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Brava, uma ilha com alma no sotavento cabo-verdiano

Por Filipe Morato Gomes
O que visitar em Brava: Miradouro Mira Beleza
Vista a partir do Miradouro Mira Beleza, ilha Brava

A ilha Brava é montanha e belas paisagens, é trekking e banhos de mar, é gente afável. Pessoas hospitaleiras, de sorriso fácil. Gente talentosa que luta contra a adversidade geográfica que faz de Brava a mais remota ilha de Cabo Verde. Um destino que oferece piscinas naturais encantadoras, caminhadas em trilhos muito bonitos, estradas floridas, hospitalidade crioula, as mornas do poeta Eugénio Tavares, gastronomia deliciosa.

Tal como na ilha do Fogo, deixei na Brava um pouco do meu coração. Que mais poderia pedir?

Turismo. Mais turismo.

Por um lado, o isolamento da Brava é uma bênção; por outro, dificulta a vida aos bravos bravenses que precisam de oportunidades profissionais para estancar a emigração dos seus talentos. E o turismo é uma aposta fundamental; uma fonte de riqueza por explorar. Porque a ilha merece.

Para mim, viajante de passagem, a ilha Brava foi amor à primeira vista. Tal como aconteceu na incrível ilha do Fogo, ali ao lado. Visitar a Brava é uma surpresa. Vale mesmo a pena – e adoraria que mais gente tivesse oportunidade de a conhecer. Venha daí comigo!

A minha visita a ilha Brava (o que fazer)

Furna, Brava
Furna, a aldeia onde atracam os ferries na ilha Brava

Assim que o barco atracou na aldeia de Furna, percorri a lenta e sinuosa “estrada das 99 curvas” até Nova Sintra, a bordo de uma carrinha de transporte de passageiros. A noite estava completamente instalada, pelo que apreciar as paisagens da Brava ficaria para o dia seguinte. Restou tempo para uma refeição tardia e conversa da boa com os músicos presentes no Centrum 7 Sóis 7 Luas, onde me alojei. Começava bem, a viagem.

Dia seguinte, manhã cedo e estava preparado para explorar a ilha. Entre tudo o que fiz e visitei, eis as minhas recomendações sobre o que fazer na ilha Brava. Foi um dia intenso e muito bem passado!

Explorar Nova Sintra

O que visitar na ilha Brava: Nova Sintra
Praça central de Nova Sintra, a principal povoação da Brava

Antes de mais, vale a pena caminhar pelas ruas de Nova Sintra, a principal povoação da ilha Brava, e explorar a localidade. Observar a praça central Eugénio Tavares – o poeta – e beber uma cerveja na Esplanada. Ir ao mercado, onde se vendem vegetais e bordados tradicionais. Passar pelo pequeno bar da Associação Académica da Brava, onde é muito provável encontrar homens a ver futebol, beber cerveja (às vezes em demasia) e jogar loto. Conversar com os bravenses, sempre afáveis.

No fundo, deixar-se perder, ambientar-se na pequena Nova Sintra. É o local ideal para montar base na Brava.

Descer à Fajã da Água

O que fazer na ilha Brava: visitar Fajã da Água
A caminho da Fajã da Água

O espanto começou ainda antes de chegar à Fajã da Água. Depois de curvas e contracurvas, já na estrada que desce para a fajã, não contive o impulso de mandar parar o motorista. Ali, desprovida de qualquer miradouro oficial, uma das melhores vistas de toda a Brava desnudava-se diante dos meus olhos. Era a baía da Fajã da Água. Wow!

Fajã de Água, ilha Brava (Cabo Verde)
Vista da Fajã da Água

Subi a uma rocha, uma dezena de metros acima da estrada, e instalei-me no meu miradouro improvisado. Lá em baixo, avistei um par de barcos de recreio nas águas verde-esmeralda. A aldeia, no fundo da estrada que serpenteava a encosta. As montanhas por detrás, imponentes. De novo, wow!

