Está a pensar visitar a praia de Varela, na Guiné-Bissau? Pois bem, recentemente tive oportunidade de viajar até Varela, local que me foi recomendado como tendo uma das praias mais bonitas da Guiné-Bissau. Ou, pelo menos, da parte continental do país.
Varela fica bem perto da fronteira com o Senegal, no norte da Guiné-Bissau, e é um destino que tanto pode ser imprescindível como ignorado no seu roteiro de viagem à Guiné-Bissau. Depende, naturalmente, daquilo que procura. Para mim, visitar Varela foi um dos pontos altos da minha viagem pelo país. Não tanto pela praia mas sim, principalmente, pelo ambiente tranquilo da aldeia. E, claro, pela oportunidade de visitar a tabanca Elalab.
Eis, pois, um resumo da minha visita a Varela, incluindo idas à praia e dicas sobre onde comer bem numa estadia em Varela, com referência às principais atrações e às pousadas e restaurantes onde pode aconchegar o estômago. Vamos a isso.
Praia de Varela, Guiné-Bissau
A (dolorosa) viagem até Varela
O dia começou em Ziguinchor, capital da região de Casamansa, no vizinho Senegal. Teria de apanhar um transporte que me levaria a cruzar a fronteira e deixar-me-ia depois em São Domingos, já em território guineense. E foi ali mesmo, na fronteira, que fui pela primeira vez assaltado por uma tremenda emoção por pisar o solo da Guiné-Bissau. Confesso que os olhos se humedeceram. Não sei explicar.
Chegado a São Domingos, conheci Moustafa, que carregava a sua carrinha com mercadorias (víveres e materiais de construção, incluindo dezenas de sacos de cimento) e aguardava por passageiros para encher o veículo.
Nesse entretanto, fui ainda comprar um SIM Card da MTN e uns bolinhos a uma jovem vendedora que cirandava pelo terminal de transportes, e depois aguardei pela ordem de partida para a viagem ao longo da inenarrável estrada para Varela, o meu destino final.
O carro ligou-se unindo dois fios elétrico descarnados (e desligava-se separando-os). O piso era feito de buracos rodeados de algum asfalto, areia e terra batida. Estava num estado lastimável. Havia pó, muito, muito pó. A viagem ia ser dura…
Ao longo da estrada, mulheres e crianças passavam com lenha, sacos ou alguidares na cabeça. Havia muita gente a caminhar na rua. As casas e cabanas eram muito básicas, sem água nem eletricidade. E havia termiteiras gigantes um pouco por todo o lado.
A certa altura, já perto de Susana, passámos por um manguezal. Logo a seguir, uma placa indicava a entrada no Parque Natural Tarrafes do Rio Cacheu. E assim fomos andando, lentamente, até que, mais tarde do que o previsto, cheguei finalmente a Varela com um banho de pó tomado. Estava visivelmente cansado, mas Varela haveria de valer todo o sacrifício.
A minha experiência em Varela
Uma vez na Casa Aberta KasumayaKu, fui recebido por Valentina, uma simpaticíssima italiana a viver em Varela já há muitos anos. Tinha-me guardado uma pizza feita no forno a lenha da pousada para o meu almoço tardio – que me soube muito bem. E depois fui explorar Varela.
Passei por dezenas de crianças que me tratavam por “branco”; uma ou outra mercearia simples onde se pode comprar água, alguns enlatados e outros produtos de primeira necessidade; cabras, galinhas e cães harmoniosamente juntos nas ruas; um homem a caminho da pequena mesquita de Varela; o som de um pilão aqui e ali. Mais crianças a brincarem em frente à escola. E música.
À primeira impressão, tudo me pareceu bastante básico em Varela. Vive-se ali uma existência simples mas tranquila. E as pessoas são muito afáveis. Mais uma vez não sei explicar, mas senti desde a primeira hora que os guineenses são diferentes dos senegaleses. Para melhor.
Continuei a caminhar em direção à afamada praia de Varela, atravessando toda a aldeia e passando defronte da pousada Avó Anisa. Na floresta junto à praia, uma velha autocaravana dava abrigo a um surfista norte-americano. No areal, uma tartaruga gigante tinha dado à costa, morta, nessa manhã, e os abutres faziam o seu trabalho de limpeza. Um rapaz passou por mim a correr no seu exercício vespertino, parando apenas junto às ruínas que pontificam na praia, já no areal.
Ao que consta, trata-se de um antigo (e megalómano) projeto hoteleiro, “tipo Club Med”, que nunca chegou a ser concluído. Com o tempo, a erosão marítima encarregou-se de fustigar a costa e levar à derrocada de escadarias e edifícios, povoando o areal com enormes pedaços de betão armado. Não é bonito, mas pelo menos serve para recordar que a Natureza é quem mais ordena!
O areal, esse, é de facto gigantesco. Seria possível caminhar para norte por quilómetros e quilómetros até quase chegar a Cap Skirring, na região de Casamansa que faz fronteira com o norte da Guiné-Bissau. Ou, exageros à parte, seguir pela praia pelo menos até à foz do Rio Bujejete, a norte de Varela.
