Quanto custa viajar no Japão

Por Filipe Morato Gomes
Templo Kiyomizu-dera, Kyoto
Templo Kiyomizu-dera, em Kyoto

A pergunta quanto custa viajar no Japão? é das mais frequentes que me fazem a propósito da minha viagem em território nipónico. E, como é óbvio, não tem uma resposta simples.

É verdade que o Japão pode ser um destino caro; da mesma forma que é possível viajar sem gastar fortunas. Tudo depende do estilo de viagem, das escolhas dos destinos, da velocidade de deslocamento (os transportes são muito caros) e do nível de conforto exigido para as estadias. Ou seja, depende.

Com todas essas dúvidas na cabeça, uma leitora pediu-me para escrever um post sobre o assunto; e eu aceitei o desafio.

Assim, com o objetivo de desconstruir os custos de viajar no Japão, anotei todos os gastos da minha viagem, separados por categoria (dormida, transportes, comida, entradas em monumentos). Tendo esses dados, deduzi os custos irrelevantes para o caso (prendas) e cheguei ao custo exato da minha viagem, que aqui partilho para que possa usar como referência na sua orçamentação.

Não quer dizer que gaste o mesmo – claro! -, mas é um bom ponto de partida. Para tornar o texto mais útil, elaborei ainda uma lista de coisas que poderia ter feito, no caso específico desta viagem ao Japão, para poupar dinheiro em viagem. E recalculei o custo da viagem sem esses pequenos luxos. Espero que seja útil.

Custo de viajar no Japão

O estilo da minha viagem

Apesar de viajar não ser coisa de ricos, é importante ter noção de que o estilo do viajante influencia muito o custo da viagem. No meu caso concreto, em viagem – como na vida – dispenso os luxos. Mas também é cada vez mais raro ficar em dormitórios.

Desta feita, e até porque estava a viajar a dois, optei precisamente por esse meio-termo: nem mochileiro pé-descalço, nem turista de luxo. Mas gastei mais do que o “normal”.

Alojamento. Optei por dormir em apartamentos alugados via airbnb em Tóquio e em Kyoto; hostels em Matsumoto e Takayama, um fantástico hotel em Kanazawa reservado beneficiando de uma promoção; um hotel-cápsula em Hiroshima; e um ryokan dispendioso nos Alpes japoneses, pela experiência. Ou seja, em média, o alojamento não foi muito barato para os meus padrões de viajante, mas também não foi a exorbitância que muitos gastam.

Transportes. Após muita ponderação, acabei por comprar o Japan Rail Pass e, por isso, viajei quase sempre de comboio, incluindo nos super-rápidos Shinkansen. Em determinadas partes do roteiro, nomeadamente na zona dos Alpes japoneses, tive de recorrer aos autocarros – e pagar por isso.

Refeições. Quanto à alimentação, fiz de tudo um pouco. Muitos pequenos-almoços foram tomados nos supermercados Family Mart e Lawson. Algumas refeições, nomeadamente bento box, idem. Comi ainda sushi barato e muito ramen. Mas não deixei de experimentar alguns restaurantes de topo, nomeadamente em Kanazawa, e de fazer uma refeição quase kaiseki num ryokan. Em suma, no que toca à gastronomia japonesa foi um mix de experiências, mas a puxar para o barato.

Atrações. Não me coibi de visitar as mais emblemáticas atrações por causa do custo, mas a verdade é que sou mais de ruas e mercados do que de museus e santuários. Ou seja, talvez outros viajantes gastem mais nas entradas em atrações do que eu.

Noite. Saí apenas uma vez, e quase não gastei dinheiro.

Prendas. Sendo gastos perfeitamente dispensáveis e muito pessoais, vou ignorá-los no cálculo do custo de viajar no Japão.

Tabela de gastos (18 dias, duas pessoas)

Descontando os voos entre Portugal e o Japão, pelos quais se encontram facilmente passagens aéreas a rondar os 500€ por passageiro, estes foram os meus gastos no Japão numa viagem de 18 dias, para duas pessoas, no estilo acima referido.

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Custo totalMédia diária…… por pessoa
Transportes (inclui Japan Rail Pass) 1.026,73€ 57,04€ 28,52€
Dormidas 1.441,17€ 80,06€ 40,03€
Comida (inclui supermercados) 823,44€ 45,75€ 22,87€
Entradas em templos, jardins e museus 133,50€ 7,42€ 3,71€
Outros (inclui cacifos onde deixei a bagagem) 31,73€ 1,76€ 0,88€
Custo total / Média diária 3.456,58€ 192,03€ 96,02

Câmbio utilizado nas contas: 1€=120¥

Onde poderia ter poupado

Não regressar de Osaka

Comprei o voo para o Japão com muita antecedência e, na altura, pelos cálculos que fiz, não compensava comprar o Japan Rail Pass. Optei por isso por comprar um voo open jaw, com ida para Tóquio e regresso de Osaka. Por esse voo, paguei mais cerca de 50-60€ do que se a passagem aérea fosse com ida e volta de Tóquio.

