A imagem é icónica – e por bons motivos. Vinhas verdejantes (ou em cores outonais), uma colina com o mosteiro Khor Virap esgueirando-se como que a desafiar o Monte Ararat, imponente, em pano de fundo. Uma visão incrivelmente bela e fotogénica.
Não é, no entanto, por isso que Khor Virap é um dos locais mais visitados de toda a Arménia. Especialmente entre os que o visitam por motivos religiosos.
Mosteiro Khor Virap: contexto histórico
Reza a lenda que São Gregório – o Iluminador – foi mantido preso num buraco profundo durante mais de 13 anos, por ordem do Rei Tirídates III. Isto porque o religioso estaria a tentar espalhar a fé Cristã na região, algo que, naturalmente, desagradava ao rei.
Na altura, Khor Virap funcionava como castelo e masmorra real, junto à antiga capital arménia de Artashat. Habitado por cobras e famoso por práticas de tortura, o local não era, de todo, dos mais agradáveis onde ficar preso. Mas Gregório a tudo terá sobrevivido, incluindo à fome – ao que consta com a cumplicidade de uma mulher cristã que, diariamente, lhe atirava comida.
A certa altura, porém, o Rei Tirídates III terá ficado doente e, por insistência da sua irmã (que terá tido um sonho profético), libertou Gregório com a missão de o curar. Gregório assim fez, tornando com isso o monarca num acérrimo defensor do Cristianismo. Terá sido esse o primeiro passo para a adoção do Cristianismo como religião oficial da Arménia – o primeiro país do mundo a fazê-lo, corria o ano de 301.
O mosteiro em honra de São Gregório foi posteriormente construído nesse exato local, tendo como epicentro o poço onde Gregório esteve preso. É, pois, mais por todo o simbolismo associado do que pela beleza do Vale de Ararat que o povo arménio visita Khor Virap com emotividade e devoção.
A minha visita ao Mosteiro Khor Virap
Cheguei de manhã cedo a Khor Virap, um mosteiro medieval amuralhado construído no Vale de Ararat a dois passos de Artashat, antiga capital da Arménia. Fica bem próximo da fronteira com a Turquia, atualmente fechada por razões políticas.
Felizmente, ainda não havia muita gente em Khor Virap (os vendedores ambulantes estavam ainda a montar as suas bancas junto ao parque de estacionamento); e deu para explorar o mosteiro com relativa tranquilidade.
Atravessei a muralha, dando de caras com um edifício de pedra bem conservado no centro do complexo. Com o céu limpo, a minha atenção virou-se de imediato, no entanto, para as magníficas vistas sobre o cume nevado do Monte Ararat – já em território turco. Que visão maravilhosa!
Depois de me deixar ficar algum tempo a contemplar aquele quadro natural, dirigi-me então à chamada Igreja da Sagrada Mãe de Deus, construída no século XVII em torno do poço onde Gregório foi mantido em cativeiro. Uma estrutura simples, edificada no coração de um grande pátio, como epicentro de um complexo que mais se assemelha a uma pequena fortaleza.
É lá que, através de uma escadaria íngreme, se tem acesso ao poço onde Gregório esteve preso. Não tenho fotos do espaço; mas é suficientemente pequeno e claustrofóbico para ser difícil imaginar como alguém ali pode ter conseguido viver durante mais de uma década.
Surpreendente, e apesar da grande importância que Khor Virap tem na história religiosa do país, o mosteiro não integra a lista de Património da UNESCO na Arménia. Que isso não seja motivo para não o visitar!
Pela minha parte, foi um dos pontos altos da minha viagem pela Arménia (aliás, de todo o roteiro no Cáucaso).
Há uma infinidade de mosteiros na Arménia, cada um com a sua história, o seu estilo, os seus encantos visuais. Para além do Mosteiro Khor Virap, conheci também Tatev e Matosavank. Recomendo todos!
Localização exata do mosteiro Khor Virap: ver no Google Maps.
Guia prático
Como chegar
Quando visitei o mosteiro não havia transporte público entre Yerevan e Khor Virap. No entanto, recebi recentemente a indicação de que o autocarro #467 parte das traseiras da estação de metro Sasuntsi Davit (Yerevan) às 11:00, 14:00 e 15:00, com destino a Noyakert e paragem em Khor Virap. Note que não usei o transporte, pelo que deve confirmar in loco esta informação (bem como os horários de regresso).
Seja como for, a forma mais cómoda de chegar ao Mosteiro Khor Virap é, naturalmente, num táxi com motorista ou em carro alugado. Dessa forma poderá combinar a visita a Khor Virap com outras atrações da região de Ararat.
Dicas
Algumas dicas para aproveitar melhor a visita ao Mosteiro Khor Virap:
- Khor Virap é um dos locais mais visitados em território arménio, pelo que o melhor conselho que lhe posso dar é: vá cedo. O mais cedo possível. Só assim evitará a sensação de um local sobrelotado. E, claro, evite feriados e fins de semana.
- Por uma questão de respeito, vista-se com discrição.
Onde ficar
O mais provável é que visite Khor Virap a partir de Yerevan e tendo a concordar com a opção. Julgo, por isso, que não se justifica ficar nas proximidades do mosteiro.
Quanto aos hotéis de Yerevan, no final do texto sobre o que fazer em Yerevan explico com mais detalhe as melhores opções; mas, em todo o caso, aqui ficam três nomes que deve considerar.
Eu fiquei no razoável City Centre Hotel, e gostei particularmente da localização, em pleno centro de Yerevan. De resto, no segmento mais económico, destaque para o acolhedor Hin Yerevantsi Hotel, que recolhe uns impressionantes 9,8 de classificação no booking. Por fim, a guesthouse The Yard e o Unique Hotel são outras opções de qualidade e bem localizadas na capital arménia.
Por fim, entre os hotéis de luxo, o Republica é uma boa escolha para quem gosta de conforto e não se importa de pagar por isso. Para conhecer todos os hotéis em Yerevan utilize o link abaixo.
Seguro de viagem
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Que história! Fechado no meio de cobras e tortura, um sonho. Belo relato, sempre a deixar vontade de visitar os locais.