
Visitar a ilha de Gozo foi um dos pontos altos da minha viagem a Malta. Porque Gozo tem alma própria, um ambiente tradicional, com velhos malteses à conversa em pequenos tascos, as aldeias bonitas e arranjadas, e até o tempo parece passar mais devagar. Victoria é um povoado fascinante; há praias e desfiladeiros e monumentos megalíticos. Gozo é lindo. É a Malta mais autêntica, com menos turistas e mais interesse. Não sei bem porquê, mas por vezes fez-me lembrar Porto Santo. Talvez não tenha nada a ver. Mas é imperdível!
Lamentavelmente, passei apenas um dia na ilha de Gozo; não pernoitei na ilha e isso foi um erro. Sim, devia ter ficado em Gozo muito mais tempo. Uma rápida passagem por Gozo, a partir da ilha de Malta, não é suficiente. Sim; soubesse eu o que sei hoje e teria dado ainda mais atenção à pequena ilha de Gozo.

Seja como for, tive tempo suficiente para explorar Gozo e ver quase tudo o que queria numa primeira viagem. Sempre em transportes públicos. E é essa experiência que agora partilho. Eis, pois, o que fazer em Gozo numa viagem de um dia a partir da ilha de Malta.
O que fazer em Gozo (o meu roteiro de 1 dia)
Apesar de Gozo ser uma ilha pequena, em apenas um dia não dá para ver e fazer tudo. É, pois, necessário tomar opções. No meu caso, havia quatro coisas que eu queria mesmo visitar em Gozo: a cidade de Victoria, o desfiladeiro Wied il-Għasri, as salinas da região de Zebbug e o Templo Ggantija. E consegui. São a minha lista com o que fazer em Gozo.
Victoria
Depois de chegar de ferry à ilha de Gozo, a minha ideia era seguir de Mgarr para a baía de Rambla; mas o autocarro para essa zona da ilha demorava quase uma hora, pelo que, sem hesitar, adaptei os planos e segui diretamente para Victoria.
A primeira impressão de Victoria foi muito positiva. Ainda não tinha visto nada, mas senti logo um ambiente bem tradicional, com velhos gozitanos em vez de turistas e tascas em vez de pizzarias. Entrei numa delas para tomar um segundo pequeno-almoço, antes de me embrenhar, a pé, no pequeno mas bem cuidado centro histórico de Victoria. Um labirinto de ruelas que, como que por milagre, parecem todas desembocar na belíssima Praça São Jorge, epicentro da velha Victoria.
Deixei-me ficar durante algum tempo, observando o quotidiano local. Estava verdadeiramente satisfeito com Victoria, mas o meu roteiro em Gozo tinha vários outros locais para explorar. Era, pois, hora de partir. A visita à cidadela de Victoria (onde fica a Catedral de Gozo) ficaria para mais tarde.
Mais uma vez de transportes públicos, segui em direção à região de Zebbug, com o objetivo de conhecer o desfiladeiro Wied il-Għasri e as salinas de Marsalforn.
Desfiladeiro Wied il-Ghasri
Tinha visto umas fotografias do desfiladeiro Wied il-Għasri e, nesse mesmo instante, coloquei Wied il-Għasri como uma das prioridades máximas da lista com o que fazer em Gozo.
Saí do autocarro numa aldeia próxima e comecei a caminhar descendo a encosta em direção ao mar. Adiante, a estrada alcatroada transformou-se num trilho de terra batida – estava já bem próximo de um dos lugares mais marcantes deste meu curto roteiro de um dia em Gozo.
Quase em simultâneo com um pequeno grupo de caminhantes a viajar em autonomia (as mochilas de trekking assim o denunciavam), cheguei ao topo do desfiladeiro Wied il-Għasri. Lá em baixo, águas em vários tons de azul e verde, ladeadas por fotogénicas escarpas calcárias. Talvez não seja tão imponente como outros desfiladeiros que visitei nos últimos tempos – como o Wadi Bani Khalid, em Omã -, mas é seguramente mais tranquilo.
