Estava no quarto dia do meu roteiro de viagem na Argélia quando me dirigi ao terminal doméstico do aeroporto de Argel para apanhar um voo rumo a Timimoun. Trata-se de um povoado localizado em pleno deserto do Sahara, na região centro da Argélia, onde “chove uma ou duas vezes por ano”; e que decidi visitar por impulso.
Quando lá cheguei, a polícia pediu-me o passaporte. Havia três viajantes estrangeiros no voo e a todos retiraram o passaporte e mandaram aguardar. Perguntaram em que hotel iria ficar e indicaram-me o motorista enviado pela pousada (que estava à espera no terminal). Uns 15 minutos depois, devolveram o passaporte sem mais explicações. Foi o mote para uma estadia controlada pelas forças de segurança.
A minha visita a Timimoun
Estávamos no início da tarde e o calor era tremendo. E isso significou ficar no hotel um par de horas, protegido do sol inclemente do deserto. Só ao final da tarde saí para conhecer Timimoun.
Por essa altura, acompanhava-me o argelino Mohamed, um guia local. O objetivo era seguir de jipe para as dunas envolventes, a tempo de tomar um chá enquanto contemplava o pôr do sol. Antes de seguir para as dunas, porém, passei fugazmente pelo mercado de Timimoun; caminhei pelas ruas da zona velha da cidade, onde Mohamed me queria mostrar o “castelo”, e depois entrei numa espécie de escola onde ensinam as artes tradicionais de construção.
Timimoun fica numa região conservadora e tradicional, e a cidade conta com elementos arquitetónicos muito peculiares. No reboco das casas e nos muros antigos, por exemplo, os construtores de Timimoun usam uma técnica ancestral para minimizar os efeitos do calor. Os muros antigos são, por assim dizer, às ondinhas, de cor ocre; e consta que são muito mais eficazes do que as técnicas atuais.
Enquanto caminhava pela povoação, chamou-me a atenção uma construção curiosa, em forma de colmeia, que servia de rotunda na rua principal de Timimoun. Mohamed explicou que servia para proteger “uma espécie de roda de água”, parte do ancestral sistema de irrigação local que haveríamos de visitar no dia seguinte.
Pouco depois, seguimos viagem para as dunas, não sem antes pararmos no posto da polícia. Por algum motivo, os oficiais queriam sempre saber o meu paradeiro; pelo que Mohamed tinha a missão de os informar, por telefone ou presencialmente, para onde íamos.
Assim que chegámos às dunas, Mohamed começou a preparar o chá típico da região, de sabor um pouco amargo; e eu fui explorar. De um lado, Timimoun; do outro, a imensidão do deserto do Sahara. À medida que o sol se aproximava do horizonte, as sombras iam tomando conta das areias.
Adoro este tipo de ambientes desérticos. Sinto-me sempre bem. Seja na Argélia, nos kaluts iranianos, no deserto de Gobi ou nas dunas de Ubari, na Líbia.
Sentei-me, tranquilo, a desfrutar da paisagem e a absorver o momento; até que o silêncio foi interrompido pela chegada de três turistas franco-argelinas. Era hora de me juntar ao pequeno grupo de guias e desfrutar de um chá no deserto.
As aldeias em redor de Timimoun
No dia seguinte, combinei com Mohamed visitar as aldeias em redor de Timimoun, no seu jipe.
Ao longo do passeio, fui reparando que, em muitas aldeias, as casas foram sendo literalmente engolidas pelas dunas; obrigando os moradores a abandonar as suas casas e a construírem outras a algumas centenas de metros. É por isso que, nas aldeias em torno de Timimoun, existe quase sempre uma parte velha, fantasma e desabitada (ou com poucas famílias resistentes); e uma outra mais recente, onde as pessoas moram hoje em dia. É o caso de Ighzer, Kar Feraoun e Ouled Said.
Um pouco por todo o lado, não pude também deixar de reparar nas mulheres, que usam máscaras a tapar o rosto, deixando apenas os olhos visíveis (diferente das mulheres de Ghardaia).
