Hoje republico a segunda crónica de viagem escrita para as edições de verão do jornal Diário de Notícias, publicada em papel no passado dia 22 de julho. As crónicas são publicadas até ao final de agosto, sempre às segundas-feiras, na secção DN – Verão do jornal (e aqui com duas semanas de atraso).
#2 Os imprevistos em viagem

Os imprevistos são parte integrante de qualquer viagem e devem ser encarados com naturalidade. Podem ser incómodos e desesperantes, é verdade, por vezes até frustrantes ou revoltantes. Mas, não raras vezes, as melhores histórias de viagem resultam precisamente de… imprevistos.
Não sou dos viajantes mais azarados, mas já tive a minha dose de autocarros perdidos, reservas não honradas, vistos recusados e outros “acidentes de percurso”. Lembro-me, por exemplo, de ter ficado dia e meio atolado nas desérticas estepes mongóis, após a velha carrinha russa de tração que me transportava ter falhado a travessia de um rio. Tive de acampar nas margens do rio à espera de ajuda, de alguém que me pudesse transportar até à cidade mais próxima, de onde poderia então prosseguir viagem.
Lembro-me de ter sido impedido de embarcar num voo da Emirates no aeroporto de Kuala Lumpur, por não ter comigo o cartão de crédito utilizado na compra do bilhete.
Lembro-me de ter sido interrogado no Irão – e temido que a coisa poderia acabar muito mal – após uma companheira de viagem ter fotografado umas instalações nucleares.
Mas também me recordo de imprevistos felizes, daqueles que ficam marcados para sempre no baú de recordações de um viajante. Um deles ocorreu na passagem de ferryboat entre o Egito e a Jordânia.
“Volte amanhã”, foram as exatas palavras proferidas por um homem mal-encarado do outro lado do guichet, assim que o inquiri sobre os bilhetes para o barco que liga diariamente Nuweiba, no Egito, a Aqaba, na Jordânia. “Volte amanhã”. Sem mais. O ferry estaria cheio. Eram onze e trinta da manhã. O dia estava aparentemente perdido.
Sem alternativas credíveis (não podia optar por entrar em Israel por questões relacionadas com vistos), resignei-me a ficar em Nuweiba. Um taxista viu-me sentado no passeio e perguntou para onde ia. Disse que não sabia, que ainda estava a pensar. Foi quando ele mencionou uma tal Tarabin, “muito bonita”. Nunca tinha ouvido falar, mas aceitei a sugestão e instalei-me num bungalow primitivo da praia Tarabin, quase uma dezena de quilómetros a norte do porto marítimo de Nuweiba, sem outra expectativa que não a de esperar pelo dia seguinte. Foi a melhor coisa que podia ter acontecido.
Tarabin era uma daquelas aldeias à beira-mar com apenas três ou quatro ruas de terra batida, quase deserta, com pousadinhas simples mas acolhedoras junto à praia, as convenientes redes mosquiteiras, almofadas no chão e velas a servir de iluminação noturna. Havia uma fileira de montanhas pelas costas que entalavam Nuweiba contra a faixa litoral; e isso dramatizava a paisagem.
Do outro lado do golfo de Aqaba, a Arábia Saudita era visível a olho nu. Os menus dos poucos restaurantes abertos incluíam peixe fresco, as pessoas eram de uma amabilidade extrema, os camelos passeavam no areal de uma praia literalmente despovoada, sossegada, encantadora. Enquanto mergulhava nas águas tépidas do golfo, com o sol prestes a esconder-se atrás das montanhas, só me ocorria pensar na sorte de ter perdido o ferryboat.
Série de Crónicas DN – Verão 2013
- O país mais “perigoso” do mundo
- Os imprevistos em viagem
- A viagem como escola da vida
- É preciso coragem
- Viajar não é coisa de ricos
- A gastronomia em viagem
- Profissão: vagabundo
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
Olá Filipe! Existe algum post seu sobre a China? Já tentei procurar, mas não encontrei. É que vou para lá em Setembro e ando à procura de dicas :)
Olá Cê,
Aqui no blog não, mas no Alma de Viajante há várias reportagens e álbuns de fotos sobre viagens à China.
Beijos e boa viagem!
Tenho alguns vários imprevistos felizes em viagens e outros trágicos… O último, foi ter atravessado a fronteira Bolívia-Peru por Copacabana e não receber o carimbo de entrada do Peru, somente da saída da Bolívia. Estava viajando com mais 3 amigos e essa saga de “ilegais” em busca do carimbo nos rendeu visitas ao cônsul brasileiro de Cusco e Lima, um passeio com o carro oficial da Embaixada do Brasil em Lima, várias visitas a polícia de diversos segmentos e lugares, propostas “amigáveis”, um processo de expulsão, um vôo de ida e volta no mesmo dia à fronteira com uma perseguição eletrizante, um dia de passeio com um policial que acabou em bar, uma mudança de data de volta ao Brasil com um aumento de período de “férias” de 2 amigos, ladrões “solidários”, uma oportunidade de trabalho no melhor restaurante da América Latina, e muito mais… Tragicômico será? E essa é uma entre tantas. Viajar é preciso! Acompanho o blog e adoro, me identifico e me inspiro sempre! Parabéns!