Corria o ano de 1998 quando fui visitar a medina de Fez pela primeira vez. Nessa altura, fui de carro desde Portugal até Marrocos, com amigos, passando por Tânger, Tétouan, Chefchaouen e, finalmente, Fez.
Como não sabíamos bem o que fazer em Fez e a cidade velha parecia assustadora para uns viajantes com pouca experiência (e nem tampouco tínhamos à-vontade para lidar com os insistentes falsos guias marroquinos da época), acabámos por aceitar a oferta de um rapaz local para nos guiar pela medina de Fez.
Ora, ao primeiro vislumbre de um polícia, o jovem desapareceu sem deixar rasto, deixando-nos perdidos na labiríntica medina de Fez. Como é natural, conseguimos sair da cidade velha, embora o estado de espírito após o sucedido não fosse o melhor.
Apesar disso, ao final da tarde, o jovem apareceu à porta do nosso hotel, acompanhado por meia dúzia de amigos com ar de rufia, para exigir o pagamento. Não foi, por tudo isso, um primeiro encontro perfeito com a imperial cidade de Fez.
Tinha, pois, muita curiosidade em regressar a Fez para me reconciliar com a cidade. Estaria a medina de Fez muito mudada?
Quis o destino que, 20 anos depois, regressasse a Fez. Para além de querer cirandar pela medina e de visitar os curtumes de Chaouwara, não tinha decisões tomadas sobre o que iria fazer em Fez. Até porque me iria entregar à orientação de Abdelkader Malal, guia oficial marroquino, para me mostrar os recantos da velha urbe; incluindo alguns dos seus lugares favoritos e coisas a fazer na medina de Fez para o comum dos turistas (sim, como visitar uma tanaria).
Eis, pois, alguns dos lugares mais emblemáticos por onde passei. Ou, por outras palavras, uma pequena compilação de coisas para fazer em Fez. Vamos a isso.
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O que fazer na medina de Fez, Marrocos
- 1.1 Chá de menta no Café Clock
- 1.2 Apreciar a porta Bab Bou Jeloud
- 1.3 Passar pela rainbow street
- 1.4 Explorar as ruelas e becos sem saída
- 1.5 Apreciar a arquitetura (e as portas) de Fez
- 1.6 Visitar a Madraça Bu Inania
- 1.7 Perder-se nos souks de alimentação…
- 1.8 … e admirar o trabalho dos artesãos marroquinos
- 1.9 Conhecer os curtumes de Fez (tanaria Chaouwara)
- 2 Mapa com o que fazer em Fez
- 3 Fotos da medina de Fez
- 4 Dicas para visitar a Medina de Fez
O que fazer na medina de Fez, Marrocos
Chá de menta no Café Clock
Cheguei à medina de Fez ao final da tarde de um dia agradável de finais de março e, depois de deixar as coisas no riad La Maison Bleue Batha, fui conhecer o Café Clock. Quem acompanha as minhas viagens conhece o meu fascínio por cafés, razão pela qual não poderia deixar de conhecer um dos mais populares novos cafés da cidade. Foi onde tomei o primeiro chá de menta da viagem.
Antes de um divinal jantar no luxuoso Palais Faraj Suites & Spa, tempo ainda para ver e sentir e ouvir a medina a fervilhar de vida e cheiros e sons. Foi a forma perfeita de começar a explorar a cidade velha, duas décadas depois.
Apreciar a porta Bab Bou Jeloud
De manhã cedo, antes de tomar o pequeno-almoço, saí para sentir a medina de Fez a acordar. Dada a proximidade geográfica do meu riad com a Bab Bou Jeloud, conhecida como “Porta Azul”, foi por ali mesmo que comecei a visitar Fez.
Ao que consta, as muralhas de Fez têm cerca de 12km de extensão. Ao longo delas, há um conjunto de portas, entre as quais a Bab Bou Jeloud é uma das mais emblemáticas. Trata-se, aliás, de uma das mais importantes entradas na cidade velha de Fez, com uma estrutura de arco triplo com inspiração arquitetónica mourisca construída há mais de 100 anos.
Tal como o resto da cidade velha, a Bab Bou Jeloud estava anormalmente sossegada. Uma das vantagens de acordar cedo em viagem!
Passar pela rainbow street
Não muito longe fica a chamada Rainbow Street. É, na verdade, pouco mais do que uma ruela onde se vende artesanato local, tornada visualmente mais atraente devido ao uso de muitas cores – no chão e nas paredes. É uma tática cada vez mais usada por todo o mundo para atrair turistas e Instagrammers, que em Fez parece também resultar.
Eu passei na Rainbow Street ainda a cidade estava parada, depois de atravessar a Bab Bou Jeloud, e não havia ninguém na rua. Na Rainbow Street, o primeiro vendedor preparava-se lentamente para abrir a banca aos grupos de turistas estrangeiros que, daí a pouco, haveriam de começar a aparecer.
Explorar as ruelas e becos sem saída
Uma das coisas que mais gostei de fazer em Fez foi cirandar pela medina de manhã cedo e explorar as ruelas perpendiculares às artérias principais. O mais divertido é que muitas eram becos sem saída que, depois de muito andar, terminavam na porta de uma habitação.
