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Do Canal do Suez à paz do Mar Vermelho (Eurasia #11)

Por Rafael Polónia e Tanya Ruivo | Eurasia África Egito
Atualizado em 8.08.2021 | Tempo de leitura: 6 minutos

Do Canal do Suez à paz do Mar Vermelho - Eurásia

Foram dias a pedalar com o vento empurrando-nos pelas costas, montanhas de uma beleza incomparável e um silêncio raro de se ouvir. A beleza do Mosteiro de Santa Catarina e a subida ao Gebel Musa complementariam um final feliz em terras egípcias. Do calor em volta duma fogueira numa tenda beduína ao calor da costa do Mar Vermelho, com a Jordânia à nossa frente e a Kings Highway na cabeça.

À medida que nos aproximávamos da costa leste do Egito, o ambiente tornava-se mais calmo. O turismo é em menor escala nas cidades do Canal do Suez, como Port Said e Ismailia, e foi nesta última que sentimos que havia outro Egito para lá do que havíamos conhecido até então. Uma cidade mais limpa, mais organizada, com pessoas que fazem exercício nas ruas e nos jardins, apesar dos passeios que têm mais de 40 centímetros de altura, algum lixo encostado às paredes e, claro está, com uma arquitetura desconexa. É impressionante o exemplo do chamado bairro francês, um legado deixado pelos europeus mesmo ao lado do centro da cidade – bom seria que os governantes conseguissem olhar para este exemplo e tentar segui-lo, se não em termos estéticos, pelo menos em termos de funcionalidade e praticabilidade dentro de um lar.

O bairro francês é um conjunto de casas alinhadas ao longo de várias ruas, construídas no século XIX, todas muito bonitas e, felizmente, ainda cuidadas, local escolhido para os europeus, maioritariamente franceses, viverem durante a construção do Canal do Suez. Apesar de ser um pouco de Europa e querermos “fugir” dela, é uma Europa que já não encontramos no velho continente pois, muitas vezes, também nós não sabemos cuidar do nosso próprio legado.

Península de Sinai
As montanhas dominam a paisagem na Península de Sinai

Saímos de Ismailia em direção à Península do Sinai, o nosso destino de eleição desde que aterrámos no país. O Sinai fica já na parte asiática e foi separado do país pelo Canal do Suez e, coincidência ou não, de Egito tem muito pouco. No norte o deserto, no sul as montanhas, e foi para lá que pedalámos, sempre com o vento pelas costas, com médias de 22 quilómetros por hora. A costa oeste segue agora o exemplo da costa leste, que há muito é um destino para turistas, com Sharm-el-Sheik como maior destaque e Dahab já a seguir-lhe o rasto. São resorts e mais resorts a serem construídos, todos de gosto questionável, naquela que quer ser uma das capitais mundiais do windsurf e do kitesurf.

Os russos estão por todo o lado, compram, constroem e esbanjam dinheiro. Se há uns anos bastava dizer a um egípcio “sou russo” para que isso fosse sinónimo de pouco dinheiro, hoje a mesma afirmação traz para a rua todo o tipo de artigos e actividades que possam ser comercializáveis.

Nós, parávamos nos postos do Crescente Vermelho (o mesmo que a Cruz Vermelha, mas nos países islâmicos) e estes, além de nos darem um sítio para dormir, alimentavam-nos até quase cairmos para o lado. Cinco estrelas.

Deixámos as bicicletas no cruzamento para Santa Catarina e pedimos boleia para El Tur, local onde estendemos os vistos por mais 2 meses. No dia seguinte, o vale por onde segue a estrada para o famoso mosteiro e para o Gebel Musa (mais conhecido como Monte Sinai), fez-nos deslizar por um silêncio imenso, uma beleza imensa, uma paz imensa. Finalmente estávamos sozinhos.

