Depois do banho de cidade e diversidade que foi Singapura, o nosso roteiro conduziu-nos à Tailândia. Em Koh Yao Yai, a Pikitim teve uma praia quase por sua conta e tomou contacto mais próximo com os bichos, por causa da casa “no meio da floresta”. Da Yamalia, dona da guesthouse que por cinco dias se tornou a nossa casa, recorda sobretudo os deliciosos pratos de fruta que nos servia ao pequeno almoço. E fez desenhos para mandar aos amigos da escola.
Depois do arranque da viagem em Singapura, o nosso roteiro apontava para a Tailândia. Voltámos a um dos melhores aeroportos do mundo – tudo brilha, tudo funciona e, apesar de ser dos mais movimentados do planeta, não há filas nem confusões no aeroporto de Changi -, agora para um voo bem mais curto, com destino a Phuket, de onde fugimos imediatamente. A partir deste momento, saltitaremos para sul, de ilha em ilha, escolhendo uma mão-cheia entre as muitas dezenas de ilhas existentes ao longo da costa banhada pelo Mar Andaman.
As cores do crepúsculo tomavam já conta da praia Loh Pa Ret quando lá chegámos, na costa oeste da ilha de Koh Yao Yai, local que escolhemos para primeiro poiso na Tailândia. O turismo de massas passa por enquanto ao lado de Koh Yao Yai e, em plena época alta nas vizinhas Phuket e Railay, o areal deserto de Loh Pa Ret era exatamente o que procurávamos.
Apesar do sol há muito se ter despedido dos pescadores locais, a água tépida foi um chamariz irresistível para a Pikitim. Era o seu primeiro banho no Mar Andaman. Mergulhou, nadou com as suas braçadeiras, brincou e gargalhou, iluminando de felicidade a escuridão da praia. E, então, deitada de costas tentando boiar, sorriu e resumiu o que lhe ia na alma: “pai, isto é que é vida!”.
É, sim. Uma vida de viajante a que se familiarizou com assinalável facilidade. Como se a tivesse vivido desde sempre. Fazer e desfazer mochilas, andar de avião, metro, barco ou tuk tuk, viver em movimento com a casa às costas, conviver com a diferença, respeitá-la, adaptar-se a ela. No caso, uma ilha maioritariamente muçulmana, onde as meninas andam na praia e nadam completamente tapadas e com lenços na cabeça. Onde é preciso deixar as sandálias à porta das casas, supermercados e restaurantes. A tudo a Pikitim se habitou instantaneamente, como se pertencesse ali, ao mundo, onde quer que estivesse.
Koh Yao Yai é uma ilha simples. Na pequena aldeia onde nos alojámos quase não há resorts: apenas uns bungalows na praia e um outro refúgio embrenhado numa “floresta” de seringueiras, um dos pilares da economia local.
Foi onde a Pikitim se começou a familiarizar com bichos, bichinhos e bicharocos em estado selvagem, como a “orquestra de pássaros” e os macacos que nos presenteavam todos os dias com as suas brincadeiras nos ramos das árvores. “Isto de noite é um bocadinho assustador”, disse, numa noite mais ventosa em que atravessámos de lanterna em punho o trilho florestal que separava a estrada do nosso pequeno refúgio. Na escuridão, o vento e a sinfonia de sons animais que emanavam da “floresta” era de facto assustador, mas não foi isso que nos tirou de Koh Yao Yai, dias depois; apenas a vontade de conhecer outras paragens.
Outro aspeto da “vida” da Tailândia que ela adorou, desde o primeiro contacto, foi a gastronomia. A Pikitim reparou logo que na Tailândia já não se come arroz com pauzinhos, e o fried rice with chicken (que rapidamente se tornou no seu prato favorito) se come com um garfo e uma colher. “Aqui só não há facas como há em Portugal”, limitou-se a observar.
Quanto ao pequeno-almoço, não se atrevia a experimentar o tailandês – isto porque não passa sem o leite, sobretudo se for com chocolate, e apesar de comer muito bem arroz, logo pela manhã não há apetite para tal – mas não dispensava os sumos, muito menos os belos pratos de fruta com que nos presenteavam todas as manhãs. Os pratos de fruta que eram trazidos pela Yamalia ao pequeno-almoço tiveram, inclusive, direito a desenho exclusivo nas páginas do seu diário gráfico.
