A região do Douro Vinhateiro tem alguns percursos pedestres maravilhosos, por entre os socalcos seculares das quintas do Douro, com vista para o rio. Há, no entanto, um que se destaca pela beleza das paisagens que atravessa. Chama-se Trilho do Vinho do Porto e é, muito provavelmente, o percurso pedestre mais bonito do Douro. É sobre essa caminhada que hoje escrevo.
Bem sei que o Douro Vinhateiro tem outros apelos. E que, com alguma naturalidade, fazer um trekking no Douro fica quase sempre para segundo plano. Mas, entre um cruzeiro no Douro, uma prova de vinhos e uma estadia numa das fantásticas quintas durienses, porque não conhecer o percurso pedestre mais bonito do Douro e tomar contacto próximo e privilegiado com as vinhas e as suas gentes?
Assim, aqui fica um desafio. Percorra o Trilho do Vinho do Porto a pé, atravessando as paisagens vinícolas que dão fama ao Douro, caminhando entre as vinhas cultivadas em socalcos que testemunham a comunhão secular entre Homem e Natureza e foram incluídas na lista de Património UNESCO em Portugal.
Vamos a isso.
Trilho do Vinho do Porto (PR2 – Lamego)
O Trilho do Vinho do Porto começa no adro da igreja de Samodães, de onde se tem uma primeira vista panorâmica incrível sobre o vale do Douro.
A partir daí, comecei a descer pelas ruelas empedradas da aldeia, por vezes ladeadas por muros altos, passando defronte de algumas casas habitadas. E assim fui descendo, até que, algumas centenas de metros adiante, os paralelos deram lugar à terra batida e os socalcos com vinhedos começaram a forrar a paisagem de verde.
Nesta fase inicial do percurso, as subidas eram residuais. Cruzei-me com trabalhadores das vinhas, um ou outro morador e um par de caminheiros; mas, na maioria do trajeto, tínhamos o Trilho do Vinho do Porto só para nós (fiz a caminhada em família, com os meus filhos).
Havia silêncio, quebrado apenas pela passarada, a alegria das crianças, o latir de um cão ao longe ou um trator a trabalhar nas vinhas. O dia estava soalheiro e a brisa trazia os odores da vida no campo – e isso é meio caminho para me colocar um sorriso no rosto!
Adiante, uma placa indicava que o Trilho do Vinho do Porto seguia o “Caminho do Pastor”.
Entrando na parte mais bonita do percurso, com paisagens panorâmicas sobre todo o vale, as encostas cheias de vinhas, um ou outro barco a subir ou a descer o rio, e a cidade de Peso da Régua lá ao fundo, era tempo de desfrutar. De tal forma que a descida passou a correr e, num ápice, estávamos a atravessar a EN222 (o trilho tem uma centena de metros de alcatrão, nada mais!) em direção ao luxuoso Six Senses Douro Valley.
Quase à cota do rio Douro, o Trilho do Vinho do Porto atravessa então as vinhas bem cuidadas em torno da antiga Quinta do Vale de Abraão, hoje transformada em hotel de luxo, envolta em vinhedos magníficos na altura carregados de uvas (as vindimas no Douro começariam dentro de algumas semanas!) e com o rio a dois passos.
A partir daí, e uma vez chegados ao rio Douro, a caminhada acompanha a margem esquerda do rio durante algum tempo, quase até à aldeia de Curvaceira. É lá que se inicia a parte mais difícil do trekking: a subida até Samodães, ponto inicial do percurso pedestre.
Começámos a subir, passando por vinhedos e algumas casas em ruínas; mas foi por essa altura que o meu filho mais novo começou a dar sinais de cansaço.
E assim, gizámos um plano B – que isto de viajar com crianças tem de ser um prazer, não um sacrifício. Uma vez chegados à estrada de alcatrão, quando faltaria pouco mais de 1,5km para o final, um dos adultos prosseguiu o trilho até à aldeia de Samodães para pegar no carro, enquanto o outro ficou com as crianças a descansar e a lanchar, junto à estrada.
Para o mais pequeno, com cinco anos, que até aí se tinha comportado como um verdadeiro explorador, não dava mesmo para mais.
