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Visitar Bubaque, a ilha mais acessível dos Bijagós

Por Filipe Morato Gomes
Praia de Bruce, Bubaque, Bijagós
Praia de Bruce, na ilha de Bubaque, Bijagós

Está a pensar visitar Bubaque, no arquipálego dos Bijagós, Guiné-Bissau? Pois bem, recentemente tive oportunidade de viajar até Bubaque, nos Bijagós, e gostei muito da experiência. Pela amostra, posso garantir que os Bijagós são, seguramente, o destino turístico mais especial da Guiné-Bissau. Ecoturismo, praias maravilhosas, Natureza, comunidades com forte identidade e até lugares sem gente… de tudo um pouco vai encontrar numa viagem aos Bijagós.

Infelizmente, e para além da ilha de Bolama, só tive oportunidade de visitar a ilha de Bubaque. Ilhas como Rubane, Canhabaque, Uno, Orango, Orangozinho, Kéré e todas as pequenas ilhas do Parque Nacional Marinho João Vieira e Poilão, entre outras, oferecerão diferentes experiências. E também não conheci os hotéis de luxo dos Bijagós. Está visto que tenho de voltar com mais tempo!

Ilha de Bubaque, Bijagós
Vista do litoral de Bubaque

Eis, pois, dicas e sugestões para visitar Bubaque, no arquipélago dos Bijagós, bem como algumas dicas sobre outras ilhas que pode visitar. Porque são todas diferentes e a escolha da ilha (ou ilhas) a visitar nos Bijagós depende daquilo que procura para a viagem. E claro, do orçamento disponível. Vamos a isso.

Ilha de Bubaque, Bijagós

A viagem de barco Bissau – Bubaque

Porto de Bubaque, Bijagós
Porto de Bubaque em dia de transporte marítimo

Cheguei ao porto de Bissau com antecedência. Tinha comprado o bilhete uns dias antes, pelo que o processo de embarque foi simples. Sendo “estrangeiro não residente”, paguei muito mais do que a maioria dos outros passageiros, mas em compensação tinha um lugar no convés superior, com melhores condições e acesso ao bar do ferry.

No barco, havia uma interessante mistura de brancos e guineenses. Boa parte ia passar o fim de semana a Bubaque, desfrutando das águas tépidas da Praia de Bruce. Um grupo de jovens guineenses preparava-se para acampar até domingo. Um português disse-me que ía aos Bijagós “em negócios”. Outros eram habitantes de Bubaque e tinham ido a Bissau comprar mantimentos.

A viagem decorreu sem sobressaltos. O mar estava tão tranquilo quanto o ambiente a bordo. Havia gente a comer arroz com frango ou peixe; muita cerveja a circular; pessoas de cabeça ao vento ouvindo música nos seus airpods; e, no bar, alguns a trabalhar nos seus portáteis e outros a jogar cartas com entusiasmo.

Mais de quatro horas depois o ferry atracou na ilha mais habitada dos Bijagós. Estava pronto para visitar Bubaque – a minha experiência no arquipélago.

A minha (primeira) experiência no Arquipélago dos Bijagós

Visitar Bubaque, Bijagós
Aldeia de Bubaque, arquipélago dos Bijagós

Assim que coloquei um pé em Bubaque, a realidade encarregou-se de me mostrar imediatamente ao que vinha. Para lá do epíteto de paraíso natural, o que pude constatar foram as condições precárias da vida em Bubaque. E os contrastes.

Enquanto muitos guineenses descarregavam as mercadorias, ao largo da ilha duas lanchas velozes levavam europeus endinheirados para atividades de pesca desportiva.

Aldeia de Bubaque, Bijagós
Aldeia principal da ilha de Bubaque, no arquipélago dos Bijagós

Havia porcos e cabras a vaguear nas ruas. E muito lixo. Uma criança tomava banho na rua com um balde, que água pública canalizada é algo que não existe em Bubaque. Ouvi o ritmado som de um pilão a ecoar das escadas à porta de uma casa. As casas, essas, eram de madeira ou terra, a fazer lembrar as tabancas da Guiné-Bissau continental – como Elalab.

Felizmente, e apesar de eventuais desequilíbrios nutricionais, fome é coisa que me dizem não haver nos Bijagós. Porque a terra é fértil e o mar fornece peixe de sobra. Mas não há como negar que, na ilha de Bubaque, o “paraíso” dos Bijagós vendido por lodges como o Kéré (na ilha de Kéré) ou o Ponta Anchaca (na vizinha ilha de Rubane) parecem ali ser uma miragem.

