Tinha 27 anos quando visitei a Expo’98, em Lisboa. Foi um momento épico, em que viajei intensamente sem sair do país, de pavilhão em pavilhão, fascinado por um mundo que, até então, era para mim quase desconhecido.
O sucesso do evento foi de tal ordem que as filas para visitar as exposições mais interessantes eram enormes, o que obrigava a esperar. E a ter muita paciência. Mas a recompensa por essa espera, salvo raras exceções, valia a pena. Do Japão à Croácia, o interior dos pavilhões era quase sempre bonito e verdadeiramente inspirador.
Ora, na feira havia um passaporte que os visitantes podiam comprar. A ideia era, após visitar o pavilhão de um determinado país, carimbar o passaporte com um visto desse país. Era uma espécie de recordação da viagem pela Expo’98. A ideia era boa.
Acontece que presenciei várias vezes o seguinte cenário: um visitante chegava junto do pavilhão e reparava que a fila para entrar estava enorme; em vez de ficar na fila à espera de entrar e visitar as exposições e experiências interativas oferecidas no seu interior, ia direto para junto do carimbo, carimbava o passaporte e ia-se embora para o pavilhão seguinte.
Essa imagem nunca mais me saiu da cabeça (até já a abordei num texto sobre coisas que eu diria a quem planeia fazer a primeira grande viagem).
Ora, por estes dias recebi um pedido de entrevista para uma dissertação de mestrado intitulada Viagens e Viajantes – Colecionar e Contar Territórios. Nas perguntas, falava-se de “quantificar e colecionar viagens” e pretendia-se graduar de um a cinco “fatores” considerados “importantes” para “classificar viajantes”. Fazer um ranking de viajantes, portanto. Sem querer discutir o mérito da dissertação, que pode evidentemente ser de grande qualidade, confesso que aquilo me incomodou.
Andava há algum tempo para escrever sobre o ênfase que se dá aos carimbos no passaporte e ao número de países visitados, em detrimento das experiências. Decidi que era altura de o fazer. E de repetir, alto e bom som, que viajar não é uma competição!
Ranking de viajantes
Talvez seja um problema meu, mas incomoda-me a quantidade de vezes que me perguntam quantos países já visitei. Como se isso fosse o mais relevante. Como se os números fossem mais importantes do que as experiências. Como se aquele número mágico de países visitados definisse o meu lugar num ranking de viajantes – seja lá o que isso for.
Eu entendo a curiosidade que viajar desperta. E bem sei que há pessoas para quem os números são fundamentais. Viajantes para quem os carimbos no passaporte são um objetivo assumido. Ou gente que passa quatro ou cinco dias em Maputo e diz que “Moçambique está feito”.
E isso, na verdade, não tem mal nenhum. Não me identifico, mas não tem mal nenhum.
Viajar é um ato individual e cada um deve encarar a viagem da forma que se sentir melhor. Mas que fique claro: uma pessoa que já esteve em 50 países não é necessariamente mais viajada do que outra que esteve em apenas 20.
É por isso que nunca senti grande motivação para alimentar plataformas como o Most Traveled People ou Nomad Mania (antigo The Best Travelled). Criei os perfis há vários anos, mas não os utilizo regularmente. As plataformas têm com certeza inúmeras coisas boas. Desde logo, servem como registo das viagens de cada um; depois, aproximam, de alguma forma, a comunidade de viajantes. Mas temo bem que tenham como efeito principal transformar esses mesmos viajantes em colecionadores de países, territórios e lugares UNESCO. E incentivar a competição entre eles.
Admito que possa estar enganado, mas a ideia desagrada-me.
Um exemplo: há uns tempos, uma dessas plataformas lançou um inquérito para definir metodologias para contar países e territórios. Uma das questões em discussão era se uma passagem em trânsito num aeroporto deveria ou não contar como uma visita ao país. Nem queria acreditar quando recebi um email com os resultados.
