A minha viagem à Argélia começou quando um amigo, viajante muito experiente, me disse que há muito tempo não se “surpreendia tanto com um país”. Foi nesse preciso momento que decidi visitar a Argélia.
Infelizmente, não encontrei muita informação sobre o destino, pelo que tive alguma dificuldade em montar o meu roteiro na Argélia. Espero, pois, que este roteiro seja útil, e contribua para que mais pessoas visitem o país. Porque, na verdade, é mesmo um destino surpreendente.
Neste post, partilho então o roteiro de viagem na Argélia. Foram 11 dias completos a viajar pelo país, incluindo Argel e Constantine, as ruínas romanas de Tipasa e Djémila, a norte; e ainda Ghardaia, no Vale do M’Zab; e Timimoun, mais a sul, em pleno deserto do Sahara.
No final, refiro ainda o que teria mudado no roteiro de 11 dias na Argélia, e o que teria acrescentado caso tivesse mais tempo para explorar o país. Eis o meu roteiro de viagem na Argélia.
O meu roteiro na Argélia
Dia 1: Argel
O primeiro dia do meu roteiro na Argélia foi dedicado a ambientar-me à capital e a tratar de assuntos práticos. Na noite anterior tinha chegado bastante tarde, pelo que só saí do meu alojamento por volta das 10:00 da manhã.
Depois de tomar o pequeno-almoço numa pequena cafetaria local, fui comprar um cartão SIM da Ooredoo para ser mais fácil organizar a viagem e ter Internet (e mais barato ligar para casa). A primeira missão estava cumprida, mas faltava a mais demorada: ir aos escritórios da Air Algerie comprar um voo doméstico para Timimoun.
Assuntos práticos tratados, fui caminhando por ruas movimentadas e cheias de comércio, em direção ao centro histórico da cidade, que não explorei muito. Como iria visitar o kasbah no dia seguinte, neste primeiro dia fiquei-me pela parte baixa do kasbah. Foi quando decidi aproveitar para ir à Basílica da Nossa Senhora d’África. Um autocarro local, seguido de uma carrinha Hiace colina acima, chegava então à basílica, que visitei sem pressas.
Uma vez de volta à parte baixa da cidade, fui caminhando de regresso ao meu alojamento. Tinha sido um dia tranquilo, mas muito interessante; bom para criar uma primeira impressão positiva da capital argelina.
Veja também o post sobre o que fazer em Argel.
Dormida em Argel: airbnb
Dia 2: Kasbah de Argel
Acordei cedo, pronto para explorar a parte antiga da capital Argel. Tinha contactado uma guia local recomendada pelo meu anfitrião e fui com ela visitar o kasbah de Argel, que recomendo vivamente. A visita incluiu, entre outras coisas, um almoço em casa de amigos da guia – algo diferente das experiências turísticas comuns e que me deu muito prazer.
Terminada a visita, já a meio da tarde, apanhei o metro e fui conhecer o Memorial dos Mártires e o adjacente jardim botânico El-Hamma acompanhado por duas jovens argelinas que conhecera no tour. O curioso é que, durante esse período, não consegui pagar nada – nem o metro, nem o teleférico, nem um chá, nem um crepe, nem o táxi, nem o metro outra vez, nada! “Não, és nosso convidado!”, repetiram de cada vez que eu tentei pagar. Fez-me lembrar a hospitalidade iraniana.
Dormida em Argel: airbnb
Dia 3: Tipasa
Ao terceiro dia em Argel, decidi visitar as ruínas romanas de Tipasa usando transportes públicos. Dirigi-me ao terminal de autocarros de Tafourah, perto da estação de comboios, e apanhei um minibus para Tipasa. Uma vez na cidade de Tipasa, fui para as ruínas que, para minha surpresa, e por ser sexta-feira, estavam tomadas por centenas de argelinos a passear e a fazer piqueniques.
Terminada a visita às ruínas de Tipasa, fui ainda conhecer o Mausoléu Real da Mauritânia, também incluído na lista de Património Mundial na Argélia. A meio da tarde, regressei a Argel, cansado mas satisfeito.
Dormida em Argel: airbnb
Dia 4: Timimoun
De manhã, apanhei um voo doméstico de Argel para Timimoun, uma pequena localidade em pleno deserto do Sahara, na região centro da Argélia. O avião atrasou-se um pouco e, quando lá cheguei, o calor era tremendo. E isso significa ficar no hotel.
