Da Mesquita Azul de Istambul à Sultan Qaboos de Muscat, da Mesquita Iman de Esfahan à mesquita pintada de Sarena Dzamija em Tetovo, não faltam exemplos de mesquitas que me deixaram boquiabertos durante as minhas viagens. O mesmo aconteceu em Córdoba, mas com uma diferença fundamental: a Mesquita de Córboba é hoje uma catedral.
Na verdade, a Mesquita-Catedral de Córdoba é um exemplo ímpar da fusão entre a cultura islâmica e cristã – ainda que a mescla pareça estranha. Vou tentar explicar.
Um pouco de história
Corria o ano de 784 quando Abd al-Rahman I, Governador de al-Andalus, mandou construir a Grande Mesquita de Córdoba. Foi edificada sobre a então existente Basílica de San Vicente Mártir, tendo aparentemente como modelo arquitetónico a Grande Mesquita de Damasco, na Síria.
Ao longo dos tempos, para melhor responder ao aumento demográfico, a mesquita foi sofrendo sucessivas ampliações – três, no total – até alcançar as dimensões atuais. O edifício foi usado como mesquita até 1236, ano da Reconquista, altura em que a cidade de Córdoba ficou “nas mãos” do rei Fernando III de Castela.
Na sequência dessa alteração no status quo andaluz, a zona central da mesquita haveria de ser convertida num espaço destinado aos fiéis católicos. Ao longo dos anos, foram sendo acrescentadas mais capelas e outras características cristãs, incluindo a conversão do antigo minarete em Torre Campanário.
A transformação final deu-se já na regência de Carlos V, rei de Castela e Aragão, que ordenou a construção de uma imponente nave central – ainda hoje existente – no coração da antiga sala de orações da outrora mesquita. E o lugar transformou-se numa amálgama de estilos; algo que julgo ser extraordinário para os historiadores mas difícil de absorver para o comum dos mortais.
Mesmo não tendo a veleidade de corroborar a afirmação do rei – que, insatisfeito com o resultado final, terá comentado que “destruíram algo único para construírem algo comum” -, não haja dúvidas de que o interior da atual Catedral de Córdoba é uma mistura tão fascinante quanto estranha.
A minha visita à Mesquita-Catedral de Córdoba
“O Sítio Monumental da Mesquita-Catedral resume a nossa identidade como poucos outros edifícios conseguem fazer. A complexidade da história em exibição na catedral proporciona um dos seus mais bonitos exemplos. É um edifício vivo, que integra de forma visível as camadas de história de diferentes culturas e civilizações.”, in site oficial da Mesquita-Catedral de Córdoba.
Cheguei cedo, aproveitando a janela temporal em que a entrada é gratuita. A fila tinha algumas dezenas de pessoas e, assim que o relógio marcou 8:30, a entrada deu-se de forma lenta mas tranquila.
Lá dentro, a primeira coisa que me impressionou foi a avassaladora magnitude do edifício – foi, em tempos, uma das maiores mesquitas do mundo. E depois, os distintivos arcos pintados de vermelho e branco, o mihrab belo e elegante, as diversas capelas – incluindo a Capela Maior -, os jogos de luz e sombra proporcionados pelas janelas. Tudo é grandioso e belo!
E assim fui vendo e fotografando, tão deliciado quanto confuso com aquele cocktail religioso, controlando as horas para conseguir ver tudo – ou quase tudo – antes da debandada forçada. Sem surpresa, alguns minutos antes das 9:30 os seguranças começaram a pedir a toda a gente para sair. Teria ficado mais tempo para ver a mesquita com mais detalhe e calma, confesso.
Antes de abandonar o complexo e explorar a vizinha Judiaria de Córdoba, deixei-me ficar no Pátio das Laranjeiras. Soube-me bem apreciar o ambiente tranquilo rodeado de árvores e defronte da elegante Torre Campanário, outrora minarete.
