Dia Mundial da Criança: na escola do mundo (#38)

Por Luísa Pinto
Dia da Criança: shell beach
Dia da Criança brincando em Shell Beach, Austrália

A Pikitim tem crescido muito durante a viagem, e é hoje uma menina bem diferente daquela que partiu de Portugal em janeiro último. Está mais adulta, sem perder a ingenuidade própria da idade. Continua a fazer as fichas de trabalho curriculares, mas também absorve experiências e conhecimentos que uma sala de aula nunca lhe daria. Para ser perfeito, precisava apenas da companhia dos seus mais preciosos tesouros: os amigos.

Ontem foi Dia Mundial da Criança e o Diário da Pikitim assinala a data com uma crónica diferente do habitual. A propósito do dia que recorda o direito das crianças serem crianças, fazemos uma espécie de balanço com pupilas de pais que observam a evolução da sua filha numa vida em movimento constante pelas estradas deste mundo. Um texto – mais que todos os outros – dedicado à criança tão especial que nos acompanha na pele de nómadas dos tempos modernos.

É um ano diferente, este. Especialmente para a Pikitim. O seu Jardim-Escola está longe, apesar de ela acompanhar os conteúdos lecionados à sua turma fazendo uma ficha de trabalho todos os dias úteis. É assim, aliás, que vai sabendo em que dia da semana está. “Hoje é sábado, mãe? Então não preciso de trabalhar”, relembra, semanalmente. De segunda a sexta, abastece-se de todo esse indispensável conhecimento “curricular” que a acompanhará vida fora. Mas em todos os sete dias da semana, outras não menos importantes aprendizagens lhe são proporcionadas pelas experiências vividas nesta viagem, ela própria uma “escola de mundo e de vida”, nas palavras do diretor do Jardim-Escola da Pikitim. E isso é coisa que já se nota nas atitudes da petiza.

Nestes primeiros meses de volta ao mundo, e de contacto intenso e ininterrupto entre pais e filha, nota-se que a Pikitim cresceu. Muito. Não só fisicamente, como é normal da idade, mas também ao nível da maturidade afetiva e do conhecimento do mundo e da vida. A viagem está a fazer-lhe bem. Claramente. A abrir-lhe horizontes para um futuro risonho e sem preconceitos.

Desde que partimos, a Pikitim já viu gente de diversas raças, muitos países e paisagens, várias línguas, diferentes graus de conforto, a pobreza e a riqueza, a dureza do trabalho (ela deixou-se sensibilizar, por exemplo, pela árdua labuta nos arrozais de Bali). Já vivenciou alguma multiplicidade cultural e conviveu com a diversidade religiosa. Experimentou comer com pauzinhos e com as mãos, adorou pintar e vestir sarongs, aprendeu a descalçar-se para entrar em casas ou templos e até a respeitar um longo dia de silêncio imposto pelo calendário balinês. Com a mesma naturalidade de quem está a brincar com as suas Polly Pocket, a jogar às cartas ou a fazer um desenho para enviar para as avós, os amigos ou os professores e colegas do Jardim-Escola.

Esta viagem tem tido, pois, momentos irrepetíveis, protagonizados pela curiosidade, ingenuidade e imaginação que só uma criança consegue ter. Um teleférico é facilmente visto como um pé de feijão gigante e uma torre de telecomunicações pode ser, afinal, a casa onde vive Rapunzel. Da mesma forma que os milhares de peixes coloridos encontrados nos mares asiáticos perdem todo o protagonismo para um único peixe-palhaço, por causa de Nemo. E assim o mundo real se adapta ao universo da fantasia infantil.

Estamos certos que, se fosse pedido à Pikitim para fazer um pequeno balanço do que têm sido os primeiros meses desta viagem, ela diria que a experiência tem sido “maravilhosa”. É uma palavra que emprega com alguma facilidade desde que iniciámos a viagem. Porque anda feliz.