Só ao final da tarde saí para conhecer Timimoun, espreitando fugazmente o mercado local e caminhando pelas ruas da zona velha da cidade. De seguida, fui de jeep com o argelino Mohamed, um guia local, para as dunas envolventes, a tempo de tomar um chá enquanto contemplava o pôr do sol.
Dormida em Timimoun: Akham Timimoun
Dia 5: Timimoun
O quinto dia do meu roteiro de viagem na Argélia foi bastante intenso. Passei-o com Mohamed, no seu 4×4, a visitar a região. Incluindo várias aldeias próximas a Timimoun e outras preciosidades como o sistema de irrigação tradicional e os palmeirais (fiz um piquenique num deles). Ao fim da tarde, estava de regresso a Timimoun.
Dormida: Akham Timimoun
Dia 6: Em viagem
Dia completamente tomado pela viagem de autocarro entre Timimoun e Ghardaia. Era para ter saído às 9:00, saiu às 12:00; e cheguei a Ghardaia já seriam umas 19:30. Fui direto para a guesthouse e por lá fiquei. Os próximos dias seriam intensos.
Dormida em Ghardaia: Akham Ghardaia
Dia 7: Ghardaia
Com as baterias recarregadas, era então tempo de conhecer Ghardaia e as outras aldeias fortificadas do Vale do M’Zab. Para mim, era um dos momentos mais aguardados do meu roteiro de viagem à Argélia, e as expectativas não foram defraudadas. Pelo contrário: há muito tempo que não estava num lugar tão único como Ghardaia.
No total, neste dia visitei três das cinco ksar classificadas pela UNESCO como Património Mundial na Argélia: Ghardaia, Melika e Beni-Isguen. Foi absolutamente fantástico!
Dormida em Ghardaia: Akham Ghardaia
Dia 8: Ghardaia
Mas as boas surpresas não tinham ainda acabado e, ao segundo dia em Ghardaia, tive um dos melhores dias de viagem dos últimos tempos.
Voltei ao souk de Ghardaia para fotografar uma vez mais, mas o objetivo principal era conhecer El Atteuf, a primeira aldeia a ser erguida pelo povo Mzabita na região. Aí conheci um mzabita que, na ausência do guia oficial, se ofereceu para me guiar por El Atteuf. Era um senhor muito culto que, no final, para grande espanto da minha parte, me convidou a ir a sua casa. Lá dentro estava a sua mulher, muito mais jovem do que ele, que nos recebeu de cara destapada, nos serviu chá e por ali ficou à conversa. Um momento raríssimo.
Deixei El Atteuf para trás e tive ainda oportunidade de conhecer uma das novas povoações do vale: Tefileh. Pela positiva, o notório esforço em copiar o mais fielmente possível o estilo arquitetónico das aldeias originais. Pela negativa, tudo o resto: a cidade parece de plástico, uma imitação chinesa barata de Melika.
Mas o melhor foi mesmo um jovem de Tefileh, com a felicidade de um recém-casado estampada no rosto, que me mostrou a aldeia e, no final, ainda me convidou a ir a sua casa. A sua mãe (que nunca se mostrou) insistiu para que comêssemos, e ali ficámos à conversa num almoço tardio.
Por esta altura, fui para a minha guesthouse relaxar no palmeiral e preparar-me para a viagem noturna até Constantine.
Depois de jantar, apanhei então um autocarro noturno que me levou de Ghardaia até aos arrabaldes de Constantine. Foi uma viagem cansativa, mas permitiu aproveitar o tempo. Só tive pena de não ter saído em Batna (uma opção de que me arrependo porque queria muito conhecer Timgad, acessível a partir de Batna).
Veja o que eu mudaria no meu roteiro de viagem à Argélia, mais abaixo neste post.
Dormida: Autocarro noturno
Dia 9: Constantine
Estava derreado pela viagem noturna mas não queria dar o dia como perdido. Assim, depois de me instalar, tomei o pequeno-almoço e fui imediatamente explorar Constantine. Trata-se da terceira maior cidade da Argélia, mas seguramente a que tem a orografia mais curiosa e desafiante. Não por acaso, é conhecida como a “cidade das pontes”.
Entre outras coisas, fui visitar o Palácio de Ahmed Bey, a ponte Sidi M’Cid e o chamado Monumento aos Mortos; para além, claro está, de passar algum tempo numa esplanada do centro histórico a observar o quotidiano de Constantine.
Dormida em Constantine: Protea Hotel by Marriott
Dia 10: Constantine
Foi uma manhã tranquila passada a visitar a mesquita Emir Abdelkader e a passear pelo centro de Constantine. À tarde, aproveitei o excelente hotel onde me alojei para ficar a trabalhar e adiantar os posts sobre a Argélia.
