Visitar Universidade de Coimbra – Alta e Sofia: uma viagem pelo património UNESCO

Por Filipe Morato Gomes
O que visitar em Coimbra: Sé Velha
Sé Velha de Coimbra, na Alta da cidade

Pretende visitar a Universidade de Coimbra? Pois bem, ao que parece há apenas cinco universidades em todo o mundo inscritas na lista de Património Mundial da UNESCO. E a Universidade de Coimbra é, com todo o mérito, uma delas.

“Com 730 anos de história, a Universidade de Coimbra é uma instituição incontornável na História de Portugal e de todo o mundo lusófono, tendo sido considerada Património Mundial da UNESCO em 2013, devido ao seu património material e imaterial único, fundamental na história da cultura científica europeia e mundial.”, in site oficial da Universidade de Coimbra.

São 32 os espaços que integram o conjunto histórico-cultural da Universidade de Coimbra – Alta e Sofia. Uma região histórica, íngreme e labiríntica de grande beleza arquitetónica; onde, como escreveu José Saramago na sua Viagem a Portugal, o viajante deve “procurar os caminhos arredados, os de pouco passar e profundo viver”. E é sobre essa Alta de Coimbra – o centro histórico da cidade! – que hoje escrevo.

Igreja de São João de Almedina
Igreja de São João de Almedina, Coimbra

Eis, pois, os mais emblemáticos pontos de interesse turístico da Universidade de Coimbra. A visita faz parte de um roteiro pelo Centro de Portugal focado no património UNESCO que fiz recentemente.

As referências históricas e descrições arquitetónicas, que requerem rigor e um vasto conhecimento especializado são, em grande parte, retiradas do site oficial da Universidade ou dos placards informativos instalados no local.

O que visitar na Universidade de Coimbra – Alta e Sofia

Aqui apresento os principais locais a visitar na área classificada como Património UNESCO em Portugal sob o título Universidade de Coimbra – Alta e Sofia.

Porta Férrea

Porta Férrea do Paço das Escolas, Universidade de Coimbra
Porta Férrea do Paço das Escolas da Universidade de Coimbra

Destinada a solenizar a entrada no recinto universitário, a Porta Férrea, construída em 1634, foi a primeira obra significativa empreendida pela Universidade de Coimbra após a aquisição do edifício.

Idealizada como um arco triunfal de dupla face (na tradição da porta-forte militar), é um hino à própria instituição: o programa escultórico evoca a figura da Sapiência, as quatro faculdades da época (Teologia, Leis, Medicina e Cânones) e dois monarcas fundamentais na história da Universidade – D. Dinis, o seu fundador, e D. João III, que a transferiu definitivamente para Coimbra.

É a porta de entrada no majestoso Paço das Escolas.

Paço das Escolas

Paço das Escolas, Coimbra
Paço das Escolas, com o Palácio Real à esquerda e a Porta Férrea ao fundo

Uma vez atravessada a Porta Férrea, eis que o Paço das Escolas se desnuda perante o olhar do visitante. Para lá da dimensão avassaladora do espaço, os estudantes e suas capas pretas conferem um misto de alegria e solenidade ao lugar. É ali que se localiza o Palácio Real, a Biblioteca Joanina e a Capela de São Miguel – três dos locais fundamentais a visitar na Universidade de Coimbra.

Palácio Real

Sala das Armas do Palácio Real da Universidade de Coimbra
Sala das Armas do Palácio Real da Universidade de Coimbra

O edifício atualmente designado por Palácio Real foi construído no final do século X, servindo como alcáçova do governador da cidade durante o domínio muçulmano. Em 1131 passaria a ser a primeira residência real portuguesa, habitada por D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal. Em 1537, durante o reinado de D. João III, a Universidade foi transferida definitivamente de Lisboa para Coimbra, tendo sido instalada neste edifício em 1544.

O Palácio Real encontra-se dividido em três espaços de visita: a Sala das Armas, sobre a qual não me vou alongar; a impressionante Sala dos Atos Grandes; e a Sala do Exame Privado. Foquemo-nos, pois, nestas duas últimas.

Sala dos Atos Grandes

Visitar Universidade de Coimbra: Sala dos Atos Grandes
Vista da Sala dos Atos Grandes da Universidade de Coimbra

Tida como a sala mais importante da Universidade de Coimbra, a Sala dos Atos Grandes foi a antiga Sala do Trono. Nela decorreram episódios importantes da História de Portugal, como a aclamação do rei D. João I, em 1385; e, atualmente, é o local onde se realizam as cerimónias mais relevantes da vida académica.

Do ponto de vista decorativo, referência para as paredes, revestidas com lambris de azulejos “tipo tapete” e onde se exibem retratos da maioria dos reis portugueses; e para o teto, com 172 painéis de madeira representando monstros marinhos, índios, sereias e plantas.

Juntamente com a Biblioteca Joanina, é um dos locais a observar com toda a atenção quando visitar a Universidade de Coimbra.

