Encantados com a ilha Koh Jum (#10)

Long Beach, Koh Jum
Bom ambiente em Long Beach, Koh Jum

Foi uma semana passada numa ilha absolutamente deslumbrante, como todas as ilhas da Tailândia deveriam ser: turísticas, é certo, mas sem os exageros de outras paragens. E assim, a simplicidade, beleza e bom senso de Koh Jum conquistaram o nosso coração; e ainda tivemos o bónus de encontrar velhos amigos viajantes.

Há escolhas felizes, e Koh Jum foi uma delas. A ilha encontra-se no ponto perfeito de desenvolvimento, um meio termo que preserva a autenticidade tailandesa sem o crescimento desenfreado a que chamam progresso visível noutros locais do sul do país. Uma delícia, Koh Jum – pelo menos por enquanto.

Daqui a uns anos estará porventura transformada numa nova Phuket, Railay ou Phi Phi, mas por ora os bungalows ainda são de madeira tosca, não há vendedores a incomodar nem água quente nos chuveiros, as garrafas de plástico não se acumulam no areal, boa parte das estradas não são alcatroadas, a poluição é residual e a atividade primordial não é beber cerveja – mas antes apreciar a natureza, relaxar, viver devagar.

Koh Jum, Tailândia
Interior de Koh Jum, Tailândia

Koh Jum não tem sequer uma língua de betão conquistada ao mar para fazer de ancoradouro na costa oeste da ilha, onde existe um longo areal e se concentra o alojamento em bungalows, facto que torna as chegadas e partidas à ilha uma emoção. Isto porque a paragem dos ferryboats que ligam Krabi a Koh Lanta, e de permeio param ao largo de Koh Jum, faz-se em alto mar, em pontos predeterminados onde os passageiros saltam para pequenos barcos enviados pelos donos dos bungalows. Nós saímos na primeira paragem, mais a norte, cuja paisagem rochosa e selvagem é dominada pela montanha Pu que se eleva a pouco mais de 400 metros de altitude – o suficiente para ser notada.

Para quem, como Oon, vive em Pu, foi precisamente essa costa rochosa, o acentuado desnível e a proteção geográfica proporcionada pelas ilhas Phi Phi, adiante, que em 2004 lhes valeu, por altura do tsunami que devastou a região. “Sim, já cá estávamos e, felizmente, não nos aconteceu nada”, contou, apontando para as ilhas que os olhos vislumbravam no horizonte: “As Phi Phi é que ficaram todas destruídas”, concluiu. Oon é tailandês, casado com uma francesa e, juntos, construíram um refúgio acolhedor onde nos alojámos em Koh Jum.

OonLee Bungalows, Koh Jum
Entardecer nos OonLee Bungalows, norte de Koh Jum

A localização que o salvou no tsunami obriga-os – e a nós, visitantes – a demoradas deslocações, já que boa parte das praias, escolas, supermercados e demais infraestruturas se situa na zona sul da ilha. Para quem não tem transporte próprio, uma viagem a Baan Koh Jum, a principal aldeia da ilha, ainda assim minúscula, implica uma caminhada pela praia, a subida até uma estrada de terra vermelha toda esburacada onde os tuk tuk não se atrevem a entrar e nova caminhada por entre seringueiras até um ponto designado por Magic Beach, onde um tuk tuk haveria de vir ao nosso encontro para nos levar, por estradas de terra e placas de cimento, até Baan Koh Jum (a principal estrada da ilha está ainda a ser construída, com velhos carris ferroviários a fazer de moldes onde assenta o betão – não asfalto).

Certo dia, estávamos na aldeia quando vimos uma mensagem cibernética: “Estamos a caminho de Krabi e depois de Koh Jum, hoje mesmo. Devemos chegar à ilha amanhã de manhã. Escrevam qualquer coisa ou telefonem.” Vinha assinada pela dupla Rafael e Tânia, amigos viajantes que empreendem neste momento uma viagem de bicicleta entre Portugal e Macau. O “hoje” tinha apenas dois dias – íamos a tempo. Ligámos e, horas depois, partilhávamos com a dupla ciclista as águas quentes e o extenso areal fino e branco de Long Beach, a maior praia do sul da ilha. E a Pikitim pode falar português com outras pessoas que não os pais.

Para além do reencontro com velhos amigos e do ambiente relaxado de Koh Jum que prende viajantes durante semanas a fio, em Long Beach havia também uma dezena de crianças de tenra idade, alemãs e nórdicas, parceiras ideais para brincadeiras na água com a Pikitim. Foi uma festa, portanto, e de novo os dias foram passados mar adentro, horas a fio.

