Arashiyama é um dos meus distritos preferidos em Kyoto. Foi, aliás, onde fiquei alojado, mesmo sabendo não ser uma zona central da cidade. Mas isso permitiu-me conhecer o bairro de Arashiyama de forma muito mais intensa. Dei comigo a sentir o bairro. E foi fantástico.
Ora, bem sei que poucas pessoas optarão por ficar em Arashiyama – porque fica já nos arredores de Kyoto. E que, provavelmente, a maioria planeia dedicar apenas algumas horas àquela zona da cidade para visitar a Floresta de Bambu e o Templo Tenryu-ji – ambos fundamentais em qualquer visita a Kyoto -, e pouco mais. Ora, eu vou tentar que fique mais tempo; o meu desafio é, pois, que não passe pelo bairro de Arashiyama a correr.
Este post compila o que de melhor pode fazer e visitar em Arashiyama durante um dia bem preenchido, numa espécie de roteiro que permite conhecer o melhor da região. Poderá, depois, regressar ao centro de Kyoto a tempo, por exemplo, de visitar o Mercado Nishiki, de jantar em Pontocho ou de percorrer as ruas de Gion.
A ordem das visitas não é irrelevante, mas também não é obrigatório segui-la religiosamente. Eis o que fazer em Arashiyama, num dia perfeito – digo eu – na cidade de Kyoto.
O meu roteiro em Arashiyama
Floresta de Bambu
A Floresta de Bambu de Arashiyama é uma das duas atrações mais emblemáticas e fotografadas de Kyoto. É, por isso mesmo, muito visitada. Se quer um conselho, comece cedo. Bem cedo. Só assim terá oportunidade de ver a Floresta de Bambu quase deserta.
Aproveite para apreciar o ambiente místico proporcionado pelos primeiros raios de sol a penetrarem estoicamente através de troncos e folhas. Caminhe, pare, fotografe, aprecie. É um lugar único em Kyoto!
Mais tarde neste roteiro em Arashiyama, terá oportunidade de voltar a passar pela Floresta de Bambu em sentido inverso. Nessa altura, encontrará gente. Muitos turistas estrangeiros, é certo. Mas também japonesas envergando belos kimonos coloridos; porventura jovens recém-casados com roupas tradicionais. E gente, muita gente, estrangeiros e japoneses, de telemóvel em punho tentando congelar a essência da Floresta de Bambu de Arashiyama numa fotografia.
Por agora, indo de manhã cedo, aprecie os raios de sol tentando penetrar na densa floresta. O ambiente.
A maioria dos guias de viagem sugere entrar na Floresta de Bambu depois de visitar o Templo Tenryo-ji. E, na verdade, geograficamente falando, faz todo o sentido. A questão é que eu prefiro visitar a Floresta de Bambu o mais cedo possível, deixando o templo para mais tarde.
Quando visitei Kyoto, ainda não tinha ouvido falar dos jardins Okochi Sanso mas, depois de ter lido a respeito em diferentes sites, fiquei convencido que devem mesmo valer a pena. Passe por lá e depois conte como foi aqui nos comentários.
As ruas de Arashiyama
No final da Floresta de Bambu, resista à tentação de voltar para trás. Arashiyama é um bairro tradicional e muito fotogénico, e não se admire se vir uma maiko – aprendiz de gueisha – a escapulir-se por entre a madeira de uma porta.
Foi o que me aconteceu, e nem queria acreditar nos meus olhos. Saiu de uma casa de madeira, caminhou uma centena de metros de forma esquiva e sem olhar à sua volta, e entrou numa outra casa tradicional. Foi um vislumbre fugaz mas marcante.
Em suma, vale a pena deixar-se perder um pouco pelas pequenas ruas do bairro e explorar sem rumo. Ou, pelo menos, prosseguir caminho até chegar ao Templo Gio-ji. Mas nunca, nunca volte para trás ao chegar ao final da Floresta de Bambu. Porque Arashiyama é muito mais do que isso.
Templo Gio-ji
Não sei o número exato de templos existentes em Arashiyama, mas são muitos mais do que aqueles que o comum dos mortais aguenta visitar num dia de viagem. Por isso, e para além do inevitável Tenryu-ji, elegi apenas outros dois cuja visita recomendo sem reservas. Até porque encaixam na perfeição neste roteiro em Arashiyama.
O Templo Gio-ji é um deles.
