Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até à cidade de Teerão, a capital do Irão, pela mão do Pedro Queirós. O Pedro tem 39 anos, está a trabalhar e a viver em Teerão há quatro anos e tem um projeto social no Nepal chamado Dreams of Kathmandu. Desafiei-o a partilhar as suas experiências em Teerão; bem como sugestões e dicas para quem quiser visitar Teerão e conhecer um pouco melhor a cidade.
É um olhar diferente e mais rico sobre Teerão – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da capital iraniana estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. Este é o 68º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.
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Em Teerão com Pedro Queirós (entrevista)
- 1.1 Define Teerão numa palavra.
- 1.2 Teerão é uma boa cidade para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar ao Irão, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
- 1.3 E o que mais te marcou em Teerão?
- 1.4 Como caracterizas os iranianos?
- 1.5 Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Teerão sem…”
- 1.6 Vamos tentar fazer um roteiro de três dias em Teerão. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
- 1.7 Ainda sobre turismo, fala-nos de outros locais que recomendes visitar nos arredores de Teerão.
- 1.8 Estando a viver em Teerão, tens alguma recomendação especial a fazer aos viajantes?
- 1.9 O Irão é um destino relativamente barato; ainda assim, tens dicas para se poupar dinheiro em Teerão.
- 1.10 Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que área nos aconselhas a procurar hotel em Teerão?
- 1.11 Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Teerão?
- 1.12 Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
- 1.13 Escolhe um café e um museu.
- 1.14 Falemos de diversão. Apesar das restrições, o que sugeres a quem queira “sair à noite”?
- 1.15 Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Teerão? E o que comprar?
- 1.16 Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Teerão; pode ser uma loja, um cafezinho, um restaurante, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
- 2 Guia prático
Em Teerão com Pedro Queirós (entrevista)
Define Teerão numa palavra.
Misteriosa.
Teerão é uma boa cidade para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar ao Irão, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
Para ser sincero, não tinha uma ideia preconcebida sobre Teerão. Dada a situação política do país e o isolamento internacional, não é fácil criar uma imagem da cidade (ou não crescemos com uma imagem definida). Todos associamos determinadas imagens e conceitos a lugares específicos, seja as praias na Tailândia, o deserto em Marrocos, as cidades com arranha-céus nos EUA ou a Torre Eiffel em Paris. Mas sobre o Irão ou a sua capital Teerão, tudo o que existia dentro da minha mente era um grande espaço vazio e um ponto de interrogação.
Claro que, se tivesse de descrever a minha expectativa sobre Teerão sem qualquer fundamento, teria dito que provavelmente era uma cidade no meio do deserto, cheia de palmeiras, casas brancas aos magotes, carros antigos a buzinar, mulheres de burka, camelos, mesquitas, mercados a fervilhar de pessoas e comerciantes a vender têxteis ou especiarias. A minha imagem seria inevitavelmente ligada a filmes de Hollywood sobre o Médio Oriente ou outras imagens dispersas na minha mente, associadas a cidades como Bagdad ou Cairo, por exemplo.
Não podia estar mais enganado.
Teerão é uma cidade completamente distinta de todos esses lugares-comuns e foge muito à realidade normal de uma cidade tipicamente muçulmana localizada nesta região do mundo.
Em primeiro lugar, é uma cidade que está no meio das montanhas e não no meio do deserto. As Alborz, montanhas com vários picos de 3.000 e 4.000 metros de altitude, dominam a paisagem a norte da cidade; parece que estamos na Suíça ou nos Himalaias. Os povos antigos formaram aqui a cidade porque havia água em abundância a desaguar das montanhas e os mantos de neve arrefeciam a cidade.
Em segundo lugar, Teerão é uma cidade muito urbana, com uma arquitetura quase europeia. Tem muitos prédios, estradas, parques e até metro. Claro que também existem muitas construções mais antigas e ainda as habituais mesquitas e os mercados. Mas no cômputo geral, é uma cidade moderna e bem organizada, principalmente na zona norte. Na zona sul, os edifícios são mais baixos e com uma arquitetura mais tradicional, sem elevadores nem garagens e cheios de antenas de TV nos telhados.
Algo que me surpreendeu bastante foi o facto de a cidade ter cerca de 14 milhões de pessoas. É muita gente no mesmo sítio! Mas, além de um trânsito infernal e bastante poluição, não se nota que é uma cidade com tanta gente. Não senti aquela pressão demográfica que vi noutras megametrópoles como São Paulo ou Mumbai.
Mas estamos a falar de uma cidade vibrante e cosmopolita servida por milhares de lojas, centros comerciais, mercados de rua, museus, mesquitas, jardins, complexos desportivos, transportes, escolas e estradas bem arranjadas, normalmente ladeadas por canais onde escorre a água que desagua das montanhas. Teerão é também uma cidade de colinas, cheia de subidas e descidas. Para conduzir aqui é preciso ser-se muito bom a fazer ponto de embraiagem. A torre de TV Milad domina a paisagem da cidade com os seus 435 metros. É a sexta mais alta do mundo.
Gosto muito de viver em Teerão. É uma cidade com uma grande qualidade de vida. O meu filhote de dois anos anda numa creche maravilhosa e há muitas escolas e universidades por toda a cidade. Há supermercados, mercados e mercearias para todos os gostos e feitios. Existe a possibilidade de praticar vários desportos em boas infraestruturas. Há bons acessos, comboios, aeroportos, metro e autoestradas. E museus, restaurantes, cafés e hospitais.
Consegue-se ter uma boa vida familiar por um custo muito inferior àquele que é possível na Europa ou mesmo em Portugal, por exemplo. O custo das rendas, alimentação e combustíveis é cerca de dez vezes mais baixo do que em Portugal.