A hipótese de alguém considerar que estar num aeroporto significava visitar o país já seria suficientemente ridícula; mas a verdade é que uma percentagem relevante de inquiridos – principalmente entre os mais experientes – respondeu afirmativamente. Fiquei ainda mais desiludido.
É certo que – repito – viajar é um ato individual e cada um deve encarar a viagem da forma que se sentir melhor. Eu, por exemplo, admiro mais quem viaja devagar.
Admiro quem não conta países. Admiro quem viaja sem sequer dizer que o fez (contradições sobre as quais, sendo blogger de viagens, tenho refletido). Admiro quem volta aos lugares, às pessoas, aos sabores. Admiro quem volta aos mesmos países para descobrir outros recantos, locais diferentes; e viver novas experiências. Admiro quem investe tempo para conhecer a fundo um destino, com tempo, em vez de “conhecer” dez países num mês. Admiro, no fundo, quem encara a viagem como um ato de descoberta, de enriquecimento pessoal; e não como colecionismo.
Por tudo isso, não respondi à entrevista.
Por tudo isto, quando nos conhecermos cara a cara, peço-lhe que não me pergunte ao fim de 30 segundos quantos países já visitei.
Pergunte-me pelas pessoas mais fantásticas que conheci. Pergunte-me pela gastronomia mais saborosa que já provei. Pergunte-me pelo nascer do sol nos Kaluts. Pergunte-me por que chorei em Phnom Penh. Pergunte-me pela emoção de ver tartarugas a desovar na Costa Rica. Pergunte-me pelos momentos em que não fiz nada num café de Tóquio. Pergunte-me pela história por trás de uma determinada fotografia. Pergunte-me por um deserto, um templo, uma praia, uma montanha…
Só depois disso, se realmente tiver curiosidade, me pergunte pelo número de países que já visitei (mas não se admire se eu não souber o número exato). Combinado? É que viajar não é mesmo uma competição.
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Filipe, já há uns tempos que me ando a debater com essa questão. Eu sei em quantos países estive, mas não é, nem nunca foi, numa ideia de “competição”. Assim como não é, nem nunca será, numa lógica de “já está, não preciso de cá voltar”. Aliás, já regressei diversas vezes a alguns países e repeti cidades, exactamente porque fica sempre algo por ver, por conhecer, por experimentar… Na verdade, quero regressar a todos os países onde já fui, porque vivi algo de mágico em todos eles. E porque uma cidade ou uma localidade não é um país.
Mas sabes, no fundo, porque é que conto países? Porque sei que, infelizmente, no espaço de uma vida não vou ter tempo para experienciar o mundo inteiro, para provar toda as comidas, para conhecer todas as pessoas, para ver todas as paisagens, para compreender todas as culturas. E tenho algum conforto em saber que ao menos tive momentos inesquecíveis numa (pequena) parte deste mundo maravilhoso. Não sei se faz muito sentido, mas é a minha lógica.
Isto tudo para dizer o quê? Que gostei muito desta reflexão. ;)
Olá Catarina, claro que faz sentido. A mim incomoda-me a lógica de ranking, a lógica do colecionismo, as conversas entre viajantes que quase sempre passam por aí. Quanto ao resto, é como digo, viajar é um ato individual. Beijinhos e boas viagens, seja para destinos novos ou repetidos.
Exactamente como vejo as viagens e os sítios, e muitas vezes é a razão porque chego a não gostar de falar de viagens com algumas pessoas. Era tão capaz de voltar a quase todos os sítios onde estive.
É isso mesmo Filipe. Concordo em absoluto. Dizer que se esteve em 30 países e entre eles estar o Vaticano, o Mónaco, Hong Kong, etc só para parecer mais é ridículo. E “passar” não é a mesma coisa que visitar ou conhecer…
Sou um tipo de listas. Ainda a semana passada te disse que o voo que viemos de Copenhaga era o meu 100º e sei que é tonto; mas ser tonto é uma coisa, outra é usar esses números para vangloriar ou entrar em “rankings”. Isso é presunçoso e até ridículo…
PS: gosto destes posts “filosóficos” de vez em quando, para não ser sempre destinos, destinos, destinos. Bom trabalho.
