Vestida de verde opulento, bananeiras, mãe de cacau e café das roças, São Tomé é ilha fértil, paradisíaca, de generosa gente e tempo suspenso. Praias desertas, tropicalidade e savanas a tombar em mar; de um crioulo adocicado a agarrar linguajar português. Ainda respira contrastes, de terra social por cumprir, num lento caminhar de autonomia. Mas quem lá vai, atestamos, fica, assim, léve-léve!
A ilha de São Tomé
“Onde labutam, moças, as horas
E o Atlântico intima uma serena perplexidade”
(Mulabo II, Conceição Lima, O País de Akendenguê)
Ainda nem chegámos a São Tomé e já andamos a preparar-nos para quando lá estivermos: um guia de viagens que não se encontra em nenhuma livraria, contatos de amigos dos amigos que lá vivem, lá passaram, ou conhecem alguém; livros de autores são-tomenses ou acerca desta pequena ilha lusófona (Conceição Lima, Alda Espírito Santo, Inocência Mata; Miguel Sousa Tavares: Equador; Pedro Rosa Mendes: Lenin Oil). E uma missão social do grupo que acompanho nesta ilha atravessada pela linha do Equador.
Uma semana para tanta vivência a desvelar é obra, mas viver a mil numa terra cujo lema é Léve-Léve, há-de querer dizer que o que vale é a intensidade com que se vive. E nós sempre gostámos que nos arranquem da rotina, para viver outro relógio, com vagar. Em São Tomé, ganhamos uma hora a Portugal: abençoados e graciosos trópicos!
Primeiro, a missão: preparámos material escolar, roupa, medicamentos, leite, brinquedos, sapatos, bolas de futebol e mochilas para doar a instituições. Arrumou-se tudo em malas e dezenas de caixotes (300kg), com a cumplicidade da STP Airways, e incluiu-se a visita-missão à Cáritas no itinerário de viagem, como paragem obrigatória.
Quem vai a São Tomé, filha mais pequena da Mãe África, há-de querer deixar um pedaço da nossa abastada urbanidade perante o pouco, ainda, de quem lá vive, e que pode ser um pequeno suficiente para ajudar. Esta missão, talvez, seja uma forma, entre várias. E esta terra são-tomense, com cheiro a clorofila e maresia suave, tem, ainda, pressão baixa no desenvolvimento; e um paradoxo na arritmia: paisagens de invejar qualquer fôlego.
É por isso que “a missão” se tornou um requisito de viagem tanto espontâneo, quanto ainda necessário, para atenuar as carências de uma realidade como a desta ex-colónia portuguesa, e ainda dependente de Portugal nos bens do dia a dia, a querer singrar e fazer-se país social. E onde a terra é, sim, paraíso.
Os deuses de São Tomé
Chegamos pelo céu à chamada pérola do Equador. É época da gravana, estação mais seca (de maio a outubro), mas o imponente verde estende-se. O avião, parece, vai entrar na água, antes de entrar em terra. Está tão perto que parecemos deuses a acalmar as asas, antes de pôr os pés no chão. Deslizamos e acompanhamos o mar pela janela, ao fundo.
Aeroporto Internacional de São Tomé: já se veem as primeiras malas descarregadas. Vem o primeiro bafejo tropical. As lentes da câmara fotográfica embaciam. São seis da matina e parece manhã avançada. Apesar das seis horas de voo, com tamanho verde à volta e terra incógnita, tudo o que não apetece é desperdiçar tempo na cama. Queremos desbravar terra, depois que sentimos o doce do ar.
São Tomé é terra de deuses, fértil, de um verde generoso, e um bafo húmido, baías de areia âmbar-claro e um Atlântico azul-translúcido a recortar o mapa desta ilha do Cacau, Café e generosa gente do modo de ser quente e anfitrião africanos.
Cabo Verde e Angola também aqui moram, mais um bocadinho, com a História a legitimar-lhes laços de vivência: angolanos e cabo-verdianos a compor os genes autóctones, com os fluxos migratórios. Estão no ADN das novas gerações; são rota de importação de bens.