Sabe reconhecer “lugares incríveis” como os que encontrou no arquipélago Bacuit, nas Filipinas, e apreciar as brincadeiras proporcionadas por duas visitas ao Museu Pambata, na capital Manila. E guarda a ilha tailandesa de Koh Muk no coração, como um dos seus lugares preferidos porque, apesar de estar meio adoentada, foi onde conheceu Lincoln, um menino britânico-tailandês de três anos, a sua primeira grande amizade na estrada.

Pela mesma razão – a de ter amigos por perto -, a Pikitim não tem dúvidas em afirmar que o seu lugar preferido foi Langkawi. Porque partilhou quase todos os momentos na ilha malaia com a portuguesa Margarida, sensivelmente da sua idade, de quem se tornou amiga inseparável. Ao rol de amigos que fez nesta viagem, deve ainda juntar-se a holandesa Astrid, de cinquenta e muitos anos, que conheceu na ilha de Palawan e adotou como mãe, amiga, irmã – nunca saberemos! -, e os irmãos Latif e Najwa, com quem correu atrás de cabras e galinhas numa aldeia perto de Borobudur, na ilha indonésia de Java.

Com a Margarida foi fácil brincar; com os outros, havia a barreira da língua que, aos poucos, procurou ultrapassar. Começou com gestos, depois umas palavras a medo e, por agora, já consegue responder a perguntas básicas em inglês. E é lindo ver tudo isso acontecer tão rapidamente. Fazer com que ela aprenda a falar algumas palavras na língua local – olá, obrigado – tem sido uma das nossas preocupações; e é comum encontrá-la a falar sozinha (perdão, com os seus bonecos e os seus botões!) numa língua imaginária, onde se percebem algumas palavras em inglês, malaio ou tailandês.

E para nós, pais, como tem sido a experiência? Tem sido fantástico ver o mundo pelos olhos de uma criança e aprender com ela. Porque é a sua curiosidade infantil que, muitas vezes, nos obriga a procurar respostas. Porque está sempre a surpreender-nos com a sua perspicácia, com a sua atenção, com a sua sede de saber. E porque tem sido gratificante voltarmos a ser crianças para participar nas brincadeiras que ela inventa e entrar num mundo de faz-de-conta cada vez mais elaborado.

No entanto, apesar de tudo estar a ser “maravilhoso”, não há dúvida que falta algo à Pikitim. Para ter um Dia Mundial da Criança perfeito, a culminar os meses fantásticos que temos passado em conjunto, faltou que se abeirasse de nós um pequeno autocarro com os seus principais tesouros: os seus amigos. É quase sempre dos amigos de Portugal que ela se lembra quando encontra algo que a entusiasma ou conhece um sítio que a surpreende. E pensa logo em escrever cartas, mandar postais ou, mais comum, fazer desenhos para partilhar com todos eles. Ela gostaria de ter os amigos por perto – é disso que sente falta. Porque uma criança precisa de outras para ser criança. Ontem e todos os dias.

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Sobre o Diário da Pikitim

Este post pertence a uma série que relata uma volta ao mundo em família, com 10 meses de duração. Um projeto para descomplicar e mostrar que é possível viajar com crianças pequenas, por todo o mundo. As crónicas da viagem foram originalmente publicadas na revista Fugas e no blog Diário da Pikitim.

Veja também o artigo intitulado Viajar com crianças: 7 coisas que os pais devem saber.

Luísa Pinto

Luísa Pinto

Jornalista e mãe, gosta de livros, vinho tinto e experimentar camas em lugares novos. Deu a volta ao mundo com um filho, gostava de repetir a dose agora que tem dois. É orgulhosa co-fundadora da Hotelandia e do Rostos da Aldeia.

3 comentários em “Dia Mundial da Criança: na escola do mundo (#38)”

  1. Laura

    Deliciei-me a ler esta crónica. Na verdade, não tenho palavras que descrevam o que sinto neste momento. Comovi-me, aliás. Por isso, fica apenas um beijinho para a linda Pikitim. Para os pais, um forte abraço e uma só palavra: parabéns!

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  2. Graça Ribeiro

    Claramente estão todos ‘no bom caminho’. Continuação de muito boa viagem e obrigada por partilharem connosco.

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  3. sandra

    Muito comovente e encantador.

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