Tenho visto cada vez mais gente a fotografar com telemóvel (ou celular, para os leitores brasileiros). Muitos já nem levam máquina fotográfica nas suas viagens. Conheço até quem já tenha feito várias capas de revistas de viagens com fotos de telemóvel. Não é, por enquanto, o meu caso.
Quando comecei a viajar mais a sério, por altura da minha primeira volta ao mundo, as máquinas DSLR profissionais davam os primeiros passos. Habituei-me, fiz dezenas e dezenas de viagens com várias DSLR da Nikon; e por aí fiquei. Ainda tentei duas máquinas mirrorless e vivi o dilema Fuji X100s versus Leica D-Lux 6, mas acabei por voltar à minha velhinha D700 – que sempre me acompanhou nas minhas viagens.
Até ao dia em que fui desafiado para fotografar com um telemóvel na Islândia. Como é evidente, aceitei o repto, embora estivesse receoso de não conseguir boas fotografias. Mas estava curioso e expectante – além de honrado com o convite da Samsung Portugal.
E assim regressei à Islândia com uma missão específica: fotografar o país com o novo Galaxy A9 e mostrar o resultado no Instagram. Para mim – que, como disse, na era digital sempre fotografei com máquinas DSLR – o desafio de fotografar com telemóvel era enorme.
Como foi fotografar com o Samsung Galaxy A9
Foi uma viagem de trabalho. Éramos apenas seis pessoas, entre fotógrafos, videógrafos, bloggers de viagens e jornalistas. Todos focados na missão de conseguir conteúdos de viagem de grande qualidade usando apenas o smartphone.
Com a limitação de ter dias muito curtos (pouco mais que quatro horas de luz) e em função dos humores invernais do clima islandês, tivemos de ser extremamente flexíveis e decidir, dia a dia, onde ir filmar e fotografar.
Assim, mal chegámos ao aeroporto internacional de Keflavík fomos diretos para a Blue Lagoon, onde fomos recebidos por uma tempestade que transformou em mar alto a lagoa do mais famoso spa geotermal islandês. Conclusão: o telefone nem saiu do balneário e não tenho fotos da Blue Lagoon.
Para compensar, os três dias seguintes foram verdadeiramente extraordinários. No primeiro, visitámos o desfiladeiro Stakkholtsgjá e as inevitáveis cascatas de Gljufrabuí, Seljalandsfoss e Skogafoss. No segundo, a Praia dos Diamantes, o Lago Jökulsárlón e as grutas de gelo no glaciar Breidamerkajökull (parte integrante do grande glaciar Vatnajökull). E, no terceiro, o belíssimo desfiladeiro de Fjadrargljufur e as praias em torno de Vik. Só faltou vermos auroras boreais – a grande (e única) frustração da viagem!
Serve este post para partilhar o resultado dessa missão: fotografar a Islândia com telemóvel. Depois digam de vossa justiça.
DIA 1
Vale de Thor e Desfiladeiro de Stakkholtsgjá
O dia acordou incrivelmente ventoso e com previsão de chuva. E muito escuro. Nada de muito surpreendente para um dia de inverno na Islândia, mas ansiávamos por um cenário distinto. E assim, depois de muito ponderar as alternativas postas em cima da mesa pelo guia Laurent, decidimos ignorar o afamado (e turístico) Golden Circle e rumar imediatamente para sul. Primeira paragem, o Desfiladeiro de Stakkholtsgjá.
Devemos ter atravessado o rio umas dez ou quinze vezes ao longo do Vale de Thor, até chegarmos a um ponto onde iniciaríamos uma caminhada pelo desfiladeiro. As condições climatéricas pioraram notoriamente, pelo que acabámos por cancelar o trekking. Ainda assim, a paisagem ao longo do vale de acesso ao desfiladeiro era espetacular. Laurent fez várias paragens para fotografarmos.
Confesso que foi com alguma desconfiança inicial que comecei a fotografar com telemóvel. Mas, uma vez dominadas as técnicas básicas do software, comecei a aperceber-me da potencialidade do equipamento. Não se pode dizer que estivesse logo à vontade ou a desfrutar do momento – estava a lutar contra o meu modo habitual de fotografar -, pelo que foi um início difícil. Os desafios são mesmo assim!