E, se no passado, tal como a Amazónia empinou o nariz para se dizer rainha da borracha, São Tomé puxou a cadeira régia do Comércio Internacional, para se sentar à mesa dos grandes exemplos de exportação de Café e Cacau (um amargo, outro doce: metáfora de vida, talvez), engrandecidos pelas centenas de roças que se foram multiplicando [ver Fotos da Roça Água Izé]. Veio a crise e o abandono e desgoverno das explorações com a independência dos colonizadores portugueses, em 1975, e a produção tombou num destino desastroso. Dois séculos antes, a primazia do açúcar azedara na balança internacional. E foi à procura da doce-cana que naus portuguesas aportaram em São Tomé, pela primeira vez, em 1470. Viram terra exótica, desabitada: vieram escravos de Angola, crioulos de Cabo Verde, portugueses não gratos ao reino, e senhores. Lavrou-se o sonho de colónia portuguesa, antes de ser país.
Hoje, roças como Monte Café, sob nova chefia e investimento líbio, traçaram plano de negócios para os próximos anos: chegar às 60 toneladas para exportação. A avaliar pelo paladar gourmet do café São Tomense: nem demasiado torrado, nem demasiado cevada, com aroma a terra húmida depois de chuva intensa, antevê-se que São Tomé, como nos já bons augúrios da rota turística, há-de ver cravado, em breve, o nome na excelência cafeeira.
Independência e um farol
“Independência Total/Glorioso canto do Povo/Independência Total/Hino Sagrado de Combate/Dinamismo/Na luta nacional/Juramento Eterno/No país soberano de São Tomé e Príncipe”. Esta é a última estrofe do hino de São Tomé e Príncipe, pensado pela escritora e ex-ministra da Cultura Alda Espírito Santo, falecida o ano passado em Angola. Ela é figura-património da independência de São Tomé e “mãe da pátria” saída da boca de todos os são-tomenses, como na voz de Barros, o historiador do Museu Nacional na Fortaleza de São Sebastião que a conheceu pessoalmente. “Mulher de palavra forte, guerreira”, afirma sem pestanejar e contundência afinada.
Nessa fortaleza-museológica, que visito, com vista para o mar e para troncos nus, negros, de rapazes a mergulhar satisfeitos com saltos acrobáticos do pontão, conta-se um pedaço da vida das ilhas de São Tomé e Príncipe. À entrada, há três estátuas imponentes dos navegadores portugueses que aqui chegaram, pela primeira vez, no século XV: João Santarém, Pêro Escobar e João de Paiva. Lá dentro, mais fresco, além de fotografias da independência de 75, manuscrito do hino e santos em talha dourada, recria-se o ambiente de uma roça: do fausto da casa do patrão, à dureza do leito de madeira do escravo, que todos os dias enfrentava o bafejo infernal do labor dos trópicos. “Sem mágoas”, atesta Barros, “que os São tomenses são um povo sereno, amigo”. Mas, de certa forma, escapa-lhe um “resignado”. Resignado mas solidário.
De dentro, na sombra das salas que segredam histórias da personalidade desta “ilha nua”, como a poetizou Alda Espírito Santo, ouve-se ondas a desmancharem-se em espuma. Vamos ao redor, como se fôssemos diligentes guardas a vigiar a baía de Ana Chaves: percorremos a quadratura da fortaleza e o farol plácido insinua-se. Todos os faróis, de certa forma, têm algo de sonhador. Um olho grande para o mar como o são, há-de de alguma forma ver mais além, como um sonhador profissional. Há-de ver barcos embalados pelas ondas, horizonte e o futuro do país que em Julho escolhe novo Presidente. Um passo em frente para o país que, de alguma maneira, ainda vive a política assistencialista das organizações não-governamentais e do Fundo Monetário Internacional. A sonhar com autonomia. Mas há outros passos, de gigante: o paludismo foi erradicado da ilha há dois anos, com ajuda de Taiwan; e a cultura e as artes ganharam fôlego com projetos como o Casa das Artes Criação Ambiente e Utopias, CACAU, reunindo o cenário do que melhor se anda a fazer no país na cena artística.