Dormida em Constantine: Protea Hotel by Marriott
Dia 11: Djémila
Era o último dia do meu roteiro na Argélia e ainda tinha um lugar muito importante para conhecer. Assim, de manhã cedo apanhei um autocarro até El Eulma, onde arranjei um taxista para me levar a Djémila. Passei quase duas horas a visitar as ruínas romanas de Djémila, incluindo o seu imponente e acusticamente perfeito teatro romano; e depois regressei a El Eulma.
De lá, encontrei facilmente um táxi partilhado para seguir viagem até à capital Argel, onde cheguei ao final da tarde. Tive ainda tempo de jantar tranquilamente, antes de ir para o aeroporto apanhar o voo de regresso a Portugal.
Em suma, foi uma viagem fantástica que, com pequenos ajustes, recomendo vivamente. O destino é, por enquanto, pouco explorado e foi uma bela surpresa! Veja então o que poderia ser otimizado neste roteiro de viagem à Argélia.
O que mudaria no roteiro da Argélia
A única coisa que mudaria no roteiro argelino seria incluir as ruínas romanas de Timgad e o desfiladeiro de Ghoufi, como planeado inicialmente. Para o fazer, tinha várias opções:
a) Não visitar Timimoun. Ir até Timimoun foi uma opção consciente e uma boa experiência, é certo; mas a distância para Timimoun é imensa e, por causa disso, o meu roteiro na Argélia ficou com pouca margem para visitar tudo o resto que queria. E os sacrificados foram Timgad e o desfiladeiro de Ghoufi. Não indo a Timimoun, sobraria tempo para ficar alojado em Batna e visitar calmamente Timgad e Ghoufi.
b) Parar em Batna na viagem entre Ghardaia e Constantine. Na verdade, no dia 9 do roteiro poderia ter saído em Batna (em vez de prosseguir diretamente para Constantine). Era esse o plano, mas cheguei às 4:30 da manhã a Batna e não me apeteceu ficar no meio da estrada até amanhecer para arranjar um transporte para Timgad. Caso contrário, teria sido possível visitar Timgad de manhã e à tarde seguia para Constantine (mas não teria esse dia em Constantine, obviamente). Ainda assim, seria praticamente impossível conhecer o desfiladeiro de Ghoufi.
c) Ficar só uma noite em Constantine. Alternativamente, poderia sair em Batna como na opção anterior, mas ficar a dormir nesse dia 9 em Batna. Nesse caso, depois de chegar a Batna no dia 9, instalava-me num hotel e arranjava um taxista para ir a Timgad e Ghoufi; e no dia 10 seguiria para Constantine. Ficaria apenas com um dia em Constantine; o que, para ver as principais atrações chega perfeitamente (mas não chega para sentir a cidade, obviamente).
d) Acrescentar um dia e fazer uma viagem de 12 dias na Argélia. Seria porventura a melhor opção; já que permitia ver tudo o que queria (e com mais calma). Neste caso, faria tal e qual como na opção c), mas teria duas noites em Constantine.
Ou seja, parando em Batna, o meu roteiro de viagem na Argélia ideal, para 11 ou 12 dias, seria: Argel – Timimoun – Ghardaia – Timgad e desfiladeiro de Ghoufi (Batna) – Constantine – Djémila – Argel.
Por último, tendo ainda mais tempo disponível e um espírito aventureiro, considere visitar a região de Tamanrasset (incluindo o incrível maciço de Ahaggar). Tamanrasset fica no extremo sul da Argélia, não muito longe das fronteiras com o Mali e com o Níger.
Guia prático
Visto para visitar a Argélia
A secção consular da Embaixada da Argélia em Portugal está aberta de segunda a sexta-feira, das 9:00 às 12:30 (exceto feriados argelinos e portugueses). O procedimento é relativamente simples, desde que siga algumas regras antes de se apresentar na embaixada:
- Preencha o formulário disponível online em duplicado (idealmente, faça-o no computador, não à mão) e imprima-o;
- Junte duas fotografias tipo passe (em fundo claro);
- Junte cópia da reserva dos voos, do seguro de viagem e das reservas de hotel. No que toca ao alojamento, fui aconselhado a reservar todas as noites da viagem. Não estou certo que seja obrigatório, mas assim fiz (reservei no booking, como se fosse estar parte do tempo em Argel e o restante em Constantine). Posteriormente, cancelei as reservas que não iria utilizar.
Uma vez na Embaixada da Argélia em Lisboa, terá de pagar 60€ pela emissão do visto. Note que, regra geral, o visto fica pronto uma semana depois (se entregar numa terça-feira, estará pronto na terça-feira seguinte).
