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A (deslumbrante) Biblioteca Joanina, em Coimbra

Por Filipe Morato Gomes
Biblioteca Joanina, Coimbra
Sala principal da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra

A Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra deve o seu nome ao rei D. João V – tido como um grande patrono da cultura, da ciência e das artes -, que a mandou erigir em 1717 para substituir a antiga Casa da Livraria Universitária.

Foi construída sobre uma prisão medieval, posteriormente utilizada como prisão académica; e é um espaço, a todos os títulos, sublime. No seu interior existem cerca de 60 mil volumes, datados do século XVI ao século XVIII – que, ainda hoje, podem ser consultados.

É por muitos considerada uma das bibliotecas mais bonitas do mundo, a par com outros templos do saber absolutamente deslumbrantes, como o Real Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro, Brasil, ou a histórica Biblioteca da Abadia de Kremsmünster, na Áustria. A mim, fez-me de certa forma recordar o dia em que visitei a Biblioteca do Trinity College, em Dublin.

Eis, pois, um breve resumo da minha visita à Biblioteca Joanina, uma das maiores atrações do chamado Paço das Escolas da Universidade de Coimbra. Atravessemos, então, a Porta Férrea e entremos no pátio da Faculdade de Direito, rumo à biblioteca.

Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra

Livros raros da Biblioteca Joanina
Estante com livros raros na Biblioteca Joanina

Prisão académica

Depois de entrar no edifício por uma porta lateral (não diretamente no Paço das Escolas), a visita começou com a visualização de um vídeo muito interessante com imagens antigas de Coimbra, da universidade e sua vida académica.

Só depois começou a visita ao edifício. Socorro-me das palavras escritas pela Universidade de Coimbra a respeito da antiga prisão:

“À semelhança do que acontecia com outras universidades europeias de prestígio, a Universidade de Coimbra teve, durante muito tempo, o privilégio de se reger por legislação própria (Foro Académico). A existência desse privilégio protegia a comunidade académica, (professores, funcionários e estudantes) do convívio com criminosos de delito comum. Assim sucedeu até 1834, data em que esse privilégio terminou”. “A prisão académica funcionou também neste espaço, coincidindo aproximadamente com o que antes tinha sido a cadeia do Paço Real”.

“Em 1782, na sequência da reforma da Universidade empreendida pelo Marquês de Pombal, o espaço beneficiou de algumas transformações: acrescentaram-se celas comuns, sala de visitas, um oratório e até latrinas, que ainda hoje são visíveis na sala mais espaçosa.”

“Mais recentemente, o piso térreo serviu como depósito de livros. Assim aconteceu no período que se seguiu à extinção dos colégios universitários que, na sua maioria, se encontravam instalados na parte baixa da cidade [na Rua de Sofia]”.

Piso intermédio

Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra
Os pisos inferiores da Biblioteca Joanina funcionaram como prisão académica e depósito de livros

Consta que o piso intermédio já serviu de apoio aos guardas que vigiavam a prisão académica; e também funcionou como depósito dos livros lidos no piso nobre da Biblioteca Joanina.

Desde 2010 que faz parte do circuito turístico da Universidade de Coimbra; mas a ansiedade não permite desfrutar convenientemente do espaço. Isto porque, apesar de curiosidades como as pequenas marcas gravadas pelos canteiros nas pedras das arcadas, em jeito de “assinatura” para ser mais fácil controlar o trabalho feito e receber o salário, aos olhos do visitante o piso intermédio funciona como uma espécie de antecâmara para aquilo que todos querem realmente ver: o piso nobre da Biblioteca Joanina.

E assim, após apreciar as arcadas e olhar as estantes com livros, confesso que não demorei a subir para a biblioteca propriamente dita.

Piso nobre da Biblioteca Joanina

Estantes da Biblioteca Joanina
Vista do piso nobre da Biblioteca Joanina, em Coimbra

A Biblioteca Joanina é tida como um dos expoentes do Barroco português e considerada uma das mais ricas bibliotecas europeias. E em nenhum outro local isso é mais evidente do que no chamado piso nobre – a alma e coração da Biblioteca Joanina.

O andar nobre é composto por três salas revestidas com estantes de dois andares em madeira de carvalho, dourada e policromada com talhas e pinturas a ouro sobre fundo preto; e varandas ornamentadas. O revestimento é tão curioso quanto enganador: é de madeira, mas parece mármore.

Biblioteca Joanina Coimbra
Aspeto do interior da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra

Estar ali, de pescoço curvado a olhar as estantes e a sentir o cheiro a livros antigos, sabendo que dentro daquelas paredes se encontram alguns dos mais importantes livros europeus impressos há centenas de anos (como uma primeira edição dos Lusíadas e uma Bíblia Hebraica, editada na segunda metade do século XV, de que apenas existem cerca de 20 exemplares em todo o mundo), num espaço arquitetonicamente tão belo e distintivo, é um privilégio incrível. Só não vi os morcegos!