Estava num cenário idílico, seguramente uma das zonas mais belas da ilha, e só me ocorria o pensamento: mas como é que eu nunca tinha ouvido falar disto? Que outros segredos esconderá ilha Brava?

Fajã da Água, Brava, Cabo Verde
Fajã da Água

Ainda embasbacado, desci por fim até à povoação da Fajã da Água. Era pouco mais do que uma rua empedrada quase deserta, algumas casas encavalitadas na encosta, roupa a secar humanizando o local. Mas bonita. Por algum motivo, adorei imediatamente o lugar. Pareceu-me ter alma – não sei explicar. Pareceu-me ter aquele tanto nada de que eu tanto gosto.

Era ali mesmo que iria almoçar, daí a pouco, mas antes iria dar um merecido mergulho nas homónimas piscinas naturais. Nova surpresa!

Nadar nas piscinas naturais da Fajã da Água

Piscinas naturais da Fajã da Água, ilha Brava
As belíssimas piscinas naturais da Fajã da Água, na ilha Brava, Cabo Verde

Adiante, uma vez atravessada a povoação, dei de caras com um dos locais mais bonitos da Brava: as piscinas naturais da Fajã da Água. Com as suas águas tépidas e tranquilas, protegidas da fúria do Atlântico por enormes rochas, foi ali que tomei os primeiros banhos de mar na ilha Brava. Adorei. Momentos de puro deleite, de relaxamento, de gratidão pela oportunidade de ali estar, desfrutando dos prazeres salgados da ilha Brava.

As piscinas naturais ficam entre a povoação de Fajã da Água e a pista do antigo aeroporto da Brava, entretanto abandonado. Não tem como não dar com elas!

Fazer um percurso pedestre

Estrada na ilha Brava, Cabo Verde
Se até as estradas do interior são bonitas (como esta), imagine os trilhos…

Fazer trekking na ilha Brava foi das coisas que mais tive pena de não fazer durante a viagem; mas o tempo que tinha disponível não o permitiu. A ilha pareceu-me ter um potencial enorme para atividades ao ar livre, como as caminhadas. E muitos trilhos estão minimamente assinalados, quanto mais não seja com tabuletas que indicam o seu início.

Conheci um casal inglês que foi de Nova Sintra até à Fajã da Água, a pé, e estavam encantados. É, provavelmente, um dos trilhos mais completos da ilha; e, mesmo não fazendo a totalidade do percurso, fiquei com muita vontade de calcorrear o trilho desde Nossa Senhora do Monte para a Fajã da Água.

De resto, há alguns percursos pedestres muito recomendáveis para quem se dispõe a permanecer alguns dias na Brava. Desde logo, subir do Mato até ao Pico das Fontaínhas que, do alto dos seus 750 metros de altitude, é o ponto mais elevado da ilha; fazer o trilho que liga Mato Grande a Chão de Aguada e daí ao Cachaço, povoação onde se produz um delicioso queijo de cabra (há quem conheça este percurso como sendo o Trilho Eugénio Tavares, porque passa pela casa onde, ao que dizem, o poeta compunha as suas mornas); descer do Campo Baixo ao Porto de Tantum, com a respetiva povoação alcandorada numa falésia; e, por fim, percorrer o trilho entre Furna e Vinagre.

Observar as vistas dos miradouros

O que fazer na Brava: Miradouro Mira Beleza
O turismo na ilha Brava está a dar os primeiros passos; na foto, uma turista francesa no Miradouro Mira Beleza

Brava tem vários miradouros onde o olhar se espraia por montes e vales, praias e fajãs. Durante a minha passagem pela ilha, tive oportunidade de parar em alguns que gostaria de sugerir para qualquer roteiro de viagem à Brava.

Desde logo, o Miradouro Mira Beleza, localizado bem próximo de Nossa Senhora do Monte, e a partir do qual se tem vistas deslumbrantes para os vales que se estendem até à costa oeste da ilha, com a Fajã da Água lá ao fundo. Tudo tão bonito que arrisco dizer que Mira Beleza oferece as melhores vistas da Brava.

