Foi uma semana passada numa ilha absolutamente deslumbrante, como todas as ilhas da Tailândia deveriam ser: turísticas, é certo, mas sem os exageros de outras paragens. E assim, a simplicidade, beleza e bom senso de Koh Jum conquistaram o nosso coração; e ainda tivemos o bónus de encontrar velhos amigos viajantes.
Há escolhas felizes, e Koh Jum foi uma delas. A ilha encontra-se no ponto perfeito de desenvolvimento, um meio termo que preserva a autenticidade tailandesa sem o crescimento desenfreado a que chamam progresso visível noutros locais do sul do país. Uma delícia, Koh Jum – pelo menos por enquanto.
Daqui a uns anos estará porventura transformada numa nova Phuket, Railay ou Phi Phi, mas por ora os bungalows ainda são de madeira tosca, não há vendedores a incomodar nem água quente nos chuveiros, as garrafas de plástico não se acumulam no areal, boa parte das estradas não são alcatroadas, a poluição é residual e a atividade primordial não é beber cerveja – mas antes apreciar a natureza, relaxar, viver devagar.
Koh Jum não tem sequer uma língua de betão conquistada ao mar para fazer de ancoradouro na costa oeste da ilha, onde existe um longo areal e se concentra o alojamento em bungalows, facto que torna as chegadas e partidas à ilha uma emoção. Isto porque a paragem dos ferryboats que ligam Krabi a Koh Lanta, e de permeio param ao largo de Koh Jum, faz-se em alto mar, em pontos predeterminados onde os passageiros saltam para pequenos barcos enviados pelos donos dos bungalows. Nós saímos na primeira paragem, mais a norte, cuja paisagem rochosa e selvagem é dominada pela montanha Pu que se eleva a pouco mais de 400 metros de altitude – o suficiente para ser notada.
Para quem, como Oon, vive em Pu, foi precisamente essa costa rochosa, o acentuado desnível e a proteção geográfica proporcionada pelas ilhas Phi Phi, adiante, que em 2004 lhes valeu, por altura do tsunami que devastou a região. “Sim, já cá estávamos e, felizmente, não nos aconteceu nada”, contou, apontando para as ilhas que os olhos vislumbravam no horizonte: “As Phi Phi é que ficaram todas destruídas”, concluiu. Oon é tailandês, casado com uma francesa e, juntos, construíram um refúgio acolhedor onde nos alojámos em Koh Jum.
A localização que o salvou no tsunami obriga-os – e a nós, visitantes – a demoradas deslocações, já que boa parte das praias, escolas, supermercados e demais infraestruturas se situa na zona sul da ilha. Para quem não tem transporte próprio, uma viagem a Baan Koh Jum, a principal aldeia da ilha, ainda assim minúscula, implica uma caminhada pela praia, a subida até uma estrada de terra vermelha toda esburacada onde os tuk tuk não se atrevem a entrar e nova caminhada por entre seringueiras até um ponto designado por Magic Beach, onde um tuk tuk haveria de vir ao nosso encontro para nos levar, por estradas de terra e placas de cimento, até Baan Koh Jum (a principal estrada da ilha está ainda a ser construída, com velhos carris ferroviários a fazer de moldes onde assenta o betão – não asfalto).
Certo dia, estávamos na aldeia quando vimos uma mensagem cibernética: “Estamos a caminho de Krabi e depois de Koh Jum, hoje mesmo. Devemos chegar à ilha amanhã de manhã. Escrevam qualquer coisa ou telefonem.” Vinha assinada pela dupla Rafael e Tânia, amigos viajantes que empreendem neste momento uma viagem de bicicleta entre Portugal e Macau. O “hoje” tinha apenas dois dias – íamos a tempo. Ligámos e, horas depois, partilhávamos com a dupla ciclista as águas quentes e o extenso areal fino e branco de Long Beach, a maior praia do sul da ilha. E a Pikitim pode falar português com outras pessoas que não os pais.
Para além do reencontro com velhos amigos e do ambiente relaxado de Koh Jum que prende viajantes durante semanas a fio, em Long Beach havia também uma dezena de crianças de tenra idade, alemãs e nórdicas, parceiras ideais para brincadeiras na água com a Pikitim. Foi uma festa, portanto, e de novo os dias foram passados mar adentro, horas a fio.