Frustrada a caminhada, decidimos apostar o resto do dia em três cascatas emblemáticas da região: Gljufrabuí, Seljalandsfoss e Skogafoss.
Cascata Gljufrabuí
Na minha primeira viagem à Islândia tinha passado perto de Gljufrabuí mas, para ganhar tempo, acabei por não a visitar. Desta vez, foi a insistência de Laurent, o extraordinário guia que liderou a viagem, que me fez colocar as botas na água e me aproximar da cascata. Valeu a pena.
Pela negativa, continuei com alguns problemas em tirar o melhor partido do Galaxy A9. Uma questão de prática que, aos poucos, iria ultrapassando.
Cascata Seljalandsfoss
De seguida, parámos num dos meus locais favoritos em toda a Islândia. É certo que, ao contrário do desfiladeiro de Stakkholtsgjá, a cascata Seljalandsfoss faz parte de quase todos os roteiros na Islândia. A isso não é alheio o facto de ficar na Route 1, mais conhecida como Ring Road, a estrada principal do país que, ao longo dos seus 1,332 km, passa pelos principais povoados islandeses, circundando a ilha.
Para mim, além da beleza do local, fascinou-me a possibilidade de estar atrás da cascata. Do ponto de vista fotográfico, permite uma perspectiva completamente distinta do habitual.
Cascata Skogafoss
Skogafoss é outra das cascatas emblemáticas da Islândia. Fica relativamente próxima das duas anteriores (Gljufrabuí e Seljalandsfoss) mas, visualmente, é completamente distinta. Foi a última paragem de um dia que já ia longo, e uma oportunidade para brincar com as quatro câmaras do Galaxy A9.
Para mim, que já tinha estado em Skogafoss numa outra ocasião, esta visita serviu também para subir a longa escadaria, à direita da cascata, até uma plataforma com vista sobre a queda de água e o curso do rio quase até à foz – coisa que ainda não tinha feito.
DIA 2
Praia dos Diamantes
Assim que estacionámos junto à Praia dos Diamantes, parecia que tinham largado meia dúzia de adultos num parque de diversões. Para quem gosta de fotografia, a Praia dos Diamantes é uma espécie de paraíso a preto e branco, com pinceladas de azul. Por sorte, e apesar da maré não estar no seu mínimo, havia muitos glaciares espalhados ao longo do areal. Um espetáculo único!
Foi quando comecei a ter prazer a fotografar com telemóvel, uma vez que já conseguia dominar melhor as opções do Galaxy A9; e, com isso, controlar melhor os resultados obtidos com as câmaras fotográficas do telefone.
Posso garantir que fomos praticamente arrastados da Praia dos Diamantes. Não fosse o calendário apertado (em dezembro, os dias têm menos de cinco horas de luz) e teríamos ficado horas e horas a brincar com a luz, os reflexos, o contraste entre o gelo dos glaciares e a areia preta, e a bruma que, a espaços, cobria a praia.
Lago Jökulsárlón
Velho conhecido da minha primeira viagem à Islândia, o Lago Jökulsárlón é onde, diariamente, chegam enormes pedaços de gelo que se soltam do imenso Glaciar Vatnajökull. Vê-los serem arrastados pela força da corrente até à Praia dos Diamantes é um lembrete poderoso da força implacável da Natureza.
Glaciar Vatnajökull
Porventura o ponto alto de toda a viagem, a visita às grutas de gelo do Glaciar Breidamerkajökull, uma espécie de “língua” ou “glaciar de vale” do Vatnajökull, ficará para sempre gravada na minha memória.
Primeiro, entrei em duas grutas de gelo em tons de azul, ambas espetaculares mas, digamos, mais “clássicas” (se é que a visita a uma gruta de gelo pode ser chamada de clássica). Depois, entrei na terceira e última, uma absolutamente surpreendente gruta de gelo preto, fruto da fusão do gelo com a lava.
