O que fazer em Yerevan, capital da Arménia

Yerevan é uma capital relativamente compacta, perfeita para se deixar perder por entre os belíssimos – mas incompreensíveis – caracteres do alfabeto arménio patentes em fachadas e neons. De preferência, a pé.

É certo que Yerevan não tem o charme magnético de Tbilisi, capital da vizinha Geórgia (as comparações são inevitáveis). Em sua defesa, creio que Yerevan precisa de tempo para ser apreciada, saboreada, vivida. Porque a sua beleza é menos óbvia ao primeiro encontro. E isso não se compadece com viagens apressadas.

Eu tive a sorte de visitar Yerevan na companhia de pessoas que conhecem bem a cidade; facto que me permitiu, apesar do curto tempo de estadia na capital arménia, esgravatar um pouco para lá da superfície.

Desde logo, o meu amigo Carlos Carneiro, líder de viagens na Arménia. Mas também Christine, uma habitante de Yerevan recém-convertida em guia turística; e ainda Vako, um arménio que organiza interessantes passeios a pé “gratuitos” (as típicas free walking tours onde, no final do passeio, é obrigatório – ou pelo menos de bom-tom – dar uma gorjeta ao guia local) em Yerevan.

Fui, de certa forma, um visitante privilegiado por causa dessas companhias – e venho agora partilhar as descobertas que fiz. Assim, no rescaldo da minha visita à capital da Arménia, eis algumas experiências que recomendo fazer em Yerevan.

O que visitar em Yerevan

Mesquita Azul

A Mesquita Azul é uma mesquita xiita do século XVIII, e a única do chamado Período Iraniano que resistiu ao domínio soviético (não foi destruída porque funcionou como um museu). É, na verdade, a mais antiga mesquita da cidade capital da arménia.

Mas o mais extraordinário é que a Mesquita Azul é usada como espaço de oração por todos os muçulmanos a viver em Yerevan, tanto por xiitas como por sunitas. E isso é algo extremamente raro à escala mundial. Um exemplo para todo o mundo, portanto. A visitar!

Complexo Cascade (e o Cafesjian Center for the Arts)

O complexo Cascade foi concebido pelo arquiteto Alexander Tamanyan, com o objetivo de ligar a parte central de Yerevan à zona Norte da cidade. A ideia era criar uma área verde com cascatas e jardins, onde fosse agradável passear. A obra, no entanto, nunca foi concluída.

Nos dias de hoje, há uma escada rolante gigante com obras de arte ao longo do percurso – pinturas, esculturas e instalações várias -; e uma galeria de arte num dos pisos que, infelizmente, encontrei encerrada. Ao projeto artístico deu-se o nome de Cafesjian Center for the Arts – e é motivo suficiente para visitar o complexo Cascade.

Lá fora, há ainda estátuas e uma enorme instalação artística (um bule de ferro gigante) que, de alguma forma, me fez lembrar as criações da portuguesa Joana Vasconcelos.

Site oficial: www.cmf.am

Museu Sergei Paradjanov

Sergei Paradjanov nasceu em Tbilisi, na vizinha Geórgia, e foi um dos mais importantes realizadores de cinema da Arménia do século XX. “Um dos mais proeminentes arménios, temos tanto orgulho nele!”, disse-me Christine.

Proibido de fazer filmes, Paradjanov começou a criar colagens com restos de materiais diversos como forma de retratar a sociedade. A sua casa, agora transformada em museu, é um autêntico delírio visual, fruto de uma mente que aparentava ter tanto de genialidade como de loucura criativa. De certa forma, fez-me lembrar o agora fechado Museu Mara Mao, em Lanzarote, ou o inenarrável Helga’s Folly, em Kandy, no Sri Lanka.

Tudo somado, vale a pena espreitar e deixar-se surpreender pelo génio criativo de Paradjanov. É algo a incluir na lista com o que fazer em Yerevan.

Site oficial: www.parajanovmuseum.am

Praça da República

Chamada Praça Lenin até à independência da Arménia, a agora Praça da República é o coração cívico de Yerevan. A estátua de Vladimir Lenin foi removida, e hoje imperam apenas os lagos e as fontes; para além de todo o conjunto arquitetónico envolvente – do Museu de História à Galeria Nacional, passando pelo luxuoso Hotel Marriott e vários edifícios governamentais.

Passei mais do que uma vez junto à Praça da República. À noite, assisti a um espetáculo de água e luzes chamado Dancing Fountains, tão kitsch quanto concorrido. Valeu pela moldura humana, numa espécie de imersão no quotidiano da capital arménia.

Museu Ter-Ghazaryans

Aberto em 2018 no coração de Yerevan, o Ter-Ghazaryans’ Micro Art é o primeiro museu de microminiaturas da Arménia. Em exposição, trabalhos microscópicos da autoria de Eduard Ter-Ghazaryans; que pediu ao seu homónimo neto que preservasse a sua arte e a transmitisse às gerações vindouras.

A visita ao museu fez-me recordar as múltiplas vezes em que fiquei boquiaberto no Museu da Catedral Vank, no bairro arménio de Esfahan, Irão, ao ver uma frase inteira escrita em caracteres arménios num cabelo humano.

