Tenho uma costela guineense e, por isso mesmo, este roteiro de viagem à Guiné-Bissau revestiu-se de uma emoção especial. Os meus pais estiveram ambos na Guiné-Bissau durante a Guerra Colonial – o meu pai como militar; a minha mãe acompanhou-o nessa jornada e foi professora na antiga colónia portuguesa. E eu regressei da então Guiné Portuguesa para Portugal na barriga da minha mãe.
Na verdade, andava há muito tempo para visitar a Guiné-Bissau. Durante demasiados anos, tentei levar os meus pais ao país, numa espécie de viagem emocional àqueles tempos. Seria uma viagem a três às minhas origens, por assim dizer. Mas, na verdade, nunca os consegui convencer: o meu pai adorava a ideia, mas a minha mãe dizia que “a Guiné é passado“.
Creio que só quem viveu a guerra compreenderá o alcance desta frase.
E assim, não me restou outra alternativa senão fazer a viagem sozinho.
Pisando o solo da Guiné-Bissau
Entrei na Guiné-Bissau por via terrestre vindo de Ziguinchor, no sul do Senegal. Assim que o militar carimbou o passaporte e eu cruzei a fronteira, os olhos humedeceram-se. Não sei explicar, mas estava visivelmente emocionado.
Segui em silêncio absoluto num carro partilhado até São Domingos, a minha primeira paragem no país. Enquanto esperava por um transporte que me levaria a Varela, as lágrimas caiam-me pelo rosto sem nenhuma explicação plausível. Estava feliz, muito feliz. Como se a Guiné-Bissau fosse de facto a minha terra, o meu berço, a minha origem.
Não me recordo de ter sentido algo semelhante ao pisar um país pela primeira vez, exceção feita, talvez, a Timor-Leste – país por quem desde sempre tive uma inexplicável relação emocional. E aí não tenho raízes ou qualquer ligação umbilical. Coisas que não se explicam, suponho.
No que toca à Guiné-Bissau, dias depois de entrar no território vindo do vizinho Senegal, fui visitar a tabanca Elalab. Nessa altura, haveria de partilhar com o guia local Lucas que me emocionei ao cruzar a fronteira da Guiné-Bissau. E a sua resposta saiu pronta, acompanhada de duas batidas no peito: “Está cá dentro!”.
Creio que está. Mesmo. E talvez não haja muito mais a acrescentar.
Porque, como escreveu Antoine de Saint-Exupéry, “só se vê bem com o coração, o essencial é invisível para os olhos”.
À procura da casa dos meus pais em Bissau
Ora, durante o tempo em que os meus pais estiveram na Guiné-Bissau, moraram em Bissorá, em Bula e em Bissau. A minha mãe, professora, ainda foi dar exames a Bolama, mas nunca viveram lá. Foi em Bissau que a minha história pessoal começou a ser escrita.
Investi, por isso, numa missão auto-imposta de descobrir a casa onde eles moraram em Bissau. O meu pai ajudou, puxando da memória e fornecendo algumas indicações com recurso ao Google Maps. Mas a primeira tentativa foi um fracasso. Não estava longe, mas não encontrei a casa.
Até que o meu pai falou com colegas da altura e me enviou outras fotografias, onde se via a minha mãe numa varanda. As formas decorativas da varanda, em ferro forjado, estavam bem nítidas, bem como as portadas exteriores de madeira. Mas será que ainda se encontravam iguais?
Pois bem, no dia seguinte a receber essas informações, fiz nova investida. Rumei às imediações do Estádio Lino Correia, entrei na Rua de Angola e encontrei a casa. Falei com o atual morador do piso de baixo, contei-lhe a minha história e emocionei-me. O rés-do-chão já não era uma loja, como a minha mãe se lembrava, mas sim uma habitação. Mas o primeiro andar, onde tinham morado, estava praticamente igual. Fiz uma videochamada com os meus pais e mostrei-lhes a casa. Foi uma emoção.
Na verdade, não tenho qualquer motivo especial para estar a partilhar isto. Talvez queira gritar ao mundo que a Guiné-Bissau é, para mim, um local muito especial. Talvez esta seja uma declaração de amor à Guiné-Bissau.
Tal como me disse pessoalmente Miguel Nunes, proprietário do Hotel Coimbra e que vive em Bissau há muitos, muitos anos, “a Guiné-Bissau não se explica, sente-se“. Tal como Lucas, creio que tem toda a razão. Talvez seja exatamente isso!
Veja também o artigo sobre a minha visita a Bissau.
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