Poucas palavras farão justiça à experiência de entrar naquela gruta. Mais uma vez, em termos fotográficos, não senti qualquer problema em fotografar com o smartphone da Samsung naquela situação de pouca luminosidade. Tive, apenas, alguns problemas com o sistema de focagem (ver secção “Fotografar com telemóvel: conclusão” para mais detalhes, abaixo).
No final do dia, voltámos ao aconchego da Hrifunes Guesthouse. E todos estavam de acordo: tinha sido um dia “épico”!
DIA 3
Desfiladeiro Fjadrargljufur
De novo debaixo de intempérie, o terceiro dia na Islândia foi difícil mas ainda traria algumas surpresas. Desde logo porque, por recomendação de um amigo, profundo conhecedor do país, sugeri incluirmos o Desfiladeiro Fjadrargljufur no nosso programa. E o grupo aceitou.
Assim que lá cheguei, percebi imediatamente os motivos da recomendação. Um desfiladeiro bonito e imponente, com escarpas profundas e um rio veloz, ao fundo, criavam uma paisagem de uma beleza austera.
Infelizmente, a chuva tinha enlameado completamente o trilho que Laurent tinha sugerido; pelo que, aliado à chuva impiedosa que se fazia sentir, abortámos a missão. Deu ainda tempo para os companheiros de viagem porem o drone a voar e tirar algumas fotografias com o telemóvel.
Ainda assim, Fjadrargljufur entrou sem grande dificuldade na lista dos meus locais favoritos na Islândia.
Gruta Yoda (Hjorleifshofdi)
A gruta Yoda fica no cabo Hjorleifshofdi, localizado em Myrdalssandur, não muito longe de Vik. Apesar do aspeto desolado, é um local verdadeiramente mágico. Uma ravina, um rio, duas rochas solitárias rodeadas por um imenso manto de areia preta. Tudo envolto numa bruma mística, com vento e alguma chuva. E uma gruta cuja entrada proporciona belas fotografias – embora pouco originais – da silhueta da entrada. Uma vez mais, diverti-me a fotografar com telemóvel.
Faltava uma paragem para a viagem terminar!
Praia Reynisfjara
Porventura a praia mais perigosa da Islândia, a Reynisfjara recebeu-nos em fúria. O vento estava implacável. Uma das famosas sneaker waves quase fez uma vítima diante dos nossos olhos (apesar dos inúmeros avisos, os turistas arriscam demasiado, seja por inconsciência ou desconhecimento). E o vento, sempre o vento, não deu grandes tréguas, pelo que aproveitámos para aconchegar o estômago no bar da praia e regressar ao conforto do hotel Canopy by Hilton, em Reykjavík.
Fotografar com telemóvel: conclusão
De regresso a casa, estou muito satisfeito com os resultados obtidos a fotografar com telemóvel. Apesar de não ser uma DSLR, consegui algumas fotos incríveis tiradas com o Galaxy A9. E o curioso é que algumas delas estão já entre as mais populares de sempre no meu Instagram! Visto à posteriori, julgo que correu muito melhor do que imaginara.
Como é evidente, não vou deixar a máquina fotográfica e passar a fotografar com telemóvel nas minhas viagens. Nem era esse o objetivo. São coisas diferentes. Gosto da ergonomia de uma DSLR. De sentir a máquina na mão, de sentir o seu peso, de olhar pelo view finder – e esses são alguns dos motivos para não me ter ainda convertido, por exemplo, à discrição das mirrorless.
Entre as coisas que eu gostaria de ver melhoradas no Galaxy A9, a mais relevante é talvez o sistema de focagem. Ao contrário da linha S (que, segundo os meus companheiros de viagem, foca de forma muito eficiente em todas as situações), o A9 nem sempre consegue focar com a rapidez necessária; “perdi” algumas fotos por causa disso. Felizmente, julgo que será um problema fácil de resolver com uma atualização de firmware.
Pela positiva, de realçar a qualidade das imagens saídas da lente principal; o modo Live Focus, que permite controlar a profundidade de campo e, dessa forma, criar fotografias mais criativas; e a existência de uma grande angular que permite maior liberdade de composição (embora com alguma perda de qualidade, quando comparada com a câmara principal). Já a lente Telephoto, não usei tanto, porque não se encaixa tão bem no tipo de trabalho que faço.