O centro da ilha
O centro de São Tomé tem traços colonialistas nos edifícios. A Avenida Marginal é acompanhada por um corredor-passeio, pontilhado de bancos embutidos de cimento, que os casais apaixonados escolhem ao fim do dia, para os beijos degustados; as comadres para a língua-afiada e as lamúrias, e os jovens para o sussurrar secreto ao telemóvel. Jovens na escalada do que se entende por civilização e mundo moderno.
Durante o dia, essa imensa varanda abraça a baía Ana Chaves e separa o mar do alcatrão da estrada. Às sete da matina, quando ali passo, no dia em que chego, no começo de Maio, há homens na conversa a estender redes. Diz-se que há lulas gordas a dar à costa. Que se mete a mão na água e sai-se com peixe. Que os atuns, fartos com chicha de peixe bom, têm tempo para morrer de velhice. Não há redes predadoras a ameaçar extinção.
Este é um pedaço da janela da vida de São Tomé, mas é na algazarra dos mercados, do povo, que se sente o suor de uma terra. Entremos no Mercado Municipal, o mais antigo; mais velho. Mulher mexe no milho e diz que é bom. Mulher puxa-me para a malagueta. Mulher corta mandioca. Mulher prepara o peixe. Criança come fruta, que é pão. Fruta-pão. “Branca não quer? Fresco, muito fresco”.
São dez da manhã e há frutas abençoadas de exotismo e cores pujantes. Stock, um desconhecido que depois nos acompanharia um pouco mais na viagem pela manhã no centro, diz que São Tomé é terra de gente que gosta de conversar. “Terra boa. Boa gente. Muita língua portuguesa para contar histórias”.
Diz que não sou muito bonita e que a portuguesa quase-ruiva do meu lado, olhão claro e sorriso aberto, é a sua preferida. Que não o leve a mal. Que me gosta da expressão, que sou léve-léve, como o lema do país, mas que gosta mesmo é de branca com cabelo de branca. E cultura é isto: mestiçagem, mistura de genes. Vida e africanidade.
A voz dele é abafada agora. E é no desnorte dos pregões dos mercados municipais, num português mais fechado e gingado de érres e sílabas prolongadas que percebemos melhor que esta São Tomé da vida real tem tropicalidade que branco quer entender mas não entende.
Devagar, devagar, com genuinidade e alheios a urbanidade: aqui não há filas de trânsito, não há caixas multibanco, internet lenta-lenta, não há restaurantes fora de horas. Não se pense, no entanto, que falta infraestrutura ao turista, pelo contrário. Estrangeiro é rei. É, pois aqui, terra humilde, a viver, ainda, com muito pouco, que o turismo é, pois, renda necessária, peso no produto interno bruto e importante para fazer cumprir um pedaço da promessa da terra. Mas, com a descoberta de jazidas, o petróleo abriu outra janela para o futuro. Se por um lado, o ouro negro é pedaço de esperança, por outro deixa medo de cobiça e desgoverno na pérola do Equador.
Mercados Municipais de São Tomé, o pregão do clique
Aqui não há violência, não há tensão. No mercado há câmaras na mão a pedir licença para fotografar, ou não.
E quando o sim vem, de sorriso solto, envaidecido, é sinal para o clique. Vêm, no entanto, recorrentes e rápidos sins na correria da criançada, com sede de fotografia, para nestes tempos modernos exigir a revelação no ecrã digital. Vêm a correr. Não há tempo para medir a luz. O pregão começou, no mercado municipal, por baixo dos toldos, além sol intenso e contraluz: “Tira foto! Tira foto! Deixa ver! Deixa ver!”
E o cheiro já começou, intenso de mercado, intenso são-tomense. Palpita vida!
Há panos de cores garridas, padrões que o nosso olho identifica africanos: traços grossos e tribais, laranjas e castanhos que nos evocam terra e pôr do sol em solo quente. Venha uma Rosema, a cerveja local, para acalmar sede e calor.