Sala do Exame Privado

Escudo de armas no teto da Sala do Exame Privado
Pormenor do teto da Sala do Exame Privado

Durante a vida do edifício como palácio real, este espaço serviu como aposentos do rei, tendo sido depois transformado num local onde os licenciados realizavam os seus exames orais. Sem público – daí o nome da sala.

O belíssimo teto da Sala do Exame Privado data de 1701. Nele é possível ver o escudo de armas do Reino de Portugal e a representação das grandes Faculdades da Universidade de Coimbra: Teologia (Cruz e Sol), Leis (Balança e Espada), Medicina (Cegonha e Caduceu de Hermes) e Cânones (Tiara Papal).

Nas paredes, repousam os retratos de 38 reitores da Universidade, do século XVI ao século XVIII.

Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra

Biblioteca Joanina
No interior da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra

A Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra deve o seu nome ao rei D. João V – tido como um grande patrono da cultura, da ciência e das artes -, que a mandou erigir em 1717 para substituir a antiga Casa da Livraria Universitária.

Foi construída sobre uma prisão medieval, posteriormente utilizada como prisão académica; e é um espaço, a todos os títulos, sublime. No seu interior existem cerca de 60 mil volumes, datados do século XVI ao século XVIII – que, ainda hoje, podem ser consultados.

É por muitos considerada uma das bibliotecas mais bonitas do mundo, a par com outros templos do saber absolutamente deslumbrantes, como o Real Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro, Brasil, ou a histórica Biblioteca da Abadia de Kremsmünster, na Áustria. Para mim, é a maior atração do Paço das Escolas da Universidade de Coimbra.

Capela de São Miguel

Capela de São Miguel, Universidade de Coimbra
Capela de São Miguel, Paço das Escolas

E, ao lado da biblioteca, fica a Capela de São Miguel, edifício usado como oratório privativo do antigo Paço Real. O seu nome deve-se ao Arcanjo São Miguel, protetor de D. Afonso Henriques.

No seu interior, pontificam motivos decorativos com evidente carga religiosa, num espaço que é simultaneamente sumptuoso e harmonioso e onde se destacam os tetos, o revestimento azulejar, o altar-mor (e o grande retábulo que reveste o altar-mor com um grande trono central ornamentado em talha dourada), o sacrário e um belíssimo órgão.

Estando na região, não deixe também de visitar o Mosteiro de Alcobaça e o Mosteiro da Batalha.

Torre da Universidade

O relógio da Torre da Universidade desempenhava um papel fulcral no quotidiano universitário. Por ele se pautava todo o funcionamento da instituição.

Hoje em dia, os sinos (incluindo a cabra) continuam a ser usados. Por exemplo, para convocar a comunidade académica para alguns atos solenes ou para anunciar a morte de um professor.

Infelizmente, por causa das restrições em vigor fruto da pandemia, não me foi possível visitar a torre.

Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (Colégio de Jesus)

Galeria de História Natural no Museu da Ciência, Coimbra
Galeria de História Natural no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra

Localizado defronte do Laboratório Chimico, no antigo edifício do Colégio de Jesus foram instalados o Gabinete de Física e a Galeria de História Natural – espaços que, hoje em dia, fazem parte do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra.

No caso do Gabinete de Física, destaque para a coleção de instrumentos científicos, tida como uma representação notável da evolução da Física nos séculos XVIII e XIX.

Quanto à vistosa Galeria de História Natural, está disposta em seis salas distintas. Entre elas, as salas das Viagens, do Mar, de África, das Avestruzes e de Portugal.

Sé Velha de Coimbra

Sé Velha de Coimbra
Um visitante prepara-se para entrar na Sé Velha de Coimbra

Estando na zona da Universidade de Coimbra, nada como aproveitar para passear pelas ruelas empedradas do centro histórico em direção à Sé Velha.

Trata-se de uma igreja românica constituída por três naves, edificada em calcário amarelo num terreno muito inclinado, espaço de confluência de várias ruas da Alta de Coimbra.

Do ponto de vista arquitetónico, destaque para a chamada Porta Especiosa, um magnífico pórtico de três andares, tipo retábulo, construído na década de 1530.

Rua de Quebra Costas

Estátua Tricana de Coimbra, na rua Quebra Costas
Estátua Tricana de Coimbra, na Rua de Quebra Costas

O terreno acidentado explica o nome desta rua pedonal que liga a Alta e a Baixa de Coimbra. Trata-se de uma das mais emblemáticas – e turísticas! – ruas da cidade, com lojas, bares e restaurantes; e, claro, a estátua Tricana de Coimbra, um tributo à mulher coimbrã. É impossível não passar pela Quebra Costas; mas faça-o com cuidado, que cair não é assim tão raro…

Porta e Torre de Almedina

Porta Almedina, Coimbra
Turistas na Porta de Almedina, Coimbra

Nas palavras da Câmara Municipal de Coimbra, a Porta de Almedina é a “porta principal de acesso a intramuros da cidade de Coimbra, cujas fundações remontam à época de ocupação islâmica”. E acrescenta: “fazia parte do complexo de portas e torres que integravam a muralha coimbrã que contava com quase dois quilómetros de comprimento”. Fica no final da Rua de Quebra Costas.

