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O incrível património mineiro de Mina de São Domingos

Por Filipe Morato Gomes
Visitar Mina de São Domingos: Achada do Gamo
Achada do Gamo, Mina de São Domingos

Quanto mais viajo por esse mundo fora, mais aprecio Portugal. Recentemente, decidi visitar Mina de São Domingos – a aldeia e a mina propriamente dita – durante uma viagem de autocaravana por Portugal; e posso garantir que fiquei apaixonado. Apaixonado pela praia fluvial de Tapada Grande, onde pernoitei; pela aldeia, por onde cirandei; e, claro, pelo inestimável património mineiro, abandonado e decadente, da Mina de São Domingos.

É sobre essa visita à principal mina da região, já desativada, que hoje escrevo. A experiência foi tão positiva que acabei por ficar mais tempo na aldeia do que em qualquer outro local nesta viagem pelo sul de Portugal. Vamos a isso.

A minha visita à Mina de São Domingos

Central elétrica das minas de São Domingos
Central elétrica das minas de São Domingos

Antes de mais, a palavra a quem sabe sobre a atividade mineira:

A Mina de São Domingos e a Faixa Piritosa Ibérica

“A mina de São Domingos localiza-se na Faixa Piritosa Ibérica (FPI), mundialmente reconhecida pela sua riqueza em sulfuretos maciços vulcanogénicos, vulgarmente conhecidos por pirites.

Esta província metalogenética forma um arco com 250km de comprimento e 30km de largura, que abrange parte do Alentejo, do Algarve e da Andaluzia.

Os jazigos de sulfuretos da FPI encontram-se associados a uma formação geológica constituída por rochas vulcânicas e sedimentares formada na era Paleozoica, há cerca de 352 a 330 milhões de anos.

A génese dos jazigos de pirite da FPI, como o de São Domingos, está relacionada com a circulação de fluídos hidrotermais (água do mar modificada por fluídos magmáticos) entre rochas vulcânicas e sedimentares, as quais sofreram, por isso, intensos processos físico-químicos de lixiviação e troca iónica.” – in painéis informativos do complexo mineiro.

À parte os termos um pouco técnicos da explicação, é importante reter a abundância de minério existente em São Domingos; bem como a importância económica da exploração mineira na região – que estava prestes a visitar.

Estacionei a autocaravana e dirigi-me às antigas oficinas ferroviárias do complexo, onde fui recebido por uma cegonha com um filhote, no seu ninho lá no alto.

Oficinas ferroviárias da Mina de São Domingos
Antigas oficinas ferroviárias da Mina de São Domingos, Mértola

Tido como a “coluna vertebral” da mina, o complexo ferroviário permitia transportar o minério ao longo de 17km até ao porto mineiro do Pomarão. Era a grande vantagem competitiva da Mina de São Domingos, uma vez que facilitava o rápido escoamento do minério, por via marítima, até Inglaterra.

Ora, era precisamente nos edifícios diante de mim, decrépitos e sem telhados, que se faziam os trabalhos de reparação e pintura dos vagões e locomotivas. Dava para perceber o espaço para os carris, no solo; a estrutura que segurava o telhado; e pouco mais. O resto teve de ficar ao cuidado da imaginação.

Fui caminhando pelo complexo, seguindo na direção da lagoa de águas ácidas. Passei primeiro defronte da central elétrica, cuja torre estava também tomada por outra cegonha e seu filhote, até que cheguei ao antigo cais do minério da Mina de São Domingos.

Cais do minério
Antigo cais do minério

O cais do minério era o local onde se efetuava a descarga e separação do minério oriundo do subsolo. Uma vez separados por várias categorias, os minérios eram então carregados nos vagões, onde seguiam para tratamento no Centro de Britagem da Moitinha ou nas fábricas de enxofre da Achada do Gamo (que haveria de visitar mais tarde); ou ainda diretamente para o porto fluvial do Pomarão.

Atualmente, e apesar do estado de conservação duvidoso, o edifício principal do cais do minério mantém a imponência e elegância de outrora. De lá, já se avistava a corta da mina – a zona de extração propriamente dita, em socalcos a céu aberto.

Visitar as minas de São Domingos
Ao fundo, uma lagoa de águas ácidas

À medida que me fui aproximando da corta, comecei a avistar as águas ácidas da lagoa. A água era muito escura – quase preta -, adquirindo diferentes tonalidades junto às margens. Isto porque, com o fim da laboração na Mina de São Domingos, o abandono da extração de água “permitiu a subida do nível freático dentro da corta”, ali se acumulando águas extremamente ácidas.

O cheiro a enxofre (ou algo parecido) era suportável; mas consta que as águas ácidas ali existentes são, de facto, extremamente tóxicas. Pensando nisso, estar ali com as minhas crianças deu-me um friozinho na barriga.

Águas ácidas
Lagoa de águas ácidas na corta da mina

Era hora de pegar na autocaravana e conduzir até à Achada do Gamo, para apreciar as escombreiras e a decrépita antiga fábrica de enxofre.

Desde o início das atividades modernas de mineração na Mina de São Domingos, a Achada do Gamo foi o “centro das atividades metalúrgicas sobre os minérios extraídos”. Como visitante, mais até do que essa importância histórica, foi o que resta dos edifícios que me fascinou.

É uma paisagem industrial bela e decadente. Visualmente, as duas torres da antiga fábrica de enxofre ameaçavam cair a qualquer momento. Mas os lugares abandonados têm quase sempre um charme inexplicável, pelo que me delonguei um pouco a explorar os edifícios.

Achada do Gamo, Mina de São Domingos
Achada do Gamo, a antiga fábrica de enxofre na Mina de São Domingos

Pouco depois, dei por finda a visita à Mina de São Domingos de sorriso no olhar. Fui transportado no tempo. O local é incrivelmente fotogénico. Adorei!

Era tempo de voltar à viatura e ir visitar Mértola; e depois regressar à aldeia para relaxar ao som das águas da praia fluvial da Tapada Grande. Não tóxicas, claro está!

Estando em Mina de São Domingos, aproveite para conhecer também a Casa do Mineiro e o Cineteatro (“núcleo expositivo”).

Guia prático

Como chegar

É imprescindível carro próprio (ou táxi) para visitar Mina de São Domingos. Desconheço qualquer transporte público entre Mértola e a aldeia.

Visitas guiadas à Mina de São Domingos

É possível visitar o complexo mineiro de forma totalmente independente. Foi isso que fiz; mas senti que teria sido mais proveitoso se estivesse acompanhado por um antigo mineiro ou um guia que explicasse todo o processo de mineração e as funções dos edifícios em ruínas.

Se preferir uma visita guiada, saiba que é também possível fazê-lo; desde que marque com antecedência junto da Fundação Serrão Martins. A visita custa 3€ por pessoa, para grupos entre seis e 25 pessoas; mas está sujeita à disponibilidade de elementos da Fundação para conduzir a visita.

O tour dura sensivelmente duas horas e inclui um circuito urbano da aldeia Mina de São Domingos e a visita ao antigo complexo mineiro. Não inclui visita à Estação da Moitinha, à Achada do Gamo nem ao Porto fluvial do Pomarão.

Contactos: telefones: 286647534 / 961940458; email: fserraomartins@gmail.com

Onde ficar

O hotel mais famoso da região é agora chamado de Alentejo Star Hotel, mas existem duas opções de turismo rural, extraordinárias, nas redondezas. Não ficam no centro da povoação, mas estão ambas suficientemente próximas para que a localização não seja um problema. São elas a Casa da Torre e o agro-turismo Monte da Galega. Absolutamente recomendáveis.

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.