Tenho um daqueles mapas que se vai raspando os países onde já se foi. Olho para ele para recordar os sítios que já fui, e um pouco para o resto para ver onde ir a seguir. Mas a parte que ainda não está raspada há muito tempo que me deixou de causar stress.
É exactamente por isso que não sei, nem planeio saber em quantos países já estive. Estimo que a contabilidade ande entre os 60 e 70, mas o que é que isso interessa verdadeiramente? O que é que se pode concluir se eu afirmar já ter estado em X países!? Depois há outra questão que se põe: será que isso é mesmo verdade!? Na volta talvez seja melhor prová-lo, não vão as pessoas achar que estou a inventar…
É isto que faz de mim um melhor viajante? Mais experiente? Mais conhecedor da realidade mundial? Então e aqueles países onde já regressei 3, 4 ou 5 vezes, só porque sim? Só porque quero ver o que mudou desde a última visita, porque me sinto bem por lá, porque gosto de revisitar amigos? Exactamente os mesmos amigos que dificilmente faria em visitas fugazes; em viagens que só servem para incrementar um contador; em passagem de fronteira que só resultam em mais uma página de passaporte carimbada.
Bela reflexão! De facto, não há nada mais desagradável do que ouvir um “bora lá despachar isto”… não, não há nada para “despachar”! Ou temos curiosidade em conhecer um determinado local ou nem vale a pena ir. Já estive 5 x na Indonésia e quase sempre que comento a alguém, muitas vezes oiço se não estou farta. Não estou porque há tanto para ver que cada viagem é inédita. Embora esse carimbo seja sempre o mesmo.
Não acredito em contar países do ponto de vista do colecionismo. Por vezes faço esse balanço para relembrar a sorte que tenho por já ter tido a oportunidade de conhecer os sítios onde já estive e para ver o mundo gigante que ainda posso um dia vir a descobrir. :)
Excelente ponto de vista. Gosto sempre de ler estes teus desabafos.
Eu pessoalmente, apesar de saber em quantos países estive, não vejo a viagem como número de países, se quisesse ter visitado todos os países do mundo já o teria feito há muitos anos. Mas, como tu mesmo dizes, viajo para conhecer e experienciar.
Neste momento estou no Tajiquistão, país onde já estive outras quatro vezes no passado. Teria necessidade de visitá-lo novamente? Claramente não, mas, permiti-me explorar mais a fundo, uma região que adorei estar previamente.
Uma coisa que não concordo contigo é a conversa dos 10 países. Aliás, penso que te estás a contradizer.
Porque se dizes que números não interessam, então 10 países ou 1 país num mês, vai dar ao mesmo, porque o que mesmo interessa são as experiências que consegues retirar nesse mês de viagem.
Podes estar um ano num lugar e ter zero experiências. Tem tudo a ver com a maneira como vives a viagem e como é o teu carácter. Quem comunica, é alegre, convive, e se interessa por viagem, vai acabar sempre por aproveitar ao máximo, seja de que maneira for, seja de quantos países por mês for…
Por várias vezes conheci viajantes a viverem vários meses em diferentes locais, e não conhecem niguém, não visitam nada, etc. Ou seja, o tempo é irrelevante. Viajar devagar, e ficar mais tempo num lugar não tem relação nenhuma com o ter experiências enriquecedoras ou deixar de ter.
De qualquer maneira, eu vejo a viagem de outra maneira, eu vejo em distâncias. Quando viajo não olho para as fronteiras e para quantos países existem pelo meio, mas sim, quantos kms são de tal lugar a tal lugar.
Um mês de viagem e 5000km. OK, e países pelo meio? Não interessam quantos. Porque, em 5000km podem estar 10 países, ou até poderia estar só um país.
Uma vez perguntei a um amigo meu se ele queria fazer Lisboa até Vladivostok comigo. A primeira pergunta que me fez foi: “Tchi mas quantos países precisamos de cruzar”… Será relevante?