Talvez o mesmo que se sente dentro de um táxi amarelo, ao meio-dia. Dezenas estão estacionados em frente ao mercado. Quantas dobras dá em euros, para uma corrida? “Pouco senhora. Pouco. 5, só”. E o povo vem pedir mais uma foto. E o povo sorri. E o povo que somos nós, brancos, pertinho de homens e mulheres com pele chocolate, também nós, agora, um pouco mais africanos, a agarrar a História, a agarrar tropicalidade: somos daqui!
Cacau, café
Albertino, alcunha, ou Edgener Espírito Santo, registo de cidadão, é filho de São Tomé. 30 anos, corpo esguio e uma voz que pousa leve, de quem tem sapiência nas palavras. Política, cultura, café, cacau, história. Sai-lhe tudo na ponta da língua com a mesma serenidade e coerência pedagógica. Só o crioulo são-tomense já lhe escapa: “Hum, lembro-me, espera de Me Zochi”…
“Senhor Jorge” traduz. Nome de uma cidade a uns vinte quilómetros do centro. Ele é o anfitrião em São Tomé. O homem que nos leva às entranhas da terra que já viveu o auge da exploração de açúcar, também, de norte a sul, calcorreando deliciosas praias, sombras de cocos altaneiros e mar sedutor, agora, como manto prateado, para onde se precipita a floresta tropical, mais leve e espaçada do que a densa Amazónia.
Paramos na EN1, antes das praias, da Lagoa Azul e águas calmas, antes do almoço farto com mariscada de santolas e surpresas gastronómicas no Restaurante Celva’s. Paramos antes desse “árduo” deleite e vemos um cacauzeiro abundante de várias espécies de cacau. Fruto baciforme, com fortes reentrâncias sulcadas no verde ou num quase cor-de-vinho. Abre-se por cima num golpe certo e revela pequenas saliências individuais parecidas com o fruto lichia e um caroço-semente que, na boca, se poderá denunciar forte: melhor não trincar para sentir o azedume, depois da suavidade do fruto, em ponto quase-rebuçado.
Seguimos estrada acima, vislumbrando mais baías, crianças que acenam “olá”, pedem “dó-ce” e “bá-lão”, dizem adeus e, sobretudo, transbordam euforia e sorriso, que só a condição insular melhor explica.
Veem-se casinhotos de madeira ao longo da estrada; palafitas, não vá a água invadir terra e, assim, passará por baixo do abrigo de quem ali mora, seguindo curso; veem-se pequenas mercearias improvisadas; há roupa a secar, colorida, nas pedras dos rios, no verde da paisagem. Não há cordas, não há molas; aqui a roupa prende-se à natureza, para melhor secar, como aldeia de roupa colorida.
Na berma, anciões sentados em bancos improvisados, garrafas de plástico presas a palmeiras para extrair vinho de palma; mulheres de tecidos garridos que carregam bebés nas costas; azul-mar e azul-céu, verde bananeira, bordô-cacau; motas e bicicletas no descanso; terra ao longe e uma roça de cacau.
Cheiro de fermentação. Há uma estufa com grãos imensos e mãos a revolverem-no. Há homens de tronco nu, suado, de negro-chocolate a torrar cacau. Mais fotos, começou outro pregão pelo clique. Depois temos de enviar. E mulheres de corpos generosos. E homens de músculos feitos, gregos. É cacau, é um pouco de café.
Tarraxinha, kizomba, terra morena
Ir às entranhas de São Tomé, ilha, é ir à roça. Vamos, então: Roça São João do João Carlos Silva, o famoso cozinheiro são-tomense do programa de televisão, “Na roça com os tachos”. Está de viagem quando visitamos o restaurante dele, na casa onde vive com a família (há coletânea de contos do brasileiro Rubem Braga nas estantes, livros de arte e fotografia, escritores portugueses, de História). Incursão gastronómica à mesa: bênção em boas mãos. Começamos pela vista. Somos deuses em cima da varanda, vendo o mar, ao longe sobre floresta tropical. Há redes para nos embalar, se quisermos. Vem depois o coco assado (paladar a castanha fina no forno, com o torrado do bolo de coco torrado), seguem o bolo de arroz, farofa, berinjela e tomates recheados.
