Há algumas expressões que são música para os meus ouvidos e, na Tanzânia, há uma que aprecio particularmente: polepole. Tal como o léve-léve de São Tomé, também o polepole swahili quer dizer lentamente, sem pressas, sem stress. É a expressão perfeita para aplicar na praia de Jambiani!
Foram, pois, três dias de pouca atividade. Para além de um muito agradável passeio a pé desde Jambiani até Paje, feito com o pé na areia fina e branca da praia; para além de algumas passagens pela aldeia e de uma visita à gruta Kuza, pouco mais fiz durante a minha estadia em Jambiani. E que bem que soube passar uns dias tranquilos naquele pedaço de éden à beira-mar.
É essa experiência na praia de Jambiani que hoje partilho, na esperança que mais gente decida visitar Jambiani. Porque vale mesmo a pena!
A minha visita à praia de Jambiani
Manda a verdade dizer que eu pensava que Jambiani era o nome de uma aldeia do sul de Unguja, a principal ilha do arquipélago de Zanzibar. Mas não. Jambiani é, na verdade, o nome utilizado para denominar um conjunto de pequenas aldeias adjacentes, espraiadas ao longo de quase sete quilómetros.
Nomes como Kibigija, Kichakanyuki, Dimbuni, Mbuyuni, Kikadini, Mchangani, Mwendawima, Mfumbwi, Bahani, Kikutani e Mwinyiwagogo pouco dizem ao comum dos viajantes; mas é por esses topónimos que os habitantes locais conhecem os lugares. Peça a um taxista para o “levar a Jambiani” e a reação vai ser: “onde em Jambiani?” – e depois de lhe explicar, provavelmente, vai soltar um “ah… em Mfumbwi”. Aconteceu comigo!
Curiosidades à parte, mal cheguei a Jambiani pude verificar duas das características principais da vida junto à praia. Primeiro, a incrível amplitude das marés, que faz com que na baixa-mar seja virtualmente impossível tomar banho, tal a distância a percorrer até chegar ao mar.
Segundo, o facto de Jambiani ter uma larga tradição na cultura de algas, havendo inúmeras “fazendas” a pontilhar o litoral. É, ao que percebi, e a par do turismo, uma das áreas que emprega mais pessoas em Zanzibar (não só em Jambiani). Mal cheguei, vi-as a trabalhar nas plantações de algas que ficam descobertas na praia de Jambiani na baixa-mar. Vivem literalmente ao ritmo das marés. O trabalho é duro, e consta que a maioria das algas produzidas segue para exportação.
Para além da beleza simples da pousada Mango Beach House, onde me hospedei, foi assim o meu primeiro contacto com Jambiani.
Aproveitei depois para explorar a “aldeia” de Jambiani. São quilómetros de estradas de areia e terra batida, construções muito simples, algumas mercearias de bairro e um ou outro restaurante muito simples. Acabei por almoçar um belo peixe no restaurante Fadhil, demorado mas saboroso. Havia crianças por todo o lado. A brincar nas ruas, à porta das casas, sozinhas, em grupo ou com as mães.
De regresso à praia, não pude deixar de reparar num homem que parecia queimar o casco do seu barco. Estava, na verdade, a queimar as algas que se prendem ao casco. De quando em vez, cruzei-me também com pessoas que me abordavam para avaliar o meu interesse em comprar artesanato (maasai) ou passeios de barco.
A esse respeito, dizer que as duas excursões mais procuradas a partir de Jambiani são o chamado Safari Blue e o passeio para observação de golfinhos. Eu não fiz nenhum deles. O problema é que os passeios são efetuados sem grandes preocupações quanto à sustentabilidade ambiental.
Por exemplo, consta que há dezenas de barcos que perseguem (literalmente) os golfinhos ao longo do dia, sem lhes dar descanso, para deleite dos turistas a bordo que querem, naturalmente, ver golfinhos. Isso mesmo foi-me explicado por Sávio, companheiro da portuguesa Vera Sá – em conjunto, gerem a Savera Beach Houses.
Sávio recusa-se a recomendar – ou sequer reservar – o passeio de golfinhos aos seus hóspedes e, ao ouvir as suas explicações, decidi que não faria qualquer excursão em Jambiani. É dever de todos tentarmos ser viajantes cada vez mais conscientes e contribuir para um turismo mais sustentável.
