Hoje republico a quarta crónica de viagem escrita para as edições de verão do jornal Diário de Notícias, publicada em papel no passado dia 5 de agosto. As crónicas são publicadas até ao final do mês, sempre às segundas-feiras, na secção DN – Verão do jornal (e aqui com duas semanas de atraso).
#4 É preciso coragem
Não têm conta as vezes que já ouvi a expressão, com um misto de admiração e respeito: “É preciso muita coragem, Filipe”. “Coragem?”, interrogo. “Sim, para ires a esses sítios”. Não para um lugar concreto, mas sim esses sítios. Lugares como a Mongólia, o Líbano, o Irão, o Iraque, a Bósnia-Herzegovina, a Nicarágua, a Colômbia, o Ruanda, as Filipinas, Vanuatu, enfim, parecem encaixar na definição de esses sítios.
“Esses” é uma palavra estranha. Alberga tudo e nada ao mesmo tempo. Define o desconhecido. E o desconhecido amedronta quem não tem por hábito viajar. Ora, é precisamente para conhecer o que não conheço que eu viajo. Para encontrar paisagens diferentes, pessoas, tribos, tradições, arquiteturas, sons e sabores novos, experiências irrepetíveis. Experiências! – é apenas disso que se trata.
Acredito que, há muitas, muitas décadas, viajar pudesse ainda ser uma verdadeira aventura, um salto no incógnito, um bilhete de ida que poderia não ter volta, coisa de destemidos aventureiros. Hoje não.
Hoje, quase nunca estamos a milhares de quilómetros de casa, apenas a algumas horas de distância.
Hoje, existem guias de viagem que descomplicam os preparativos de uma viagem e mostram ao mais sedentário dos homens como é fácil viajar.
Hoje, existe a Internet, que permite em minutos desvendar quase tudo sobre os destinos, planear o próximo passo, verificar horários, comprar bilhetes de avião, conferir o que outros dizem sobre locais, atrações, hotéis ou restaurantes e, ainda, matar saudades de quem fica.
Hoje, existem seguros de viagem que nos evacuam para a nossa zona de conforto em caso de extrema necessidade.
Hoje, existem cartões de débito e crédito que permitem ter dinheiro em mãos sem grande planeamento. E ainda transferências bancárias internacionais que, em poucas horas, resolvem uma urgência, um roubo, uma despesa inesperada, a necessidade de um regresso antecipado.
Hoje, viajar é fácil. É, acima de tudo, um ato de descoberta pessoal.
Ninguém regressa a mesma pessoa depois de passar um par de semanas a conviver com uma família mongol. A viver sem água quente nem eletricidade numa qualquer aldeia africana. A ajudar numa escola ou orfanato na América Central. A dormir em autocarros e comboios para poupar dinheiro. A superar-se. Ninguém volta o mesmo depois de uma viagem de balão sobre a Capadócia, de um nascer do dia nos templos de Angkor, de um pôr-do-sol em Bagan, de uma caminhada na Grande Muralha da China, da chegada a Machu Picchu, da conquista de uma montanha ou glaciar, do encontro com tubarões-baleia ou gorilas de montanha, do sorriso de uma criança timorense.
É por momentos desses que me faço à estrada. Coragem? Não, de todo. Sou uma pessoa absolutamente normal, proprietário de uma casa que afinal pertence ao banco, casado, pai de uma filha e com os receios do comum dos mortais. Mas gosto de conhecer e de viajar para esses sítios. Talvez por isso ouça tantas vezes a palavra “coragem”, mas não poderiam estar mais longe da verdade: nos dias que correm, tenho por certo que é de facto preciso muita coragem, sim, mas para ficar em Portugal.
Série de Crónicas DN – Verão 2013
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
Não é preciso coragem, é preciso dinheiro! Nos dias de hoje, viajar e conhecer o mundo é um privilégio que não calha a todos. Ou então optas por um estilo de vida que te o permita, mas mesmo assim não é fácil conciliar com outros objetivos.
Nem de propósito, Jhony, hoje publiquei um texto chamado Viajar não é coisa de ricos – dá uma espreitadela. Como tu próprio afirmas, é uma questão de opções. Mas de uma coisa eu tenho a certeza absoluta: não é preciso ter muito dinheiro para viajar..
Dinheiro?? Penso que não. O que é necessário é tomar decisões e fazer opções sobre o que realmente nos é importante!
Ganho praticamente o ordenado mínimo e sei que não posso fazer aquilo que mais gosto, que é viajar! No entanto, não abdico das minhas viagens! Poupo de forma a que todos os anos passe duas semanas fora de Portugal.
É não ir atrás das agências de viagens, é não ir atrás dos pacotes tudo feito e pronto para o cliente consumir, que são sempre caríssimos. É procurar os melhores descontos, ir atrás das melhores promoções, não ir para o hotel de *****, mas para o de *** caso tenha de ser, é construir o nosso percurso, a nossa viagem.
“Ah e tal, isso dá muito trabalho!” já me disseram… Pois dá. Mas eu faço-o porque de facto amo viajar, e é uma das minhas prioridades! Dá trabalho para quem quer ter tudo sem fazer nada… o que eu também não me importava… apenas não me posso dar a esse luxo… mais uma vez, com o ordenado mínimo.