Resumindo, para mim antes de viajar não avalio em número de fronteiras a cruzar, mas sim, a distância. Não tenho esse limite fronteiriço.
Outra coisa que eu não acho piada são desabafos à maneira como outros viajam. Quem faz um projecto de vida e quer viajar só a conhecer aeroportos, man, eu acho estranho e não me identifico, mas cada um com a sua. Nunca irei criticar nem expressar a minha opinião negativamente acerca dessas pessoas.
Competição? Pá, há pessoas competitivas e outras que não são. Ou seja, viajar é uma ARTE né? porque vem do nosso interior, para desenvolver o nosso espirito e conhecimento etc, mas é como nas artes marciais. Há pessoal que competem, e outros que não. Ou seja, terás de aceitar se calhar, que há pessoas que competem com tudo, e as viagens é uma dessas coisas. Se gostam de ter que visitaram 300 países e 1000 locais UNESCO, deixa-as estar. Terás de felicitá-las e apoiar a seguirem e concretizarem o seu próprio caminho. Porque cada um de nós deveria ficar contente com as concretizações dos outros.
Eu pessoalmente já estive com algumas pessoas que contam países, e uma das coisas que gostei é que geralmente não dizem mal dos que não contam – porque sabem que estão numa missão pessoal, e que cada um faz o que quer da sua vida.
Grande abraço e continua a escrever. Dá-lhe com força.
Abraço desde Dushanbé e não esqueças, Viajar devagar? é para Alentejanos…
Obrigado pela tua opinião, amigo. Eu não sou um viajante competitivo, mas não critico quem é. Só não me identifico. Aliás, podes ler no texto:
“E bem sei que há pessoas para quem os números são fundamentais. Viajantes para quem os carimbos no passaporte são um objetivo assumido. Ou gente que passa quatro ou cinco dias em Maputo e diz que “Moçambique está feito”. E isso, na verdade, não tem mal nenhum. Não me identifico, mas não tem mal nenhum.”
Grande abraço e força nisso.
Sim eu entendo e li bem o que escreveste. Mas a partir do momento que escreves assim dessa maneira, estás a menosprezar o projecto pessoal de cada um, independentemente se és a favor ou não. Estás-te a colocar num patamar superior. Acho isso mais estranho do que viajantes a contarem países quando aterram em aeroportos (e acredita que acho isso bem estranho).
patronize
treat with an apparent kindness which betrays a feeling of superiority.
ABRAÇO Ó MAN!!!
E não fiques muito tempo em casa vai-te à estrada para não ganhares teias de aranha mas é.
Se o texto passa essa impressão – “Estás-te a colocar num patamar superior” – talvez tenha de o rever, porque isso é tudo o que eu não sou.
Daí estar a chamar-te a atenção para isso amigo… :) como disse anteriormente, estás a ser competitivo com as pessoas que dizes que são competitivas. Pensa lá bem a lógica.
abraço
Aliás, só pela tua resposta humilde demonstra que não és assim, e eu sei que não és assim. Não sejas tu competitivo com os que são.
Concordo plenamente consigo Marlene! Mais do que conhecer países, eu gosto de conhecer locais, cidades… Quando insistem em me perguntar quantas vezes fui ao Brasil, para ouvir a resposta: 16, ficam chocados. Acham que é tudo igual, mas foram 16 experiências completamente diferentes.
Tem toda a razão Filipe. Para quê contabilizar os países? Interessa é quando se vai a determinada região, vivê-la. Eu quando digo que conheço, conheço mesmo… não passei por lá. Não entendo itinerários de agências de viagem que conseguem fazer 3 ou 4 países numa semana e os clientes depois dizem que conhecem esses países :(. Eu estou uma semana numa cidade europeia, por exemplo, e preciso lá voltar para conhecer mesmo!
Obrigada por esta partilha que também corresponde à minha perspectiva enquanto amante de viagens.
O que quero dizer é: estás tu mesmo com este texto, a ser competitivo com as pessoas que dizes que são competitivas. Pensa lá bem a lógica.
