Está a pensar visitar as roças de São Tomé e Príncipe? Faz muito bem. Para mim, é impensável visitar São Tomé e Príncipe sem ir conhecer algumas das suas roças. Quanto mais não seja pela importância histórica.
Na verdade, as roças de São Tome e Príncipe são estruturas agrárias que marcaram de forma vincada a história da colonização e “estiveram na base do desenvolvimento do arquipélago, durante o seu ciclo de café e cacau, compreendido entre os finais de séc. XVIII e início do séc. XX”. À época, o país chegou a ser o maior produtor mundial de cacau, muito à base do trabalho dos “escravos trazidos de diferentes pontos do continente africano para trabalharem nas plantações agrícolas”.
Atualmente, boa parte dessas roças são-tomenses estão abandonadas e algumas até em avançado estado de degradação – para não dizer em ruínas. Entre essas, uma parte foi sendo habitada por comunidades desfavorecidas que foram adaptando o interior dos edifícios em modestas habitações. E todas estas roças, sem exceção, fazem parte da história do país.
Este artigo vem sugerir a visita a dez roças de São Tomé e Príncipe, incluindo roças em ruínas, uma ou outra bem recuperada e duas por motivos gastronómicos. Vamos a isso.
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Roças de São Tomé e Príncipe
- 1.1 Roça Agostinho Neto (São Tomé)
- 1.2 Roça Diogo Vaz (São Tomé)
- 1.3 Roça Água Izé (São Tomé)
- 1.4 Roça da Saudade (São Tomé)
- 1.5 Roça Monte Café (São Tomé)
- 1.6 Roça São João dos Angolares (São Tomé)
- 1.7 Roça do Terreiro Velho (Príncipe)
- 1.8 Roça Sundy (Príncipe)
- 1.9 Roça Belo Monte (Príncipe)
- 1.10 Roça Porto-Real (Príncipe)
- 2 Mapa das roças de São Tomé e Príncipe
- 3 Guia prático
Roças de São Tomé e Príncipe
Roça Agostinho Neto (São Tomé)
Fundada em 1865 por Gabriel Constantino Bustamante na atual povoação de Guadalupe, a Roça Agostinho Neto (antiga Roça Rio do Ouro) é a maior e uma das mais icónicas roças de São Tomé e Príncipe. Infelizmente, uma ala do hospital da Agostinho Neto ruiu em 2014. Mais uma “ferida aberta” no património arquitectónico são-tomense e no passado colonial português, como escreveu o jornal Público na altura. Mas nem por isso deve deixar de a incluir na lista com o que visitar em São Tomé.
Assim que chegar, será abordado por um dos guias que trabalham na roça, que lhe proporá uma visita guiada pela mesma. Ora, embora não seja de todo obrigatório ou fundamental, recomendo que o faça por uma questão de empatia.
O turismo de base comunitária é muito importante para as comunidades locais, proporcionando um rendimento relevante para os seus habitantes. E a Roça Agostinho Neto não é exceção. Os guias turísticos organizam-se através de uma associação liderada por Willy Mendes, que não tive oportunidade de conhecer.
No meu caso, foi um jovem de seu nome Jorge quem me acompanhou. Não posso dizer que foi um guia extraordinário, até porque eu já conhecia a Roça Agostinho Neto de uma outra viagem. Mas, ainda assim, visitar a Roça Agostinho Neto com um guia local é, como disse uma forma de contribuir – e sempre deu para fazer perguntas específicas.
E assim, à conversa com Jorge fiquei a saber que habitam na roça “mil e tal pessoas” porque as famílias em São Tomé são muito numerosas, antes dele soltar uma das frases mais marcantes que ouvi em toda a viagem: “O filho é a riqueza do pobre”.
Nota: quando perguntei quanto custava o passeio, o guia não me disse um valor fixo e, apesar da minha insistência, disse que cada turista dava o que quisesse. Como essa forma de trabalhar é propícia a mal-entendidos no final, fiz questão de dizer desde logo quanto eu iria dar e confirmar que estava interessado. Fica a dica. Pelo que vi, creio que entre 100 e 250 dobras será um valor aceitável para situações como esta, dependendo do número de turistas
Roça Diogo Vaz (São Tomé)
Localizada na costa norte da ilha de São Tomé, a Roça Diogo Vaz dedica-se atualmente à produção de cacau orgânico e chocolate. E com muito sucesso. Em 2023, foi seu o Melhor Chocolate do Mundo no Salão do Chocolate de Paris.