Desci então até à pequena praia de seixos; deixei-me ficar a contemplar a paisagem; aproveitei para comer uma sandes que tinha comprado em Victoria; e, só então, voltei a fazer-me à estrada. O objetivo era caminhar ao longo do litoral escarpado que une Wied il-Għasri a Marsalforn – sempre acompanhado por salinas escavadas na rocha. Uma coisa do outro mundo!
Salinas de Marsalforn
Mesmo junto ao início do desfiladeiro, começa (ou acaba) uma extensa área de salinas escavadas na rocha. Caminhei junto à costa, desde Wied il-Għasri até aos arredores de Marsalforn, sempre acompanhado por escarpas e salinas. A paisagem, moldada pelo homem ao longo dos tempos, era avassaladora.
Quase a chegar a Marsalforn, falei com um desses homens. O senhor Manoel tem 76 anos mas aspeto de 90, ar rude e simples, dentes em falta e meio século a trabalhar nas salinas entranhado na pele rugosa. Tinha acabado de repreender um jovem casal de turistas que ignorou os muitos sinais Keep off the salt pans. “Quero manter o meu sal limpo, mas assim é difícil. Os turistas vão para as salinas e o sal fica cheio de terra”, lamentou.
Sentei-me no muro, e por ali ficámos à conversa. Explicou-me que, antigamente, as salinas eram escavadas na rocha à mão; e a água do mar era trazida à força de braço (agora há bombas). “Era um trabalho muito mais duro”.
Eu estava fascinado. As salinas de Marsalforn são tão belas quanto rudes, mas representam uma espécie de resistência; gente que se recusa a abandonar as tradições. Talvez porque sempre foi assim; talvez porque o turismo não pode ser tudo. Para mim, e talvez por essa autenticidade, estava com a nítida sensação de que a ilha de Gozo é mesmo o melhor de Malta.
Templo Ggantija (“Torre dos Gigantes”)
Depois de me ter despedido do senhor Manoel, caminhei até à paragem de autocarro mais próxima; de lá, segui direta e rapidamente até aos templos Ggantija, construídos no planalto Xaghra e integrados pela UNESCO num conjunto de templos megalíticos que fazem parte da lista de Património Mundial em Malta.
Pouco se sabe, com absoluta certeza, sobre a utilização dada a Ggantija, mas os arqueólogos acreditam que poderá estar ligada a cultos da fertilidade. Pelo menos é o que das figuras e estátuas ali encontradas se depreende. Eu, pouco entendido em arqueologia e templos megalíticos, posso apenas dizer que gostei de visitar Ggantija; mas não fiquei tão fascinado quanto no Hipogeu.
Por esta altura, estava plenamente satisfeito com a minha visita a Gozo. Noutras circunstâncias – e especialmente se tivesse optado por dormir em Gozo -, teria também ido à baía de Ramla e à adjacente gruta Tal-Mixta; e porventura ainda à zona de Saint Lawrence, no extremo oeste da ilha de Gozo, para ver o chamado Buraco Azul e o que resta da Janela Azul, outrora a mais famosa atração natural da ilha de Gozo (colapsou em março de 2017).
Ainda conseguiria visitar outros locais de Gozo – dizia -, mas tinha gostado tanto da curta passagem matinal por Victoria que acabei por lá voltar para explorar um pouco melhor a capital de Gozo. Até porque o clima e a temperatura da água do mar não estavam propícios a banhos, pelo que a baía de Ramla teria mesmo de ficar para uma próxima viagem a Malta.
Cidadela de Victoria
O dia já ia longo e o corpo começava a acusar algum cansaço. Por isso, e depois de explorar novamente o centro histórico de Victoria, aproveitei para me sentar numa esplanada na Praça São Jorge, comer qualquer coisa e desfrutar da luz quente do meio da tarde. Depois, fui ainda visitar demoradamente a cidadela de Victoria, que não tinha ainda conhecido.
