Há leite com chocolate em qualquer canto do mundo. E há sempre um frango e uma tigela de arroz que garanta que uma criança se alimente – mesmo uma esquisita no palato como a Pikitim. Ao final de dois meses em viagem, engordou um quilo, cresceu e respira saúde. Não tem ainda coragem para se aventurar muito na gastronomia, mas fazer alguns ensaios já faz parte da diversão.
A Pikitim é uma criança gulosa. Mas não gosta de comer. Isto é, adora chupa-chupas e devora chocolates e, se pudesse, alimentava-se exclusivamente a iogurtes e bolachas com pepitas… de chocolate, claro está. As nossas guerras com a Pikitim sempre foram por causa da comida, e custou-nos muito a absorver a mensagem que o pediatra sempre tentou transmitir – “nenhuma criança morre à fome com um prato de comida à frente”. Isto é, quando chegam de facto ao ponto de precisarem mesmo de alimentos, comem o que lhes aparece à frente. E comem mesmo!
Uma viagem de longa duração, por muitas geografias e gastronomias, seria o melhor dos testes. Para já, podemos dizer, prova superada. Dois meses na estrada e está a crescer e a aumentar de peso a olhos vistos – um quilo em dois meses é proeza que não consegue desde que era bebé.
Parando para pensar, julgo que houve dois fatores que contribuíram bastante para isso. Primeiro, o facto de termos desligado o botão que obriga a hábitos mais ou menos intransigentes. O que não quer dizer que passámos a ser adeptos do “come quando te apetecer e do que te apetecer”, mas que nos habituámos a ser mais flexíveis. Não haveria outra maneira.
Afinal, experimentar novas gastronomias é um dos aspetos mais enriquecedores de viajar, mas nem sempre conseguimos que a Pikitim arrisque e coma coisas novas. Aos poucos, vai começando a alinhar nisso, mas continua a pedir aos pais para fazerem as primeiras provas e só avança depois de lhe garantirem que “é bom” e “não é picante”.
Segundo, o fator que o pediatra sempre mencionou: quando há apetite (não podemos falar em fome, que isso seria insultar algumas crianças), as refeições tornam-se, subitamente, deliciosas. Mesmo quando o que está no prato é uma comida que, normalmente, a Pikitim dizia que não gostava e fazia fitas para comer. Um exemplo. Quando partimos para esta viagem houve quem nos dissesse: “não se preocupem, há McDonald’s em qualquer canto do mundo” – como se isso fosse a carta de trunfo que poderia jogar qualquer pai. Pois, mas a Pikitim não gosta(va) de McDonald’s, nem de torradas, nem de donuts, nem de legumes inteiros na sopa.
A alimentação da Pikitim na viagem
Tendo nós, pais, desde sempre, como uma das nossas principais preocupações a alimentação da Pikitim, sabíamos que, em viagem, não sendo nós quem assegura a confeção dos alimentos, seria muito difícil controlar a sua dieta alimentar. Mas a verdade é que, nos quatro países em que passámos os últimos dois meses, foi sempre possível conseguir uma refeição que a Pikitim pudesse apreciar.
Singapura, Tailândia, Malásia, Filipinas – em todos eles abundam os pratos picantes, e até foram os portugueses os principais responsáveis por isso, ao começarem a trazer as especiarias para estas geografias asiáticas. Mas agora, a pequena “descobridora” portuguesa quer andar muito longe das pimentas, malaguetas e caril.
Recorrendo a alguma imaginação e, sobretudo, a muita insistência nos restaurantes que frequentámos, lá conseguimos arranjar (quase) sempre um prato apropriado. Em último caso, costuma haver uma tigela de plain rice ou sticky rice e uns pedaços de frango, de vaca ou de porco que estejam a ser grelhados (ou que retiramos dos nossos pratos).
Em Singapura, Manila e Kuala Lumpur – ou melhor, onde haja uma Chinatown e restaurantes chineses -, uma chicken noodle soup tem sido sempre uma boa aposta. Segundo a Pikitim, é como se fosse uma canja de galinha mas “com esparguete em vez de massinhas”. E é sempre possível pedir uma malga vazia e transformar a noodle soup num prato de esparguete com frango. Há também os eternos fried noodles – que nas Filipinas se chamam pacit canton -,mas nestes é bem mais difícil controlar a quantidade de especiarias e picante que lhe são colocados. Quando se consegue, vale bem a pena.