Adorei! Quando falo de viagens com alguém que “faz” países, já sei que nossas expectativas são muito diferentes. É como aquele negócio de “TEM QUE ver” tal ou qual lugar… Não acredito em atrações obrigatórias, gosto de ir aos lugares que me dão na telha. Viajar não é missão a cumprir, é diversão, do meu ponto de vista. Um abraço!
Caro Filipe,
viajar certamente nao e’ uma questao de contas, sejam elas matematicas, economicas ou outras quaisqueres. Viajar e’ uma opcao, um desafio, um desejo de quebrar “normas do correcto viver”.
A viagem tem de ser interior. E’ o que nos marca ca’ por dentro e fica na memoria que interessa. Devo dizer que tal medir o quanto viajei, aceitando ver o quanto me desafiou a viver, aqui e agora, o encontro com o Outro. Se a viagem me tornou mais pessoa, mais consciente e responsavel pela vida que vivo, entao tenho viajado, senao acredito que so’ tenho andado a ver coisas, belas certamente, mas acabei por perder o cerne do viajante que e’ o encontro com o Outro, a pessoa, o Outro transcendente, o dia a dia enquanto ser interligado com outros seres parte do belo mundo onde vivemos. Viajar e’ ou deve ser peregrinar para fora e para dentro. Sempre gostei do slogan portugues: va para fora ca’ dentro. E como o nosso Fernao Mendes Pinto, o peregrino, peregrinava.
Certamente, que dizer de alguem que mediu Mocambique por Maputo mas perdeu Pemba, Cabaceira, Beira e a ilha de Mocambique por exemplo. Viajar e’ aprender, requer reflexao e imaginacao. E’ verdade ve-se muita competicao e tambem a encontro no meu viver. Mas sei que deixei de viajar quando deixar de me maravilhar. Voltemos a ser criancas.
Desculpem a falta de acentos.
Eduardo – MATANY UG
Filipe,
Excelente reflexão relativo ao acto viajar por um viajante com MUNDO. Hoje em dia, a meu ver, as pessoas adoram “mensurar”, isto é, tudo é quantificável. E o acto de viajar é apenas uma delas. É o resultado da democratização do conceito de viagem. Mas, a meu ver, isso depende do conceito de viagem e do tipo de pessoa. Prefiro viajar pouco, mas bem. Prefiro ir a sítios que me despertam curiosidade, sejam em Portugal ou no MUNDO. Prefiro não ir a sítios da Moda. Infelizmente, a democratização da viagem, tal como a fotografia, serve mais para mostrar do que para experienciar.
Em suma, eu prefiro conhecer e ver pouco, mas bem… do que andar como um turista oriental numa maratona fotográfica pelo Mundo que, na maioria das vezes, olham para as recordações da sua viagem através das fotografias dos países que estiveram. Acima de tudo, viajar para muitos países não é sinal de experiência e contacto com o “Outro”. A mim, a palavra competição não me faz impressão, visto que cada pessoa tem os seus gostos pessoais, interesses, experiências, etc.
Eu conto experiências, não países.
Que venham mais textos! Deixo o repto.
No ano passado ouvi um viajante a falar sobre outro: este gajo é o segundo português mais viajado do mundo! Já foi a mais de 85 países! Eu ainda só vou em 60, e só sou 7 anos mais novo, tenho que me despachar!
Eu abri os olhinhos e pensei… mas isto é uma competição?
Mas bem, isto veio do mesmo gajo que subiu em 45 minutos os degraus que eu subi em 2 horas, e que quando chegou cá acima se pôs a perguntar tempos e ninguém das outras 10 pessoas tinha contado porque isso não interessava nada, e ele ficou todo lixado porque nenhum de nós era competitivo.
E com isto eu quero dizer: contar países e fazer esses checks rápidos seja de países ou de cidades, ou de aeroportos é próprio de malta que é competitiva.
E eu percebo-te na perfeição porque eu sou bolha, niente, nada, zero competitiva, e tenho muita alergia à malta que o é. E isto não é fazer julgamentos (João Leitão, nota bem :) ), é uma questão de empatia.