É com exemplos como este que percebermos que, de facto, é possível concretizarmos os nossos objetivos. Retenho a frase: “O que é necessário é tomar decisões e fazer opções sobre o que realmente nos é importante!”. Continuação de boas viagens e obrigado pela inspiração.
Plenamente de acordo. Se há coisa que adore é planear eu mesma a viagem por mais pequena que seja. Ver descontos, os mais económicos, comer sem gastar muito, existem inúmeras formas de contornar a coisa!!! E quando estamos a viajar sozinhos é muito mais fácil escolher! Não se gasta muito dinheiro mas é preciso realmente algum que bem gerido é como se tivesse muito eh eh eh!
Boas voltas
Susana.
Revejo-me bem nas tuas palavras. Contudo, no que toca à decisão de partir ou não partir para uma grande aventura, tem sempre a ver com as obrigações e o tipo de emprego (sustento) que temos. Sim, porque não ter uma casa para pagar e um sustento flexível é importante. Tirando isso, concordo plenamente. Posso ir a qualquer lado do mundo neste momento e só pagar a viagem. Couchsurfing ou HelpX e Workaway são uma grande e muito boa alternativa.
Eu viajo desde que me foi permitido a liberdade para tal. Todos os anos tento visitar locais novos. Tento sempre ir duas vezes ano. Perco meses para planear viagens, com a minha actual mulher ou em grupo de amigos. Gosto de descobrir o que o mundo nos deu. Eu ganho pouco mais que um ordenado mínimo e mesmo assim sempre consegui viajar 1 ou 2 vezes ao ano. Não fumo, bebo só 1 ou 2 copos ao fim de semana com os amigos, não compro luxos e tenho sempre cuidado com as compras. Normalmente tento sempre viajar para locais diferentes todos os anos e com orçamento controlado. Normalmente gasto menos de metade do que aquilo que pede na agência de viagem. A Internet deu-nos o poder de criar o nosso próprio caminho e ao nosso próprio ritmo… Agora vou fazer um circuito de 10 dias, daqui 3 meses com um grupo de amigos e totalmente organizado por mim! ;)
Bom exemplo,David! Por isso é que eu digo que não é preciso ser rico para viajar. Grande abraço e continuação de boas viagens!
Sensacional e motivante! Me encoraja para minha primeira viagem, sonho de vida. Conhecer e morar por um tempo na australia!
Apaixonada por este blog.
Gosto muito da forma honesta, despretensiosa como escreve e mais identifico-me com cada palavra… Parabéns.
Olá Filipe,
Há dez anos quando casei e a Lua-de-Mel foi, de mochila às costas, pelo Leste da Europa, também ouvi inúmeros comentários dessa natureza: “Que coragem! Lua-de-Mel por esses sítios…” A verdade é que, além de ter sido uma viagem maravilhosa e muito enriquecedora (Albânia, Macedónia, Sérvia, Montenegro, Kosovo, Bulgária) conseguimos andar um mês a viajar com o mesmo dinheiro que outros casais investem em 7 dias num resort para a sua Lua-de-Mel. São opções!
Obrigada pelas partilhas.
Continuação de boas viagens!
É assim que se conhece o mundo! Conheço pessoas que quando chegam as férias = hotel + piscina + buffet e ali ficam a descansar. OK, são opções, mas na realidade não aproveitam para conhecer o que nos rodeia!
E há tanta coisa para olhar e VER e tão pouco tempo! Comecei tarde aos 50 e sozinha e só me arrependo de ter começado em prática tão tarde mas ainda vou a tempo de agarrar muitas oportunidades, assim tenha saúde.
Não parem.
Olá Filipe! Amo viajar e tento poupar ao máximo para que, 2 vezes ao ano, eu possa me dar ao luxo de conhecer um sítio totalmente diferente, com outra cultura, outros povos e outra gastronomia. Amooo!! Este é meu sonho de consumo!!! Volto revigorada e cheia de pique! Ah, como é maravilhoso! E te acompanhando eu posso me inspirar a conhecer outros lugares não vistos. Obrigada!
Olá Filipe,
estou encantada com o teu blog.
Até agora as Nossas viagens têm sido apenas pela Europa e pelas nossas ilhas… os meus filhotes ADORAM viajar. Tb Nós planemos passo a passo as nossas viagens, marcamos tudo pela net e nunca vamos por agências.
É fantástico o enriquecimento que se adquire… é sem dúvida o maior legado que deixarei aos meus filhos!
Um beijinho.
APR
GRATA! Parabéns pelo seu Blog, de grande valia para todos! Sou Brasileira e AMO viajar… uma de minhas grandes paixões. Um hábito familiar que aprendi a cultivar. 35º país à vista: Grécia. Planejamento é tudo para o sucesso de uma viagem! Continue! Boa sorte!
Comecei a ler teus escritos por estar querendo me retirar para viajar por alguns meses, e estou começando a planejar, analisar, e também, superar meus receios. Gosto muito da sua forma simples, verdadeira e desinteressada, ou melhor, verdadeiramente interessada em inspirar e mostrar o caminho das pedras para aqueles que estão começando!
Obrigada!