Os dias em Koh Yao Yai passaram rápido, entre a praia de Loh Pra Ret e a casa nos Heimat Gardens. Apesar do quarto ter televisão, não pediu para a ligar uma única vez. A primeira prioridade era estar enfiada na água – e que convidativa era a temperatura da água naquela praia! O difícil era tirá-la de lá, até porque se divertia com a possibilidade de “ficar a flutuar na água, como os objetos”. Quando a praia já não era uma possibilidade, ou melhor, quando o banho de mar ainda não era uma possibilidade – porque era muito cedo, porque era muito tarde ou, então, porque tinha acabado de almoçar – a Pikitim gostava de “ficar em casa”, sobretudo na varanda, com vista para “uma floresta” e de onde sobressaía uma bananeira, com um grande cacho ainda verde.
Foi muitas vezes aí, num chão de tijoleira, que se entreteve a desenhar os animais que havia visto no zoo de Singapura para enviar aos amigos da escola. Assumiu essa missão como uma verdadeira empreitada. A tal ponto que, quando lhe dissemos que no dia seguinte partiríamos para outra ilha, avisou: “hoje não posso descansar. Tenho de fazer os animais todos que vi em Singapura para mandar aos meus amigos. Se amanhã vamos andar de barco, não vou ter tempo para fazer nada. Meninos, toca a ir para casa que eu tenho de trabalhar!”
E “trabalhou” a sério. Fez muitos desenhos: uma zebra, um elefante, uma cobra (e arrastava a folha no chão de tijoleira para ouvir a cobra a “fazer barulho”) e continuou a desenhar animais até inventar um: “o pinguim castanho a fazer músculos”. “Eu ia fazer um esquilo, mãe, mas enganei-me e fiz duas caudas. Então, transformei o esquilo num pinguim castanho”.
Por fim, desenhou dois pássaros. “O azul, que leva um coração com beijinhos para os meninos. E um cor-de-rosa, que leva beijinhos para as meninas”. Talvez já tenham chegado ao destino.
Veja também este roteiro na Tailândia, com epicentro no arquipélago de Koh Chang.
Guia prático
Onde ficar
Eu fiquei alojado no simpático Heimat Gardens, que recomendo, embora nos últimos anos tenham surgido projetos de grande qualidade que merecem ser referidos. Desde logo, os belíssimos Koh Yao Yai Village e o Koh Yao Yai Hillside Resort (mais caros), mas também o Yao Island Resort and Farm e a Backpack Guest House (igualmente bons, mas mais simples) – todos estes hotéis de Koh Yao Yai são muito elogiados pelos hóspedes. Para outras opções utilize o link abaixo.
Pesquisar hotéis em Koh Yao Yai
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
Sobre o Diário da Pikitim
Este post pertence a uma série que relata uma volta ao mundo em família, com 10 meses de duração. Um projeto para descomplicar e mostrar que é possível viajar com crianças pequenas, por todo o mundo. As crónicas da viagem foram originalmente publicadas na revista Fugas e no blog Diário da Pikitim.
Veja também o artigo intitulado Viajar com crianças: 7 coisas que os pais devem saber.
Ao ler estes relatos só posso sentir inveja, uma boa inveja, da pequena Pikitim. Ai, quem me dera a mim…
Desejo-vos continuação de boa viagem e continuem a desfrutar.
:) os moços quando lhes dá para a ternura são muito fofos!!
Agora ler uma descrição dessas, quando aqui faz um frio de rachar é quase um exercício de masoquismo! :P
Continuação de boa viagem!
Aqui está um frio quase de rachar!!!!
Não te preocupes Pikitim que eu também só gosto de “bichos” à distância, mas tão distante que se não os vir fico mais feliz ;)
Que bela foto! Os bichos, mesmo à distância, devem, por certo, ficar bem presentes na mente da Pikitim. Mas a temperatura do ar e da água nessas paragens são, sem dúvida para nós, nestes tempos de muito frio, uma apaziguadora miragem, perante o “gelo” que nos rodeia. Sim, é que lá para as bandas do Solar da Burra estiveram uns animadores -7º! Ainda bem que sabemos tratar-nos! Abraços e beijos à Pikitm.