Em suma, apesar da difícil adaptação inicial (fotografar com telemóvel, olhando para o visor, ainda me faz confusão), os resultados foram para mim surpreendentes. Mesmo não sendo o topo de gama da Samsung, julgo que o Galaxy A9 pode ser um excelente complemento a uma máquina fotográfica profissional: prático, menos intrusivo para fotografar pessoas e mercados, e com (pelo menos) uma lente de grande qualidade.
Por tudo isto, dá para perceber que fotografar com o Samsung Galaxy A9 foi mais entusiasmante do que estava à espera. Diga-me o que pensa dos resultados e veja também as fotos da Islândia no Instagram. E, caso esteja acostumado a fotografar com telemóvel, teria todo o prazer em conhecer a sua experiência.
A propósito de máquinas fotográficas, veja o post Compactas, mirrorless ou SLR – qual a máquina fotográfica ideal para as suas viagens?
Mais fotos da Islândia (tiradas com o smartphone Galaxy A9)
Dicas para visitar a Islândia
Como organizar a viagem
Já viajei na Islândia de autocaravana e sem qualquer agência de viagens envolvida – e é perfeitamente exequível. E eu gosto dessa liberdade.
Desta vez, no entanto, tudo estava previamente organizado, com os transportes efetuados a bordo de um Super Jeep. Serve isto para recomendar sem reservas o guia Laurent, um francês a viver há 13 anos na Islândia e atualmente ao serviço da agência islandesa Boutique DMC – profissional, bem humorado, flexível e profundo conhecedor. Para a visita às grutas de gelo, recorremos aos serviços da pioneira e muito profissional Local Guide – que também recomendo vivamente.
Onde ficar
Nesta segunda viagem à Islândia fiquei apenas quatro noites no país – em dois hotéis distintos e ambos espetaculares.
Em Reykjavik, tive o privilégio de ficar num dos melhores hotéis da cidade, chamado Canopy by Hilton Reykjavik City Center, e só tenho elogios a fazer. Se o orçamento assim o permitir, é uma experiência que aconselho vivamente. Caso contrário, considere ficar nos mais económicos (note que não escrevi baratos!) Our House Guesthouse, Grettir Guesthouse ou Heida’s Home.
Nas restantes noites, tenho uma recomendação especial. Se viajar para o Sul, não deixe de ficar hospedado na Hrifunes Guesthouse. É uma pousada muito acolhedora onde se sentirá como em casa, com anfitriões simpaticíssimos e comida deliciosa (e criativa).
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
Viajei para a Islândia a convite da Samsung Portugal.
Desde há muito tempo fã de ter uma máquina fotográfica mais portátil no arsenal, seja uma compacta avançada ou mesmo um bom telemóvel. mesmo para fotógrafos “a sério”. Agora tento viajar mais leve, já não sei há quanto tempo o meu tripé anda perdido na bagageira do carro, mas ainda assim gosto de ter sempre algo que sei que está comigo, seja para estar poder estar a fotografar num registo mais descontraído (que prezo muito em viagem) ou mesmo como um backup para quando tudo o resto falhar. Quem esteve há uma semanas em Aveiro no Exodus ouvi-me contar que em Cuba tive de regressar a um local porque todas as baterias que tinha comigo estavam gastas, a única foto que tenho dessa primeira visita é esta e foi tirada com o telemóvel que tinha comigo.
Quanto à Islândia, queria só deixar uma recomendação de alojamento: um local encantador, numa quinta em cima de um fiorde nos Eastfjords (das minhas regiões preferidas na Islândia), onde já fiquei duas vezes: Berunes HI Hostel. O único problema é que a ala mais antiga apenas está aberta na época alta, de Maio a fim de Setembro; a ala mais recente é muito confortável mas não tem o mesmo charme.
Olá Filipe! Excelente trabalho na Islândia! Fotos sensíveis e muito bem feitas. Deu vontade de conhecer este país.
Seu relato é sempre cativante, a provocar vontade imensa de seguir seus passos e dicas.
Muito Obrigada!
Silvia