Mandada construir pelo Rei George III da Geórgia na segunda metade do século XII e terminada pela sua filha, a Rainha Tamara, no ano de 1185, Vardzia foi pensada para ser uma cidade rupestre escavada nas escarpas rochosas do Monte Erusheli. Fica nas margens do Rio Kura, bem perto da cidade de Aspindza, no sul da Geórgia.
Acontece que Tamara, que foi a primeira mulher a governar a Geórgia e presidiu à chamada “era dourada” da monarquia medieval georgiana, viria, após a morte do pai, a alterar o propósito inicial da construção para fins monásticos.
Nascia assim o Mosteiro de Vardzia.
A literatura oficial, patente num painel colocado à entrada do complexo, descreve Vardzia como um “monumento extraordinário pela importância histórica e artística da sua arquitetura e dos seus frescos”. Concordo inteiramente.
É, sem qualquer dúvida, uma das cidades escavadas nas rochas mais fantásticas que já visitei.
Entre aposentos reais, salas residenciais, celas monásticas, cozinhas, estábulos, adegas, galerias conectando-as, túneis diversos, reservatórios de água e um engenhoso sistema de abastecimento de água, a cidade de Vardzia era composta por centenas de grutas escavadas na rocha e distribuídas por treze níveis ao longo da escarpa.
É verdadeiramente impressionante!
Nas próximas linhas, partilho a minha experiência no também chamado Mosteiro de Vardzia; com a certeza de ter sido um dos (muitos) pontos altos do meu roteiro na Geórgia. Vamos a isso.
A minha visita a Vardzia
Saí da Guesthouse Tirebi, onde fiquei hospedado, bastante cedo.
A ideia era ter tempo de fazer uma ou duas paragens estratégicas com vistas excelentes sobre a vertente da montanha onde Vardzia foi construída; e ainda chegar antes da bilheteira abrir – e, com isso, evitar os grandes grupos que, pouco depois, começam a chegar nos autocarros de turismo.
A primeira visão de Vardzia foi, pois, da berma da estrada. Uma escarpa de granito, praticamente na vertical, com muitas dezenas de “buracos” escavados na rocha. Uma imagem avassaladora, apesar de saber que representava uma pequeníssima parte da grandiosidade da Vardzia de outrora.
Isto porque, em 1283, apenas cem anos após a sua fundação, um terramoto levou ao colapso de boa parte do complexo. Hoje, restarão apenas três centenas de grutas – ainda assim o suficiente para impressionar qualquer visitante.
Chegado a Vardzia, esperei ainda uns bons 15 minutos até que, à hora certa, pude comprar os bilhetes de acesso ao complexo de túneis e grutas. Depois foi começar a subir e… explorar.
Havendo pouquíssimos turistas em Vardzia àquela hora, foi um prazer de todo o tamanho ir entrando e saindo das grutas; percorrer túneis estreitos; subir escadarias íngremes (algumas assustadoramente íngremes!); e, sempre que possível, apreciar a paisagem para o vale, lá em baixo.
Fui seguindo o percurso de sentido único obrigatório, até que cheguei à chamada Igreja da Dormição de Maria. É a principal estrutura religiosa do mosteiro.
À entrada, juntamente com a torre sineira, um impressionante conjunto de frescos cobria as paredes e tetos, numa espécie de prelúdio do que encontraria no interior. Wow!
Dentro da igreja, o deslumbramento aumentou (infelizmente, não era permitido fotografar).
Quem acompanha as minhas viagens, já saberá do meu fascínio por frescos. E os de Vardzia não ficam atrás das pinturas memoráveis que encontrei, por exemplo, nos mosteiros pintados de Bucovina (Roménia), no Mosteiro de Gracanica (Kosovo), no Mosteiro de São Pantaleão em Skopje ou no Mosteiro de St. Naun, junto ao Lago Ohrid (ambos na Macedónia).
Na Igreja da Dormição de Maria, as pinturas retratam não apenas cenas religiosas mas também o Rei George III e a sua filha Tamara, responsáveis pela edificação do mosteiro.