Claro que os rendimentos também são mais baixos. Um bom salário no Irão é, neste momento, o equivalente a 300-400 euros. Este é o valor que uma profissão da classe média aufere. Mas muitas pessoas em empregos ligados à construção civil ou restauração, por exemplo, podem ganhar entre 150 e 200 euros. Por outro lado, um litro de gasolina custa 0,10€; a renda de uma casa normal cerca de 100€; e o custo de uma refeição para quatro pessoas num restaurante pode ficar em 5€-10€ no total. Aquilo que é caro são os automóveis e outros produtos e marcas vindas do estrangeiro.
E o que mais te marcou em Teerão?
Tinha muita curiosidade em saber como era o dia-a-dia no Irão, e em particular na sua capital Teerão. No fundo, queria perceber como é que as pessoas viviam num país que anda nas bocas do mundo e que tem um sistema político diferente.
E foi isso que mais me marcou. Perceber que é um país normal, onde as pessoas desenvolvem a sua vida de forma normal. De manhã, as crianças vão para a escola e os adultos para os respetivos empregos.
Não sou iraniano e por isso é-me difícil opinar sobre a mentalidade, a liberdade ou outras questões culturais que são controladas pelo governo do país. Simplesmente porque não cresci aqui e não posso sentir da mesma forma aquilo que um iraniano sente. Muitos amigos meus, iranianos, dizem-me que eu só gosto do Irão porque me posso ir embora sempre que quiser… é um bom ponto de vista e entendo-os perfeitamente. É muito difícil para um cidadão iraniano obter um visto para a Europa ou EUA, por exemplo.
Mas, na verdade, o que vejo no Irão é um país perfeitamente normal – e até mais do que isso. Nestes quatro anos a viver em Teerão vejo as pessoas felizes, famílias unidas e saudáveis, respeito entre as pessoas, vizinhos que se cumprimentam, os mais velhos a ensinar os mais novos e uma grande hospitalidade por parte das pessoas. Ou seja, é um país com uma mentalidade, cultura, sistema político e religião diferentes; mas, na realidade e comparando ao ocidente, vejo uma sociedade menos stressada e consumista, mais saudável e mais generosa, e acima de tudo com um grande respeito entre todos.
Esta foi a questão que mais me marcou até agora. Pensei que ia encontrar uma sociedade oprimida, fechada e com um grande “dark side”. Mas, pelo contrário, encontrei pessoas felizes, generosas e equilibradas que vivem o seu dia-a-dia como qualquer ser humano e com os dilemas normais de qualquer pessoa noutra parte do mundo.
Como caracterizas os iranianos?
Os iranianos são pessoas maravilhosas por dentro e por fora. Acho que não há melhor maneira de descrever este povo fantástico e tão peculiar.
Por fora, carregam a genética persa, herdada de um império com quase três milhares de anos. São altos, fortes e vivem até idades avançadas. As pessoas têm boas peles, dentes e cabelos. Parece estranho estar a mencionar isto, até parece que estamos num talho, mas é mesmo algo característico desta região e que marca este povo. É surpreendente!! O leitor diria que os ingleses têm uma boa pele? Ou que os japoneses são altos e fortes? Ou que os portugueses têm um cabelo forte? Tenho familiares com 80 anos que parece que têm 40 ou 50! As pessoas no geral têm um ar saudável. Claro que já há influências de árabes, arménios, turcos, curdos, mas é um povo com uma fisionomia e beleza impressionantes.
A única parte do corpo que parece crescer de forma desproporcional é o nariz, e é engraçado constatar que várias pessoas recorrem à cirurgia para corrigir a situação. Muitas delas nem fazem a cirurgia, mas colocam aquele penso no nariz, só para parecer que fizeram! Dito isto, são também um povo muito vaidoso, eles e elas! No meu ginásio, que é só para homens, é tudo a usar cremes, perfumes e pentear-se só para ir treinar!! Nunca vi nada assim. Elas também usam muita maquilhagem e arranjam-se muito. Esta questão estética é praticamente cultural. Como não podem andar destapados, servem-se de outras “armas”. Claro que as pessoas mais religiosas não são tanto assim, mas há mesmo uma grande preocupação com a aparência.
Além da genética, também arrisco dizer que esta saúde dos persas, está relacionada com uma tradição gastronómica milenar. A sabedoria do povo percorre as gerações, e todos sabem o que comer em cada época do ano, na melhor altura do dia ou quando estão doentes. As frutas e os vegetais carregados de vitaminas abundam. Tâmaras e romãs encontram-se por todo o lado. As carnes, gorduras e ossos cheios de proteína e colagénio, fazem parte do menu diário das famílias.
De manhã, bebemos chá, comemos manteiga de sésamo com xarope de uva (Ardeh Shireh), papas de aveia (Haleem) e nozes. A meio da tarde lá vem mais um sumo de romã, amêndoas ou o delicioso pão branco chamado Lavash, Sangak ou Barbari, consoante o método de produção. O pão acompanha todas as refeições no Irão. As sopas são ricas e têm feijão, massa e lentilhas. As sementes e cereais são demolhados antes de ser consumidos e em todas as refeições há especiarias, mel, frutos secos e iogurte na mesa. As sobremesas são sempre à base de açafrão como o gelado (Bastani) ou o arroz doce (Shole Zard).
