras que dariam acesso ao recinto.
A partir desse momento, era matar a fome e aproveitar.
Durante os dias do festival, assisti a vários concertos de que gostei muito nos palcos Eira, Giacometti e Tarde ao Sol, com grande, grande destaque para o extraordinário momento protagonizado por Tiago Pereira e o seu bombo num dos finais de tarde. E para a alegria incontida dos Kumpania Algazarra, que já tinha visto precisamente no Andanças em anos anteriores.
Tal como gostei de cirandar pela aldeia durante a tarde; de me sentar na praça central da aldeia; de deixar os miúdos desfrutarem e descobrirem sons, cheiros e ambientes. De tudo o que vi, aliás, fiquei com a sensação que gosto mais de Cem Soldos à tarde.
O ambiente é mais calmo que de noite, os pequenos concertos no palco Giacometti ou Tarde ao Sol são muito atrativos (embora as praças da aldeia sejam pequenas para tanta gente) e, no geral, está-se bem em Cem Soldos. Especialmente para quem, como eu, estava acompanhado pelos meus filhos (um deles bebé), os dias acabam por ser mais importantes do que as noites.
Dos artistas presentes, ouvi entre outros pedaços dos concertos de Sensible Soccers, Few Fingers, Lavoisier, Best Youth, Kumpania Algazarra, Grutera, Tiago Pereira, Isaura, Keep Razors Sharp, Cristina Branco e Carminho. Mais dois ou três no palco Garagem dos quais desconheço a identidade.
Mesmo assim, sinto que me faltou passar mais tempo na aldeia. Faltou-me viver as atividades matinais dedicadas às crianças. Estar em Cem Soldos, não apenas assistir a concertos. Infelizmente, o calor não deixou (as temperaturas rondaram quase sempre os 40 graus); e talvez por isso não me tenha apaixonado pelo Bons Sons.
Aspetos a melhorar no Bons Sons
Sustentabilidade ambiental
Algo que me desiludiu bastante no Bons Sons foi a falta de cuidado com as questões da sustentabilidade ambiental. Habituado que estou ao Andanças, onde esta questão é levada muito a sério, o Bons Sons não me pareceu à altura.
É certo que a organização, por exemplo, fornece uma caneca à entrada, incluída no preço do bilhete, para se beber por ela ao longo do festival. Mas os cafés e barraquinhas servem cerveja e outras bebidas em copos de plástico, e tinha de ser eu a pedir para me servirem na caneca. Ou seja, não está verdadeiramente instituído que bebida é na caneca – não em plástico.
Fiquei com a ideia que, apesar da boa vontade, há muito a fazer neste aspeto.
Preços
Os preços dos comes e bebes no interior da aldeia pareceram-me incompreensivelmente altos. Exorbitantes, mesmo. Para mim, esse facto deixou-me uma sensação muito desagradável; quase como quando viajo e noto que me estão a querer cobrar mais só por ser turista. A afirmação pode ser injusta, mas foi o que senti.
Isto aliado à fraca qualidade de boa parte das coisas que bebi e comi (sangria fraquíssima, hidromel que não o era e a custar 3€, pataniscas secas e batatudas, espetadas frias) desiludiu-me. Do que provei em Cem Soldos, salvou-se um restaurante vegetariano; os deliciosos pães com chouriço e farinheira; a senhora das farturas… e pouco mais.
Conclusão
Vou voltar ao Festival Bons Sons? Sinceramente não sei – talvez sim. Cheguei a Cem Soldos com as expectativas em alta, mas sinto que não fui correspondido. Talvez tenha sido culpa minha, por não me ter entregue de alma e coração ao festival como faço no Andanças.
Talvez tenha de voltar para passar mais tempo na aldeia de Cem Soldos, de manhã e à tarde, independentemente dos concertos. Estar. Tal como gosto de viajar devagar. Simplesmente estar. E conversar mais com os habitantes em horas menos movimentadas. No fundo, viver a aldeia.
Seja o que for, gostei; mas não consegui sentir nas entranhas o tal ambiente único do Bons Sons que tantos idolatram. O conceito é fantástico e original, mas algo falhou na minha ida ao Bons Sons.
Talvez tenha mesmo de voltar…
Mais fotos do Bons Sons
Guia prático
Onde ficar
Caso não queira acampar em Cem Soldos, ficar a dormir na cidade de Tomar parece-me a melhor opção. Até porque é onde encontrará maior diversidade de unidades hoteleiras. Veja o artigo sobre onde ficar em Tomar ou procure os melhores hotéis no link abaixo.
Seguro de viagem
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Não acredito que tivemos no mesmo festival por quatro dias e não nos encontramos.
Eu acampei mesmo no parque de campismo do festival, eram só miúdos mas foi giro.
Ao contrário de ti, quero muito voltar para o ano, estamos a pensar alugar casa com piscina, até porque quase todos os meus amigos levaram os filhos, eles adoraram!
Pois falam muito em sustentabilidade no site mas realmente não entendi a parte dos copos de plástico, nem sei como permitiram aquela quantidade louca de latas da strongbow que estava a oferecer a malta.
Por outro lado adorei a vive do sítio, durante o dia ficávamos a confraternizar com os locais, a ouvir as velhotas a ragatear, muito giro :)
A organização do festival foi a melhor de sempre, senti me tão bem vinda. Carregavam os tlms sem pedir dinheiro, ou davam-te uma chave para o cacifo… foram sempre muito prestáveis!
A ver se falo sobre o Bons Sons no blog.
Próximo? Avante?
Olá Marta. Sim, foi pena não nos termos encontrado no Bons Sons. Havendo próxima, combinamos e assim não falha. Beijo e bons festivais. :)
Fui ao festival pela 1ª vez e gostei muito!
O que me desiludiu foi o mesmo, pela ordem inversa: é um abuso cobrarem o preço de turista, se é suposto viver a aldeia; com o decorrer do festival, a questão da sustentabilidade e o lixo que aparecia no chão era mais evidente.
Acho que são áreas que podem melhorar, mas que não são impeditivas de considerar um bom festival! :)
Espero, até p o ano!
Desejo todo o sucesso ao festival Bons Sons, mas espero que vão prestando atenção a esta e outras opiniões para tornarem o festival ainda mais apelativo. Abraço e obrigado pela opinião.
Bom dia, no artigo refere o festival Andanças na Barragem de Póvoa e Meadas mas a edição do ano passado já não foi lá, mas sim em Campinho no Alentejo…
Já alterei a formulação da frase para não criar confusão. Abraço e obrigado.