Visitei uma gruta – que Mohamed fez questão de me mostrar -, vários castelos em mau estado de conservação e aldeias quase desertas, e ainda o muito engenhoso sistema de irrigação local, a fazer lembrar os qanats iranianos.
Pouco depois, chegou a hora de almoçar. Fomos então até um “jardim” no povoado de Aghlad, um palmeiral junto a um oásis, regado pelas águas que ali chegam através dos canais subterrâneos construídos pelo homem.
O objetivo era fazer um piquenique com as coisas que eu tinha comprado numa mercearia de Timimoun. E por lá ficámos, protegidos pela sombra das palmeiras do calor tórrido do deserto, a comer, beber chá e conversar. Foi nessa altura que Mohamed me mostrou uma fotografia dos três filhos, todos jovens, todos rapazes. Queria uma menina, mas ainda não aconteceu.
Depois de regressarmos à cidade, pouco mais fiz. Refugiei-me na pousada e por lá fiquei (queria viajar de noite, mas a polícia não deixou).
No dia seguinte, haveria de deixar Timimoun rumo a Ghardaia num autocarro público. Mohamed tinha sido uma boa companhia; e, apesar das restrições e controlo policiais, visitar Timimoun tinha valido a pena. Mas estava feliz por finalmente ir conhecer as misteriosas mulheres de branco de Ghardaia. Era hora de partir.
Infelizmente, assim que cheguei a Ghardaia, horas mais tarde, soube da triste notícia. Pouco depois de me ter despedido de Mohamed entre sorrisos e abraços, um dos seus filhos caiu num poço e morreu. Fiquei abalado. Não imagino a dor de um pai perante tamanha tragédia.
Mais fotos de Timimoun
Guia prático
Como chegar
Para ter ideia das distâncias, de Argel a Timimoun por estrada são cerca de 1.200 km. Por isso, a não ser que tenha tempo para fazer um roteiro na Argélia muito devagar, recomendo que voe para visitar Timimoun. Pelo menos num dos sentidos.
No meu caso, voei de Argel para Timimoun com a Air Algerie por 8.800 dinares (apenas ida). Depois de explorar Timimoun, prossegui de lá para Ghardaia, mais a norte, de autocarro. Parece-me um bom compromisso.
Timimoun é seguro?
Timimoun não é uma cidade perigosa, mas o ambiente pode parecer intimidatório. O rosto das pessoas é agreste, porventura refletindo a dureza da vida sob as condições extremas do deserto do Sahara. Mas pouco mais que isso.
O problema, por assim dizer, é a polícia. Sempre que saí de carro para algum lugar, o motorista tinha de avisar a polícia e dizer para onde íamos. Era estranho; mas, na verdade, fiquei com a nítida sensação de que se tratava de um procedimento mais a pensar na minha segurança do que para me controlar. Isto porque a região foi palco, não há muitos anos, de violência e conflitos tribais; e talvez por isso as autoridades queiram garantir que sabem do paradeiro dos turistas.
Outra coisa que aconteceu foi a polícia não me deixar ir num autocarro noturno para Ghardaia (só de dia). Mais uma vez, a situação pode refletir a existência de potenciais problemas; ou então são apenas as autoridades a serem ultra-protetoras para com o turista.
Em suma, Timimoun é aparentemente seguro, mas pode ser também desconfortável.
Onde ficar
Tal como na maioria dos destinos argelinos, não é fácil encontrar recomendações de bons hotéis ou guesthouses em Timimoun. Pela minha parte, posso recomendar o Gite Akham N’Timimoun, onde fiquei alojado. Infelizmente, não está no booking, mas a reserva poderá ser feita no site oficial.
Dito isto, se preferir um hotel propriamente dito, posso dizer que visitei o Hotel Gourara e pareceu-me um ótimo hotel. Seja como for, com o incremento gradual do turismo é natural que alguns hotéis vão surgindo na central de reservas do booking; veja no link abaixo.
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