Casal de São Simão é uma aldeia encantadora. Localizada no concelho de Figueiró dos Vinhos, faz parte da rede de Aldeias do Xisto da Serra da Lousã e fica a dois passos das Fragas de São Simão, uma crista quartzítica junto à qual foi construído o chamado Passadiço das Fragas de São Simão, para interligar as atrações envolventes (aldeia, praia fluvial, miradouro). É sobre esse trilho que hoje escrevo.
Antes de mais, uma nota pessoal. Honestamente, não creio que o Passadiço das Fragas de São Simão justifique todo o burburinho do último verão, altura em que foi inaugurado. Eu explico.
Aprecio quando uma estrutura permite conhecer locais que de outra forma seriam praticamente inacessíveis. É o que acontece, por exemplo, com os Passadiços do Paiva, os Passadiços de Aveiro ou o renovado Caminito del Rey, na Andaluzia.
Ao invés, não encontro grandes vantagens em criar passadiços por cima de um trilho existente; ou onde há uma estrada a fazer o mesmo percurso. E é isso que acontece junto ao Passadiço das Fragas de São Simão.
Dito isto, não há dúvida que é mais agradável fazer o percurso entre a praia fluvial e o miradouro das Fragas de São Simão pelo passadiço do que pela estrada. Como é evidente.
Tudo somado, e apesar das reticências, visitar as Fragas de São Simão é algo que naturalmente recomendo. Não só para conhecer a praia fluvial e as fragas propriamente ditas, como também para visitar a aldeia Casal de São Simão. Eis, pois, a minha experiência no trilho do Passadiço das Fragas de São Simão, que percorri na totalidade.
A aldeia Casal de São Simão
Cheguei a Casal de São Simão depois de almoço. A aldeia tem pouco mais do que uma rua, que desce a encosta mais ou menos paralela ao curso da ribeira de Alge.
A entrada da aldeia, onde se encontra o afamado restaurante Varanda do Casal, fica no extremo mais elevado; e a povoação termina “onde os declives tornaram difícil a continuidade dos arruamentos”.
Encontrei a aldeia praticamente deserta, exceção feita a dois ou três outros visitantes com quem me cruzei; e uma família que cozinhava um churrasco no exterior da sua casa, junto ao local onde começa o trilho que, por entre sobreiros, nos conduz à ribeira e ao passadiço das Fragas de São Simão propriamente dito. Venha daí.
Trilho do Passadiço das Fragas de São Simão
O trilho divide-se em duas partes totalmente distintas. A partir da aldeia Casal de São Simão, onde comecei a caminhada, a parte inicial faz-se num ambiente de bosque e sobreiral bastante agradável com “manchas da flora original da região”, sempre a descer até à quota da ribeira de Alge, onde se localiza a praia fluvial das Fragas de São Simão.
A autarquia garante que “numa das encostas existem ainda resquícios de laurissilva, formação vegetal que, em tempos, ocupou grande parte de Portugal Continental”. Mas confesso que não estive suficientemente atento para identificar a laurissilva.
Cheguei então à ribeira, onde encontrei um pequeno passadiço de madeira junto à margem, que me levou até à ponte pedonal próxima da praia fluvial das Fragas de São Simão.
Do outro lado, um pequeno café estava aberto, e os miúdos aproveitaram para comer um gelado sentados nas mesas de madeira junto ao rio.
De regresso à caminhada, a partir daí, e uma vez apreciadas devidamente as fragas e a praia fluvial, comecei a subir pela estrada, até aparecerem os passadiços que serpenteiam a encosta, sempre a subir até ao miradouro das Fragas de São Simão.
Logo a seguir, começou o troço mais emblemático do trilho. Trata-se dos passadiços de madeira propriamente ditos; uma escadaria íngreme e muito cénica que liga a praia fluvial das Fragas de São Simão ao altaneiro e homónimo miradouro.
É a parte mais bonita do percurso – embora sempre a subir! -, com vistas impressionantes sobre as Fragas de São Simão.
Uma vez chegado ao miradouro, optei por ali ficar algum tempo a contemplar. Além de três funcionários da Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos, vi ainda alguns jovens que se preparavam para fazer o passadiço e um motoqueiro que se deleitou com a paisagem a partir do miradouro.
De resto, apenas silêncio, paz e vistas muito agradáveis, descontando o moderno viaduto da autoestrada, ao fundo, que estragava a fotogenia do cenário.
Faltava então fazer todo o percurso de volta à aldeia Casal de São Simão. Para começar, a descida do Passadiço das Fragas de São Simão; porventura ainda mais espetacular do que a subida, já que se faz de frente para o vale verdejante. A praia fluvial chegou rápido; e, nessa altura, faltava apenas a última subida, a caminho da aldeia no tal ambiente de bosque e sobreiral, que fiz sem grandes problemas.
Foi, sem dúvida, um belo passeio.