Ao que consta, roça dispõe de 420 hectares que foram totalmente replantados com cerca de 150.000 plantas de cacaueiro. E é possível fazer uma visita guiada para conhecer todo o processo de produção do cacau. Ou seja, ao contrário de outras roças, a visita organizada segue um guião pré-definido e está focada na produção de cacau – não inclui uma ida à zona habitada da roça. Mas pode, naturalmente, passear na roça por sua conta.
Para quem não conhece o processo de transformação do cacau, a visita é muito informativa. No meu caso, foi o guia Abrão quem me falou dos três tipos de cacau ali produzidos. São eles o cacau Amelonado, o cacau Trinitário e o cacau Catongo, embora este último seja “pouco usado” na Roça Diogo Vaz. É uma das roças de São Tomé e Príncipe de visita obrigatória!
As visitas guiadas à Roça Diogo Vaz ocorrem de segunda a sábado, sensivelmente das 8:00 às 15:30. Diz-me a minha experiência que é melhor chegar antes das 15:00 para garantir a visita.
Roça Água Izé (São Tomé)
A dois passos da chamada Boca do Inferno fica a Roça Água Izé, onde tinha estado há mais de 15 anos. É, porventura, a minha roça preferida em São Tomé. Assim que cheguei, o jovem Aluizo apresentou-se como guia e eu aceitei os seus serviços.
Depois de revisitar alguns edifícios de que me lembrava bem – impressionante como pouco mudou em duas décadas! -, mostrei-lhe fotos antigas da Roça Água Izé e ele reconheceu algumas pessoas. Uma senhora já falecida, o Miguel e nha Preta. “Queres ir a casa dela mostrar a foto?”. E assim, num ápice, estava à porta da casa de Isilda Vaz, cabo-verdiana mais conhecida por nha Preta. A sua reação ao ver a foto foi maravilhosa. De sorriso rasgado, só dizia “eu era tão linda”, “ai que eu era tão linda”. Foi um momento delicioso!
Dito isto, vale a pena caminhar tranquilamente pelas ruas empedradas da Roça Água Izé, e visitar o magnífico edifício do antigo hospital. Fica lá no alto, razão pela qual tem as melhores vistas de toda a roça. Mas é a sua comunidade a maior relíquia de Água Izé. Tenho, aliás, a teoria de que os habitantes de Água Izé são especialmente acolhedores. É só um feeling, sem qualquer sustentação científica – vale o que vale!
Roça da Saudade (São Tomé)
Proposta totalmente distinta é aquela que faço no que toca à Roça Saudade. Aqui, a ideia não é tanto visitar a roça, mas sim provar um dos menus de degustação mais entusiasmantes da ilha de São Tomé.
O almoço na chamada Casa Museu Almada Negreiros, na Roça Saudade, é composto por uma entrada, prato principal e uma sobremesa – e é tudo delicioso. Fica a recomendação.
Roça Monte Café (São Tomé)
Tal como o cacau na atualidade, também o café teve um papel muito importante na economia de São Tomé e Príncipe. Introduzido pelos portugueses no início do século XIX, a economia da ilha de São Tomé baseava.se precisamente na monocultura do cafezeiro trazido do Brazil.
Foi para conhecer um pouco melhor o processo de manufatura do café que decidi visitar o Museu do Café da Roça Monte Café. A visita é relativamente simples, mas confesso que gostei de a ter feito.
Associados numa cooperativa de pequenos produtores de café, cultivamos e tratamos o nosso café biológico de maneira artesanal e em harmonia com o meio ambiente
in Museu do Café da Roça Monte Café
Foi lá que fiquei a conhecer o café Omonte, um “puro Arábica biológico” que “surge das variedades antigas cultivadas na região de altitude de Monte Café”. No final da visita, para terminar em beleza, tive oportunidade de provar um dos cafés ali produzidos. Fica a dica, até porque passa bem perto da monte Café a caminho da Casa Museu Almada Negreiros.
Roça São João dos Angolares (São Tomé)
A segunda proposta gastronómica desta lista de roças de São Tomé e Príncipe chega de São João dos Angolares, já no sul da ilha de São Tomé. É lá que fica a homónima Roça São João dos Angolares, também de João Carlos Silva. É um casarão colonial onde é possível pernoitar, mas não é essa função hoteleira que maior fama lhe trouxe.
Assim, mediante reserva, o chef e a sua equipa preparam um jantar de degustação de grande qualidade merecedor de todos os elogios. E essa refeição é, por si só, motivo suficiente para uma paragem estratégica na povoação, antes de rumar às extraordinárias praias do extremo sul da ilha de São Tomé. Fica a dica.
Roça do Terreiro Velho (Príncipe)
Outrora explorada pelo italiano Claudio Corallo, a Roça do Terreiro Velho tem atualmente aspeto de abandonada e e sem sinais de atividade. E a casa principal está fechada. Na verdade, disseram-me que há atividades que ainda têm lugar na roça (como a secagem de cacau), mas a casa aparentava mesmo estar sem uso. É uma pena.