Pergunta o leitor mais uma vez: mas por que raio estará este individuo a falar das comidas e da genética? Resposta: Porque somos o que comemos. Porque já viajei por mais de 60 países do mundo, vivi na Dinamarca, Inglaterra, Nepal, passei longas temporadas na América do Sul, Austrália e Portugal claro, e nunca, mas nunca, me senti tão saudável, tão cheio de energia e com o sistema digestivo a funcionar tão bem. É mesmo algo diferente e distinto no Irão, e penso que isso faz a diferença naquilo que é a definição do iraniano.
Por dentro, os iranianos também são um povo único. Em termos de carácter, e de uma forma geral, são pessoas muito amáveis, simpáticas e que gostam de agradar. Se tivesse que destacar as duas grandes características dos iranianos, diria desde logo a generosidade e a hospitalidade. Neste país é costume dispensar aos convidados as maiores gentilezas, o melhor lugar para se sentarem ou a melhor peça de comida que houver na mesa. Tudo isto faz parte de um complexo sistema de cortesia pelo qual se rege o quotidiano do país. Um sistema que dá pelo nome Ta’aruf.
Falar do Irão e não falar de Ta’aruf, é o mesmo que falar de Portugal e não falar de bacalhau ou do fado. O Ta’aruf é o código que regula a vida social nos negócios, família, namoros, etc. É uma espécie de competição pela atitude mais humilde perante os outros – sejam eles convidados, familiares ou parceiros de negócio. É uma atitude bastante louvável e que demonstra uma grande educação. Mas está tão enraizada que, por vezes, é difícil perceber as verdadeiras intenções e personalidade das pessoas.
Reza a história que dois senhores se encontraram na entrada de uma porta e que, para decidirem qual dos dois passaria primeiro, começaram a fazer Ta’aruf… um dizia “Por favor passe, você é mais velho”, ao que o outro respondeu “Não, por favor, você primeiro pois tenho o maior respeito por si”, ao que o outro responde de novo “Não, mas você é um homem muito inteligente e educado” e por aí fora… reza a lenda que estão nisto há 620 anos…
Da minha parte, tenho sido um verdadeiro alvo de Ta’aruf e agradeço por isso. Mas ainda estou a aprender, e por vezes ainda não consigo entender bem este código de conduta. Porque, basicamente, há muitas pessoas que estão a dizer que não, mas o que querem mesmo dizer é que sim e vice-versa. Vá-se lá entender!
Uma história engraçada: a minha mulher, Ghazal, não gosta de salmão. Mas uma vez em Portugal fomos jantar a casa de uns familiares e serviram salmão. A Ghazal fez ta’aruf e disse que estava muito delicioso e agora, sempre que voltamos a casa desses familiares, cozinham salmão para ela!
Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Teerão sem…”
Subir ao pico de Tochal, nas montanhas Alborz, localizado a norte da cidade de Teerão. O pico tem cerca de 4.000 metros de altitude, mas o trekking para lá chegar não tem características técnicas, exige apenas um mínimo de preparação física. A caminhada total são 20 quilómetros mas a boa notícia é que há um teleférico para voltar. O trekking deverá começar pelas 4-5 da manhã e demora umas 8-12 horas, consoante o ritmo da pessoa.
Há várias alternativas para subir, eu recomendo a rota de Velenjak para quem quer andar mais em trilhos mais definidos, e a rota de Darband para os mais aventureiros. Ambas as rotas são lindíssimas com vistas deslumbrantes, cascatas e até se vislumbram animais selvagens como raposas e águias.
Consoante seja verão ou inverno convém levar roupa e equipamento a condizer. Também se deve levar um farnel e bebidas para reabastecimento e estarem sempre hidratados e com energia. Mas ao longo do caminho existem diversas estações de apoio onde também é possível comprar mantimentos. Nestas estações é usual sentarmo-nos com outros grupos e fazem-se ali amizades de forma espontânea. Na montanha não há aquelas restrições habituais de vestuário que são impostas no Irão. Vê-se muitos homens de calções (se for verão, claro!) ou mulheres com o cabelo destapado. Já dei por mim várias vezes a cantar e a dançar com estranhos!
Mas, basicamente, faço esta escolha porque sou um apaixonado pelas montanhas e pela natureza. É óbvio que Teerão tem muitos mais locais que são imperdíveis, mas neste caso, e sendo uma cidade muito urbana e poluída, este escape para as montanhas vale a pena e é um dia muito bem passado. E quando conquistamos o pico, após um dia de grande esforço, avistamos toda a cidade de Teerão de uma altitude de 4.000 metros. É um momento inesquecível e uma memória que fica para sempre.
Vamos tentar fazer um roteiro de três dias em Teerão. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
Teerão é uma cidade gigante! Os programas que sugiro já têm em conta a proximidade entre as zonas da cidade. Atenção que o fim de semana no Irão é quinta e sexta-feira, por isso, principalmente à sexta-feira, as coisas podem estar fechadas.
Dia 1
Começar pelo Grande Bazar, o coração do comércio de Teerão. Quando entramos no empreendimento é como atravessar uma porta para outra dimensão. Depois, seguir para o Palácio Golestan, uma das antigas residências do Xá da Pérsia. A sala da coroação é muito bonita. Terminar a manhã com o Museu da Joalharia (atenção: ver na Net em que dias e horas está aberto); vale muito a pena e tem as joias de várias dinastias que reinaram na Pérsia e o maior diamante cor-de-rosa do mundo. Esta é a zona central da cidade, onde há muitos carros, ruído, pessoas, poluição e tem de se andar bastante. Por isso aconselho fazer logo no primeiro dia, enquanto temos energia e para se tirar logo uma primeira radiografia a Teerão.