Mais ao final da tarde, já com a preia-mar a chegar em força às proteções dos hotéis localizados em cima do areal, pude finalmente desfrutar das águas de Jambiani; antes de um magnífico jantar na pousada onde me alojei. Tudo muito despreocupado, polepole, como tudo deve ser em Jambiani!
Uma caminhada de Jambiani a Paje
No dia seguinte, aproveitei a baixa-mar para caminhar até à praia de Paje, mais uma vez sem pressas. Deu até para parar e ficar de molho nas piscinas formadas com a baixa da maré, debaixo de um sol que, haveria de descobrir depois, é assassino (que é como quem diz, em Zanzibar não se pode facilitar no que toca à proteção solar).
Uma vez em Paje, almocei num restaurante agradável, desfrutei, deixei-me ficar a observar os kite surfers que pintam a praia de cor; e, perante a alternativa de regressar debaixo do mesmo sol inclemente, optei por ir de táxi até Jambiani e ativar o modo polepole.
Quando, ao fim de três dias, saí de Jambiani para rumar a Nungwi, no norte da ilha, já não tinha qualquer dúvida: Jambiani é mesmo uma das praias mais bonitas de Zanzibar!
Mais fotos de Jambiani
Guia prático
Como chegar
Excluindo o táxi privativo e a boleia, a partir de Stone Town, há duas formas de chegar a Jambiani: de dala dala (transportes locais) ou de shuttle (táxi partilhado).
De dala dala
Caso queira fazer a viagem Stone Town – Jambiani de dala dala, tem primeiro de chegar até junto ao mercado Darajani, onde apanha um dala dala até Mwanakwerekwe, já fora da capital de Zanzibar. Daí, segue de dala dala até Jambiani, tendo em atenção que os dala dala percorrem a estrada de alcatrão, que fica a 500-1.000 metros das pousadas. O custo total desta opção é pouco mais do que 1€.
Note que, viajar de dala dala é uma experiência só aconselhável a quem gosta de viajar em transportes locais. Conte com uma viagem desconfortável numa carrinha sobrecarregada – e muitas paragens.
De shuttle
Alternativamente, os hotéis em Stone Town podem facilmente organizar um táxi partilhado até Jambiani. O custo é de 10USD por pessoa, até à porta da sua pousada em Jambiani. É a opção mais confortável a um custo razoável.
Onde ficar
Antes de mais, convém saber que Jambiani não se refere a uma povoação em concreto mas sim a um conjunto de pequenas aldeias adjacentes umas às outras ao longo da costa. Resultado? Antes de partir é muito difícil perceber onde é melhor ficar em Jambiani.
Pela minha experiência, no entanto, a localização exata pouca diferença faz. Eu fiquei hospedado na Mango Beach House e recomendo vivamente (caso viaje a dois). Trata-se de uma pequena pousada com apenas três quartos e é incrivelmente tranquila. Caso prefira o conforto de ouvir português, Verá Sá é uma portuguesa a viver em Jambiani desde o início de 2019; junto com o seu marido Sávio, gere o excelente Savera Beach Houses.
Alternativamente, considere o simples mas acolhedor Garden Beach Bungalows; o muito popular Mbuyuni Beach Village; ou o bem decorado Zanzistar Lodge – todos excelentes hotéis em Jambiani para estilos diversos. Caso pretenda mais algum luxo, o Fun Beach Resort é uma escolha muito elogiada (tem uma piscina fantástica). Para outras opções de alojamento em Jambiani, utilize o link abaixo.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
Vale a pena alugar carro em Zanzibar?
Olá Filipe, já li e reli todos os artigos de Zanzibar! Soberbos.
Pretendia fazer apenas duas questões, recomenda levar já xelins daqui de Portugal ou trocar lá?
É que mal aterre em Stone Town, irei logo para Jambiani, e tenho receio de não ter locais para fazer o cambio.
Teve experiência em fazer pagamentos em cartão? Funciona bem? Estava a pensar para restaurantes e qualquer bebida nos hotéis.
Obrigada :)
Se bem me lembro levei alguns dólares e troquei uma quantidade pequena no aeroporto só para pagar o táxi. O resto levantei com cartão (ou paguei com os tais dólares que tinha comigo).