Mosteiro de Tatev, a cereja no topo do maior teleférico do mundo

Candidato a integrar a lista de Património UNESCO na Arménia desde 1995, o mosteiro fortificado de Tatev é um dos mais antigos mosteiros do país. Foi construído num planalto junto à aldeia de Tatev, a pouco mais de 30km de Goris, na província de Syunik, localizada no extremo Sul da Arménia.

Na verdade, o Mosteiro de Tatev era um dos locais que mais queria visitar durante a minha viagem pelo Cáucaso, num itinerário que juntou partes da Arménia, da Geórgia e ainda do disputado território de Nagorno-Karabakh (atualmente denominado República de Artsakh) – que dista poucas dezenas de quilómetros de Tatev.

Haveria, aliás, de seguir de Tatev para Stepanakert, capital de Nagorno-Karabakh – e sobre essa experiência escreverei outro post. Concentremo-nos, por ora, no mosteiro fortificado de Tatev. Eis um pouco de história.

Mosteiro de Tatev: contexto histórico

A construção do Mosteiro de Tatev remonta ao século IX. Chegou a ser um centro educativo, cultural e espiritual de grande relevo na Arménia; tendo, no início do século XI, albergado uns impressionantes mil monges e variadíssimos artesãos.

Por essa altura, corria o ano de 1044, forças armadas inimigas destruíram a Igreja de São Gregório, O Iluminador (uma das três igrejas de Tatev, juntamente com a Igreja de São Paulo e São Pedro, e a da Santa Mãe de Deus). Sofreu também danos significativos durante o terramoto de 1136 e as invasões seljúcidas no século XII. Décadas mais tarde, os turcos seljúcidas terão saqueado o mosteiro e queimado cerca de 10.000 manuscritos – uma perda de valor incalculável.

Foi só em em finais do século XIII que o mosteiro foi reconstruído, ao que consta graças aos esforços do bispo de Stepanos de Syunik. É esse novo mosteiro que hoje é possível visitar.

A minha visita ao Mosteiro de Tatev

Foi um dia longo. Depois de visitar o Mosteiro Khor Virap, segui de carrinha por estradas montanhosas até parar em Harsnadzor, uma torre de vigia na estrada de Goris para Tatev, pouco depois Halidzor, com vistas incríveis sobre as gargantas de Vorotan. Chamam-lhe Capela do Sino.

O sino a que o nome se refere fazia parte de um sistema de comunicação entre Kordzor e Tatev, e servia para alertar a aldeia sobre eventuais ataques inimigos. Infelizmente, já não se encontra no local.

Depois de um piquenique a olhar o desfiladeiro, fui então visitar o Mosteiro de Tatev.

Lá chegado, pude confirmar os motivos por que Tatev é um dos locais mais visitados do país. O mosteiro estava razoavelmente bem preservado (e com algumas obras de restauro a decorrer).

No interior do complexo, havia vários edifícios cuja visita era permitida. Fui cirandando pelo complexo, ora no exterior quando o sol aqueceu a pedra das paredes, ora no interior quando se esgueirou para trás das nuvens.

Foi numa dessas entradas na igreja principal do Mosteiro de Tatev que presenciei um momento muito emotivo para a minha amiga Christine, cristã ortodoxa.

Vi Christine aproximar-se do gradeamento que nos separava do altar, onde se encontravam dois padres, e dirigiu-se respeitosamente a um deles. Depois de uma breve troca de palavras, o padre baixou a cabeça e colocou a sua enorme mão sobre a cabeça de Christine. E assim ficaram segundos que pareceram eternos.

Eu não fazia ideia do que ali se estava a passar, mas o momento pareceu solene e o meu impulso foi fotografar. Lá fora, mostrei as fotos a Christine e os seus olhos humedeceram de imediato.

Explicou-me que o Reverendo Padre Michael Gevorgyan, clérigo ortodoxo no Mosteiro de Tatev desde 2008, tem algo de especial; que transmite uma energia única e inexplicável; que há muito ela queria ir a Tatev para estar com o Padre Michael pessoalmente.

E aquele foi o dia.

Por isso as fotografias significavam muito para Christine. “Obrigada, obrigada!”, disse-me vezes sem conta, de sorriso no olhar. “Ele é o meu padre preferido em toda a Arménia”, rematou.

Fui então visitar o chamado Moinho de Óleo, construído no século XVII no exterior das muralhas do Mosteiro de Tatev, para que os aldeões pudessem produzir óleo vegetal.

O que resta do moinho encontra-se atualmente num espaço coberto transformado numa espécie de museu interativo onde, de forma algo tosca, se explica a importância do moinho para a comunidade de então.

Pouco depois, era hora de deixar o mosteiro de Tatev entregue às sombras do fim da tarde e caminhar até ao teleférico Wing of Tatev. Era o final da minha visita ao Mosteiro de Tatev; mas nem por isso as emoções tinham terminado.

A ideia era percorrer o maior teleférico reversível do mundo, sobre as gargantas do Rio Vorotan. São exatamente 5.752 metros de adrenalina, entre Tatev e a povoação de Halidzor – onde uma carrinha haveria de me esperar.

Do alto dos mais de 300 metros de altura da cabine do teleférico, iam passando diante do olhar ravinas e cascatas, o Rio Vorotan e a chamada Ponte do Diabo lá ao fundo, as ziguezagueantes estradas de montanha e algumas aldeias pontilhando a paisagem.

Quando, ao fim de quase 15 minutos voltei a pisar terra firme, estava satisfeito. Tinha sido um dia em cheio.

Há uma infinidade de mosteiros na Arménia, cada um com a sua história, o seu estilo, os seus encantos visuais. Para além do Mosteiro de Tatev, conheci também Khor Virap e Matosavank. Recomendo todos!

Localização exata do Mosteiro de Tatev: ver no Google Maps.