Ao longo da visita, passei ainda por uma pequena capela que, acredito, possa ter sido usada pelos monges de outrora. Até porque, no seu auge, terão vivido no Mosteiro de Vardzia dois milhares de monges.
O curioso é que, ainda hoje, apesar de destruída e desabitada, há, ao que consta, cinco monges a viver naquelas escarpas pedregosas. Como seria de esperar, não me cruzei com nenhum (a zona onde se encontram os seus aposentos está, naturalmente, vedada ao público).
Uma vez terminada a visita a Vardzia, segui até à Tirebi Farmhouse para almoçar, num percurso que implicou a travessia de uma belíssima ponte suspensa sobre o Rio Kura. Esperava-me uma deliciosa refeição caseira, na companhia de fantásticos anfitriões – a mesma família da Guesthouse Tirebi.
O resto do dia foi passado na região montanhosa de Samtskhe–Javakheti, com alguns curtos passeios, tempo de descanso na pousada e muita conversa com os anfitriões. Na manhã seguinte, haveria de iniciar o regresso a Tbilisi.
Visitar o Mosteiro de Vardzia foi, sem qualquer dúvida, uma das experiências mais marcantes do meu roteiro de viagem ao Cáucaso.
Guia prático
Como chegar
Apesar de Vardzia ser uma das principais atrações turísticas da Geórgia, a região não está bem servida de transportes públicos.
Assim, a partir de Tbilisi (Didube Bus Station) há sensivelmente uma marshrutka por hora com direção a Akhaltsikhe; a partir de onde deverá trocar por um transporte local para Vardzia. O mesmo se aplica para deslocações a partir de Kutaisi, com a diferença de haver apenas quatro ou cinco partidas diárias. Em ambos os casos, a viagem de marshrutka dura entre três e quatro horas até Akhaltsikhe.
Excursões organizadas
Caso prefira visitar Vardzia num tour organizado a partir de Tbilisi, numa excursão de um ou dois dias, veja por favor o link abaixo com uma seleção das melhores opções.
Dicas para visitar Vardzia
Eis algumas dicas para aproveitar ao máximo a visita a Vardzia:
- Vá cedo. Se possível, esteja na bilheteira uns 10 minutos antes da abertura, por forma a ser dos primeiros a entrar. Dessa forma antecipar-se-á à chegada dos grandes autocarros de turismo.
- Vá preparado para subir escadas e passagens estreitas. Não é para assustar, mas vá mentalizado que visitar Vardzia requer algum esforço físico.
- Leve calçado fechado, como botas de trekking. Em Vardzia há muitas escadas, desníveis e lugares onde pode facilmente escorregar, pelo que havaianas e similares não são aconselháveis.
- A visita é de sentido único. A visita faz-se através de um percurso de sentido único previamente definido, pelo que em teoria não pode voltar para trás. Veja tudo com calma, e vá avançando lentamente.
- Se tem problemas de mobilidade, não vá. Dada a sua natureza, com vários níveis escavados nas rochas e muitas escadas (algumas com grande desnível), Vardzia é um local pouco aconselhável para pessoas com dificuldades de locomoção.
- Caso tenha transporte próprio, considere complementar o dia com uma visita ao Castelo de Khertvisi, uma das maiores fortalezas da Geórgia.
Onde ficar
Recomendo vivamente que fique a dormir perto da cidade escavada de Vardzia, por forma a entrar no complexo de manhã cedo. Eu fiquei hospedado na Guesthouse Tirebi e não poderia recomendar mais. Os anfitriões, Marine e Sergo, são de uma amabilidade sem limites – e só por eles já valeria a pena a estadia.
Alternativamente, espreite a muito elogiada Guesthouse Aleksandre, a dois passos da Tirebi. Ficam ambas muito perto do Mosteiro de Vardzia.
Caso pretenda mais luxo e conforto, o quatro estrelas Vardzia Resort é, seguramente, a sua melhor aposta na região. É um hotel de grande qualidade! Para outras opções de alojamento perto de Vardzia, use o link abaixo.
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