Para almoço, sugiro um kebab perto do Grande Bazar em qualquer restaurante local. Kebab não é mais do que espetadas de carne grelhada. Pode ser carne de vaca, galinha ou borrego. Não há carne de porco no Irão. Sugiro experimentarem todos os tipos de carne durante o tempo que estiverem no Irão, normalmente vem servido com arroz e açafrão. Pode dizer-se que é um prato tradicional do país. Se quiserem experimentar uma verdadeira especialidade, também junto ao Grande Bazar, devem ir ao Azari Traditional Tea House, e pedir não só o kebab mas também Dizi, que é uma especialidade iraniana.
O Dizi consiste numa mistura de grão-de-bico, carne de borrego, alho, cebola e tomate, cuja origem tem séculos. Vem numa mini-panela de barro com um género de pilão, misturamos pão e come-se. É uma comida pesada, mas saborosa, e também vale a pena experimentar pelo ritual que envolve misturar os ingredientes. Neste restaurante come-se no chão, sentados em tapetes persas e pode fumar-se shisha. Fica muito perto da estação de comboios de Teerão, diria que fica a cerca de 500 metros.
À tarde, subir à Torre Milad e perceber a dimensão de Teerão. A vista é simplesmente avassaladora. Para o centro podem ir de metro. Sempre que puderem usem este transporte, não cobre toda a cidade, mas dá para chegar à maioria dos sítios ou pelo menos perto. Mas também há táxis em todo o lado, convém negociar antes o preço. Não vale a pena estar a dizer aqui quanto devem pagar de táxi pois há uma grande flutuação da moeda e dos preços. O melhor a fazer é perguntar na receção do hotel qual é o valor justo a pagar nos dias que correm.
Para jantar, recomendo marcar o restaurante tradicional iraniano Ali Ghapoo, onde há música e ambiente tradicional. É frequentado tanto por turistas como por locais.
Dia 2
Ir para o norte da cidade. Passar a manhã na mesquita e mercado de Tajrish que é bom para fazer compras. O Grande Bazar é maior, mas aqui vão encontrar tudo o que precisam, desde comida, frutos secos, presentes e decorações para as vossas casas.
Depois, ir de táxi para Darband, almoçar. Esta é uma zona já no meio das montanhas com muitas lojinhas, cascatas e no verão é bastante fresca e agradável para passar umas horas a comer e beber chá. A maioria dos restaurantes é especializada em kebab. Logo à entrada começamos a ser “atacados” pelos empregados dos restaurantes com menus na mão. Sejam pacientes e não escolham logo o primeiro.
Na volta, a seguir ao almoço, ir ao palácio de Saad Abad, que era a residência de verão do Xá da Pérsia. Dá para ir a pé, é só descer a rua desde Darband. Neste complexo há muitos jardins e palácios, é mesmo muito bonito. Na minha opinião vale a pena visitar o palácio branco, o palácio verde e o museu dos carros do Xá. Já agora, a palavra Xá significa Rei.
Jantar no restaurante Divan no Sam Center. Cozinha de alta roda iraniana, com um ambiente sofisticado. Fica localizado perto de Tajrish.
Dia 3
Passeio na Tabiat Bridge e Garden Book. É uma zona icónica de Teerão, com bonitas vistas e jardins e arquitetura do género de uma Gulbenkian. Dentro deste complexo têm uma das maiores livrarias do mundo. Almoço numa das minhas coffeshops preferidas, a UpArtMaan Café.
Teerão tem esta cultura dos cafés e coffeeshops onde as pessoas se encontram para falar e descontrair. O ambiente é bom também para ler, estudar, namorar ou simplesmente pensar em nada. Normalmente há chá, café, sobremesas e pequenas refeições tipo pastas, sandes ou hambúrgers. Do outro lado da rua desta coffeeshop que mencionei, há o Type Café, muito na moda entre jovens e artistas de Teerão. Estes locais não têm site, mas encontram-se facilmente no Instagram.
E depois à tarde, caminhar até à casa dos artistas, House of Artists Khaneye Honarmandan, que tem muitas exposições permanentes, temporárias e até concertos. Se calhar estar em Teerão a uma sexta-feira à tarde, este é o dia das galerias. Por toda a cidade, várias galerias abrem as portas e inauguram novas exposições de jovens artistas ou outros mais consagrados. Gosto muito de fazer este programa com a minha família e numa só tarde visitamos três a quatro galerias.
Esta é apenas uma proposta para um programa de três dias. Sublinho o que disse no início: Teerão é uma cidade gigante e por vezes pode demorar um pouco a chegar aos sítios por causa do trânsito. Por isso, consoante os dias que tiver à disposição, convém fazer um bom planeamento de modo a poder aproveitar ao máximo. Se tiver mais tempo e não tiver pressa, o melhor a fazer é perder-se! Andar de transportes, entrar em mercados, visitar mesquitas e ir a museus. Oferta não falta e vai ficar surpreendido.
Ainda sobre turismo, fala-nos de outros locais que recomendes visitar nos arredores de Teerão.
Na minha opinião, Teerão é Teerão e os arredores são as outras cidades do Irão. Se me perguntarem quais os melhores locais para visitar no país, diria que há um circuito clássico que é ir de Teerão para o sul, passando por Kashan, Esfahan e Shiraz. Isto para quem vem durante 15-20 dias. Pode fazer este percurso alugando um transporte com condutor ou então viajando pelas companhias aéreas locais. Há muitos voos numa base diária que partem do aeroporto doméstico de Mehrabad, no centro de Teerão.