É um templo bem simples, com apenas um pequeno edifício e sem a espetacularidade de outros templos de Kyoto. Mas tem uma atmosfera muito interessante, com especial destaque para as árvores (bordos, também conhecidas por acer) e para uma espécie de jardim de musgo existente no exterior. É especialmente bonito na primavera e no outono.
O Templo Gio-ji não demorará muito tempo a visitar. Depois é continuar a subir pelas ruas do bairro Arashiyama em direção à “rua preservada” de Saga Toriimoto.
Saga Toriimoto
Boa parte da rua Saga Toriimoto, a caminho do Templo Adashino Nenbutsu-ji, tem sido preservada no estilo original, correspondente ao Período Meiji. Para desfrutar da rua – que para mim serviu como forma de chegar ao Templo Otagi Nenbutsu-ji – é preciso descontar o facto de muitas das antigas casas tradicionais funcionarem hoje como lojas e restaurantes, e tentar imaginá-las nas suas funções residenciais originais.
Ao fundo da rua, um torii (portão típico dos santuários xintoístas).
Atago Torii
Localizado no extremo da rua Saga Toriimoto, o Atago Torii marca o final do bairro de Arashiyama. É um torii pitoresco, que passará a caminho do Templo Otagi Nenbutsu-ji.
Consta que ao lado do torii há duas casas de chá seculares muito interessantes, chamadas Hiranoya e Tsutaya. Terão uns bons quatrocentos anos de existência, dizem, mas eu confesso que não parei para experimentar.
Templo Otagi Nenbutsu-ji
Se, na bifurcação junto ao Atago Torii optar pelo caminho da direita, que eu recomendo, dará de caras com uma das grandes surpresas deste roteiro em Arashiyama.
O Otagi Nenbutsu-ji é conhecido como o “templo das 1.200 estátuas”; e é seguramente o templo mais bizarro de Kyoto. As esculturas retratam os Rakan – discípulos de Buda – e são todas únicas. Foram feitas por inúmeros fiéis aquando da última reconstrução do templo e têm, por isso, estilos diversos. São harmoniosamente desencontradas. Há caras com expressões para todos os gostos: assustadoras, queridas, bizarras, divertidas, intrigantes, misteriosas. Caminhar por entre elas é, simultaneamente, estranho e divertido.
Para mim, é imperdível. Aconselho vivamente.
Leia As 1.200 estátuas de Otagi Nenbutsu-ji, o mais bizarro templo de Kyoto.
Restaurante Hanana
Por esta altura, será seguramente hora de almoçar. Na verdade, estará já fora do perímetro de Arashiyama, pelo que o ideal será voltar para a rua mais movimentada do bairro, onde há vários restaurantes muito recomendáveis.
Foi o que eu fiz.
Caminhar pelas ruelas do interior de Arashiyama tinha sido um prazer tão grande que regressei a pé pelo mesmo caminho (há transportes desde o Templo Otagi Nenbutsu-ji, se preferir). E assim voltei a passar na zona mais tradicional de Arashiyama e na Floresta de Bambu.
O objetivo do regresso era experimentar o muito elogiado restaurante Hanana, localizado precisamente na rua principal de Arashiyama, bem perto do início da Floresta de Bambu.
A ementa é curta, mas não se preocupe. O peixe cru era delicioso – e não vou dar muitos detalhes sobre a refeição; é ir e experimentar! A refeição no Hanana acabou por não entrar no meu TOP das melhores experiências gastronómicas que tive no Japão, mas por pouco.
Quando cheguei havia fila e o menu especial já estava esgotado. Vá muito cedo (antes das 11:30) ou prepare-se para esperar.
Templo Tenryu-ji
De estômago reconfortado, não pode deixar de visitar o Templo Tenryu-ji antes de abandonar Arashiyama. É, aliás, um dos templos classificados pela UNESCO, e uma das atrações turísticas mais famosas de Kyoto.
Fui e gostei. Mas manda a honestidade dizer que senti alguma desilusão com o edifício; ou melhor, com o facto de ter pago para o ver. Isto porque havia dois bilhetes separados, um para visitar os jardins e outro para ter acesso ao interior do templo propriamente dito; mas dos jardins (belíssimos por sinal) via-se o interior do templo suficientemente bem. Senti-me, pois, um pouco “enganado”. Não vale a pena comprar o bilhete para entrar no templo.
Comprar kimonos (em segunda mão)
Quem me lê sabe que nunca faço compras em viagem e, por isso, esta recomendação pode soar estranha. Mas, desta vez, tinha um pedido da minha filha. Queria que eu lhe levasse um kimono do Japão.