À noite, há uma colónia de morcegos que, ao longo de pelo menos 250 anos, tem contribuído para a boa manutenção dos livros, comendo as traças e outros insetos que os poderiam danificar.

Talha de madeira
Pormenor decorativo no interior da Biblioteca Joanina

Caso tenha interesse em locais de relevo histórico, veja também os artigos sobre o Mosteiro de Alcobaça, o Mosteiro da Batalha e o Convento de Cristo, para além de um roteiro pelo Património do Centro de Portugal.

As bibliotecas mais bonitas do mundo

Biblioteca do Trinity College, Dublin
Biblioteca do Trinity College, Dublin

Além da Biblioteca Joanina, eis um restrito grupo de bibliotecas que, seguramente, se encontram entre as mais bonitas do mundo. Boa parte são bibliotecas monásticas – e ideias excelentes para uma próxima viagem com cheirinho a livros antigos.

  • Biblioteca da Abadia de Admont, Áustria
  • Biblioteca do Convento de Mafra, Portugal
  • Klementinum, Praga, República Checa
  • Biblioteca do Trinity College, Dublin, Irlanda
  • Biblioteca de Girolamini, Nápoles, Itália
  • Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro, Brasil
  • Biblioteca da Abadia de Kremsmünster, Áustria
  • Biblioteca da Abadia de St. Gall, Suíça

Guia prático

Quando visitar Coimbra

Em teoria pode visitar Coimbra durante todo o ano, mas talvez a primavera e o outono sejam as épocas mais interessantes. Em todo o caso, eu evitaria o período das férias universitárias, principalmente o mês de agosto, já que a cidade perde alma sem a presença dos estudantes.

Como visitar a Biblioteca Joanina (horários e preços)

A Biblioteca Joanina fica no Paço das Escolas, no coração da Universidade de Coimbra, pelo que não há como se enganar (ver localização). Note que só é possível entrar na biblioteca com um bilhete global, que permite visitar todo o conjunto universitário (ou seja, não há bilhetes individuais só para a biblioteca).

Horários

No que toca aos horários, o monumento está aberto diariamente, das 10:00 às 18:00, mas com horários de entrada determinados (regra geral, a cada 20 minutos) e um número máximo de visitantes em simultâneo definido.

A Biblioteca Joanina encerra ao público nos dias 1 de janeiro, 24, 25 e 31 de dezembro (no último dia do ano encerra a partir das 14:00); e ainda na semana da Queima das Fitas, organizada pela Associação Académica de Coimbra (data variável, normalmente no mês de maio).

Preços

A entrada na Biblioteca Joanina integra-se num ingresso combinado chamado Universidade com Biblioteca Joanina, que inclui o Paço das Escolas (Biblioteca Joanina, Capela de São Miguel e Palácio Real) e o Museu da Ciência (Laboratório Chimico e Colégio de Jesus) – e custa 12,5€. Há também um bilhete sem a biblioteca, caso, por algum motivo não a queira visitar. Compre os bilhetes nesta página, onde poderá ver também os descontos aplicáveis a seniores, jovens e estudantes.

Algumas notas adicionais importantes:

  • O bilhete tem validade de dois dias;
  • A hora e data marcadas no bilhete correspondem à data e hora de entrada na Biblioteca Joanina, podendo os restantes espaços serem visitados antes ou depois desse horário;
  • Só é permitida uma entrada em cada espaço.

Por fim, saiba que há a possibilidade de fazer uma visita guiada à Universidade de Coimbra, com um guia competente e muito elogiado.

Onde ficar

Recomendo que leia o texto sobre onde ficar em Coimbra, onde falo das melhores regiões da cidade para se hospedar. Seja como for, e caso prefira ficar no centro histórico, deixo duas excelentes sugestões. O Sapientia Boutique Hotel é um hotel absolutamente encantador; e o Solar Antigo Luxury Coimbra é seguramente uma das mais surpreendentes guesthouses de Coimbra, com apontamentos decorativos curiosos (não vão agradar a todos, mas…) e bons preços.

Quanto a hotéis mais baratos, o hostel Change The World pode ser uma alternativa a considerar – e fica na peculiar Rua de Quebra Costas, na Alta de Coimbra. E, num registo mais tradicional, a Residencial Moderna é uma opção honesta e em conta.

Caso prefira ficar num apartamento em Coimbra, há várias opções de qualidade. Entre elas, destaco o chamado Sunrise Apartment Coimbra e o maravilhoso Orpheus – Miguel Torga – UNESCO Heritage (confira as fotos).

Por fim, deixo-lhe duas excelentes sugestões na outra margem do rio Mondego. O histórico Hotel Quinta das Lágrimas, de cinco estrelas, é sempre uma opção a considerar; e a belíssima Oryza Guest House & Suites é uma casa de turismo rural de grande nível às portas de Coimbra.

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

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