Em contagem decrescente para a volta ao mundo em família (Pikitim #01)

Por Luísa Pinto
Família antes da volta ao mundo
A família antes da partida para a volta ao mundo ©Fernando Veludo

O calendário diz que faltam pouco mais de duas semanas para o início da grande viagem. O entusiasmo é grande e tomou conta de todos os membros da família da Pikitim. É hora dos preparativos finais, e já se sente o irresistível formigueiro no fundo da barriga. As rabanadas e a aletria até vão cair melhor.

Foi quando assistia a um anúncio na televisão que a Pikitim fez o seguinte comentário: “É verdade, mãe, que o Pai Natal dá a volta ao mundo só numa noite?”. Ainda é cedo para lhe destruir essa fantasia natalícia; essa, e outras, como aquela que diz que o Natal é sempre que um homem quer.

Respondi-lhe que sim, que o Pai Natal é mágico, e tem um trenó puxado por renas ultra-velozes. E que é por isso que na noite de Natal os meninos de todo o mundo recebem presentes. A resposta da Pikitim foi igualmente veloz: “Nós não temos essas renas, e é por isso que vamos demorar um ano. Mas também vamos dar a volta ao mundo, não é mãe?” É, sim senhora. E ainda bem que não temos essas renas, atrevi-me a acrescentar eu. Para podermos viajar devagar. Conhecer, explorar.

O calendário diz que faltam pouco mais de duas semanas para a partida, e o momento é de concluir os preparativos finais. Para a Pikitim tudo parece bastante simples – e é assim mesmo que tem de ser. Quando eu explicava à médica otorrino que a operou há escassos meses que não estaríamos por cá em junho – altura em que pretendia voltar a ver como andavam as adenóides e as amígdalas da Pikitim -, a reação da médica foi brincar, dizendo que era melhor ir connosco para garantir que as vias aéreas continuariam impecáveis. A Pikitim deu-lhe a solução: “É fácil, só tens de tirar o cartão de cidadão”.

Não é tão fácil quanto isso, mas também não é tão complicado quanto se julga. Estamos todos sintonizados neste grande projeto, que está longe de ser umas “férias de 12 meses” nos antípodas do planeta. Este é também um projeto profissional (somos jornalistas, e continuaremos a sê-lo em qualquer latitude) e, sobretudo, é um projeto educacional. Por isso nos obrigou a planeamento, a ponderação, a muitas horas de pesquisas e a tomada de decisões mais ou menos complicadas. Não temos a veleidade, nem a intenção, de pretender levar tudo programado ao pormenor, mas procuramos as ferramentas que nos vão permitir aproveitar melhor o tempo e dar resposta a imprevistos que surjam.

Fizemos a ronda dos médicos e consulta do viajante, tratámos de todas as burocracias, procurámos possibilidades de alojamento que trouxessem a melhor relação qualidade-preço, pesquisámos museus, centros de ciência ou de preservação ambiental para introduzir na lista para nos ajudar a definir o percurso.

Alheia a tudo isto – tal como convém – as preocupações da Pikitim são bem mais prosaicas, mas irresistivelmente mais emocionantes.

Está entusiasmada com a possibilidade de passar um mês numa casa com rodas (temos a intenção de alugar uma autocaravana na Nova Zelândia), e ansiosa por viver por uns dias numa “casinha da árvore” (desde que experimentou a cabana no quintal da tia Alice que imagina casinhas em qualquer sitio – a mais recorrente é imaginar que o patamar intermédio das escadas da avó Isabel é a casinha da árvore com que gosta de brincar com a prima Beatriz). E lembra que ainda não sabe nadar, mas que gostava de ver muitos peixinhos coloridos e de dar de comer a golfinhos e a tartarugas.

Na carta que escreveu ao Pai Natal teve a preocupação de fazer pedidos de coisas que caibam na mochila, que pudesse levar com ela. Mas de uma forma pouco convicta – também não resistiu a pedir a “Carlota Cambalhota” porque sabe que uma das boas amiguinhas da escola também a iria pedir. “Os brinquedos maiores podem ficar em casa, para eu brincar com eles no fim da viagem”, resolve, decidida.

O que ela já sabe é que o Pai Natal não pode vir carregado de presentes para um menino só. E apesar de ela já ter despejado prateleiras com livros seus para dar “a outros meninos que não os têm e que ainda não leram” [numa louvável iniciativa do Jardim-Escola em associação com a Cruz Vermelha], acreditamos que vai ser nesta viagem que ela vai perceber que o mais importante não é ter tudo, nem é sequer ter muito. Vai conhecer meninos com bem menos, vai viver em casas simples e modestas. E vai perceber que não é o luxo nem a abundância que fazem as crianças e os adultos mais felizes.

