Uma das principais atividades que queria fazer em Argel era visitar o kasbah, centro histórico que a UNESCO incluiu na lista de Património Mundial na Argélia no ano de 1982. Não sem surpresa, por isso, dediquei boa parte do meu tempo na capital argelina a explorá-lo. Primeiro, sozinho, caminhando apenas pelo chamado baixo kasbah; depois com Kenza, uma jovem guia local argelina, nascida e criada no interior do kasbah, que ali organiza visitas guiadas.
Ora, no dia em que eu podia visitar o kasbah com Kenza comemorava-se o Dia Internacional da Mulher; e, nesse dia, Kenza tinha agendada uma visita com um grupo de 28 mulheres argelinas.
Pedi a Kenza para me deixar acompanhar o grupo, mas as mulheres recusaram (queriam “estar entre mulheres”). Insisti, dizendo a Kenza que era a minha única oportunidade de visitar o kasbah com ela; ela insistiu junto das mulheres que, por fim, aceitaram a minha presença (fazendo questão de referir que o faziam apenas pelo facto de eu ser estrangeiro). Por tudo isso, acabou por ser um tour diferente do “normal”; mas talvez ainda mais interessante.
A minha visita ao kasbah de Argel
“O kasbah de Argel exerceu uma influência considerável na arquitetura e no urbanismo no norte da África, na Andaluzia e na África subsariana nos séculos XVI e XVII. Essas influências são ilustradas no caráter específico das casas e na densidade da estratificação urbana, um modelo de assentamento humano onde o estilo de vida ancestral e os costumes muçulmanos se misturaram com outros tipos de tradições.”, in UNESCO.
Era naquele ambiente antigo do kasbah que me iria embrenhar, acompanhado por Kenza e todas as outras mulheres do grupo. O ponto de encontro ficava na zona alta de Argel, às portas do kasbah, mas foi já com mais de uma hora de atraso que o grupo chegou. Tempo suficiente para espreitar o que resta da muralha que outrora circunscrevia a cidade; e de conversar com Kenza sobre a vida na Argélia, incluindo os turistas que a procuram para os tours no kasbah.
“As pessoas perguntam-me se a Argélia é perigosa, e eu respondo-lhes ‘estamos aqui tranquilos, não estamos?’; perguntam-me se eu não sou obrigada a usar hijab e eu respondo que não, e que não sou menos crente por não o fazer; mas o que mais me ofende é quando me perguntam se eu posso sair de casa livremente”. Kenza falava como se essa pergunta a irritasse verdadeiramente; “e eu respondo-lhes: estou aqui contigo, não estou?”. Ao ouvi-la, na minha cabeça eram inevitáveis as comparações com as minhas primeiras viagens ao Irão.
Quando começámos finalmente a percorrer as ruas do kasbah com o grupo, saltou-me imediatamente à vista a degradação dos espaços públicos. Havia muitas fachadas em mau estado; ruelas labirínticas pouco cuidadas; homens que pareciam controlar os movimentos do grupo (poderia ser apenas curiosidade, mas não parecia); e, o mais desagradável de tudo, muito lixo pelos cantos. Ao ponto de uma moradora com quem me cruzei ter literalmente pedido “desculpa” pelo lixo das ruas.
Ainda assim, estava fascinado com o kasbah de Argel. É um lugar cheio de história.
Talvez por causa do atraso inicial, Kenza seguia demasiado rápida para o meu gosto. Ainda assim, sempre que possível entrei em ateliers e lojas de artesãos locais; como o caso de Khaled Mahiout, um artista argelino que trabalha a madeira para construir peças decorativas. “Está com o grupo? Ah… a guia nunca passa aqui”, lamentou-se.
Kenza foi contando a história do kasbah mas, para ser honesto, eu estava mais interessado em absorver o ambiente e fotografar as ruas. Foi-nos mostrando as fontes, mesquitas como a Sidi Abdallah e demais recantos do kasbah; até que nos levou a almoçar a casa de uma família, seus amigos – algo diferente das experiências turísticas comuns e que me deu muito prazer. Bingo!
Fui recebido com enorme simpatia por uma senhora argelina e pela sua filha, cujos nomes infelizmente não fixei. Assim que entrámos em sua casa, o grupo de mulheres transfigurou-se. Numa das salas, começaram a cantar e a dançar; e pediram por intermédio de Kenza que eu não entrasse lá. Era o momento em que queriam mesmo “estar entre mulheres”.
Naturalmente, respeitei; mas o ambiente de festa era perfeitamente audível na sala ao lado, onde entretanto me fui instalar, aguardando pelo almoço.
Após uma pratada de rechta (noodles) com galinha, nabo e grão-de-bico, era então altura de continuar a explorar o centro histórico de Argel. Entre ruelas e mesquitas, lá acabámos por descer por uma escadaria que nos levou à zona baixa do kasbah.
O objetivo era visitar o palácio Dar Aziza, um palácio mourisco do século XVI localizado na zona baixa do kasbah de Argel e que, atualmente, alberga a Agência Nacional de Arqueologia e Proteção de Sítios e Monumentos Históricos do país. Foi a última paragem na visita guiada de Kenza pelo kasbah.
A tarde ia já a meio quando nos despedimos em frente à mesquita Ketchaoua, que se encontrava fechada. Tinha sido uma bela visita – e uma excelente forma de iniciar o meu roteiro de viagem na Argélia.
Mais fotos do kasbah de Argel
Guia para visitar o kasbah de Argel
Como organizar a visita
É perfeitamente possível visitar o kasbah de Argel sozinho. Não é perigoso, mas admito que se possa sentir desconfortável em algumas zonas do alto kasbah. Se o fizer, recomendo que apanhe um táxi até ao alto kasbah, e a partir daí vá descendo (é menos cansativo).
Se preferir visitar o kasbah com um guia, recomendo que contacte Kenza, uma argelina nascida e criada no kasbah que organiza visitas guiadas por apenas 3.000 dinares argelinos por pessoa. As visitas costumam começar por volta das 10:00, duram umas três ou quatro horas, e incluem um almoço numa casa tradicional (não é um restaurante, é uma casa onde vivem pessoas amigas da Kenza).
Sendo um grupo de três ou quatro pessoas, em alternativa pode fazer o mesmo com “Couchou”, outra guia de Argel com excelentes referências. O problema é que custa 100€, mas tem carro e é flexível quanto ao programa do tour.
Onde ficar
Para quem gosta de ficar em apartamentos, recomendo sem reservas o airbnb onde fiquei no centro de Argel (entretanto desativado). Se preferir um hotel, recomendo o City Hotel Alger, muito bem localizado para quem quer explorar o centro. Numa zona mais nobre da cidade, o Lamaraz Arts Hotel é um dos mais elogiados hotéis de Argel (tem quatro estrelas); mas eu gosto ainda mais do moderno AZ Hôtel Kouba.
Seja como for, vá pesquisando hotéis em Argel usando o link abaixo, uma vez que, com o incremento gradual do turismo, é natural que outros bons hotéis vão surgindo nas centrais de reservas online.
Seguro de viagem
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