Seja como for, é uma roça fundamental na história recente da ilha do Príncipe, facto que, aliado às vistas maravilhosas que se têm da propriedade, justificam que, quando visitar a ilha do Príncipe, considere incluir a Roça do Terreiro Velho no seu roteiro. Para mim, é das roças mais bonitas que conheci no país.
Roça Sundy (Príncipe)
Sem dúvida uma das mais importantes roças de São Tomé e Príncipe, a Roça Sundy encontra-se parcialmente recuperada. E muito bem. A casa principal, ou Casa Grande, principal edifício da roça, está transformada em hotel de luxo chamado. Chama-se precisamente Hotel Roça Sundy e é um projeto hoteleiro muitíssimo bem conseguido.
Mas há também o chamado o Museu do Ferro Velho, onde se encontram locomotivas e outra maquinaria industrial do tempo colonial. E ainda a chamada Casa do Cacau, onde se explica um pouco do processo de produção do cacau e se vendem os produtos aos visitantes. E, claro, a igreja (ainda funciona!) e outros edifícios mais degradados.
Roça Belo Monte (Príncipe)
Ainda no Príncipe, não deixe também de visitar a Roça Belo Monte. Trata-se da roça mais bem recuperada da ilha do Príncipe, motivo por si só mais do que suficiente para merecer uma visita. Está atualmente transformada em hotel, mas é também lá que está instalado o Museu Forever Príncipe.
Os visitantes da exposição aprenderão sobre a formação da ilha, os seus animais, plantas e paisagens únicas e obterão informações sobre a vida quotidiana, a cultura e a história do povo do Príncipe. A exposição também explica as vantagens e desafios económicos e ecológicos de ser uma pequena ilha.
Site oficial do Museu forever Príncipe
Não é um museu verdadeiramente imperdível, mas ainda assim passe por lá. Até porque a Belo Monte é mesmo um bom exemplo de recuperação de património.
Roça Porto-Real (Príncipe)
Saindo de Santo António em direção ao centro da ilha do Príncipe, rapidamente chegará à Roça Porto-Real, onde pontifica um velho hospital entretanto devorado pela vegetação. Apesar de se encontrar atualmente em ruínas, é verdadeiramente impressionante.
Ao que consta, já foi um dos hospitais mais importantes do país, a par com o da Roça Agostinho Neto, na ilha de São Tomé. Hoje em dia, serve para festas efetuadas nas ruínas, e todas as noivas da ilha passam na escadaria do antigo hospital para uma sessão fotográfica antes do copo de água. Se procura o que visitar na ilha do Príncipe, tem aqui um excelente motivo de interesse. Está em ruínas, mas na minha opinião vale bem a pena.
Mapa das roças de São Tomé e Príncipe
No mapa acima, encontra a localização exata das roças de São Tomé e Príncipe referenciados no artigo. São, no total, quatro roças da ilha do Principe e seis na ilha de São Tomé, todas excelentes caidatas a constar no seu roteiro para visitar São Tomé e Príncipe. Fica a dica.
Guia prático
Onde ficar
Antes de mais, pode ver os melhores hotéis e pousadas de qualidade consultando os artigos sobre os onde ficar em São Tomé e onde ficar no Príncipe. Em resumo, durante o meu roteiro em São Tomé e Príncipe, com a duração de duas semanas, tinha planeado ficar hospedado em cinco alojamentos diferentes (quatro em São Tomé e um no Príncipe). E assim foi. São todos alojamentos recomendáveis – a saber:
- Norte de São Tomé: Mucumbli, em Ponta Figo.
- Na ilha do Príncipe: recomendo a Residencial Brigada, em Santo António, mas os melhores hotéis do Príncipe ficam nas roças e praias. Nesse caso, se o orçamento não for problema, recomendo o Sundy Praia Lodge (na praia) e o Hotel Belo Monte (antiga roça perto da Praia Banana).
- Na cidade de São Tomé: dependendo daquilo que procura, recomendo a Sweet Guesthouse (excelente hotel, foi onde fiquei), o novíssimo Hotel Kenito ou o mais exclusivo Omali Lodge.
- Em São João dos Angolares: Roça São João dos Angolares.
- Sul de São Tomé: Hotel Praia Inhame Ecolodge, junto à Praia Inhame. Ou, alternativamente, o Gombela Ecolodge and Farming, com vista para a maravilhosa Praia Piscina.
Para conhecer outras opções de alojamento, pesquise usando o link abaixo.
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Seguro de viagem
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