Três meses depois de partir, encerro aquilo a que poderei chamar a primeira fase desta viagem. Deixo para trás países como a Rússia, a Mongólia e a China com a certeza de ter vivido momentos únicos e inolvidáveis. Aqui fica um pequeno resumo desse período.
Quase três meses depois de iniciar esta viagem, eis-me no final daquilo a que poderei chamar a primeira etapa. Mais cedo do que o previsto, é certo. Mas uma bem-vinda mudança de ares. Tinha planeado voar para o Tibete e prosseguir para o Nepal antes de rumar definitivamente para sul mas, à última hora, o apelo do Vietname foi mais forte. Como já aqui escrevi, não há nada mais fascinante do que poder decidir, a cada instante, o que fazer no imediato, que rumo tomar no dia seguinte. Deixo para trás a burocrática mas bela Rússia, a mágica e inexplorada Mongólia e a imensa e cansativa China. Sei que muito tenho ainda pela frente nesta jornada, mas sei também que vivi já momentos absolutamente únicos e inolvidáveis.
Lugares
Jamais esquecerei, por exemplo, a beleza serena da Ilha de Olkhon em pleno Lago Baikal, os dias passados com o inglês David pedalando ilha adentro ou as faces das crianças fugindo aterrorizadas à nossa passagem. A Ilha de Olkhon, esse pequeno pedaço de terra plantado na região siberiana, ficou definitivamente guardada na minha alma.
Como jamais esquecerei a imensidão da Mongólia rural, a simplicidade e hospitalidade das suas gentes, os sorrisos das crianças, a excelência e variedade das paisagens, as noites passadas nos gers tradicionais no Deserto de Gobi, sob um céu tão estrelado como em poucos outros lugares havia visto. Ou o dia passado com aquela família de que vos falei numa crónica anterior. Estou absolutamente seguro de que, quando chegar a altura de olhar totalmente para trás, a Mongólia continuará a ser um dos mais altos pontos de toda esta odisseia.
E também não esqueço Pequim, essa cidade gigante que, por motivos que não consigo decifrar, me fascinou sobremaneira. Richard Rowe, o canadiano que lá me acolheu, tem a sua dose de responsabilidade nesse sentimento agradável. Como jamais obliterarei da memória a Grande Muralha da China, essa imponente estrutura construída a custo de muito suor e vidas humanas, imensa, arrebatadora. Quão pequenos nos sentimos perante tamanha edificação! E Yangshuo, claro, essa meca para mochileiros de todo o mundo onde, para além de ser possível parar para relaxar, a beleza do cenário natural deslumbra intensamente os sentidos.
Mas também houve pequenas coisas que me desiludiram. A começar pelo aclamado Exército de Terracota, nas proximidades de Xi’an, China. Talvez injustamente, admito. Mas o facto é que tinha visto tantas imagens antes que, ao chegar ao local das escavações, não pude deixar de sentir uma certa frustração. E claro, as grandes cidades chinesas como Xi’an, Chengdu e mesmo Kunming não deixaram grandes marcas. Demasiada poluição, o suficiente para se sobrepor às coisas boas de cada uma delas.
Equipamento de viagem
Sobre o equipamento, tenho a dizer que a mochila que escolhi é excelente, a mochila Lowpro para o equipamento digital é simplesmente perfeita, a calculadora conversora de moedas é um dos mais úteis pequenos itens que trouxe comigo (quebrou-se, entretanto), tal como a bússola que comprei na China. A roupa que selecionei tem-se revelado na generalidade adequada embora alguma comece a dar mostras do uso intensivo a que tem sido sujeita. Quanto ao calçado, as botas de montanha têm tido reduzida utilização e as sandálias são incomparavelmente mais úteis. Mas descobri que o mais prático calçado são uns simples chinelos de praia. Por fim, não poderia estar mais satisfeito com o equipamento eletrónico. O computador portátil e o material fotográfico escolhidos são absolutamente extraordinários.
Momentos
No tempo que levo de estrada, posso já com alguma propriedade afirmar que muitos dos melhores momentos acontecem quando nos deixamos guiar por impulsos, abandonando a ditadura dos guias Lonely Planet que, embora de extrema utilidade, tendem a fazer com que todos acabem por frequentar os mesmos locais. Coisas simples como entrar num qualquer café local e tentar pedir algo apontando para outras mesas. Ou arriscar uma refeição numa banca de um mercado, não mencionado em nenhum guia de viagens, mas cheio de habitantes locais deliciados com a comida. Ou sentar-se nalgum lugar sem fazer nada, observando o ritmo de vida de uma cidade e esperando que algo aconteça. Deixar-se levar, enfim, por pequenos impulsos. E não ter receio de conhecer pessoas, sejam elas locais ou viajantes. Quantas vezes as melhores impressões que temos de um lugar não têm algo a ver com as pessoas que lá conhecemos? Felizmente, tenho tido a sorte de encontrar pessoas extraordinárias em todo o lado. Julgo, inclusive, ter já alicerçado um bom punhado de amizades. Nada mau, quando se está em permanente movimento, sem poiso certo, sem destino definido…
Dirijo-me agora para o sudeste asiático. Vietname, Camboja, Tailândia, Laos, Myanmar e Malásia serão, provavelmente, os próximos destinos. Confesso que é uma das fases desta volta ao mundo que aguardo com maiores expectativas. Até já, no Vietname.
Esta é a capa do livro «Alma de Viajante», que contém as crónicas de uma viagem com 14 meses de duração - a maioria das quais publicada no suplemento Fugas do jornal Público. É uma obra de 208 páginas em papel couché, que conta com um design gráfico elegante e atrativo, e uma seleção de belíssimas fotografias tiradas durante a volta ao mundo. O livro está esgotado nas livrarias, mas eu ofereço-o em formato ebook, gratuitamente, a todos os subscritores da newsletter.
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