Não adie as suas viagens (a vida muda, os países também)

Por Filipe Morato Gomes
Aldeia de Tiébélé, Burkina Faso
Aldeia de Tiébélé, sul do Burkina Faso (autor desconhecido)

Já aqui contei a história de não me ter apetecido viajar para o Mali e Burkina Faso. Corria o ano de 2007, tinha sido pai pela primeira vez há poucos meses e não tive “coragem” de deixar a minha filha para visitar dois países que queria muito conhecer.

Seriam apenas três semanas de viagem, mas tinha planeado um itinerárto que me permitiria conhecer o básico de ambos os países. Iria voar de Portugal para Ouagadougou, a capital do Burkina Faso (existe capital com nome mais musical do que este?), tendo voo de regresso a partir de Bamako, no Mali.

Sou fã de estruturas de adobe e sonhava conhecer a inigualável Mesquita de Djenné. Adoro povos singulares e queria muito visitar as aldeias encavalitadas nas escarpas do chamado País Dogon. Gosto de água e pensava um dia percorrer parte do Rio Níger. Gosto de eventos culturais e o Festival do Deserto, nos arredores de Timbuktu, é um encontro musical que me despertava curiosidade. Gosto de arquitetura e quer a cidade de Bobo-Dioulasso, quer a bonita aldeia de Ségou mereceriam com toda a certeza a minha visita. Gosto de aldeias e ambientes rurais e fascinava-me a criatividade expressa em  Tiébélé, aldeia habitada pela etnia Kassena. E o fascínio mantém-se.

Sim, motivos não faltam para comprar novo bilhete de avião e rumar ao Mali e ao Burkina Faso.

Mas a verdade é que passaram 7 anos e eu ainda não lá fui.

Entretanto, aprofundei o relacionamento com a agência de viagens Nomad, fiz uma volta ao mundo em família e uma longa viagem terrestre entre o Cairo e Teerão, para além de dezenas de pequenas viagens um pouco por todo o mundo, comecei a dar workshops de Escrita de Viagens e ainda tive tempo para lançar a Hotelandia. Tudo coisas que exigem tempo e dedicação. E agora sou de novo pai.

Para complicar, com a tomada de vastas regiões do norte do Mali por grupos radicais islâmicos, o país foi sendo afetado por graves problemas de segurança e intolerância (lembram-se da destruição de parte do património existente em Timbuktu?). E isso afastou o Mali do radar de viajantes como eu.

No mês passado, foi a vez de uma espécie de golpe de Estado retirar a estabilidade política ao vizinho Burkina Faso. Com uma junta militar a assumir o controlo do poder, temo bem que, nos próximos tempos, o Burkina Faso não volte a ser o país tranquilo que eu tinha em mente quando planeei a tal viagem à África Ocidental.

Mas porque escrevo isto hoje?

Por uma razão muito simples. O Burkina Faso tinha voltado à minha cogitação e, ao deparar-me com a magnífica fotografia que ilustra este post, partilhada num grupo de amigos viajantes, deu-me uma vontade súbita de fazer esta viagem há muito adiada. E voltei a recordar que devo a mim próprio esta viagem há já 7 anos.

Sei que um dia rumarei à África Ocidental para conhecer o Burkina Faso e o Mali mas, dadas as circunstâncias no terreno e os meus afazeres, não sei quando embarcarei rumo a essa viagem há tanto tempo adiada.

Moral da história: a não ser por motívos de força maior, como os que me fizeram não entrar no Ruanda no ano passado, não adie as suas viagens. A vida muda, e os países também. E nunca se sabe se e quando voltará a surgir a oportunidade de fazer essas viagens.

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

4 comentários em “Não adie as suas viagens (a vida muda, os países também)”

  1. Estive no Mali, no mês passado, mesmo assim não visitei tudo o que queria, mas adorei ver o Dogon Country e estive em Timbuktu – acho que era importante lá ir. Tenho algumas fotos em https://www.facebook.com/DMVMUNDO/

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  2. Estivemos em Israel com os miúdos dias antes do confronto “rebentar”… Já se sentia a pressão um pouco por todo o lado e tivemos de mudar alguns itinerários porque sabíamos que havia lugares já com problemas, mas ficámos contentes por termos escolhido aquele país na altura certa. Certamente não será o mesmo por muitos e muitos anos.

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  3. Concordo em absoluto. Infelizmente também já deixei para trás alguns países que tinha planeado, como foi o caso Síria em 2009, e agora, por força das circunstâncias que todos conhecemos, não vejo grandes possibilidades em o fazer nos próximos anos. Há momentos em que são reunidas condições de viagem que podem não repetir-se.

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  4. Pois este post reflete a minha maneira de pensar. Apesar de se poder ir a Timbuktu (o problema não é ir), a questão aqui é, há locais perdidos, destruídos que nunca mais voltarão a ser o que eram. Para mim, estou triste pela Síria, país com uma história perdida. Basicamente quem foi foi, quem não foi, nunca mais irá à Síria histórica original. Perdeu-se. Estou triste por Timbuktu e Gao no Mali, cidades com monumentos históricos que nunca mais podem ser visitados porque simplesmente foram destruídos (felizmente visitei estes locais em 2008). Estou a ficar preocupado com a situação do Líbano e a pensar em mudar a minha presente viagem para ir lá o mais rápido possível, já que ISIS estão com planos para começar a atacar o Hezbollah e entrar e tomar o Líbano. Obrigado por tocares neste assunto e incentivares o pessoal a ir seja para onde for, sem medos, sem desculpas. Só ir. Grande abraço da China.

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