Num desses momentos, ao ouvir o nome das ilhas que pontilhavam o horizonte, a Pikitim espantou-se: “A sério que aquelas ilhas se chamam Pipi, mãe? Mas chamam-se Pipi como o meu ‘pipi’?”. E desatou à gargalhada.

Foi precisamente nas imediações das ilhas Phi Phi que a Pikitim se estreou no snorkelling.

Passeio de barco em Koh Jum
Passeio de barco organizado pelos OonLee Bungalows, de Koh Jum

Temos a certeza de que a ilha de Koh Jum vai ficar na memória da Pikitim pelo melhor dos motivos. É a Koh Jum que está dedicada uma das páginas mais bonitas do diário que a Pikitim vai desenhando – um fundo do mar recheado de peixinhos coloridos, como ela imaginava e, agora, como ela os viu.

Mas há outra razão que, para a Pikitim, fará de Koh Jum eterno na sua memória. Não tanto o caráter genuíno da ilha, que convenceu sobretudo os pais. Ou o facto de ter sido em Koh Jum que encontrou o Rafael e a Tânia, a dupla da grande viagem de bicicleta até Macau. O que a Pikitim lembrará para todo o sempre é o facto de ter sido no último dia passado em Koh Jum que perdeu o seu primeiro dente de leite.

Aconteceu de manhã, ao pequeno-almoço, enquanto trincava um pedaço de melancia, no dia em que iríamos apanhar novo barco para mudar de poiso. A partir desse instante, a sua preocupação passou a ser como é que a fada dos dentes a conseguiria encontrar na Tailândia e, mais ainda, como é que poderia deixar-lhe um aviso debaixo da almofada se o dente tinha sido engolido com a melancia.

“Já sei, mãe! Desenho um dente e ponho debaixo da almofada. Espero que a fadinha dos dentes saiba que eu vou para Koh Lanta”, desabafou. E não é que a fada dos dentes encontrou a Pikitim?

Veja também o guia de Koh Jum.

Guia prático

Onde ficar

Alguns dos bungalows de melhor qualidade ficam na praia Ting Rai, na zona norte da ilha, nomeadamente o OonLee Bungalows, o Ting Rai Bay Resort e Koh Jum Resort – este último com piscina, caso isso seja relevante. A zona é uma opção perfeita para quem quer sossego total e dispensa uma praia sem rochas e de qualidade. Pelo que me apercebi, os resorts de Koh Pu são frequentados maioritariamente por casais sem filhos e viajantes de maior idade.

Opção distinta é Long Beach. É lá que se encontram muitos mochileiros por causa dos preços baixos e casais com filhos pequenos por causa da boa praia. Os bungalows são mais simples e mais baratos, e o ambiente é muito agradável e descontraído. Sugerem-se os populares Joy Bungalows, New Bungalows ou Bo Daeng. Tudo somado, ficar alojado em Long Beach é quase sempre melhor opção do que ficar na zona norte de Koh Pu.

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Sobre o Diário da Pikitim

Este post pertence a uma série que relata uma volta ao mundo em família, com 10 meses de duração. Um projeto para descomplicar e mostrar que é possível viajar com crianças pequenas, por todo o mundo. As crónicas da viagem foram originalmente publicadas na revista Fugas e no blog Diário da Pikitim.

Veja também o artigo intitulado Viajar com crianças: 7 coisas que os pais devem saber.

Luísa Pinto

Luísa Pinto

Jornalista e mãe, gosta de livros, vinho tinto e experimentar camas em lugares novos. Deu a volta ao mundo com um filho, gostava de repetir a dose agora que tem dois. É orgulhosa co-fundadora da Hotelandia e do Rostos da Aldeia.

3 comentários em “Encantados com a ilha Koh Jum (#10)”

  1. Rodrigo de Almada Martins

    Acompanho a crónica da Pikitim desde o primeiro dia. E, no Fugas, é sempre com alegria que leio as vossas aventuras nas mais diversas paragens deste planeta, tão grande e tão pequeno.

    Desejo aos 3 a continuação de uma grande viagem. Não deixem de nos dar notícias, sempre com a forma abrangente e multicultural como o vêm fazendo até aqui.

    Divirtam-se! Por cá, leio e releio os vossos relatos para me ir inspirando para viagens do mesmo género!

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    • Luísa Pinto

      Olá Rodrigo
      Muito obrigada pela simpática mensagem e sobretudo obrigada pela boa companhia que nos vai fazendo!
      Um abraço

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  2. Sandra

    Não consigo parar de ficar deslumbrada com o colorido da escrita e a forma como me transporta. Obrigada :)

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