Não me recordo onde vi a primeira fotografia dos frescos da Igreja de Laghami, um pequeno tesouro também conhecido como Catedral da Transfiguração, na zona velha de Mestia. Mas nesse momento decidi que tinha mesmo de a visitar.
Uma vez em Mestia, principal povoação da região montanhosa de Svaneti, caminhei até ao velho bairro de Laghami (julgo que é o bairro mais antigo de Mestia), um pouco afastado do centro da povoação. Fui à procura da igreja, que encontrei fechada e sem sinal de presença humana.
Esperei que alguém passasse numa daquelas ruas, perguntei quem me poderia abrir a porta e uns jovens prontificaram-se a ligar a Rezo, responsável pelas chaves da Igreja de Laghami.
Como ele não atendeu, fomos a sua casa, uma centena de metros acima da igreja: “Rezo! Rezo!”, gritou o jovem. Mas a resposta que ecoou da porta de casa foi desanimadora: ele tinha ido a Zugdidi e talvez só voltasse no dia seguinte. Talvez.
O meu plano era viajar no dia seguinte até Ushguli, pelo que a Igreja de Laghami teria de esperar pelo meu regresso a Mestia. Seria a derradeira oportunidade para conseguir visitar a igreja.
Um par de dias depois, de regresso a Mestia, voltei então a caminhar até Laghami, na esperança de encontrar Rezo. Como seria de esperar, a igreja estava novamente fechada – mas eu já sabia onde ele morava. Fui até ao portão da casa, gritei pelo seu nome e… ele apareceu. Expliquei-lhe ao que vinha, e sem hesitar prontificou-se a abrir a igreja. Bingo!
E assim, na sua companhia, fui conhecer o interior da Catedral da Transfiguração.
Rezo levou-me ao segundo piso do edifício, construído entre os séculos XIV e XV. Uma pequena porta de madeira “guardada” por muitas velas e imagens de Jesus e Maria era tudo o que me separava do interior da igreja. Até ali já tinha conseguido entrar quando tentei visitar a igreja dias antes, mas aquela porta sempre esteve fechada à chave. Assim que Rezo a abriu, começou o verdadeiro deslumbramento.
Uma capela minúscula, com frescos em excelente estado de conservação nas paredes e no teto. Foi isso que encontrei. A exceção era um pedaço de teto em que as pinturas foram literalmente lavadas por ação de chuvadas intensas ocorridas num inverno particularmente duro – informou Rezo.
Rezo ia explicando o significado de algumas das figuras retratadas nos frescos, mas confesso que estava tão assoberbado pelas imagens que não prestei suficiente atenção para aqui partilhar pormenores. Limitei-me a contemplar, a desfrutar do momento de pescoço curvado e olhar brilhante.
Até que Rezo fez menção de querer mostrar algo mais….
Igreja de Laghami: a pequena capela em honra de Santa Bárbara
Pensava que a visita acabaria ali e que não haveria mais nada para ver, mas Rezo tinha outros planos. Fez questão de me levar ao piso térreo do edifício e abrir uma outra porta fechada à chave. É a zona mais antiga da igreja, datada do século IX e, ao que consta, erigida em honra de Santa Bárbara, a “Grande Mártir”.
E, quando pensei que nada mais me poderia surpreender, eis que uma minúscula capela com frescos pintados há muitas centenas de anos e em relativo mau estado me deixou de olhos humedecidos. Os frescos, sempre os frescos. Que privilégio estar ali!
Antes das despedidas, pedi a Rezo para o fotografar. Parecia genuinamente feliz pelo meu interesse na igreja. Hoje, envergonho-me de ter pensado que me iria pedir dinheiro pela visita guiada…
Se gosta de frescos, considere também visitar mosteiros como o de David Gareja e o de Gelati, na Geórgia, ou até o Mosteiro Khor Virap e o Mosteiro de Tatev, na vizinha Arménia.
Guia prático
Como chegar
Estando em Mestia, não tem muito que saber: basta caminhar até ao bairro Laghami. A igreja fica a 2km do posto de turismo, no centro de Mestia (ver localização no Google Maps). O mais provável é que a encontre encerrada, mas agora já sabe o que fazer.
Note que vale a pena combinar a ida ao bairro Laghami para visitar também o Mikhail Khergiani House Museum, localizado muito perto da igreja.
Onde ficar
Eu fiquei na Guesthouse with Pine Trees, uma pousada muito simples mas super bem localizada, no coração de Mestia. Na altura em que visitei Mestia, pareceu-me uma guesthouse bastante aceitável e com boa relação qualidade/preço.
Caso pretenda um bom hotel em Mestia, saiba que o Chalet Mestia é, na minha opinião, a escolha perfeita. É um hotel excelente, com ar de hotel de montanha, muito limpo e bem cuidado. Não é, no entanto, dos hotéis mais baratos de Mestia.
Num segmento mais barato, a Bapsha Guesthouse é, seguramente, uma das melhores pousadas familiares de Mestia – alguns furos acima da simplicidade da maioria dos alojamentos da vila. Igualmente boas são as Roza’s guesthouse, a Mushkudiani Manor e a Travel Inn House. Mas há muitas mais (Mestia vive do turismo) – como poderá facilmente constatar pesquisando através do link abaixo.
Seguro de viagem
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