Miradouro de Nova Sintra, Brava
Vista de Nova Sintra a partir do miradouro homónimo

Não tão espetaculares mas ainda assim muito bonitas são as vistas a partir do miradouro Nova Sintra, que encontrei na estrada em direção à aldeia de Cova Rodela, um pouco acima da “capital” da ilha. Dali se avistam, o Ilhéu Grande e o Ilhéu de Cima e, em dias de céu limpo, a vizinha ilha do Fogo.

Mais uma paragem recomendada em qualquer visita a Brava.

Visitar Mato Grande

Mato Grande, Brava
Início de um trilho pedestre usado pela população local, em Mato Grande

A falta de água é um problema crónico da ilha mas, olhando para as paisagens verdejantes, era difícil imaginar que, semanas antes, a Brava estava totalmente castanha. “Antes da chuva, parecia que tinha passado um incêndio pela Brava”, disseram-me.

Na pequena aldeia de Mato Grande, uma placa anunciava o trilho até Fontaínhas, o ponto mais alto da ilha. Um miradouro improvisado deixava antever a beleza em tons de verde no interior de Brava. Foi uma bela paragem no meu roteiro na ilha Brava.

Todo o interior da Brava me pareceu, aliás, magnífico. É precisamente isso – e os trilhos pedestres – que pretendo conhecer melhor caso um dia volte à ilha Brava.

Provar o Queijo do Cachaço

Queijo do Cachaço, Brava
Jaqueline preparando o seu afamado Queijo do Cachaço

Percorria o interior da ilha Brava quando surgiu a oportunidade de parar para provar o queijo de cabra feito por Jaqueline, de forma totalmente artesanal, em sua casa. Naturalmente, aceitei.

O Queijo do Cachaço, assim chamado em honra da povoação onde se produz o melhor – dizem! – queijo da Brava, estava a ser preparado por Jaqueline com leite de cabra ordenhado quatro horas antes, naquela mesma manhã. Com o auxílio de um coalho totalmente artesanal – um líquido retirado do estômago de uma cabra recém-nascida -, Jaqueline preparou, ali mesmo, os seus queijos do dia. Sem aditivos.

Passear pela aldeia de Furna

Pormenor da aldeia de Furna

É bem provável que o primeiro contacto do viajante com a ilha Brava seja ao desembarcar no pequeno porto da baía da Furna. Trata-se de uma aldeia marcada por intensa atividade de pesca artesanal, que vale a pena conhecer.

Deambulando pela avenida marginal, encontrei barcos de pesca “atracados” na rua; pescadores a consertarem as artes de pesca; mulheres atarefadas, à conversa ou simplesmente sentadas à porta de casa. É o quotidiano local no seu melhor – e eu aproveitei para conversar com os bravenses.

Mulher cabo-verdiana
Mulher bravense na aldeia de Furna

Pode parecer cliché – e é! -, mas quantas vezes não viajamos sem interagir com os habitantes locais? Procurei não cometer esse erro em Cabo Verde, apesar de, desta vez, não estar a viajar sozinho nem em modo lento e, por isso, ter menos oportunidades de parar.

Ainda assim, sempre que me foi possível – fosse no mercado de Nova Sintra, na Associação Académica da Brava ou nas ruas de Furna, os bravenses não me foram indiferentes. Pelo contrário. Porque são gente muito afável e hospitaleira.

Mapa com o que visitar na Brava

Dicas para visitar a Brava

Melhor época para visitar a ilha Brava

Tal como as restantes ilhas do Sotavento cabo-verdiano, também a Brava beneficia de reduzidas amplitudes térmicas ao longo do ano. Pode, por isso, ser visitada em qualquer época. Mais do que o clima, é provavelmente o estado do mar a ditar a melhor altura para visitar Brava – mas esse é imprevisível.

Se possível, deixe alguma margem no planeamento para qualquer imprevisto. Os barcos podem não fazer a travessia inter-ilhas em condições de forte agitação marítima.