Trata-se de uma belíssima área fortificada, recentemente reconstruída com a ajuda de fundos comunitários. Fiquei por vezes com a ideia que estava demasiado bem “reconstruída”, quase a roçar o logro; mas admito que possa ser impressão minha. Mais uma semelhança entre o que senti em Gozo e em Omã.
Certo é que a cidadela de Victoria sempre foi de enorme importância estratégica:
“A antiga cidadela sobe dramaticamente acima de Rabat. Construída num local estrategicamente perfeito, domina o horizonte de forma desafiadora, exatamente como pretendido pelos arquitetos militares que a construíram. […] A cidadela tem estado no centro da atividade na ilha de Gozo desde os tempos neolíticos, e era seguramente fortificada durante a Idade do Bronze (por volta de 1.500 a.C.). Mais tarde, foi desenvolvida pelos fenícios e, nos tempos romanos, era uma complexa Acrópole. Nessa época, Gozo era um município Romano privilegiado, independente de Malta, e a cidadela era o centro da sua vida administrativa, militar e religiosa, além de um importante templo para a deusa Juno, localizado onde hoje fica a catedral”., in site oficial do Turismo de Gozo.
Só então, e uma vez terminada a visita à cidadela, decidi regressar à ilha de Malta. Apanhei novo autocarro até Mgarr, de onde partem os ferries que ligam Gozo a Malta, e deixei a tranquilidade gozitana para trás. Foi uma visita curta, mas suficiente para levar Gozo no coração!
Faça o que fizer, inclua Gozo no seu roteiro de viagem em Malta. Não se vai arrepender.
Guia para visitar a ilha de Gozo
Como chegar a Gozo
Os ferries para a ilha de Gozo partem do terminal de Cirkewwa, na ilha de Malta. Se, como eu, viaja em transportes públicos, pode apanhar um autocarro até Cirkewwa (por exemplo, os autocarros número 41 ou 42 desde Valletta; ou o 222 a partir de Sliema e St. Julians).
Uma vez lá chegado, é só entrar no terminal e comprar o bilhete. A viagem de barco custa 4,65€ por pessoa. Veja mais informações sobre os ferries para Gozo – incluindo os horários atualizados das travessias – em www.gozochannel.com ou no site Ferryhopper (que eu costumo utilizar). Note que, caso viaje num carro alugado, pode levar a viatura para a ilha de Gozo.
Se tem o tempo muito limitado, é teoricamente possível combinar a viagem a Gozo com a visita à Lagoa Azul, na vizinha Comino. Eu não aconselho, até porque terá de fazer tudo a um ritmo acelerado; mas em teoria é possível (veja os horários da Comino Ferries). Nesse caso, será muito mais vantajoso integrar um grupo organizado – veja estas duas opções:
- Ilha de Gozo, Comino, Lagoa Azul e Grutas: Excursão de 1 Dia
- Malta: Comino, Lagoa Azul e Gozo – Cruzeiro em 2 Ilhas
Onde ficar em Gozo
Se eu soubesse o que sei hoje, teria optado por dormir em Gozo durante um par de noites. Não o fiz – por desconhecimento da maravilha que Gozo é. Para que não cometa o mesmo erro, partilho os melhores hotéis, pousadas e casas de turismo rural onde ficar em Gozo.
Assim, caso prefira o ambiente mais urbano de Victoria (que eu aconselho), considere os excecionais The Duke Boutique Hotel e Casa Gemelli Boutique Guesthouse (não são baratos, mas são fan-tás-ti-cos); o mais modesto mas bem cuidado Country Views Bed & Breakfast; ou ainda os amorosos Ikhaya Lami e Anna Karistu.
Alternativamente, se prefere o ambiente rural de uma quinta tradicional maltesa (mas bem localizada), dificilmente encontrará melhor relação qualidade/preço do que na Tavern Farmhouse.
Ficará bem hospedado em qualquer um destes alojamentos, mas pode naturalmente procurar outras opções no link abaixo.
Pesquisar hotéis na ilha de Gozo
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.