Em 2006, os moradores do Casal de São Simão criaram a Associação Refúgios de Pedra com a finalidade de promover, recuperar e preservar a aldeia, a sua envolvente e as tradições, de um modo sustentável. A associação tem dinamizado a promoção turística da aldeia, sendo a limpeza da zona envolvente outra das preocupações dos associados.
Ficha técnica: Passadiço das Fragas de São Simão
- Tipo de percurso: Linear.
- Início/Final: Aldeia Casal de São Simão/Miradouro das Fragas de São Simão (ou vice-versa).
- Distância: 2,0 km (4 km, ida e volta).
- Duração: 60 minutos.
- Dificuldade: Fácil (com uma parte final a subir, em escadaria, caso termine no miradouro das Fragas de São João).
- Altitude máxima: 380 m.
- Desnível acumulado: 330 m.
- Sinalização: O percurso está bem marcado, não tem como se enganar.
- Acessibilidade: Só com viatura própria (veja como chegar, abaixo). Em dias de algum movimento, o estacionamento pode ser um problema.
Guia prático
Onde começar o trilho
Pode começar o passadiço das Fragas de São Simão em três locais: na aldeia Casal de São Simão; na Praia Fluvial das Fragas de São Simão, a meio do trilho; ou no miradouro das Fragas de São Simão.
O trilho completo vai, pois, da aldeia Casal de São Simão até ao miradouro das Fragas de São Simão, com passagem pela praia fluvial. Só nesta última parte – entre a praia e o miradouro – é que há efetivamente passadiços de madeira.
Dito isto, caso não tenha problemas de mobilidade, recomendo que faça o trilho completo (ida e volta), iniciando em qualquer das extremidades. Em ambos os casos, a orografia do terreno terá sempre a forma de um “V”, com a praia fluvial a meio do caminho, ao fundo.
Eu, por exemplo, comecei e terminei em Casal de São Simão; mas, em dias de mais movimento, será mais fácil estacionar junto ao miradouro e porventura mais fácil ainda junto à praia fluvial.
Em resumo, caso fique hospedado em Casal de São Simão, é naturalmente melhor começar e terminar o trilho na aldeia. Caso, ao invés, esteja apenas de passagem, pode ser vantajoso começar na outra ponta, junto ao miradouro. Se, por fim, não houver lugar para estacionar o carro, terá mesmo de começar a meio caminho, junto à praia fluvial (onde há mais lugares de estacionamento).
Como chegar
Considerando o parque de estacionamento do miradouro como ponto de referência (ver localização exata no Google Maps) e tendo a cidade de Lisboa como ponto de partida, a forma mais rápida de lá chegar é seguir pelas autoestradas A1 e A13 até à povoação de Avelar; e de lá seguir pela estrada municipal M525 até ao miradouro (ou, adiante, até ao estacionamento da praia fluvial). No total, são pouco mais de 160 km de viagem.
Dicas para fazer o Passadiço das Fragas de São Simão
Eis algumas coisas a ter em conta quando visitar os Passadiços das Fragas de São Simão:
- Se possível, evite visitar Casal de São Simão durante o fim de semana e feriados (é quando há mais gente na região).
- Fique a dormir numa das Aldeias do Xisto. Dessa forma, poderá conhecer melhor a região da Serra da Lousã e aproveitar para visitar locais como as aldeias de Talasnal, Cerdeira ou Casal Novo, entre outras.
- Não faça barulho nem leve sistemas de som para o percurso pedestre.
- Respeite os moradores locais e as suas propriedades.
- Para evitar a propagação da Covid-19, e enquanto for aconselhável, leve máscara e gel desinfetante para o caso de querer entrar em algum espaço fechado.
- Leve chapéu, protetor solar e óculos de sol.
- Leve água e alguns snacks.
- Botas de trekking e bastões de caminhada não são necessários.
- Como é de bom senso, não deixe lixo (nem outros vestígios da sua passagem) no trilho.
Onde ficar
A minha base foi na aldeia de Ferraria de São João, a 9 km de distância da aldeia Casal de São Simão, num espaço maravilhoso chamado Vale do Ninho Nature Houses – que recomendo vivamente.
Dito isto, caso prefira ficar hospedado em Casal de São Simão, junto ao trilho, considere a acolhedora Casa Amarela, um alojamento local muito elogiado no coração da aldeia. Outra opção de grande qualidade nas proximidades é a Quintinha do Casal Ruivo. Caso prefira outro tipo de hospedagem, conheça os hotéis e casas de turismo rural em Figueiró dos Vinhos usando o link abaixo.
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Onde comer em Casal de São Simão
O único restaurante de Casal de São Simão é o já referido Varanda do Casal. No dia em que visitei a aldeia, no entanto, o restaurante estava fechado, pelo que não experimentei.
Em compensação, descobri uma casa de pasto caseira e muito barata, na povoação de Avelar, cuja visita recomendo sem reservas a quem goste deste tipo de ambientes. A tasca não tem nome, mas fica na Rua da Vila, 65 (ver localização exata). Além disso, saiba que só serve almoços e que é preciso ir cedo (antes das 13:00, de preferência). Envie os meus cumprimentos à Dona Vitalina.
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