Todos estes países asiáticos têm no arroz uma das principais bases da sua gastronomia. Na Tailândia, a Pikitim consolou-se a comer fried rice e, na Malásia, também gostou do nasi goreng. Comeu bastante melhor os tailandeses; dos malaios gostava mais “quando eram branquinhos” – isto é, o arroz simples, cozido em leite de coco. A acompanhar, carne, peixe ou o omnipresente frango.
Em Langkawi, por exemplo, encontrámos várias vezes cavalas grelhadas, mas em alguns restaurantes era-lhes aplicado um molho extremamente picante. Nas Filipinas, acham que um molho de ketchup é o melhor dos complementos para aplicar no frango de churrasco – e nós lá tínhamos de pedir para servirem a galinha sem molho algum. Felizmente, encontrámos boas opções nas Filipinas, nomeadamente o lomi, um prato nacional – uma espécie de sopa de noodles, com carne, vegetais, ovo e muitos legumes – servido em doses gigantes.
Foi, sobretudo, na componente “diversidade” que a nossa flexibilidade teve de ser maior. Pelos exemplos acima, está bom de ver que a dieta alimentar da Pikitim está agora muito baseada em arroz e massa quase sempre com frango, e pouquíssimo peixe (algum atum ou peixe grelhado, muito de vez em quando). Mas é o que temos conseguido arranjar.
Além disso, a Pikitim tem na ponta da língua as recomendações do pediatra: que é preciso beber muita água, e que a refeição mais importante do dia é o pequeno-almoço, que deve conter leite, cereais e fruta.
Neste particular, o ideal seriam as grandes taças de fruta servidas em qualquer parte da Tailândia, com cereais e iogurtes. Mas a Pikitim não as aprecia. E se nós, pais, por vezes sentimos saudades do bom pão português e nos cansamos de comer torradas de pão de forma, para a Pikitim, que não aprecia nem uns nem outros, um bom pequeno-almoço é apenas um copo de leite (de preferência com chocolate) acompanhado de meia torrada, ou então uma tigela de leite com cereais de… chocolate, claro está.
Descansem pais e mães de todo o mundo: há pacotes de leite achocolatado (Milo, lembram-se da marca?) por todo o lado. E, curiosamente, o leite com chocolate é muitas vezes mais barato que o leite simples. A Pikitim bebe dois pacotes por dia. Salvam-se ainda os sumos de fruta naturais e os fruit shakes, com leite ou iogurte, que ela tem devorado.
Tudo somado, a verdade é que a Pikitim está a crescer, a aumentar de peso e com ar saudável. Conclusão? O melhor é mesmo não stressar!
Leia também o artigo sobre prevenção de doenças pediátricas relacionadas com viagens.
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Sobre o Diário da Pikitim
Este post pertence a uma série que relata uma volta ao mundo em família, com 10 meses de duração. Um projeto para descomplicar e mostrar que é possível viajar com crianças pequenas, por todo o mundo. As crónicas da viagem foram originalmente publicadas na revista Fugas e no blog Diário da Pikitim.
Veja também o artigo intitulado Viajar com crianças: 7 coisas que os pais devem saber.
Amei. :-)
Quem diria!? Aqui tantas preocupações e sem stress tem-se uma menina saudável :)
Olá Luisa:
Somos um casal português com um casal de filhos gémeos com 7 anos.
Começámos a nossa viagem de 5 meses em meados de Julho e até agora só estivemos no Sri Lanka e Tailandia.
Estamos agora no aeroporto de Phuket à espera do avião para a Indonésia.
Ao ler este texto, identifiquei-me com cada linha, é incrível como as crianças reagem da mesma forma nestas situações.
Também já tivemos um episódio de intoxicação alimentar para cada filho, o que nos preocupou, mas tudo passou e estamos a aproveitar cada novidade.
Tem sido uma inspiração ler os vossos textos.
Já tínhamos pensado saltar as Filipinas, mas após ler o vosso blog, se calhar ainda lá passamos.
Obrigada por partilharem a vossa experiência.
Espero que continue tudo a correr bem convosco
Sandra
Olá Sandra e família!
Desejamo-vos a melhor de todas as viagens! Aproveitem vem as novidades, as descobertas, o tempo de qualidade em família… os gémeos têm sorte, têm sempre alguém com quem brincar, diria a Pikitim. Felizmente, ela também tem feito muitos amigos pelo caminho…
Nós só estivemos na ilha de Palawan quando fomos às Filipinas, mas recomendamos vivamente. Não é tão fácil viajar por lá como é na Tailândia, mas seguramente vale bem a pena!
Um abraço!