Nungwi, praia e vida de aldeia no norte de Zanzibar

Não há dúvida que Nungwi é das regiões mais visitadas de Zanzibar. À escala local, o turismo é uma importante fonte de rendimento e, tirando a capital Stone Town, não vi em nenhuma outra localidade tantas lojas, restaurantes e pousadas como em Nungwi.

Dito isto, Nungwi é pouco mais do que uma aldeia grande. As estradas continuam de terra batida, a iluminação noturna é deficiente, e a maioria das pessoas vive em habitações muito simples e alheada das praias e dos bikinis que as povoam. Ou seja, apesar do turismo, há uma outra Nungwi, longe dos holofotes do Instagram, que me atraiu bastante. Tudo somado, vale mesmo a pena visitar Nungwi? Claro que sim. Venha daí!

A minha visita a Nungwi

Nungwi, a praia

Antes de mais, convém dizer que, para mim, Nungwi tem uma das melhores praias de Zanzibar. Pelo menos para quem gosta de nadar, toda a faixa litoral que vai de Nungwi a Kendwa é maravilhosa, especialmente porque, ao contrário das praias da costa leste – como Jambiani -, as praias do oeste têm uma amplitude de marés muito reduzida.

Talvez por isso, não houve dia em que não tenha desfrutado da praia de Nungwi. Mas que fique desde já claro que Nungwi não é só praia. Longe disso; mas comecemos por aí.

É impossível passear pelo areal que liga Nungwi à praia de Kendwa sem ser abordado por um maasai a cada dez metros. Foi o que senti de todas as vezes que fui para a praia. Depois da habitual lenga-lenga “mambo, jambo, where are you from, karibu, hakuna matata, see my shop” e de eu responder “polopole” no meu melhor swahili (que é como quem diz, calma, lentamente, sem stress), acabei por aproveitar muitas das abordagens para ficar à conversa com vários deles e satisfazer a minha curiosidade.

Vindos da região de Arusha, os maasai vão para Zanzibar temporariamente, durante os meses do turismo, quase sempre com um de dois propósitos: trabalhar como seguranças nos restaurantes, hotéis e pousadas de Zanzibar, ou vender artesanato aos turistas. Principalmente nas praias, que é onde se concentra a maioria do turismo. Não pude deixar de notar que praticamente só se viam homens maasai nas praias (só muito raramente vi mulheres maasai).

A esse propósito, existe um mercado maasai junto à praia de Nungwi, bem como bancas isoladas de venda de artesanato maasai, como uma que encontrei no lado Norte da aldeia, na praia junto ao Aquário. Foi aí – e não na praia a abordar os turistas – que encontrei as mulheres maasai, inconfundíveis não só pela indumentária mas também pelos cabelos totalmente rapados, a prepararem artesanato com as características missangas coloridas.

De volta à praia, os areais são extensos e as tonalidades da água uma provocação. Para “piorar”, durante todo o tempo em que estive em Zanzibar, a temperatura da água era irresistível. Morna, quase quente… irresistível! Só a areia não era tão fina como em Jambiani, mas quem se importa com esse pormenor quando se pode tomar banho e nadar a qualquer hora do dia?

Nungwi, a aldeia

Como já referi, há muito mais para fazer em Nungwi do que ficar na praia a tomar banho. Desde logo, explorar a aldeia. Para mim, poder apreciar a vida da aldeia é das grandes vantagens de ficar hospedado em Nungwi. A aldeia é simples e pobre, mas tem caráter. Para lá das espreguiçadeiras dos hotéis de luxo, Nungwi tem alma!

Numa dessas deambulações pela aldeia de Nungwi, caminhava sem rumo por entre as casas, quando comecei a ouvir música e um burburinho próprio dos ambientes festivos. “Um casamento”, pensei, com aquela excitação juvenil de quem descobre algo novo. A ideia de presenciar tal cerimónia fez-me seguir o som ruelas fora, até que cheguei a uma rua onde um grupo com talvez uma dúzia de homens, todos vestidos de branco, dançava ao som da música que saía de um sistema de som rudimentar.

Ao seu redor, dezenas de pessoas, maioritariamente mulheres e crianças envoltas nas suas vestes coloridas, observavam imóveis. Tentei perceber do que se tratava, sem grande sucesso; mas não era um casamento.

Deixei-me ficar, observando; mas não pude deixar de sentir aquela estranha sensação de não pertencer ali. Não que tivesse sido mal recebido; mas pareceu-me que não era suposto estar ali. Talvez por isso, a máquina fotográfica esteve quase sempre parada, num daqueles casos em que senti enorme dificuldade em fotografar pessoas. Queria ficar, mas algo me impelia a continuar.

E assim, por muito que o meu íntimo me pedisse para ali ficar, virei costas à festa e prossegui caminho até à zona dos estaleiros onde ainda hoje se fabricam os tradicionais barcos dhow. Havia um par de homens a trabalhar, outros sentados a descansar. O sol aproximava-se do horizonte, pintando os cascos com cores de fogo.

Vieram-me à memória os estaleiros dos barcos dhow de Omã e o fantástico cruzeiro que fiz pelos fiordes de Musandam a bordo de um deles. Uma vez mais, quis fotografar. Mas o olhar furioso de um dos trabalhadores fez-me compreender a mensagem e voltei imediatamente à condição de mero espetador. E por pouco tempo.

Deixei os estaleiros para trás e continuei a caminhar pelo areal em direção ao aquário de Nungwi. Visitar o aquário não estava nos planos; e assim, depois de recusar mais duas ou três excursões para o dia seguinte e observar o treino intenso de muitos jovens na praia, voltei a embrenhar-me no coração da aldeia.

As noites, essas, acabaram quase sempre a jantar peixe ou lagosta grelhada em pleno areal, como que a provar que, em Nungwi, o turismo e a vida de aldeia vão, por enquanto, coabitando com a harmonia possível. E isto apesar de alguns problemas, como no dia em que o segurança de um hotel instalado em cima do areal impediu a passagem de um habitante, em tempo de maré-cheia, e a população se revoltou porque a praia é de todos. Sim, Nungwi e o seu povo têm alma e caráter!