Pescadores nos Bijagós
Pescadores prestes a chegar a terra na ilha Bubaque, arquipélago dos Bijagós

Nas poucas centenas de metros que me levaram à pousada boa onda Saldomar, do simpático e hospitaleiro espanhol Melchior, deu logo para sentir Bubaque. Um banho de realidade. Mas as pessoas eram afáveis – que hostilidade foi coisa que nunca senti no meu roteiro de viagem pela Guiné-Bissau! – e Bubaque viria a revelar-se uma boa surpresa.

Cheguei à pousada Saldomar já a tarde ia alta, pelo que não deu para explorar grande coisa. Para além de visitar a aldeia de Bubaque e dessas primeiras impressões, a descoberta da ilha ficaria para o dia seguinte.

Praia de Bruce

Tuk tuk em Bubaque
A viajar de ruk tuk em Bubaque, Bijagós

E assim, de manhã cedo, aluguei um tuk tuk na companhia de dois viajantes espanhóis que conheci na hora e fomos até ao extremo sul da ilha de Bubaque. O objetivo era conhecer a Praia de Bruce, tida como o mais afamado areal de Bubaque – e um dos mais frequentados dos Bijagós.

É, sem dúvida, uma praia belíssima. Longa e de areia branca, com água tépida e um par de pousadas como a Wefa, onde parámos, a Praia de Bruce é um local perfeito para passar um par de dias desligado da realidade. A ler um livro, descansar na rede, contemplar o mar, dar uns mergulhos, beber uma cerveja gelada e comer bom peixe.

Praia de Bruce, ilha de Bubaque, Bijagós
Vista do areal da praia de Bruce, em Bubaque, Bijagós

Foi exatamente isso que fiz, embora por um período mais curto. Fiquei para o almoço, cuja confeção foi absurdamente demorada, mas na verdade pressa era coisa que eu não tinha. Havíamos combinado com Du, o motorista de tuk tuk originário da Guiné-Conacri, que ele nos apanharia durante a tarde, pelo que tive tempo para desfrutar do dolce fare niente na Praia de Bruce. E, confesso, soube-me muito bem.

Mentalmente, recordei os tempos passados em ambientes do género por esse mundo fora, das praias de Zanzibar às ilhas da Tailândia, e fiquei até com vontade de ali ficar um par de dias. Infelizmente, o tempo disponível não me permitiu visitar Bubaque com mais calma e desfrutar desse pequeno prazer. Pelo menos nesta viagem!

Praia Etikorete

Wefa Hotel, Praia de Bruce
Pormenor decorativo no Wefa Hotel, na Praia de Bruce

Quando chegou a hora de regressar à aldeia de Bubaque, desafiámos Du a fazer um pequeno desvio para conhecer as areias avermelhadas da Praia Etikorete. E assim foi.

Pouco antes da aldeia, virámos em direção à tabanca de Bijante. Estava animada, a tabanca! Quatro jovens carregavam enormes colunas de som para algum lugar que não descortinei. Muita gente, principalmente mulheres e crianças (muitas!), estavam nas ruas ou à porta de casa, brincando, estendendo roupa ou preparando comida.

Praia Etikorete, ilha de Bubaque, Bijagós, Guiné-Bissau
Etikorete, provavelmente a praia mais bonita de Bubaque

E não pude deixar de reparar em três simpáticos anciões com a cara marcada pelo tempo, com quem acabei à conversa para tentar confirmar a localização da praia. E de novo, apesar de estarmos, por assim dizer, a “invadir” o quotidiano da tabanca conduzindo o tuk tuk por entre as casas, nem por um momento me senti mal recebido.

Seguimos então um par de quilómetros por um caminho florestal mais propício para caminhar do que para um tuk tuk, até que Du confirmou que tínhamos de deixar o tuk tuk ali estacionado e seguir a pé até à praia. Faltavam apenas 700 metros.

Praia Etikorete, Bubaque, Bijagós
Praia Etikorete com a maré baixa, ilha de Bubaque

Chegados à praia, o deslumbramento. Era uma pequena baía rodeada de manguezais, com águas transparentes e areia em tons de laranja. A maré estava baixa, pelo que as raízes do manguezal estavam já fora de água, proporcionando um cenário de grande beleza. Não estava perfeito para nadar, porque as águas estavam muito baixas, mas não tenho dúvidas em afirmar que a Praia Etikorete é mais bonita do que a famosa Praia de Bruce.

Melchior, o proprietário da pousada, haveria de me dizer que eu devia lá ter ido com a maré cheia e que assim tomaria um dos melhores banhos da minha vida. Duvido que a praia seja mais bonita nessa altura, mas é naturalmente muito melhor para tomar banho (sem ter de caminhar para muito longe do areal). E consta que é possível nadar entre o labirinto de manguezais. Fica a dica, caso queira tomar um banho inesquecível.

