Hoje republico a terceira crónica de viagem escrita para as edições de verão do jornal Diário de Notícias, publicada em papel no passado dia 29 de julho. As crónicas são publicadas até ao final de agosto, sempre às segundas-feiras, na secção DN – Verão do jornal (e aqui com duas semanas de atraso).
#3 A viagem como escola da vida
Sou daqueles que acredita que a estrada é a melhor escola da vida. Sinceramente. Foi por isso que, no ano passado, decidi viajar com a minha filha de 5 anos e mostrar-lhe um pouco deste mundo em que vivemos.
Desde muito nova que a minha filha viaja. Temos familiares a viver nos Açores e em França, e essa foi a primeira razão que a levou a viajar de avião, teria então poucos meses de vida. Desde então, sempre que possível viajo com a pequena Inês, regra geral viagens de curta duração – seja uma ida ao Festival Andanças, que ela adora, ou um fim de semana prolongado em Paris ou Roma. A exceção foi essa volta ao mundo em família, que durou 10 meses.
Foi uma experiência muito gratificante, um misto de projeto pessoal, familiar e profissional. Primeiro de tudo, observar o mundo através do olhar de uma criança é, por si só, um privilégio para nós, pais. Ver a “casa da Rapunzel” numa torre de telecomunicações, um “pé de feijão gigante” num simples teleférico ou um “ovo gigante partido” num edifício contemporâneo são coisas só ao alcance das crianças.
E depois é todo um mundo de descobertas e aprendizagem que se escancara.
A pequena Inês aprendeu a falar as bases do inglês, o suficiente para se desenrascar em situações de aperto. Arranhou o francês e o espanhol, e ainda aprendeu a dizer “olá” em múltiplas línguas. Já não se amedronta quando não entende o que lhe dizem – desenrasca-se, e isso torna-a mais forte e confiante.
Fez amizades e brincou com meninos de todas as idades e raças, alguns deles vestidos apenas com as “roupas da Natureza” – como ela diz -, e isso com certeza a tornará uma mulher mais tolerante.
Aprendeu a gostar de museus – e até de templos – como nunca imagináramos possível.
Colocou uma máscara de snorkel e descobriu o mundo subaquático pela primeira vez, soltando um “isto não é maravilhoso, pai?” quando se viu rodeada de dezenas de peixes de todas as cores e feitios. E, claro, ficou radiante ao encontrar o “Nemo”.
Vestiu a pele de “Dora, a Exploradora” e assumiu a liderança de caminhadas nos maravilhosos parques naturais da Nova Zelândia e dos Estados Unidos da América. Foi, aliás, nos ambientes naturais que melhor se sentiu, e já sabe na ponta da língua a importância de preservar a Natureza.
Acampou pela primeira vez e descobriu o prazer de coisas simples como cozinhar numa fogueira ou apreciar uma paisagem – e desenhá-la.
Deu real valor ao trabalho, ao constatar com os seus olhos de petiza a dureza do cultivo do arroz nos arrozais de Bali (“mãe, o arroz é um grão tão pequenino e dá tanto trabalho”).
Numa palavra, cresceu. Muito.
Como família, foi também uma experiência enriquecedora. E intensa. Nem tudo foi, naturalmente, um mar de rosas. Passar 24 horas por dia juntos, durante 10 meses consecutivos, foi tudo menos fácil. Momentos houve de irritação, em que parecia não nos suportarmos uns aos outros. É normal – todo o ser humano precisa do seu espaço, dos seus momentos, de respirar. Mas soubemos ultrapassar essas adversidades, e isso seguramente nos fortaleceu enquanto família.
Numa palavra, superámo-nos.
Tenho por certo que daquele corpo de menina germinará uma mulher do mundo, sem fronteiras nem preconceitos, tolerante, curiosa e perspicaz, respeitadora das diferenças. Se assim for, terá valido o investimento na viagem como escola de vida.
Série de Crónicas DN – Verão 2013
- O país mais “perigoso” do mundo
- Os imprevistos em viagem
- A viagem como escola da vida
- É preciso coragem
- Viajar não é coisa de ricos
- A gastronomia em viagem
- Profissão: vagabundo
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