Num desses momentos, ao ouvir o nome das ilhas que pontilhavam o horizonte, a Pikitim espantou-se: “A sério que aquelas ilhas se chamam Pipi, mãe? Mas chamam-se Pipi como o meu ‘pipi’?”. E desatou à gargalhada.
Foi precisamente nas imediações das ilhas Phi Phi que a Pikitim se estreou no snorkelling.
Temos a certeza de que a ilha de Koh Jum vai ficar na memória da Pikitim pelo melhor dos motivos. É a Koh Jum que está dedicada uma das páginas mais bonitas do diário que a Pikitim vai desenhando – um fundo do mar recheado de peixinhos coloridos, como ela imaginava e, agora, como ela os viu.
Mas há outra razão que, para a Pikitim, fará de Koh Jum eterno na sua memória. Não tanto o caráter genuíno da ilha, que convenceu sobretudo os pais. Ou o facto de ter sido em Koh Jum que encontrou o Rafael e a Tânia, a dupla da grande viagem de bicicleta até Macau. O que a Pikitim lembrará para todo o sempre é o facto de ter sido no último dia passado em Koh Jum que perdeu o seu primeiro dente de leite.
Aconteceu de manhã, ao pequeno-almoço, enquanto trincava um pedaço de melancia, no dia em que iríamos apanhar novo barco para mudar de poiso. A partir desse instante, a sua preocupação passou a ser como é que a fada dos dentes a conseguiria encontrar na Tailândia e, mais ainda, como é que poderia deixar-lhe um aviso debaixo da almofada se o dente tinha sido engolido com a melancia.
“Já sei, mãe! Desenho um dente e ponho debaixo da almofada. Espero que a fadinha dos dentes saiba que eu vou para Koh Lanta”, desabafou. E não é que a fada dos dentes encontrou a Pikitim?
Veja também o guia de Koh Jum.
Guia prático
Onde ficar
Alguns dos bungalows de melhor qualidade ficam na praia Ting Rai, na zona norte da ilha, nomeadamente o OonLee Bungalows, o Ting Rai Bay Resort e Koh Jum Resort – este último com piscina, caso isso seja relevante. A zona é uma opção perfeita para quem quer sossego total e dispensa uma praia sem rochas e de qualidade. Pelo que me apercebi, os resorts de Koh Pu são frequentados maioritariamente por casais sem filhos e viajantes de maior idade.
Opção distinta é Long Beach. É lá que se encontram muitos mochileiros por causa dos preços baixos e casais com filhos pequenos por causa da boa praia. Os bungalows são mais simples e mais baratos, e o ambiente é muito agradável e descontraído. Sugerem-se os populares Joy Bungalows, New Bungalows ou Bo Daeng. Tudo somado, ficar alojado em Long Beach é quase sempre melhor opção do que ficar na zona norte de Koh Pu.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
Sobre o Diário da Pikitim
Este post pertence a uma série que relata uma volta ao mundo em família, com 10 meses de duração. Um projeto para descomplicar e mostrar que é possível viajar com crianças pequenas, por todo o mundo. As crónicas da viagem foram originalmente publicadas na revista Fugas e no blog Diário da Pikitim.
Veja também o artigo intitulado Viajar com crianças: 7 coisas que os pais devem saber.
Acompanho a crónica da Pikitim desde o primeiro dia. E, no Fugas, é sempre com alegria que leio as vossas aventuras nas mais diversas paragens deste planeta, tão grande e tão pequeno.
Desejo aos 3 a continuação de uma grande viagem. Não deixem de nos dar notícias, sempre com a forma abrangente e multicultural como o vêm fazendo até aqui.
Divirtam-se! Por cá, leio e releio os vossos relatos para me ir inspirando para viagens do mesmo género!
Olá Rodrigo
Muito obrigada pela simpática mensagem e sobretudo obrigada pela boa companhia que nos vai fazendo!
Um abraço
Não consigo parar de ficar deslumbrada com o colorido da escrita e a forma como me transporta. Obrigada :)