Visitar a aldeia de Bubaque

Mercado de rua, Bubaque
Mercado de rua junto ao porto de Bubaque, arquipélago dos Bijagós

Depois de muitas fotografias e um banho de mar, regressei à pousada Saldomar, perto do porto de Bubaque, para relaxar. Tinha sido um dia em cheio na ilha de Bubaque, mas ainda dei por mim a dar mais um passeio pela aldeia antes de recolher definitivamente à pousada para mais um jantar maravilhoso.

No dia seguinte, domingo, por uma infeliz casualidade ditada pelas marés, o ferry de regresso a Bissau zarparia às 10:00 da manhã. Foi, por isso, uma visita muito curta à ilha de Bubaque, no coração habitado do arquipélago dos Bijagós.

Ainda assim, valeu muito a pena!

Visitar Bubaque, Bijagós: Barcos de pesca
Barcos de pesca em Bubaque, arquipélago dos Bijagós

Dicas para visitar os Bijagós

Como chegar aos Bijagós

Tirando os hotéis que organizam os seus próprios transferes em barcos próprios, como é o caso do Kéré, por exemplos, há barcos da empresa Consulmar de Bissau para a ilha Bubaque, uma vez por semana, e de Bissau para Enxudé, que dá acesso à ilha Bolama, de segunda a quinta-feira.

Regra geral, o barco Bissau – Bubaque sai às sextas-feiras, com regresso a Bissau aos domingos (a hora exata varia em função das marés). Quanto ao trajeto Bissau – Enxudé, é normalmente feito de segunda a quinta-feira da parte da manhã. Veja os horários atualizados no site da Consulmar com três ou quatro semanas de antecedência (antes disso os horários não costumam estar disponíveis). Para estrangeiros não residentes o preço é de 16.500 XOF por cada viagem, igual para ambos os destinos.

Canoa Bubaque - Bissau
Carregando a canoa que liga Bubaque a Bissau

Dito isto, é possível regressar de Bubaque a Bissau em canoas muito mais pequenas e instáveis (3.000 XOF). Indague na sua hospedagem em Bubaque sobre informações atualizadas a este respeito.

Em determinados dias da semana (pelo menos ida para Bubaque às sextas-feiras e regresso ao domingo, tal como o ferry), há ainda lanchas rápidas da Consulmar na rota Bissau – Bubaque. O preço é de 30.000 XOF por trajeto, sendo que a viagem demora 90 minutos, no máximo.

Para além das ligações a Bissau, note que há transportes de Bubaque para várias outras ilhas do arquipélago dos Bijagós, nomeadamente para Canhabaque (ida às terças e sábados, com regresso às quartas e domingo); para Uno e Orango (em ambos os casos, ida às segundas e regresso aos sábados); e ainda para Soga (ida aos sábados e regresso aos domingos). E, claro, lanchas privadas para os hotéis localizados noutras ilhas, como Rubane ou Kéré.

Bijagós: como escolher a sua ilha

No artigo sobre onde ficar nos Bijagós explico as diferentes opções que os turistas têm à sua disposição no arquipélago dos Bijagós. Como disse, não conheci muitas outras ilhas, mas fiz imensas pesquisas a esse respeito durante o planeamento do meu roteiro na Guiné-Bissau – e é esse conhecimento que ali partilho. Espero que as dicas sejam úteis!

Onde ficar em Bubaque

Onde ficar em Bubaque: Pousada Saldomar
Entrada para o meu quarto na pousada Saldomar, em Bubaque

Há várias pousadas onde ficar em Bubaque, mas creio não exagerar se disser que a melhor de todas é a já referida Saldomar. Há lugares muito mais caros, mas a relação qualidade / preço não compensa. De todo. Fique na companhia do espanhol Melchior num dos quartos simples mas bem cuidados da pousada Saldomar e não se arrependerá. Além de que é, seguramente, o melhor local onde comer em toda a ilha.

Alternativamente, caso a prioridade seja fazer férias na praia e ficar num hotel pé na areia, então nesse caso a escolha acertada só pode ser o Wefa Hotel, instalado na belíssima Praia de Bruce. Não tem erro – vai adorar.

Pesquisar hotéis em Bubaque

Gastronomia e onde comer

É muito provável que faça a maioria das refeições na pousada onde está hospedado, seja na Praia de Bruce ou na povoação de Bubaque. Dito isto, creio só haver um sítio verdadeiramente distintivo e recomendável para fazer uma refeição na ilha: a pousada Saldomar. No caso da Praia de Bruce, almocei na pousada Wefa e, apesar de um tempo de espera absurdo, a comida também estava saborosa.

Conte comer bastante peixe, vindo diretamente dos pescadores locais para a cozinha de Melchior.

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.