Para mim, ver a medina de Fez deserta, assim, a acordar lentamente, foi a forma perfeita de me reconciliar com a cidade. E ainda não tinha visto quase nada…
Apreciar a arquitetura (e as portas) de Fez
Foi depois tempo de voltar ao riad, tomar o pequeno-almoço, e juntar-me ao guia Abdelkader Malal para explorar a cidade velha de Fez com quem a conhece bem.
Na sua essência, a medina de Fez pouco mudou nas últimas décadas. Está, naturalmente, mais bem cuidada e menos caótica – é certo -, mas não perdeu a sua alma de souk onde o quotidiano decorre normalmente, a par das visitas que o turismo ali leva. Mas continua, por exemplo, a haver lixeiros que transportam o lixo para fora da medina usando burros de carga.
Sim, Fez continua a ser um verdadeiro império dos sentidos. Daqueles destinos para explorar com todos eles bem despertos. Os cheiros dos curtumes, o picante das especiarias, as cores das ruelas mais recônditas, as texturas das velhas portas de madeira, o chamamento de um muezim misturado com os avisos dos carregadores que empurram carros-de-mão cheios de víveres nas estreitas ruelas da medina. É um frenesim que me remete para o meu querido Irão e me faz sentir em casa.
Visitar a Madraça Bu Inania
A Madraça Bu Inania foi, em tempos, uma das mais importantes instituições religiosas de Fez e, atualmente, é provavelmente a escola corânica mais conhecida entre os turistas. Foi construída no início da segunda metade do século XIV e, após recentes obras de restauro, mantém uma beleza extraordinária.
A entrada principal de Bu Inania dá acesso a um grande pátio central com chão de mármore que, após muita paciência, consegui ter por um par de minutos praticamente só para mim. Sem surpresas, a madraça ganhou um encanto ainda maior com o silêncio e os espaços vazios. Os azulejos e outros extraordinários motivos decorativos ganharam vida própria, com cada detalhe a clamar por merecida atenção.
Bu Inania é, sem dúvida, uma madraça visualmente maravilhosa! Foi outro dos pontos altos da minha passagem por Fez.
Perder-se nos souks de alimentação…
Continuando a visita, fui percorrendo os vários souks existentes no interior da medina de Fez. Na verdade, toda a cidade velha parece um souk contínuo, vibrante e cheio de gente (a esta hora). Um contraste fantástico com as primeiras horas da manhã, em que tudo era silêncio e deserto.
Nos souks, não faltam as bancas de frutas e verduras, os vendedores de peixe e os talhantes. Vi de tudo um pouco, incluindo um miúdo a desmanchar uma cabeça de carneiro. Pudesse ter mais tempo na cidade e tê-lo-ia utilizado para me perder ainda mais pelos labirínticos mercados de Fez.
… e admirar o trabalho dos artesãos marroquinos
Não há como não reparar neles. Nem que seja pelo som ritmado dos martelos. Tum, tum, tum. Latoeiros. Construtores de facas. No fundo, artistas que fazem perdurar os ofícios tradicionais, porventura tradições seculares familiares. A alma de Fez também passa por eles, os artistas. É estar de olho aberto.
Só não espere encontrar as oficinas onde se produz a famosa cerâmica de Fez que, atualmente, já não se encontram dentro da medina. Nessas fábricas, é possível assistir ao fabrico artesanal das tradicionais peças de cerâmica, incluindo o processo de moldagem, a pintura e a cozedura. Mas para isso precisa de sair da cidade velha.
Conhecer os curtumes de Fez (tanaria Chaouwara)
Por fim, não poderia deixar de conhecer as tanarias onde se trabalham os curtumes de Fez. A escolha de Abdelkader recaiu sobre a tanaria Chaouwara, uma das mais conhecidas da cidade.
O acesso foi feito por uma loja – naturalmente! -, que tinha um terraço com uma vista privilegiada para as tinas onde se tingem as peles. À entrada, deram-me um ramo de hortelã para melhor aguentar o cheiro nauseabundo dos curtumes. E ali fiquei por alguns minutos, observando o árduo trabalho dos homens, uns enfiados nos “favos de mel” com água colorida até à coxa; outros carregando as peles “limpas”, entre outras coisas, com fezes de pombo.
Foi a forma perfeita de terminar a minha visita a Fez. Tétouan seria a paragem seguinte no meu curto e aprazível roteiro pelo Norte de Marrocos.
Mapa com o que fazer em Fez
Fotos da medina de Fez
Dicas para visitar a Medina de Fez
Como chegar a Fez
Fez fica a pouco mais de hora e meia de avião de Lisboa, e não é muito difícil encontrar voos baratos entre Portugal e Fez. Eu voei com a TAP, do Porto para Fez, com escala em Lisboa.
Onde ficar
Para informações mais detalhadas sobre o alojamento, veja o post sobre onde ficar em Fez, onde recomendo alguns dos melhores riads da cidade.
Em jeito de resumo, eu fiquei hospedado no La Maison Bleue Batha, junto à medina de Fez, que tem boa localização e uma excelente relação qualidade/preço. Recomendo sem reservas.
Alternativamente, entre os mais elogiados riads de Fez contam-se o elegante Riad Le Calife; o acolhedor Dar Dalila; o belo Riad Alya; e o familiar Riad Andalib. Para quem procura alojamento económico, o Fés Touria Palace é um daqueles hotéis bons e baratos onde vale a pena ficar. Pesquise outras opções de qualidade usando o link abaixo.
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