Quando por fim saí do complexo, estava praticamente terminado o meu roteiro de 8 dias na Andaluzia. Valeu a pena!
Impressões sobre a Catedral de Córdoba
Talvez seja implicação minha, mas a Mesquita-Catedral de Córdoba é um edifício estranho. Não há dúvida de que é belíssima e imponente, ao nível do melhor que já vi em termos de arquitetura islâmica; mas o templo católico “encaixado” no centro da sala de orações parece fora de sítio. É como se não pertencesse àquele lugar – e, na verdade, não pertence.
Não é fácil, por isso, encontrar uma unidade arquitetónica ou decorativa no interior da mesquita-catedral. Porventura essa unidade nem sequer existe, nem tampouco seja suposto existir. São demasiadas camadas de tempo, de símbolos decorativos ao serviço de religiões diferentes, e o resultado é, digamos, intrigante.
Honestamente, fiquei com a ideia de que os acrescentos católicos acabam por prejudicar a arquitetura islâmica. Vale o que vale, mas foi a impressão com que saí da mesquita-catedral.
Sim, a Mesquita-Catedral de Córdoba merece todas as visitas e elogios; mas saí de lá sem conclusões definitivas sobre a mistura de funções e estilos.
Veja também o texto sobre o que fazer em Córdoba.
Guia para visitar a Mesquitade Córdoba
Quando ir
Embora teoricamente seja possível visitar Córdoba em qualquer altura do ano, eu recomendo a primavera e o outono. Só assim evitará as temperaturas mais extremas da Andaluzia (extraordinariamente quente no verão e muito fria no inverno).
Dicas para organizar a visita à Mesquita de Córdoba
Algumas dicas adicionais para visitar a Mesquita-Catedral de Córdoba sem sobressaltos:
- É possível visitar o interior do edifício gratuitamente. Diariamente, entre as 8:30 e as 9:20 não se paga para entrar na Mesquita-Catedral de Córdoba. É uma excelente altura para o fazer, até porque nesse período os grupos organizados não são permitidos. Não pense, no entanto, que vai ter a mesquita-catedral só para si. Para o conseguir, ainda que por breves minutos, chegue com, pelo menos, 30 minutos de antecedência (com o objetivo de ser dos primeiros a entrar).
- Para outros horários, compre os bilhetes no site oficial. A visita ao interior da mesquita-catedral custa 10€ (gratuito para crianças com menos de 10 anos); a visita noturna custa 18€; e a subida à Torre Campanário custa 2€ adicionais. Eu não subi à torre, mas julgo que teria sido uma boa opção.
- Vá a pé.
Onde ficar
Sendo uma cidade turística, Córdoba dispõe de uma vasta oferta em termos de alojamento. Mais do que o hotel, o importante é, assim, escolher bem a zona onde ficar hospedado. Dessa forma, poderá explorar o compacto centro histórico a pé e assim evitar o recurso a táxis ou transportes públicos.
Em concreto, recomendo principalmente as áreas da Judiaria e do chamado centro histórico, da Judiaria até à Praça de las Tendillas (para uma vivência mais histórica) ou, em alternativa, as proximidades à Avenida de la República Argentina e Paseo de la Victoria (para uma experiência mais cosmopolita, mas perto de tudo).
Em concreto, no segmento mais económico, o Patios del Orfebre é uma escolha perfeita; o Hotel San Miguel é simples mas com excelente qualidade/preço; enquanto que o Hostal Osio é um dos melhores hostels de Córdoba (para viajantes jovens de espírito). De resto, entre os grandes hotéis, o Maciá Alfaros é um dos mais baratos e populares.
Podendo pagar um pouco mais, o belíssimo Hotel Madinat é uma aposta sem risco, tal como o inspirador Hotel Boutique Patio del Posadero. Seja como for, encontra os melhores hotéis de Córdoba (para todos os gostos e orçamentos) no link abaixo.
Seguro de viagem
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