Como chegar à ilha Brava

Para chegar a Brava é necessário uma combinação de voos mais barcos. Assim, a TAP e a TACV têm ligações entre Lisboa e a Praia, na ilha de Santiago, a partir de onde recomendo um voo doméstico até à ilha do Fogo com a Binter, à época a companhia aérea responsável pelos voos inter-ilhas em Cabo Verde.

Depois de visitar a ilha do Fogo, apanhe um barco da Cabo Verde Fast Ferry para Furna, na ilha Brava. A viagem Fogo – Brava de barco demora sensivelmente 45 minutos e custa pouco mais de 1.500 escudos cabo-verdianos (em junho 2018). Note que não há barcos todos os dias – estude os horários no site da Cabo Verde Fast Ferry -; e que, por algum motivo difícil de explicar, não é possível comprar bilhetes diretamente no barco. Ao invés, tem de se dirigir a uma agência de viagens na localidade de São Filipe (ilha do Fogo), como a Qualitur, em horário de expediente. Recomendo que compre logo bilhete de ida e volta, caso saiba quando pretende regressar ao Fogo.

Se costuma enjoar em alto mar, esteja prevenido. Dependendo das condições marítimas, a travessia pode ser tranquila ou muito desconfortável.

Por fim, saiba que, em teoria, pode também ir de barco da ilha de Santiago até à ilha Brava, com paragem no Fogo. Acontece que a viagem é demasiado longa, os horários instáveis e as condições marítimas muitas vezes desagradáveis, pelo que não recomendo esta opção.

Transportes em Brava (como se deslocar na ilha)

Existem carrinhas de transporte de passageiros que pode utilizar para ir até Nova Sintra, facilmente detetáveis à chegada do barco a Furna, mas dificilmente encontrará transportes para explorar a ilha. Recomendo, por isso, que recorra aos serviços de um motorista com carro (o pessoal do seu hotel poderá ajudá-lo).

Onde ficar

Eu fiquei alojado no Centrum 7 Sóis 7 Luas em Nova Sintra, principal localidade da ilha Brava. Não é um hotel convencional, mas tem dois quartos que podem ser alugados a hóspedes e permite um contacto estreito com a comunidade criativa da ilha.

Caso queira vivenciar a experiência, saiba que os luxos não abundam, ao contrário da simpatia e hospitalidade. Para reservar, contacte Rosa Borges pelo telefone +238 982 7680 (ou usando o Viber). É barato, e uma excelente forma de contribuir para o excelente trabalho que o Festival Sete Sóis Sete Luas tem desenvolvido em prol da comunidade local.

De resto, o Hotel Cruz Grande é o melhor hotel da ilha Brava. Fica instalado numa moradia da rua principal da vila Nova Sintra, é bastante limpo e uma noite custa sensivelmente 60€. Caso esteja lotado, uma alternativa igualmente aceitável é o Motel Brava Tur, ligeiramente mais barato que o Hotel Cruz Grande.

Pesquisar hotéis na ilha Brava

Onde comer

Para além dos restaurantes que possa experimentar, deixo-lhe duas sugestões caseiras na Brava. Em Nova Sintra, a referida Rosa Borges – cantora e cozinheira – pode preparar refeições no Centrum 7 Sóis 7 Luas (15€ por pessoa); na Fajã da Água, a casa de Julinho, onde mãos divinas prepararam um almoço tão delicioso que não posso deixar de recomendar (tente marcar por telefone ou Viber pelo número +238 985 0079).

Música cabo-verdiana

Na ilha Brava existe um conjunto de músicos carinhosamente apelidados de “pandas” (por serem os únicos músicos da ilha) – que integram o grupo Brava7LuasBand. Para agendar um espetáculo intimista, contacte o músico Zé Duarte, representante do Festival 7 Sóis 7 Luas na ilha Brava, pelo telefone +238 599 6115 (ou Viber). Custa cerca de 100€ e, se viajar com um pequeno grupo para dividir a despesa, vale bem a pena; espera-o um serão muito bem passado em Nova Sintra.

Seguro de viagem

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.