É certo que não é daqueles lugares de visita obrigatória. Mas, se em algum momento da viagem não souber o que fazer em Yerevan, aqui fica esta sugestão mais fora da caixa.

Gum Market

Seguramente o melhor mercado de frescos para visitar em Yerevan – e suspeito até que o Gum Market seja o mais interessante mercado local de toda a Arménia. Imperdível!

Cheguei de marshrukta, entrei e fiquei imediatamente rendido. Frutas e vegetais, pão, uma imensidão de frutos secos ou cristalizados apresentados de forma criativa; e muita quinquilharia chinesa no piso superior. De tudo um pouco se vende no Gum Market.

Enquanto passeava pelo mercado, tentando não atrapalhar os vendedores, muitos deles chamavam-me e faziam questão de dar a provar os seus produtos; mesmo quando lhes tentava explicar que não iria comprar nada.

Passei algum tempo a vaguear pelo interior do Gum Market e, entre a miríade de produtos disponíveis, um houve que me chamou a atenção: cristas de galo. Não me recordo de ter visto cristas de galo à venda noutros mercados.

Tudo somado, o Gum Market é daqueles lugares que tem mesmo de visitar em Yerevan. Nem que faça apenas um roteiro de um dia, antes de sair da capital para explorar o resto da Arménia.

Catedral de São Gregório, o Iluminador

A Catedral de São Gregório, O Iluminador, também conhecida como Catedral de Yerevan, é um complexo religioso de grandes proporções – tida como a maior catedral da Igreja Apostólica Arménia do mundo. A catedral foi instalada no topo de uma colina, e marca de forma bem vincada a paisagem da cidade.

Pela minha parte, confesso que não me delonguei em demasia (não tenho grande interesse em igrejas e arte sacra, admito); mas a visita vale a pena.

Caso se interesse pela história de São Gregório, não deixe de visitar o Mosteiro Khor Virap, localizado a 45km de Yerevan.

Memorial e Museu do Genocídio

Construído na colina de Tsitsernakaberd, o complexo é um memorial dedicado às vítimas do chamado Genocídio Arménio levado a cabo pelas forças otomanas, entre os anos de 1914 e 1923 – e que a Turquia nunca reconheceu.

Não me vou alongar em palavras, porque há momentos em que prefiro o silêncio.

Site oficial: www.genocide-museum.am

Mercado de rua Vernissage

Apesar de não tão interessante como o Gum Market (pelo menos para o meu gosto), o Vernissage é um mercado de rua onde vale a pena passar. Nem que seja só para ver os souvenirs à venda nas bancas. Sejam artesanato original ou produtos de fraca qualidade…

Não é de todo uma prioridade: mas fica a dica, caso tenha tempo de sobra e não saiba o que fazer em Yerevan.

Interior dos quarteirões

Por vezes, basta ser curioso e espreitar para lá de um portão, de um pequeno túnel, de uma ruela aparentemente desinteressante para se conhecer uma faceta totalmente distinta do destino. E Yerevan não é exceção.

Não vou indicar nenhum local específico, precisamente para apelar à curiosidade do viajante; mas posso garantir que, por detrás de fachadas monumentais em grandes avenidas se escondem becos, pracinhas e pátios saídos de um filme de Emir Kusturica. A dica é, pois, apenas uma: em Yerevan, seja curioso.

Restaurante Abovyan 12

Misto de galeria de arte, restaurante e café ao ar livre, o Abovyan 12 é seguramente um dos mais agradáveis restaurantes de Yerevan. E o melhor é que a comida é absolutamente deliciosa (foi lá que fiz uma das melhores refeições durante a viagem pela Arménia). A chamada Dalan Art Gallery fica no segundo piso do edifício.

Site oficial: www.dalan.am

Vida noturna: Simona e Jean-Paul Existential Cafe

É cada vez mais raro sair à noite em viagem. Mas, em Yerevan, estando na companhia de amigos, proporcionou-se experimentar dois bares totalmente distintos.

Primeiro, passei pelo pequeno Jean-Paul Existential Cafe, um espaço muito simples no primeiro andar de um prédio, com mobiliário velho e desconexo, um pouco à imagem do portuense Plano B, do lisboeta Casa Independente ou do aveirense Mercado Negro – embora bem mais pequeno. Fui bem recebido mas, infelizmente, talvez fruto da hora (era cedo), o bar encontrava-se vazio e sem alma. Acredito que à hora certa teria sido bem mais interessante.

Mais tarde, fui conhecer o bar Simona, um espaço pequeno mas acolhedor localizado numa cave junto ao parque Missak Manouchian. Ao contrário do Jean-Paul, estava muito animado e cheio de gente a conversar e a dançar. Acabei por ficar lá um bom par de horas, a beber uns copos e a conversar com os amigos. Gostei muito do ambiente (até aparecer a polícia e a música ser desligada, talvez pelo adiantado da hora), pelo que recomendo sem hesitar.

Mapa: o que fazer em Yerevan