Dias depois, na Roça Bombaim, ainda mais rústica que a de São João, teríamos matabala cozida (um tubérculo mais duro e doce que a batata), sopa de peixe e a recorrente banana frita. Já no resort Club Santana, na praia privada Messias Alves, experimentei a diversidade gastronómica, no restaurante a ver-o-mar e o Ilhéu Santana, que esconde uma gruta cheia de andorinhas ansiosas.
Depois desta injeção de calorias só uma coisa nos pode salvar. Ou vai à dieta rigorosa, ou vai à tarraxinha. Explicamos. É noite. Queremos sair em vésperas de regressar. O palpitar da terra também está na noite. E, afinal, aqui é África. Vamos à praça onde o bar está quase a fechar. Fecha. Só nos resta o Tropicana, o bar-discoteca explorado por Kwame Sousa, artista plástico que mora em Nova Deli, mas com “vários negócios em São Tomé”. Vira e mexe: lá está ele a receber clientes à porta.
A TV está ligada na música africana. Vem a tarraxinha. É isso: a dança. O gingado do corpo. Com o calor, e o rebolar da anca, muitas calorias se há-de ter perdido quando se dançou, repetindo, rodando; os pés para lá e para cá, para, no final, estarmos quase todos com atestado são-tomense, terra morena, feminina-cacau e homem-café, quente, rebolada e, assim, como um pedaço de vida, paradisíaca, léve-léve.
Dicas para visitar São Tomé
Este é um guia prático para viagens a São Tomé, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de actividades na ilha.
Localização geográfica de São Tomé e Príncipe
As ilhas de São Tomé e Príncipe estão situadas na região equatorial do Atlântico, a cerca de 300 e 250 km, respectivamente, ao largo da costa nordeste do Gabão. É um país insular, sem fronteiras terrestres, mas situa-se relativamente próximo das costas do Gabão, Guiné Equatorial, Camarões e Nigéria. É o menor país africano composto por duas ilhas principais: São Tomé, com capital com o mesmo nome, e Príncipe. Fazem parte da cordilheira de um vulcão extinto, de onde vem a sua origem.
Quando viajar para São Tomé
São Tomé tem um clima equatorial, variando de super-húmido a semi-árido e tem duas estações bem definidas: a estação fresca – setembro a maio – e a estação de seca – junho a agosto. A média anual de temperatura do ar é de 29,4°C máxima e de 21,4°C mínima. As temperaturas extremas são de 32.4°C e 15,4°C. Na estação fresca, o tempo é mais ameno, mas a ilha pode ser visitada ao longo do ano, sem desiludir quem a visita. Depois, nas ilhas, é possível encontrar diferentes microclimas, dependendo da região para onde se passeia, como a norte, com chuvas tropicais ao fim do dia.
Como ir
O ideal é ir com pacote de viagem que inclua voos, alojamento e passeios, principalmente porque, para além de uma maior comodidade e organização, é mais económico – a Soltrópico é um dos operadores turísticos com operações regulares para São Tomé que vale a pena consultar. As únicas companhias aéreas que voam desde Portugal para São Tomé são a STP Airways e a TAP. A primeira com voos a sair aos sábados às 0h30, com chegada às 05h45 a Lisboa, e operados pela EuroAtlantic; o voo de regresso é ao sábado, também. O voo da TAP sai às sextas-feiras às 0h15 e chega às 05h15. O voo de regresso parte pelas 6h45, com chegada a Lisboa às 13h45.
Onde ficar
São Tomé tem hoje opções, sobretudo, de alto padrão e luxo para alojamento, com dois perfis: o de negócios, e o com nuance de lazer. O primeiro caso cinco estrelas é o do fresco e moderno Pestana São Tomé, com decoração minimalista e onde se cruza o mundo empresarial, com jornalistas estrangeiros, casais de férias, grupos de negócios e/ou organizações com projectos de desenvolvimento local. Tem vista para o mar e um grande lobby para reuniões informais, ou encontros mais intimistas, além do centro de convenções.