Sobre Esfahan e Shiraz, são bons programas para três dias cada. Não vale a pena escrever os melhores sítios para visitar, basta pesquisar online. Mas destaco em Esfahan a Praça do Íman e a Vank Cathedral no bairro arménio; são espetaculares. Evidentemente em Shiraz ir a Persépolis, o centro do antigo Império Persa, e visitar o túmulo de Dário. E claro a majestosa Mesquita Rosa, Nasir Al-Mulk. Ir logo pela manhã e ficar deslumbrado com as luzes do sol a entrar pelos vitrais cheios de cores.
Se for de carro para Esfahan pode dormir uma noite em Kashan numa das Old Houses – recomendo a Manoochehri House, é muito tradicional e acolhedora. No caminho, visitar também a vila nas montanhas de Abiyaneh. Mas há muitas mais coisas para fazer em Esfahan e Shiraz, pergunte e perca-se, deixe-se levar pela magia das ruas e das pessoas do Irão.
E depois também pode visitar o norte do Irão junto ao Mar Cáspio, atravessando as montanhas Alborz pela maravilhosa e icónica estrada de Chaluz. Ou visitar as ilhas de Quish, Qheshm ou Ormuz no Golfo Pérsico.
Outra zona muito bonita e montanhosa fica na chamada área do Curdistão, junto à fronteira com o Iraque. Há outras cidades, cada qual com a sua magia e atrativos como Yazd, Kerman, Sirjan, Qazvin. E ainda o Monte Damavand com 5.700 metros de altitude, a montanha mais alta do Médio Oriente.
Algumas cidades do Irão são servidas por comboio, mas aconselho andar de carro com um condutor. Desta forma, para onde quer e tem total independência.
Veja o que fazer em Esfahan (uma declaração de amor)
Estando a viver em Teerão, tens alguma recomendação especial a fazer aos viajantes?
Deixo aqui algumas recomendações para quem viaja para o Irão. Espero que sejam úteis:
- O custo de um táxi do aeroporto para o centro não deve ser mais de 10 dólares ou o correspondente na moeda iraniana. Os taxistas aceitam dólares e euros.
- As mulheres devem ter atenção à indumentária. As zonas do cabelo e do rabo devem andar tapadas. A pele dos braços e pernas também não deve estar exposta. Os homens não podem andar de calções.
- Não há álcool nem carne de porco. Pelo menos nos canais legais. Existe um mercado negro para tudo, até no Irão.
- Andar com lenços e papel higiénico na mala. Quanto a medicamentos, há de tudo nas farmácias. Aliás, há farmácias por todo o lado em Teerão. O serviço de saúde e os hospitais também são bastante bons e as urgências existem e estão abertas 24 horas.
- Não é fácil comprar cartões SIM no Irão. À chegada, no aeroporto, há umas bancas que os vendem. Na minha opinião esta a melhor opção. Mas há wi-fi em todo o lado. Não há é acesso ao Facebook nem ao Twitter, por exemplo. Tem de se instalar uma aplicação de VPN no telemóvel para se poder aceder a sites que estejam bloqueados pelo governo.
- Não há sistema Visa ou Mastercard no Irão. Ou seja, os cartões de crédito não funcionam em NENHUMA máquina multibanco. Por isso tragam o vosso dinheiro em formato físico. Diria que um orçamento de 50€/dia chega e sobra, mas até com 10€ se vive e sobrevive. Há vários locais para trocar dinheiro; cuidado para não ser enganado. Vá aos locais oficiais no primeiro dia e evite trocar no aeroporto ou na receção do hotel, pois as comissões são muito altas.
- Às vezes, o hotel obriga a deixar o passaporte na receção, mas tente deixar uma fotocópia. Traga fotos tipo passe, pode ser necessário para algum cartão ou subscrição que tenha de fazer.
- Pode fazer um visto à chegada ao aeroporto com a reserva do hotel na mão ou se for convidado de alguém em Teerão; custa cerca de 80€. Mas o melhor é fazer na Embaixada do Irão em Lisboa que é sempre o mais seguro.
- A tolerância para estrangeiros que quebrem as leis do islão no Irão é muito grande. Se for apanhado com álcool ou a fazer outra coisa qualquer contra o Islão, não vai acontecer nada de mal, relaxe e tudo se resolve, para os locais é que pode ser pior.
- Estude a história do país, do Xá e das várias civilizações e dinastias que passaram pelo Irão. Vai entender o país, a sociedade e os seus símbolos muito melhor.
- Dar pequenas gorjetas é bom em qualquer situação. Uma nota de 100.000 Rials (verde), num restaurante ou táxi, é suficiente.
- Nunca senti insegurança e as pessoas são sempre amáveis com os estrangeiros. Mas mais vale jogar pelo seguro. Seja simpático, mas não dê muitas informações pessoais a taxistas ou pessoas que não conheça, do género onde está alojado ou para onde vai ou quanto ganha. As pessoas são um pouco cuscas!!
- Alugar carros e guiar é difícil, mais vale contactar uma empresa que alugue transportes com condutor e que fale inglês de preferência.
- Há hotéis onde os locais não podem ficar juntos se não forem casados. Têm mesmo que mostrar um certificado. Nunca vi isto acontecer a estrangeiros. Deve evitar muitas demonstrações de afeto em público. Não é proibido, mas não é necessário andar aos beijos ou na marmelada.
- Se tiver problemas respiratórios, atenção porque Teerão é mesmo muito poluída; às vezes até fecham as escolas.
- Há muitas pessoas que não falam inglês, mas se necessário comunica-se por gestos.
- As casas de banho são muitas vezes as chamadas casas de banho iranianas, ou seja, é apenas um buraco no chão.
O Irão é um destino relativamente barato; ainda assim, tens dicas para se poupar dinheiro em Teerão.