E por ali fiquei sentado algum tempo, absorvendo a energia do lugar, pensando no privilégio que era estar na Guiné-Bissau naquele momento, 52 anos depois de ter deixado o país ainda na barriga da minha mãe. Era o meu primeiro dia em solo guineense e estava imensamente feliz. Não sei explicar!
De regresso a Varela, cruzei-me com algumas crianças que só queriam brincar (“branco, branco!”) e um grupo de homens a jogar damas num velho tabuleiro de madeira. Tal como no Senegal, também na Guiné-Bissau as damas jogam-se com quatro filas de cinco peças, sendo que se pode comer para trás. Foi o que aprendi ficando ali à conversa com os homens e observando o jogo. Gosto disto!
Adiante, bem perto da Casa Aberta KasumayaKu, havia aquilo que me pareceu um treino de futebol. Não era apenas um jogo entre amigos, mas sim um treino. Ouvia-se um apito, instruções e reclamações, muita energia e empenho.
A forma do campo não era retangular, o piso era de terra e muito irregular e as balizas estavam marcadas com dois paus de madeira unidos por uma corda. Mas não serão essas dificuldades a impedir os jovens de Varela de tentarem concretizar os seus sonhos, pensei. O jogo foi animado, pelo menos durante o tempo em que por ali fiquei, enquanto o sol ia desfalecendo nos caminhos de terra de Varela.
No trajeto para a pousada, voltei a reparar na enorme termiteira existente nas proximidades do campo de futebol. Um prodígio da Natureza e do trabalho em equipa.
Já sentado e com uma cerveja Cristal na mão, só me ocorria pensar o quão bem sempre me sinto em lugares pequenos e simples como Varela. Há algo de profundamente belo na simplicidade. Enquanto planeava o meu roteiro na Guiné-Bissau, perguntei a um amigo que está atualmente a viver em Bissau quanto tempo achava que deveria ficar em Varela. “A vida toda”, respondeu. Não está nos meus planos, mas não tenho dúvidas de que Varela tem mesmo algo de especial.
Os dias seguintes haveriam de ser passados a explorar a tabanca Elalab e a absorver ainda mais o ambiente tranquilo de Varela. A estar, simplesmente estar. E viver.
Talvez a praia não seja tão espetacular como imaginara, mas adorei o ambiente de Varela!
Dicas para visitar Varela
Como chegar a Varela
Quer venha de Ziguinchor (no Senegal) ou de Bissau, terá sempre de chegar primeiro à povoação de São Domingos, provavelmente a bordo de uma toca-toca – as carrinhas que partem quando estão cheias e ligam muitas das vilas e cidades da Guiné-Bissau.
Uma vez em são Domingos, há que apanhar um transporte semelhante para Varela. A estrada é péssima, de terra batida e toda esburacada, pelo que tente conseguir um dos lugares da frente, junto ao condutor. Por essa viagem – cuja duração é muito variável, mas pode demorar umas boas três horas – paguei 2.000 XOF. Em suma, é demorado e eventualmente pouco confortável, mas muito fácil.
Os preços são baixos. Entre Ziguinchor e São Domingos, cruzando a fronteira sem mudar de veículo, paguei apenas 1.000 XOF; e no regresso, de São Domingos para Bissau, paguei 2.400 XOF. A alternativa será, naturalmente, pagar um táxi privado, mas ficará muito mais caro. A não ser que não queira esperar e prefira ir sem a companhia dos locais, não creio que valha a pena.
Para sair de Varela em direção a São Domingos, note que o único transporte existente é um mini-autocarro por dia que parte por volta das três ou quatro da manhã. No meu caso, o motorista informou que o horário de partida seria às 3:00; mas, na verdade, só apareceu depois das 4:30. Pelo que consegui apurar, creio ter sido uma exceção. Peça ajuda à Valentina para marcar.
Onde ficar em Varela
De momento, é virtualmente impossível reservar online qualquer pousada em Varela. Dito isto, eu fiquei numa pousada magnífica chamada Casa Aberta KasumayaKu, gerida pela filha Valentina e pelo pai Frank, ambos de origem italiana. Os bungalows são excelentes, os anfitriões são muito afáveis e a comida é muito boa. Para reservar, veja a página de Facebook ou fale com a Valentina pelo WhatsApp +245 6640180.
Outra alternativa para ficar em Varela é o Hotel Rural Avó Anisa. Fica junto à praia, mas mais afastada da povoação. Reservas pelo WhatsApp +245 956323647.
Onde comer
Dada a ausência de grandes opções, o mais provável é que acabe por fazer a maioria das refeições (ou pelo menos o jantar) na sua pousada. Foi o que sucedeu comigo e, tirando um almoço na tabanca Elalab, comi sempre na Casa Aberta KasumayaKu. A comida vai de pizzas a lagosta, passando por massas e peixe – e é muito boa.
Seguro de viagem
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