Sei que o que atualmente a entusiasma é perceber que vai estar com os pais ao longo de todo um ano, a ver e a aprender coisas novas, e a fazer amigos (a facilidade com que ela faz amigos!!!) em qualquer canto do mundo. E sei do que ela vai sentir mais falta. Do contacto com os amiguinhos da escola, dos primos mais chegados, e dos avós. Da sua “vovó” Odete, companheira de tantas aventuras e brincadeiras. Neste deve e haver, vai surgir um equilíbrio saudável e profícuo. Disso também tenho a certeza.

E agora que os preparativos finais coincidem com as festas de Natal e a presença de amigos e família, as emoções misturam-se e já se sente um irresistível formigueiro no fundo da barriga. As rabanadas e a aletria até vão cair melhor.

Bom Natal para todos!

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Sobre o Diário da Pikitim

Este post pertence a uma série que relata uma volta ao mundo em família, com 10 meses de duração. Um projeto para descomplicar e mostrar que é possível viajar com crianças pequenas, por todo o mundo. As crónicas da viagem foram originalmente publicadas na revista Fugas e no blog Diário da Pikitim.

Veja também o artigo intitulado Viajar com crianças: 7 coisas que os pais devem saber.

Luísa Pinto

Jornalista e mãe, gosta de livros, vinho tinto e experimentar camas em lugares novos. Deu a volta ao mundo com um filho, gostava de repetir a dose agora que tem dois. É orgulhosa co-fundadora da Hotelandia e do Rostos da Aldeia.

10 comentários em “Em contagem decrescente para a volta ao mundo em família (Pikitim #01)”

  1. Olá, acabei de conhecer o site por indicação de uma amiga e fiquei encantada com o projeto. Apesar de ter acabado de aportar por aqui, também já sinto o friozinho na barriga imaginando a aventura deliciosa que vem pela frente e a vontade de acompanhar cada descoberta de vocês.

    Um lindo Natal e um Ano Novo incrível! (tem como não ser? ;) )

    Abraços,
    Eliane

    Responder
    • Olá Eliane,
      Bem vinda a bordo da mala da Pikitim! Este friozinho na barriga sabe mesmo bem. Acreditamos mesmo que vai ser um ano incrível e é bom saber que haverá tantos amigos a viajar connosco.
      Um bom natal para todos vocês!
      Abraços,
      Luísa

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  2. É um regalo ler-te neste registo. Fico à espera das crónicas de todas as aventuras que vão viver. Um bem haja à família Pitikim. E uma excelente viagem.

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    • Obrigada, Calita! Sê muito bem-vinda… estamos quase a embarcar.

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  3. Amigos:

    Luísa e Filipe, agora por Lisboa, mas por certo também em Riba d’Ave, todos vamos espreitando e vibrando com esta grande aventura… que inveja tenho eu de tantas coisas maravilhosas que vão viver!

    Beijinhos e feliz início… Se passarem por São Tomé, diz ao Filipe que ainda tenho alguns contactos de lá. ;-)
    Diogo Carneiro

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  4. Contem comigo na logística ou noutro assunto que precisem. Minha “base” fica em Lisboa… bem que queria ir também convosco eheh! “Partam uma perna”… rsrsrs. Inté.

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  5. Boa viagem…

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  6. Tive hoje, dia 7 de Janeiro conhecimento pela televisão da vossa aventura. Invejo-vos por não ser eu a encetar tal viagem, mas por outro lado aqui deixo os meus votos para que tudo vos corra conforme o planeado e que tenham muita sorte nesta aventura. Sortudos por terem a oportunidade de poderem espalhar um pouco do nosso Portugal por esse mundo fora. Espero que vão dando notícias da vossa aventura

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  7. Mais uma vez não fui a tempo da despedida… mas é com muito prazer que vos acompanharei por aqui.
    Um beijinho muito grande para todos e aproveitem esta experiência única o melhor que puderem.

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  8. Ola.

    Sei que aterraram bem em Singapore. Acompanho há anos o Alma de Viajante e tornei-me um torcedor do vosso projecto. Espero que a viagem seja, acima de tudo uma viagem na nossa terra. Afinal, esta é a nossa casa. Parabéns.
    Cumprimentos a tod@s. Vou acompanhar os vossos passos, e, ao mesmo tempo, fazer da vossa viagem, também um pouco minha.
    Força!
    Sérgio

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