O Uber cá do sítio chama-se Snapp. Instale a aplicação e ainda é mais barato do que um táxi, que só por si já é muito barato mesmo. Andar de metro ou autocarro também é uma forma de poupar, ou comer em restaurantes de rua, por exemplo.
Mas para ser muito sincero, a vida no país é tão barata, que andar à procura de pechinchas no Irão, pode acabar por significar a velha máxima: o barato sai caro!
Se, para poupar uns cêntimos, vai comer em sítios não tão limpos ou andar mais a pé, pode acabar por ter problemas ou perder tempo desnecessário.
O Irão é um país rico em termos de recursos, mas infelizmente há muita gente a viver na pobreza e sem recursos. Por isso, gaste de forma equilibrada e ajude as pessoas e a economia local. Não estou a dizer para desperdiçar e não olhar a custos, mas de facto a vida acaba por ser muito barata no Irão.
Veja o artigo sobre o dinheiro no Irão.
Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que área nos aconselhas a procurar hotel em Teerão?
Não sou a melhor pessoa para responder a esta questão pois apesar de morar em Teerão há quatro anos, nunca fiquei em nenhum hotel; e os meus amigos e familiares que vêm visitar ficam sempre perto de minha casa, na zona norte de Teerão.
Mas se tiver de aconselhar, e daquilo que sei, posso dar algumas dicas e sei que ficam bem servidos e acomodados. Mas pode haver outras alternativas.
Em primeiro lugar e antes de falar dos locais que conheço, gostava de falar das alturas do ano em que é melhor viajar. Se tivesse de escolher um mês para viajar escolheria maio. Ou talvez até a última semana de abril até meio de maio. Esta é a altura em que a primavera se manifesta em todo o seu esplendor e as temperaturas são agradáveis. Já não está aquele frio polar do inverno ou o calor de ananases do verão. Apenas ter cuidado e verificar quando é o Ramadão, que normalmente começa lá para meio de maio. Não há qualquer problema em viajar nessa altura, mas há muitos restaurantes que estão fechados.
Outra altura boa é no final de setembro e princípio de outubro. As temperaturas também estão muito agradáveis nessa altura e já caem as primeiras neves nas montanhas.
Sobre os locais onde ficar. Há um grupo que tem dois hotéis em Teerão chamado Espinas Hotels, onde os estrangeiros gostam de ficar. Eles têm apenas estes dois hotéis, mas são confortáveis e com bom serviço e comida. Para quem tem preocupações de segurança (não conheço qualquer episódio de insegurança com turistas no Irão), ou quer uma casa de banho ocidental e empregados que falem inglês, esta é mesmo uma opção segura e que recomendo. É engraçado porque o diretor do hotel é português, chama-se Mário Candeias e é um dos poucos lusitanos, tal como eu, que mora no Irão. A embaixada uma vez disse-me que éramos cerca de 15 portugueses no total, no Irão.
Um dos hotéis fica junto às montanhas no norte da cidade, e é um dos melhores hotéis de Teerão com uma vista impressionante sobre a cidade. Tem todas as comodidades possíveis e o preço não é nada por aí além comparado com outros hotéis de 5 estrelas noutras cidades do mundo. Talvez a diária ande à volta dos 100€. O hotel fica a cerca de 30 minutos do centro indo de táxi (atenção que Teerão é uma cidade gigante!), mas por outro lado fica apenas a 15 minutos do mercado de Tajrish ou da zona de Darband, muito famosa pelos seus restaurantes. Por ficar no norte de Teerão, e numa zona alta junto às montanhas, não faz tanto calor no verão e há muito menos poluição.
O outro hotel do grupo Espinas fica localizado mais no centro e a sul da cidade, perto do Bazar central, o que pode ser uma boa opção para quem queira ficar numa zona mais tradicional e sentir a vibe das ruas de Teerão. Este segundo hotel é mais barato, mas não sei quantificar, depende da altura do ano também. Estes dois hotéis do grupo Espinas também têm a vantagem de estar preparados para receber turistas, trocar dinheiro, falar inglês e ajudar no que for necessário.
Na zona norte, a minha família também já ficou hospedada num hotel de 4 estrelas barato e agradável, chamado Parsian Evin. Em termos de zonas também já ouvi falar muito bem da área de Ferdosi que é mais central e tem muita oferta em termos de hotéis. Normalmente estes hotéis não se encontram no booking nem no airbnb, mas pode aceder aos respetivos sites e pagar online com um cartão de crédito normal.
Mas na minha sincera opinião, os melhores sítios para ficar em Teerão são os hostels. Basicamente, ficar nestes locais é viver a verdadeira experiência iraniana pois normalmente são edifícios com uma arquitetura típica, pequeno-almoço tradicional, empregados mais divertidos e decoração genuína. Vários amigos meus ficaram no Kargadan Hostel e adoraram a experiência. Para ver mais opções é uma questão de pesquisar online – há dezenas de opções.
Mais uma vez, não há motivo para preocupações face à segurança ou outras questões de comodidade, por exemplo. Há hostels deste género em todas as zonas da cidade e é uma questão de procurar onde quer ficar. Até pode passar dois dias num hostel mais no centro e depois mais dois dias noutro hostel mais a norte de Teerão. Mas ficar nestes hostels é mesmo a melhor maneira de conhecer pessoas, viajantes e sentir a verdadeira energia da cidade de Teerão. Além disso, é a hipótese mais em conta pois consegue-se encontrar quartos a partir de 5€.
Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Teerão?