Já o Miramar Pestana, remodelado pelo grupo Pestana, mais familiar e ideal para quem tem filhos – e também uma opção ligeiramente mais barata em relação ao irmão mais novo – apesar de mais antigo, tem uma piscina rodeada de relva fofa, a convidar ao dolce fare niente; as aulas de hidroginástica pela manhã também são uma opção para os amantes do exercício em férias. O atendimento aqui é personalizado e muito atencioso.
Já para quem quiser combinar os dois mundos, estendendo as férias para desfrutar das opções de luxo, o Omali Lodge, com 30 suites de luxo, campo de ténis e luxuoso restaurante, não desilude.
Depois, a 15 km da cidade de São Tomé, há ainda uma outra opção luxuosa, que está a ganhar fôlego desde o início do ano, com nova gestão: o Club Santana, em Santana, com 30 bungalows com ar condicionado de alto padrão (são cabanas luxuosas e espaçosas), com praia privada, a Messias Alves, com bar, um incrível restaurante panorâmico, no alto, e outro na praia, com buffet de comida regional e shows ao vivo, à noite. Daqui, pode conhecer de barco o Ilhéu Santana.
Depois, para quem quer fugir do padrão luxuoso, mas sem perder a essência local pode sempre ficar na Roça São João, a sul, numa linha de turismo ecológico e cultural em espaço rural, gerido pelo conhecido chef João Carlos Silva e a esposa Isaura Carvalho, mentores de vários projetos culturais como a Bienal de Arte de São Tomé e o Roçamundo Ecologic Park, entre outros. Nesta casa de traços coloniais e um verde de invejar o fôlego, além de visitas e gastronomia local, pode fazer-se aulas de pintura, dança, escultura, música, cozinha e teatro.
Já na Roça Bombaim, no interior da ilha, apresenta-se um espaço mais simples, rodeado de floresta, montanhas e quedas de água, a uma hora e meia de viagem do centro, por uma estrada de pedras. Esta casa, antiga residência senhorial, é ideal para quem gosta de trekking. Tem apenas cinco quartos, duas casas de banho partilhadas e não tem eletricidade. Mas tem silêncio de floresta.
Na mesma linha mais ecológica, mas na praia deserta da Jalé, a 80 km da civilização, há a opção do Jalé Ecolodge, na costa sudeste, com 3 bungalows e camas duplas. Dispõe de WC e sala de jantar comum, sem eletricidade, também. Trata-se de um projeto de ecoturismo de base comunitária, financiado pelo Fundo Francês para o Ambiente Mundial, através da Rede das Áreas Protegidas da África Central. Hoje, é executado pela ONG MARAPA (Mar Ambiente e Pesca Artesanal), que apoia iniciativas locais de desenvolvimento sustentável e tem atividades na preservação de tartarugas e proteção do meio ambiente das comunidades de Porto Alegre e Malanza.
Gastronomia são-tomense
O peixe e o marisco, pela evidente condição geográfica de São Tomé e Príncipe, são óbvias presenças gastronómicas, sempre frescas e surpreendentes. O polvo, a lula, a santola, búzios, chocos, lagosta, atum, raia e variantes como milharas temperadas. A novidade é, pois, essa combinação aparentemente óbvia com a abundante banana (há sete espécies), confeccionada de várias formas: cozida, frita ou assada, ou ainda a murro, como lhe chamam, que acompanha suculentos legumes. Entretanto, há pódio para o calulu, uma espécie de ensopado de peixe seco, ou mesmo carne, com legumes desfiados, servido com puré de banana ou arroz. O matabala, espécie de tubérculo mais duro e doce do que a batata, quer frito quanto cozido, também acompanha a tradição gastronómica de São Tomé, de certa forma muito influenciada, também, pelas cozinhas angolana, cabo-verdiana e portuguesa, aqui por razões coloniais.