No meu caso, e após pesquisar sobre como tirar o visto da Argélia, era para ter ido tratar diretamente à Embaixada da Argélia em Lisboa; mas, como vivo em Matosinhos e teria de ir duas vezes a Lisboa propositadamente, optei por entregar o processo à Visateam. Trata-se de uma empresa especialista em vistos, que uso muitas vezes nas minhas viagens e recomendo vivamente. O custo adicional foi de 35€ por visto (mais o transporte do passaporte entre o Porto e Lisboa).
Note que, após a data de emissão do visto, tem 30 dias para entrar no país; e, após essa data, pode viajar na Argélia durante 30 dias.
Como chegar
A TAP deixou de voar para Argel, pelo que as alternativas são os voos diretos Lisboa – Argel com a Air Algeria, ou voos com escala num aeroporto europeu, como Frankfurt ou Paris. Eu voei com a Lufthansa porque o preço era aceitável, mas não creio que tenha compensado as horas adicionais de voo (até porque a tarifa mais baixa não permitia bagagem de porão).
Note que a Air Algeria não é das companhias aéreas com melhor reputação, nomeadamente em termos de atendimento ao cliente e de limpeza das aeronaves; mas, caso encontre um bom preço, é uma alternativa a considerar.
Seja como for, use o link abaixo para encontrar os melhores preços em qualquer companhia, para as suas datas.
Transportes na Argélia
Conheço quem tenha viajado de carro alugado e se tenha dado bem. Essa opção dá total liberdade para ir a locais como Djémila ou as gargantas de Ghoufi sem depender de taxistas; e permite naturalmente maximizar o tempo. Ao planear o seu roteiro na Argélia, tenha no entanto em atenção que o país é imenso, as distâncias enormes e as viagens podem demorar mais do que o planeado (trânsito, controlos policiais…).
De resto, os autocarros e os táxis partilhados são as opções mais abundantes. As viagens podem não ser muito rápidas (de autocarro), mas são baratas.
Por último, note que o comboio é eficaz entre Argel e Oran; mas mais antigo de Argel para Constantine (mas uma boa experiência, ao que consta).
Onde ficar
O alojamento é uma das grandes dificuldades para quem gosta de fazer reservas antecipadamente. Isto porque há poucos hotéis disponíveis em plataformas como o booking (e mesmo o airbnb).
Eu fiquei alojado num apartamento em Argel (airbnb, entretanto desativado), nas guesthouses Akham N’Timimoun e Akham Ghardaia, propriedades da mesma pessoa, em Timimoun e em Gardhaia, respetivamente; e no Protea Hotel by Marriott em Constantine. Recomendo todos!
Infelizmente, apenas o Protea está presente no booking, pelo que, nos outros hotéis, a solução é consultar o site respetivo e contactar por email. Em todo o caso, verifique o link abaixo para ver outros hotéis na Argélia; com o desenvolvimento do turismo, é natural que muitos outros hotéis e guesthouses vão sendo integrados na plataforma.
Dinheiro
A Argélia é um daqueles países onde o câmbio oficial e o câmbio no mercado negro são muito diferentes. Para ter uma ideia, quando fiz este roteiro na Argélia, 1€ valia oficialmente cerca de 140 dinares argelinos (DNZ); mas eu troquei por 200DNZ.
Quer isso dizer que a resposta à pergunta quanto custa viajar na Argélia depende, em boa medida, da forma como trocar o dinheiro. Na prática, é fundamental não pagar com cartões de débito ou crédito (será usada a taxa de câmbio oficial); nem levantar dinheiro nos ATM (nem mesmo usando o cartão Revolut); nem tampouco trocar dinheiro em bancos.
Seguindo esse pressuposto, aquilo que eu fiz foi levar em notas (Euros) todo o dinheiro que julguei precisar; e cambiei através de argelinos de confiança (em Argel) e no mercado negro (em Constantine), mas nunca em bancos. Não se preocupe que é possível trocar na maioria dos destinos.
Note que a Argélia é um país barato em termos de refeições, transportes e alojamento. Não fosse a minha excentricidade orçamental no alojamento de Constantine, no voo doméstico e no tour 4×4 em Timimoun (ficou caro porque não tinha com quem dividir o custo), nos 11 dias de viagem teria gasto bem menos. Assim, gastei 650€, voos excluídos (compensaria viajar a dois, já que teria gasto pouco mais se fossem duas pessoas). Mesmo ficando sempre em quartos privados.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.