As minhas recomendações gastronómicas no Irão podem ser encontradas na grande maioria dos restaurantes e são as seguintes:
Zereshk Polo – Sem dúvida este arroz é uma das comidas tradicionais do Irão e não é apenas um prato especial, é um prato do dia-a-dia mesmo. Trata-se de um arroz doce, salgado e amargo ao mesmo tempo. É cozinhado com manteiga, açafrão e uns pequenos frutos vermelhos chamados bérberis. Normalmente vem servido com frango. Sobre o frango, no Irão, normalmente é cozinhado lentamente com curcuma, açafrão, cebola e limão. É simplesmente delicioso.
Ash Reshteh – Trata-se de uma sopa de feijão com massa. Há restaurantes que só servem esta sopa e é a sua especialidade, mas muita gente também faz em casa. Além do feijão e da massa, também tem uma quantidade enorme de ervas, espinafres e outros vegetais como batata e beterraba. Uma pequena tigela é mais do que suficiente para uma refeição e muitas vezes tempera-se com cebolas fritas ou uma colher de kashk, que é um tipo de iogurte, mas que tem um sabor muito forte, cuidado!
Ghorme Sabzi – Este prato encaixa perfeitamente na expressão: primeiro estranha-se e depois entranha-se. Quando cheguei ao Irão não fiquei grande fã, mas hoje em dia só de cheirar o mesmo fico com água na boca. É um ensopado de ervas, com feijão e carne de vaca ou borrego. As várias ervas são picadas e fritas com óleo e depois cozidas durante horas com feijão. É servido com arroz. Aliás, fica já a saber, nem vale a pena tentar esconder mais: no Irão tudo é servido com arroz. Polo é a palavra para arroz cozinhado. Arroz cru diz-se Berenge.
Koresh Gheymeh – Um dos meus favoritos. O Khoresh Gheymeh é um ensopado de lentilhas com carnes para comer com arroz e batatas fritas temperadas com açafrão. Também existe uma variedade chamada Khoresh Gheymeh Beh a que adicionam ainda marmelo cozido. É de bradar aos céus! O segredo deste prato é o uso das lentilhas orientais alaranjadas a que eles chamam de Lapeh Dir Paz. Estas lentilhas são mais firmes e boas para cozinhados longos. O próprio nome significa lentilha de cozimento lento.
Adas Polo ou Lubia Polo – Duas das minhas escolhas principais e que peço sempre à minha sogra para fazer. Adas Polo é um arroz de lentilhas e passas. Um prato simples e bom para vegetarianos, que dá muita energia para o resto do dia. Lubia significa feijão, mas este não é um arroz de feijão brasileiro. É feito com feijão verde, carne de vaca assada e, claro, arroz com açafrão. Eu já mudei a receita cá em casa e junto-lhe alho e azeite, fica magnífico!
Fesenjoon – Um dos pratos mais especiais do Irão. É aquilo que os iranianos cozinham para receber convidados especiais. Arroz branco com frango, coberto por um molho espesso feito de nozes e romã. O sabor é doce e amargo ao mesmo tempo. É um prato muito requintado. Procure receitas na Internet, que vale a pena experimentar.
Baghali Polo – Arroz de favas. É isso mesmo, é um arroz com favas no meio, é saudável e saboroso. Também pode ser servido com frango, mas a verdadeira odisseia é experimentar com Mahicheh, carne de pescoço de borrego, é das coisas mais saborosas que já experimentei na minha vida.
Assim fica já a saber o que comer no Irão. Claro que há muitas mais iguarias e especialidades. Prove sem medos. Como disse anteriormente, é uma cultura milenar e com muitos ingredientes únicos, deliciosos e saudáveis. A única coisa de que sinto muitas saudades é de peixe. Embora se encontre tudo desde robalo, salmão e até linguado, em Portugal é mais fresco e mais bem cozinhado.
Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
Há tascas e botecos por todo o lado, nem saberia por onde começar! Deixo aqui três sugestões.
Fereydoon Sandwich – As sandes mais famosas de Teerão. As pessoas juntam-se à porta para falar, rir e comer sandes. O sítio é tão concorrido que fazem filas à porta. Estas sandes até são conhecidas como as sandes Kassif, o que significa literalmente sandes sujas, por ser num boteco no meio da rua. Mas as sandes têm bastante qualidade e são muito baratas. É género uma roulotte em Lisboa ou um sítio que venda bifanas. É obrigatório ir a este local quando estiver em Teerão. Escreva Fereydoon Sandwich no Google e aparece logo a localização.
Tasco do fígado – Uma das iguarias do Irão são as iscas ou o fígado de vaca ou borrego, como gostar de chamar. Mais uma vez, é uma comida muito saudável cheia de ferro e vitamina B, e no Irão come-se numa sandes com pão, sal, iogurte e limão. Há um ano encontrei um tasco junto à Meydon Karj que serve o melhor fígado do Médio Oriente. O sítio nem tem nome, site ou Instagram. Dou as seguintes indicações: vai até à rotunda Meydon Karj, sobe a rua que vai na direção das montanhas, corta na primeira à direita, numa ruela chamada 12th street, e é para aí a sétima ou oitava porta à esquerda, não tem como falhar!
Moslem – Fica junto à entrada principal do Grande Bazar, na Khordad St, 15 e é o local perfeito para comer qualquer prato tradicional iraniano. Costuma estar tão cheio que as pessoas têm de entrar com senha, e depois é o ver se te avias, tudo a comer ao molho e fé em Deus. Se lá for, e aconselho muito a ir, peça o tal pescoço de borrego; é uma iguaria de comer e chorar por mais.
Escolhe um café e um museu.