Repúblicas de Coimbra

República de Coimbra: Bota-Abaixo
Porta da República Bota-Abaixo

As Repúblicas estudantis fazem parte da identidade de Coimbra. Regra geral, são organizações sem fins lucrativos destinadas a albergar estudantes do ensino superior que estudam na cidade.

Cito, a esse respeito, o site do Turismo do Centro de Portugal: “Espaços míticos da vida académica, as Repúblicas de Coimbra tiveram origem no século XIV, quando o rei D. Dinis mandou edificar umas casas na zona de Almedina para albergar os estudantes da universidade, mediante pagamento. Ao longo dos séculos, estas repúblicas ganharam fama e tradições próprias, e em 1957 o primeiro código de praxe veio dar-lhes um estatuto jurídico e regulamentar o seu funcionamento. Nos anos sessenta, quando por toda a Europa fervilhavam as lutas estudantis e as reformas democráticas, as Repúblicas de Coimbra assumiram um papel preponderante na política nacional, defendendo a democracia e a liberdade. Hoje, mantêm os valores que definem o seu carácter excepcional no meio universitário: a vida em comunidade e a defesa da democracia”.

Tendo tempo, não deixe de fazer uma espécie de roteiro pelas Repúblicas de Coimbra. Ay-O-Linda, Bota-Abaixo, Rapó-Taxo, dos Fantasmas e Rás-Te-Parta são alguns dos nomes de Repúblicas de Coimbra que vai encontrar nesse périplo. O passeio promete!

Veja o meu texto sobre a minha estadia numa República de Ouro Preto, no Estado brasileiro de Minas Gerais.

Outros locais a visitar

Nesta minha passagem por Coimbra não tive tempo de visitar tudo o que pretendia. Além da já referida Torre da Universidade, alguns locais que gostaria de incluir nestas sugestões sobre o que visitar na zona classificada pela UNESCO como Universidade de Coimbra – Alta e Sofia (ou na chamada “zona de proteção”) incluem-se:

  • Igreja de Santa Cruz;
  • Aqueduto de São Sebastião;
  • Casa Museu Bissaya Barreto;
  • Jardim da Sereia;
  • Jardim Botânico da Universidade de Coimbra;
  • Rua Sofia (conhecida como a Rua dos Colégios).

Veja também um artigo com dicas sobre o que fazer em Coimbra.

Mapa dos monumentos da Universidade de Coimbra

Guia prático

Quando visitar Coimbra

Em teoria pode visitar Coimbra durante todo o ano, mas talvez a primavera e o outono sejam as épocas mais interessantes. Em todo o caso, evite o período das férias universitárias, principalmente o mês de agosto, já que a cidade perde alma sem a presença dos estudantes.

Como organizar a visita à Universidade de Coimbra

A melhor forma de visitar a Universidade de Coimbra é comprar um ingresso combinado chamado Universidade com Biblioteca Joanina, que inclui o Paço das Escolas (Biblioteca Joanina, Capela de São Miguel e Palácio Real) e o Museu da Ciência (Laboratório Chimico e Colégio de Jesus). Custa 12,5€.

Compre os bilhetes nesta página, onde poderá ver também os descontos aplicáveis a seniores, jovens e estudantes. Algumas notas adicionais importantes:

  • O bilhete tem validade de dois dias;
  • A hora e data marcadas no bilhete correspondem à data e hora de entrada na Biblioteca Joanina, podendo os restantes espaços serem visitados antes ou depois desse horário;
  • Só é permitida uma entrada em cada espaço.

Por fim, saiba que há a possibilidade de fazer uma visita guiada à Universidade de Coimbra, com um guia competente e muito elogiado.

Onde ficar

Para informações mais detalhadas sobre hospedagem na Cidade dos Estudantes, veja o artigo sobre onde ficar em Coimbra. Seja como for, deixo duas excelentes sugestões localizadas no centro histórico: o Sapientia Boutique Hotel, um hotel absolutamente encantador; e o Solar Antigo Luxury Coimbra, uma das mais surpreendentes guesthouses de Coimbra.

Quanto a hotéis mais baratos, o hostel Change The World pode ser uma alternativa a considerar – e fica na peculiar Rua de Quebra Costas, na Alta de Coimbra. E, num registo mais tradicional, a Residencial Moderna é uma opção honesta e em conta.

Caso prefira ficar num apartamento em Coimbra, há várias opções de qualidade. Entre elas, destaco o chamado Sunrise Apartment Coimbra e o maravilhoso Orpheus – Miguel Torga – UNESCO Heritage (confira as fotos).

Pesquisar hotéis em Coimbra

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

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