Regra geral, as opções hoteleiras oferecem um cardápio diversificado, com opções buffet, mas se quiser sair do eixo, São Tomé oferece mais algumas opções, como o afamado Restaurante Pirata, em direção a Santana (EN1), em frente à praia, com um navio encalhado em frente. Decoração moderna com quadros de artistas locais. Numa opção mais tradicional: o acolhedor Café e Companhia, com madeiras e pé direito alto a lembrar antigos armazéns e que reúne a malta, também, dentro ou na esplanada, para o gin tónico da noite, com opções de saladas, omeletes e petiscos locais. O Passante, mais simples, e rústico, em frente à Avenida Marginal, tem petiscos. Depois, há a afamada feijoada de búzios da Residencial Avenida.
Mais a norte da ilha, O Santola é conhecido pelo marisco que lhe dá o nome, em Neves, uma vilazinha. E, a sul, em Angolares, a Roça de São João tem petiscos de lamber os dedos, para os mais ousados, com quitutes regionais. Uma outra opção deliciosa, baseada nos mariscos, é o Restaurante Celva’s, em Guadalupe, no Norte: além da santola fresca, serve ovas temperadas e uns bolinhos de peixe deliciosos. Em relação preço-qualidade, situado numa região entre praias e selva, esta é uma opção para quem está de passagem pela região e quer comer bem.
Onde passear
São Tomé-centro é uma cidade pequena, que se faz bem a pé, para quem gosta de deambular. E para quem quer sentir o palpitar da terra, não pode perder a azáfama dos mercados municipais, com os produtos locais; e as pequenas lojas de conveniência onde os são-tomenses param para uma cervejinha. Aqui pode comprar água mais barata do que nos hotéis.
A cidade é segura, tranquila, por isso se gosta de caminhar, sinta a cidade, entre nos supermercados locais, páre para um café de São Tomé, sente-se no banco da baía. É que a zona costeira, rodeada de palmeiras e brisa, convida a caminhar, olhando a Baía de Ana Chaves, seguindo pela Avenida 12 de Julho, onde pode encontrar o Forte São Sebastião, um edifício do século XVI que hoje conta com um espólio museológico que sussurra um pedaço importante da História do país, desde a chegada dos portugueses, passando pelo processo de independência em 1975. Depois, seguindo um pouco mais para norte, pode visitar a Igreja de Santa Sé, o Palácio Presidencial e o edifício do Tribunal, a Praça da Independência e a Casa da Cultura.
Saindo do centro, e como revelamos na reportagem, saia para norte e sul, conhecendo roças de Café e Cacau, desvelando praias paradisíacas, parando para um mergulho na Lagoa Azul, com água tépida e calma; galgando terreno de selva e interior desta pérola do Equador.
Vida nocturna
São Tomé não tem muitas opções noturnas, mas talvez na medida certa, na medida da cidade. O Hotel Pestana oferece uma opção mais moderna de bar-discoteca: o Beach Club, com sofás e mesas com vista para o mar e as tradicionais bebidas de clube noturno. Ao lado, fica o Casino, também ligado ao hotel.
Mas para sentir a genuína vida noturna da cidade, e que se pode revelar uma verdadeira experiência antropológica, para quem gosta de estar mais perto da vivência local, tem a opção do Tropicana, gerido pelo artista plástico Kwame Sousa, com música africana, num ambiente acolhedor, com algumas mesas dispostas, que a meio da noite se afastam para dar lugar a uma pista ao ritmo de tarraxinha, a dança angolana kuduro, ou o corpo simplesmente a mexer ao som da melodia do momento. Para os mais tímidos, há sempre cadeiras confortáveis. Depois, há ainda o Africana, para quem quer aprender a dançar a tarraxinha. Já numa onda mais relaxada, e a pensar no convívio, há o Café & Companhia, no centro, na Praça Amizade Solidariedade: um café rústico, com bom ambiente, e alguma arte, onde a maioria se junta para fazer horas para apanhar o voo no dia seguinte e beber uma cervejinha.