O Cinema Café – fica localizado no norte da cidade junto à principal avenida da cidade, a Valyasr. A localização é muito boa e tem um pequeno jardim, lojinhas e comida de rua por perto. Também pode pesquisar o Ketab Café junto a esta localização, é mais calmo e mais sossegado.
Veja também os melhores cafés de Teerão
O Museu da Joalharia – é, na minha opinião, um dos museus mais fascinantes que já visitei em todo o mundo. É apenas uma sala dentro de um cofre subterrâneo. Mas é muito mais do que isso. A beleza e a riqueza que se encontram neste local são únicas. As joias e os objetos que ali se encontram contam a história do Irão e das suas guerras, amores, dinastias e impérios. É um lugar extraordinário. Aconselho a arranjar um guia inglês para lhe explicar tudo.
Falemos de diversão. Apesar das restrições, o que sugeres a quem queira “sair à noite”?
Não há bares nem discotecas no Irão. Por isso esse tipo de diversão está fora de questão. Mas há muitas festas privadas. Se conhecer alguém em Teerão que o convide, pode ser uma boa solução para esse tipo de divertimento.
Julgo que a melhor solução de diversão à noite em Teerão é mesmo ir a restaurantes, de preferência se forem em zonas junto à natureza, ao ar livre e onde exista “confusão” e vários estabelecimentos que sirvam comida. Recomendo, por exemplo, a zona de Darakeh. Nesta zona, os restaurantes têm daquelas estruturas que parecem camas de dossel, cobertas com tapetes persas, onde as pessoas se sentam, comem, bebem, fumam, ouvem música, dançam e passam um bom tempo com os seus amigos e familiares.
Para comer fora de horas uns hambúrgers, kebabs ou pizzas, existem algumas zonas na cidade à beira da estrada, onde a malta se senta em mesas e cadeiras de plástico, e os carros param e colocam música género uma discoteca ambulante. Na praça Sheikh Bahaee há uma dessas zonas e se tiver fome de noite pode ser uma boa opção.
Junto ao Zoo, também há um parque de diversões chamado Eram Amusement Park. Pode ser uma boa aventura ir andar na roda gigante ou nos carrinhos de choque. Na zona oeste de Teerão, a cerca de 20-30 minutos do centro, também fica localizado o Lago de Chitgar, uma das minhas zonas preferidas da cidade. De dia é excelente para correr e andar de bicicleta e à noite há inúmeros restaurantes abertos para todos os gostos. Também é possível levar um farnel e fazer piqueniques na zona da relva junto ao lago. É um lugar muito bonito e uma visão rara em Teerão porque é um local completamente plano!
Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Teerão? E o que comprar?
Para fazer compras em Teerão, a melhor opção são os mercados tradicionais, os chamados bazares. Nestes locais pode encontrar tudo, desde roupas a comida, passando por tapetes ou outros objetos de decoração para a casa. Sugiro para compras o mercado de Tajrish, aqui encontra qualquer coisa que esteja à procura. Teerão não é uma cidade para compras do género Londres ou Paris, simplesmente porque as grandes marcas não se encontram presentes e há muita contrafação. Mas é boa para comprar especiarias, frutos secos, têxteis, tapetes e cerâmicas.
Para comprar bens do dia como frutas, pão, leite, água ou outros bens alimentares e de higiene pessoal, há pequenas mercearias em todos os bairros como antigamente havia em Lisboa.
Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Teerão; pode ser uma loja, um cafezinho, um restaurante, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
Eu e a minha família gostamos muito de ir ao Parque Enghalab. Fica localizado na zona norte da cidade e é um local onde se pode passear, fazer desporto, jogar bowling ou paintball, tem vários restaurantes, uma parede de escalada, courts de ténis e campos de futebol. É um local para toda a gente, muito limpo, seguro e com uma energia especial.
Existe uma pequena pista para as pessoas caminharem à volta do complexo com cerca de 2,5 km, onde se vê de tudo. Desde mulheres a correr todas tapadas, pessoas a dançar, crianças a correr, gatos em busca de comida ou simplesmente idosos sentados a ver o tempo passar. É um local onde podemos sentir Teerão de uma forma especial.
Obrigado, Pedro. Vemo-nos quando regressar a Teerão.
Guia prático
Como chegar a Teerão
A partir de Lisboa ou Porto, há várias companhias aéreas a fazer a ligação para Teerão com escala no seu hub principal. Pessoalmente, as ligações que mais utilizei ao longo de mais de 20 viagens a Teerão foram as da Turkish (via Istambul) e as da Lufthansa (via Frankfurt).
Já apanhei preços promocionais a rondar os 250€, ida e volta, mas os valores mais comuns ultrapassam os 400€.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
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Filipe, adorei essa reportagem.
Tenho uma imensa curiosidade pelo Irã, na mesmo proporção que morro de medo de me aventurar até lá por ser mulher e sozinha.
Como viajo sozinha, ainda não coloquei o pais na primeira linha dos desejos por medo, e odeio excursões. Fiz a única da minha vida para o Egito e foi um horror, não tenho esse perfil.
Eu gostaria de perguntar, é possível uma mulher viajar sozinha para o Irã?
Parabéns por esse maravilhoso site. Fica sempre ativo em meu computador.
Eu já estive em Teerão e, se tivesse que viver num lugar tão poluído, perderia anos de vida.
O Pedro mora na zona norte, a parte mais rica de Teerão. Se vivesse na zona sul, por exemplo, a sua opinião sobre a cidade seria muito diferente. No sul é como se fosse outra cidade.
O Irão é um país que me fascina e que adorava visitar. Esta descrição aguçou-me ainda mais a curiosidade. Muito obrigada.