Foi o final do Trilho do Vinho do Porto, com a certeza de termos feito, em conjunto, a parte mais interessante daquele que é, muito provavelmente, o percurso pedestre mais bonito do Douro Vinhateiro. Recomendo vivamente!
Ficha técnica: Trilho do Vinho do Porto (PR2 Lamego)
- Tipo de percurso: Circular.
- Início / Final: Igreja de Samodães.
- Distância: 8,0 km.
- Duração: 2,5 horas.
- Dificuldade: Fácil (com uma parte final desafiante).
- Altitude máxima: 380 m.
- Desnível acumulado: 330 m.
- Sinalização: O percurso nem sempre está bem marcado com as habituais listas vermelhas e amarelas de “Pequena Rota”; pelo que, para evitar enganos, é recomendável levar o track GPS no smartphone (ver no Wikiloc).
- Acessibilidade: Muito fácil, desde que tenha viatura própria (veja como chegar, abaixo).
Se é apaixonado pela região do Douro Vinhateiro, recomendo que visite também o Douro Internacional, a montante. Até porque não faltam percursos pedestres incríveis no interior do parque natural.
Guia prático
Como chegar à aldeia de Samodães (Lamego)
O Trilho do Vinho do Porto começa junto à igreja da aldeia de Samodães, no concelho de Lamego – margem esquerda do rio Douro (ver localização exata no Google Maps). Há estacionamento nas redondezas.
Para lá chegar, e tendo a cidade do Porto como ponto de referência, a forma mais rápida de o fazer é seguir pelas autoestradas A4 e A24 até Peso da Régua; atravessar o rio Douro e seguir pela EN222 até São Gião, local onde deve virar em direção a Samodães. No total, são quase 130km de viagem.
Dicas para fazer o Trilho do Vinho do Porto
O turismo, por muito benéfico que seja, tem quase sempre impactos negativos; e cabe ao viajante minimizar os aspetos menos positivos da sua passagem por um destino. Eis, pois, algumas coisas que pode fazer para diminuir o impacto da sua visita.
- Se possível, evite visitar o Douro durante o fim de semana e feriados (é quando há mais gente na região).
- Fique a dormir numa das quintas do Douro existentes nas proximidades. Dessa forma, poderá conhecer melhor a região e aproveitar para visitar locais como o miradouro São Leonardo da Galafura ou as cidades de Peso da Régua e Lamego.
- Faça o trilho no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. Terá, assim, uma descida longa na primeira metade do percurso, ao longo da qual poderá desfrutar das melhores vistas, de frente. A subida final é mais íngreme neste sentido, mas compensa.
- Não faça barulho nem leve sistemas de som para o percurso pedestre.
- Respeite os moradores locais e as suas propriedades.
- Para evitar a propagação da Covid-19, e enquanto for aconselhável, leve máscara e gel desinfetante para o caso de querer entrar em algum espaço fechado ou ter contacto mais próximo com moradores ou trabalhadores nas vinhas.
- Como é de bom senso, não deixe lixo (nem outros vestígios da sua passagem) no trilho.
O que levar
Apesar do Trilho do Vinho do Porto não ser em ambiente de montanha, convém, ainda assim, tomar algumas precauções para uma caminhada em segurança.
- Leve água e alguns alimentos (fruta, sanduíches, barras de cereais, frutos secos). O caminho não é longo, mas mais vale prevenir.
- Não faça o trilho sem calçado apropriado. Não é preciso usar botas de trekking; mas tenha em atenção que, em dias de chuva, as ruelas empedradas da aldeia de Samodães podem ser muito escorregadias.
- Os bastões de caminhada não são indispensáveis, mas ajudam sempre.
- Sendo certo que tanto pode estar um calor insuportável como a chover copiosamente, vista-se de acordo com as condições climatéricas. E, de preferência, siga as recomendações habituais de se vestir por camadas.
Onde ficar
Caso queira ficar nas proximidades do trilho, não poderia deixar de recomendar a extraordinária Quinta do Vallado e, na outra margem, o excelso Six Senses e a popular Quinta da Pacheca.
Outras opções de grande qualidade em Peso da Régua são o soberbo Original Douro Hotel (se procura um hotel), a imponente Casa de São Domingos e a fantástica Casa do Romezal (se procura dormir em ambiente rural). Ficará bem hospedado em qualquer um deles.
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