Eu não tenho empatia com malta que é competitiva, nem mesmo com família que é competitiva. Gosto muito da minha prima, mas ela mede e compara tudo o que acontece e faz porque é competitiva desde que nasceu, juro, e eu não tenho pachorra nenhuma pra aturar nestas m…..
Tenho uma amiga de quem também gosto muito e uma prima, mas com a qual não viajo há uns tempos por opção, porque pra ela tudo o que se faz em viagem é um “tick in the box”, até o jantar no sítio X ou ir até ao jardim Y, mesmo que chegue à entrada do jardim, olha em volta, nem sequer senta o traseiro, e diz: muito giro, tá visto! Ainda falta “não sei o quê onde temos que ir antes de irmos embora pra não sei pra onde”. Eh pá, que canseira meu! Para mim assim não dá. E esta minha amiga e a minha prima tb, não são malta competitiva, mas têm estados de espírito que trazem agarrados a necessidade de fazer muitas coisas, sempre em movimento, e a frase por mim odiada “parar é morrer!”
E tu sabes que eu sou speedada!
Last but not the least, quando cheguei agora de África, houve malta que viu as minhas fotos no FB e me perguntou: mas quantos países fizeste em 3 semanas? Quatro.
Bolas! Tantos?
Oh pá… eu contei o Continente! :D Pra mim só contava África! :)))
Enfim! Bom tema! Beijos!
Filipe,
Interessante texto, assim como são interessantes os comentários que surgiram.
Também não me identifico com as contagens, mas é o que é.
A verdade é que nunca se viajou tanto, nunca se conheceu tanto mundo e se fez tanto Erasmus (e programas na mesma onda) e o racismo, intolerância, sentimento de superioridade, etc., continua a imperar. Dá que pensar!
Abraço
PS: Num encontro/workshop, a pergunta seria: o Caminho de Santiago continua em vista?
Que show de texto Filipe, consegui captar bem o que escreveu. E concordo em partes. Eu mesmo realizei uma viagem de 5 meses por 41 países. Começando em Londres até Mongólia e retornando pela Rússia e norte da Europa tudo de carro com mais 2 amigos.
Alguns países foram feitos em 1 dia (Latvia), outros pelo tamanho em 20 dias (Rússia) e a grande maioria dos dias foram intensos. Deixei de ir a muitos lugares por causa das condições climáticas e não experimentei vários pratos locais porque a viagem foi feita no estilo Low Budget. Pratos que sairiam 10,00 EUR troquei pelo clássico Doner Kebab de 2,00 EUR.
Eu gostaria e muito de fazer a “viagem devagar” que você menciona, mas meu bolso não aguentaria e existe o único fator que não conseguiria recuperar que é o tempo. Tenho medo de fazer viagens devagar deixar de ver tudo que gostaria… Para mim é como se fosse um livro a ser lido com 300 páginas. Primeiro eu leio ele rápido sem me atentar aos detalhes para entender o contexto e conhecer a histórioa. Leio a segunda vez com mais calma para conhecer melhor os protagonistas e me aprofundar.. E leio uma terceira vez com enfase nos capitulos que mais gostei.
No meu entendimento essa discussão está pautada por 2 fatores que depende de cada viajante: DINHEIRO e TEMPO e sempre será assim para todo mundo.
Desse jeito (2 anos de trabaho, 6 meses viajando) que pretendo continuar a viajar, rápido e intenso e se eu captar nem que seja 10% daquele lugar. Já valeu a pena sair de casa.
Olá Bruno, a sua opinião é valiosa mas, na minha opinião, tem um argumento com o qual não concordo: viajar devagar é mais barato – é, aliás, uma das coisas que recomendo no post 15 dicas para viajar mais barato. Abraço e força com essas viagens.
Caro Filipe M. Gomes,
Sou a Patrícia, a estudante que está a fazer o trabalho académico que menciona, e respeito não ter querido participar na discussão que estou a promover com diversos viajantes. Vi o seu comentário neste blog – que conta viagens, conta histórias de viagens – e fiquei muito contente com as ideias e comentários que gerou. O tema é controverso e, julgo eu, interessante.