Ora, como Kyoto era o último destino da minha viagem ao Japão (descontando as horas passadas em Osaka antes de ir para aeroporto), deixei para Kyoto a missão de comprar um kimono.
Tinha entrado em várias lojas noutros bairros mais centrais da cidade, mas rapidamente desistia da ideia quando via os preços. Até que, certo dia, tinha já praticamente desistido de comprar um kimono, quando vi uma loja de kimonos usados bem perto da estação de comboios de Arashiyama.
Era um espaço pequeno, gerido por uma japonesa muito simpática e atenciosa, e foi lá, naquela loja onde entrei quase por acaso, que acabei por comprar o kimono e a preços mais simpáticos.
Em suma, se tiver alguma “encomenda” do género (ou interesse em ver kimonos japoneses), é um espaço que vale a pena visitar.
Ponte Togetsukyo
Juntamente com a Floresta de Bambo, a Ponte Togetsukyo é uma das imagens mais icónicas de Arashyiama. Com o Monte Arashi sempre em pano de fundo, a paisagem muda radicalmente de estação para estação, e pode incluir cerejeiras em flor na primavera, verdes vibrantes no verão ou as famosas cores outonais do Japão.
Na verdade, a Ponte Togetsukyo não é o tipo de lugar onde deve investir muito do seu tempo em Kyoto mas, estando em Arashiyama, há outro motivo mais especial para se dirigir até à ponte: há um % Arabica logo ali.
% Arabica Arashiyama
Para terminar o passeio em Arashiyama, nada melhor que um café para retemperar energias antes de regressar ao bulício do centro de Kyoto. E eu conheço o sítio perfeito para tal.
Com três pequenos cafés em Kyoto – entre os quais um muito famoso em Higashiyama -, o % Arabica serve aquele que é unanimemente considerado o melhor café de Kyoto. Ora, um dos cafés fica a sul da rua principal de Arashiyama, no enfiamento da Ponte Togetsukyo. É a forma perfeita para dar por findo este roteiro pelo bairro de Arashiyama.
O único problema é que o % Arabica costuma estar cheio e os lugares para sentar são escassos; mas pode sempre usá-lo como take-away, pegar no seu café, capuccino ou machiatto e saboreá-lo no exterior.
Se, por constrangimentos temporais, não puder fazer o roteiro completo, termine o roteiro depois do Templo Tenryu-ji (evitando a loja de kimonos usados, a Ponte Togetsukyo e a paragem no café % Arabica).
Dica Alma de Viajante. Se, ao invés, quiser visitar outros templos em Arashiyama, considere os seguintes (marcados no mapa a laranja): o Senko-ji, para as melhores vistas sobre Kyoto; e o Daikaku-ji. São um pouco mais afastados, mas valem a pena.
Veja também o texto sobre o que fazer em Kyoto.
Mapa: o que fazer em Arashiyama
Guia prático
Como chegar a Arashiyama
Se está hospedado no centro de Kyoto, pode chegar a Arashiyama de autocarro ou comboio.
Alguns autocarros passam na rua principal de Arashiyama; veja num mapa de transportes qual o mais indicado, dependendo da localização do seu hotel. À chegada a Arashiyama, pode sair quase em frente ao Templo Tenryu-ji ou mesmo junto à entrada da Floresta de Bambu. Tenha em atenção que, havendo trânsito, pode demorar mais do que o esperado.
Se preferir o comboio (que eu recomendo), use a linha JR Sagano – gratuita para os portadores do Japan Rail Pass. Saia na estação Saga-Arashiyama e caminhe cerca de 500 metros até à rua principal do bairro. É o local de início deste roteiro em Arashiyama.
Onde ficar em Kyoto
Antes de mais, veja o texto sobre onde ficar em Kyoto para ver as vantagens e desvantagens de cada bairro da cidade. Em todo o caso, eu fiquei hospedado precisamente em Arashiyama, num pequeno apartamento junto à estação de comboios, mas a maioria dos viajantes prefere ficar numa zona mais central de Kyoto.
Entre os hotéis mais elogiados de Kyoto, encontram-se os seguintes (para diferentes orçamentos):
- Mugen ou Yadoya Manjiro – dois ryokan sobre os quais dizem maravilhas;
- Yoko and Akira Guesthouse – uma pousada boa e barata no coração de Kyoto;
- The Prime Pod – um hotel cápsula de Kyoto ultramoderno com toques de requinte (um dos melhores do Japão);
- The Pocket Hotel Kyoto Shijo Karasuma – um hotel económico e muito popular entre os viajantes independentes.
Seguro de viagem
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