Mosteiro de Santa Catarina
Mosteiro de Santa Catarina

Subimos dos 100 aos 1.400 metros em dois dias de viagem, passando por Feyran, um oásis com mais crianças que água que correram na nossa direcção contentes e, 10 segundos depois, paravam surpreendidas com as palavras em árabe gritadas pela Tanya quando tentavam agarrar nas bicicletas e tocar em tudo o que mexesse. As montanhas são impressionantes e nós rendemo-nos a tamanha beleza ficando cinco noites na paz de El-Miga, a vila que se situa antes do Mosteiro de Santa Catarina. Os dias eram quentes e foram passados a caminhar e a fazer absolutamente nada, “atividade” que nos pareceu estranha. As noites eram geladas e em volta da fogueira, no acolhedor Fox of the Desert Camp, dentro da tenda beduína, trocávamos impressões com os poucos turistas que ficam na vila, cantava-se, tocava-se música com instrumentos locais e aquecíamo-nos em calor humano.

Visitar o Mosteiro é obrigatório. Subir o Gebel Musa é um dever. O mosteiro começado a construir no século IV, e toda a área envolvente, pertence à lista de Património Mundial da UNESCO desde 2002. Apesar de só se poder visitar uma parte mínima do mesmo, visto que este continua em atividade, e da visita ser acompanhada por milhares de turistas que chegam em autocarros e que se precipitam sobre o monumento durante pouco mais de 30 minutos e depois abandonam o local para visitarem outro qualquer local, a basílica (um dos únicos locais onde se pode entrar) é impressionante na beleza e, para os crentes, no simbolismo.

Estradas no Sinai
Silêncio nas estradas do Sinai

De lá, consegue ver-se o Gebel Musa, mas poucos se aventuram a subir. A montanha, que sobe aos 2.285 metros, é local sagrado para cristãos, muçulmanos e judeus. Foi aqui que Deus ditou os dez mandamentos a Moisés. É aqui que sobem crentes, como um grupo de idosos gregos que vimos passar, alguns chorando, outros com uma dificuldade imensa em subir os últimos degraus – o sol já estava a descer, mas mais importante que a luz ou a dificuldade está a fé. É aqui que sobem pessoas de todo o mundo, pela manhã ou pela madrugada, para ver o sol a pôr-se ou a nascer. Foi aqui que subimos para ver as montanhas orgânicas que são de uma beleza rara e que merecem horas e horas de observação. Na descida, optámos por percorrer os mais de 3.700 degraus construídos por um monge durante a sua vida, como penitência, conhecidos como Degraus do Arrependimento. Duro, muito duro.

A paz de Santa Catarina foi trocada depois por uma noite dormida no deserto, inspirada por um casal francês nos seus cinquentas que se cruzou no nosso caminho também de bicicleta, já com cinco meses de viagem nas pernas: “Não temos casa”, disseram-nos, “temos um terreno no sul de França, uma tenda mongol e um camião, que é onde vivemos a maior parte do tempo. Quando não estamos no camião, estamos com as bicicletas, por aí”.

Chegámos a Nuweiba, onde apanharíamos o caríssimo barco para a Jordânia. A cidade (ou melhor, os alojamentos que foram construídos pelos mais de 15 quilómetros de costa) está num autêntico estado de degradação. São raros os hotéis com turistas e, os que têm, estão entre o decadente e o kitsch, salvando-se muito poucos. Os muitos camps, que eram alimentados pelo turismo vindo de Israel, entraram quase todos em falência depois do turismo ter desaparecido. Agora, os poucos turistas que por aqui passam vêm para apanhar o barco para a Jordânia, ou seguirem caminho para Israel. A vida já quase não existe em Nuweiba – era, por isso, o sítio perfeito para passarmos os últimos três dias de viagem no Egito na paz do Mar Vermelho.

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Sobre o autor

Filipe Morato Gomes, blogger de viagens

Olá! O meu nome é Filipe Morato Gomes, vivo em Matosinhos, Portugal, sou blogger de viagens, co-autor do projeto Hotelandia e Presidente da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses.

Tenho 52 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, fiz dezenas de viagens independentes e fui líder de viagens de aventura.

Mais recentemente, abracei um novo desafio chamado Rostos da Aldeia, onde se contam histórias positivas sobre as aldeias de Portugal e quem nelas habita.

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