Na minha pesquisa de hoje encontrei uma plataforma de contagem de países que o Filipe promove no seu site/facebook/etc. Fiquei contente por esta iniciativa que segue a linha de plataformas já existentes, mas pareceu-me um pouco contraditório este rumo, quando diz que está a desenvolver uma página ‘para que possam criar um mapa dos vossos países visitados de forma fácil e divertida’ e ao mesmo tempo escreve que ‘admiro quem não conta países’ e que lhe desagrada a ideia das plataformas que são construídas para esse fim.
Patrícia
Parece-me que estás a confundir formas de viajar (o tal viajar para “contar países” que eu refiro no texto) com saber por onde já se viajou. Abraço.
Tenho uma competição saudável com o número de países que eu e o meu marido visitámos (ele conhece mais), mas de resto faz-me muita confusão contar países (mas sei quantos visitei). Aliás faz-me confusão contar uma cidade conhecida como todo um país visitado. Vejo gente que anda a fazer metas de 100 países, todos os reconhecidos e depois quando se lê o que fizeram é só três-sete dias aqui e já está. Sinto sempre que ficou tanto por conhecer quando saio duma região, ficando já a maturar no “se um dia aqui voltar não me vou esquecer de fazer isto e isto”. Deixei de seguir assiduamente alguns blogs por causa disso, parece que só andam a tentar vender as suas histórias de como conhecer o maior número de países no mais curto espaço de tempo. Perdeu-se a magia de explicar o que sentiram ao conhecerem mais um local.
Gosto imenso da forma como não cedes a essa “pressão” e te manténs low profile, refletindo sobre a forma como viajas. Vale a pena porque o reconhecimento tem chegado prémio atrás de prémio. Continua assim.
Parabéns Filipe pelo texto!
Concordo plenamente com você! Viajar vai muito além de somar países e ter carimbos no passaporte!
O que realmente importa em uma viagem é o nosso autodescobrimento, entender que somos capazes de enfrentar situações que não estávamos programados para viver, conhecer uma bela paisagem e poder sentar para observá-la sem se preocupar com o tempo, ter um momento de ócio, conhecer um local de arquitetura surpreendente que arrebate o coração, experimentar a gastronomia, etc.
Também me incomoda muito o fato de que muitas pessoas chegam em um determinado lugar, fazem sua “selfie” e depois nem olham para construção ou para a paisagem. Deixam para ver tudo pela tela do smartphone! Enfim, é a era tecnológica!
Abraços do Brasil! Tissiana (Rodas nos Pés – Blog de Viagem)
Adorei o texto, Filipe. É muito honesto e pertinente, são reflexões genuinamente viajadas e actuais. E o texto começa com uma excelente analogia: a Expo 98 e o seu inesquecível passaporte. Até a minha avó achava piada ao carimbo.
Gostei em especial da referência a quem viaja sem nada dizer. Não porque seja a mais importante das reflexões que aqui partilhas, mas porque é incomum encontrar linhas dedicadas aos viajantes silenciosos, se assim os posso chamar. Sendo hoje em dia uma viajante silenciosa, senti-me um pouco menos excêntrica ao ler o texto (ainda que esta seja uma excentricidade muito divertida – e, sobretudo, libertadora).
Boas viagens e boa escrita!
Olá, descobri o texto ao buscar no Google os termos “competição” e “viajar”. Esta é uma percepção que experimento aqui no Brasil. É sabido que por aqui a oportunidade de conhecer outros países é restrita a alguns grupos sociais, mas nos últimos anos as políticas têm nos favorecido. Desde então, muitos amigos têm feito exatamente essa corrida pelos carimbos e pelas fotos em pontos turísticos. Aqui chamamos de “euro trip”. Publicam diariamente dezenas de fotografias nas redes sociais. São tantas fotos que duvido que tenham vivenciado a viagem.