O que comprar em São Tomé
Há variada bijutaria artesanal feita de casco de tartaruga, artesanato feito de madeira (como máscaras tribais), além dos tecidos com cores garridas que remetem para uma África tribal, pujante: mochilas, malas, saias, calções, toalhas, lenços, blusas. Tudo com a chancela nacional e de confiança. Mas trazer um pedaço desta terra é trazer o delicioso café das roças, moído ou em grão, e cacau (cerca de 3 € cada pacote): em barra com gengibre, laranja, ou puro. Se for amante das artes, ou sofrer de curiosidade antropológica pelos lugares que visita não pode deixar de aproveitar a oportunidade para comprar os livros dos escritores locais, como os de Alda Espírito Santo, uma das grandes escritoras são-tomenses, falecida em 2010, em Angola, raros de encontrar fora dali. E, depois, há a música tradicional, cantores como Kalu Mendes e projetos modernos como o Grupo Tempo.
O melhor local para encontrar tudo isto é na CACAU – Casa das Artes Criação Ambiente e Utopias – (onde também poderá apreciar e comprar algumas das mais recentes obras de arte contemporânea de artistas consagrados e emergentes) ou na Santa Casa da Misericórdia, ambas a escassos metros uma da outra. O câmbio entre euros e dobras é automático, pois os são-tomenses estão habituados a esta dupla condição monetária.
Dinheiro
A moeda oficial é a dobra. Em maio de 2011, 1 € valia 24.500 dobras. Pode optar por levar dinheiro já trocado em Portugal, ou trocar localmente. Mas, advertimos: não há caixas ATM. Existe, no entanto, serviço de câmbio nos Bancos, mas é um processo moroso, caro e burocrático. Há ainda, mais comum, os cambistas de rua que o governo autoriza a operar, que fazem o preço ao câmbio fixo de 24.500 dobras, por 1 €. Como a maior parte das bebidas nos hotéis não estão incluídas no pacote de viagem e, com certeza, além de uma margem de manobra no bolso, quererá voltar com algumas lembranças, melhor prevenir-se com dinheiro já trocado.
Os preços não variam muito de grandes cidades portuguesas: num supermercado o preço da água de 1,5 l é semelhante ao preço num café em Portugal, assim como uma cerveja num bar.
Saúde
Antes de viajar vá a uma consulta de viajante no hospital mais próximo de si, consultando a informação disponível e aconselhe-se sobre as vacinas obrigatórias; e a medicação necessária para viajar para São Tomé e Príncipe. No entanto, deixamos-lhe aqui algumas dicas de saúde e prevenção, de experiência na primeira pessoa:
– pensos rápidos, ligaduras, antisséptico, sabão azul (para desinfetar mãos e feridas dá sempre jeito), soro fisiológico para limpar feridas e olhos, água termal para refrescar o rosto, pomada cicatrizante externa à base de antibiótico, terramicina (pomada oftálmica, usada também com cicatrizante da pele), anti-inflamatório e antipirético, anti-histamínico, pomada para aliviar comichão, picadas, alergias, urticária e queimaduras solares, protetor gástrico tipo Omeprazol, pomada com cortisona, aspirina, medicação para diarreias, colírio (se usar lentes de contacto).
Dicas de viagem
É necessário visto para São Tomé e Príncipe: deve ser pedido com antecedência mínima de oito dias antes da viagem, na embaixada em Lisboa, ou no Consulado do Porto. Tem um custo de 20 €. Depois, não esquecer que à saída de São Tomé terá de pagar taxa de aeroporto, que normalmente não está incluída na viagem, com um custo de 18 €, ou 20 dólares. Deve pagar em dinheiro.
- Em São Tomé, atrase o relógio uma hora em relação a Portugal;
- Levar uma garrafa de viajante tipo térmica para colocar a água e evitar que fique quente. Beba líquidos frequentemente;
- Calçado confortável, sobretudo chinelos e sandálias (evitar materiais que podem causar feridas, como plástico);
- Chapéu para o sol;
- Protetor solar adequado para o seu tipo de pele e repelente.
Na Internet
Não é o mais bonito e moderno site de turismo, mas ainda assim o espaço online da Direcção Geral de Turismo de São Tomé e Príncipe vale a visita.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.