Acontece que mais tarde reformulei o roteiro de viagem no Japão e o passe de comboio começou a fazer sentido.

Visto à distância, as duas decisões são contraditórias. Não faz sentido ter um Japan Rail Pass válido no dia de regresso e apanhar o voo de Osaka. É que de Osaka a Tóquio são apenas umas três horas de Shinkansen e o Japan Rail Pass cobre essa linha até à capital (e do centro de Tóquio até ao aeroporto Narita) – logo, não gastaria mais dinheiro com isso.

Em resumo: voo open jaw ou Japan Rail Pass, mas não ambos. A não ser que o passe já não esteja válido no último dia da viagem, mas isso é outra história – veja o post Japan Rail Pass: guia para entender como funciona (e se vale a pena) para todos os detalhes.

Poupança: 110€ no total (duas pessoas)

Evitar rotas não cobertas pelo Japan Rail Pass

No meu caso, como tinha optado por comprar o Japan Rail Pass, teria poupado muito dinheiro se ajustasse o meu itinerário em conformidade. Isso implicaria não visitar os Alpes japoneses, nomeadamente os trechos Matsumoto – Okuhida Onsen – Takayama – Shirakawa-go – Kanazawa. Nunca considerei verdadeiramente essa hipótese, porque era uma região que queria muito conhecer.

Só nessas viagens de autocarro, gastei exatamente 19.340¥.

Poupança: 160€ no total

Alojamento em Tóquio

Sem dúvida o maior erro desta viagem, o alojamento que escolhi em Tóquio não compensou (por isso não o recomendo nestas páginas). Paguei demasiado por um cubículo; bem localizado, é certo, no bairro Harajuku, mas era um cubículo. Quando comparo com o airbnb que aluguei em Kyoto, por menos de metade do preço, quase vou às lágrimas com a asneira que fiz em Tóquio.

Ou seja, apesar de o alojamento em Tóquio ser, regra geral, muito caro, caso o controlo orçamental seja uma prioridade valerá porventura a pena escolher bairros menos dispendiosos para se hospedar – como Asakusa, Ueno ou Shimokitazawa. Poderia ter poupado até 50€ por noite.

Poupança: 250€ no total (5 noites)

Veja onde ficar em Tóquio.

Jantares

A gastronomia é um dos grandes prazeres que tenho em viagem e, por isso, não me coibi de fazer algumas refeições mais dispendiosas. São disso exemplo dois jantares em Kanazawa (um de 10.060¥ e outro, mais controlado, de 6.800¥); um almoço em Kyoto (4.320¥) e outro num restaurante vegetariano em Tóquio (4.400¥); e a experiência no ryokan, de que falo abaixo.

Poupança estimada: 150€ no total (comparado com quatro refeições de ramen)

Dormida num ryokan

Tinha planeado duas pequenas extravagâncias no que toca às dormidas: experimentar um ryokan nos Alpes japoneses, e dormir num templo budista no Monte Koya. Destas, apenas concretizei a primeira.

No ryokan Minshuku Takizawa, paguei exatamente 25.920¥ (cerca de 210€) por uma noite, o que seria um absurdo não fosse o facto de incluir meia-pensão. E tudo refeições absolutamente divinais, a roçar a experiência kaiseki (a alta-cozinha japonesa). Assim sendo, considero um valor aceitável; mas, seja como for, foi um custo adicional.

Poupança estimada: 110€ no total (comparado com a dormida em Takayama, descontando as refeições)

Reservar Minshuku Takizawa

Lattes nos cafés

Outra das coisas que me dá prazer em viagem é frequentar cafés. Gosto do ambiente dos cafés, de me sentar numa esplanada a trabalhar ou, simplesmente, observar. Ao ponto de regressar e partilhar os meus cafés preferidos em determinadas cidades – seja os cafés em Tóquio ou noutra cidade qualquer.

Ora, no caso do Japão, com cada expresso ou cafe latte a custar 4-5€, essa atividade revela-se ruinosa para a carteira se praticada em excesso. Ou seja, se o objetivo é diminuir o custo de viagem, há que cortar neste pequeno prazer.

Poupança estimada: 140€ no total (equivale a um latte por dia, por pessoa, durante 18 dias)

Conclusão

Tudo somado, caso fizesse sentido fazer o cálculo linear da poupança, teria gasto menos 460€ por pessoa (920€ no total) pelo facto de seguir as diretrizes acima. Mas eu viajo para viver novas experiências e há coisas de que não quero abdicar. Ou, como já escrevi:

Seja consciente na forma como gasta o seu orçamento – negoceie os preços, não se deixe enganar, evite os restaurantes, lojas e cafés junto aos locais mais turísticos – mas não seja o mais forreta dos viajantes. Depois de duas semanas em camaratas, durma num quarto privado. Depois de dias a fio a sandes ou street food, entre num restaurante. Depois de muito tempo a poupar nas saídas à noite, vá beber uma cerveja com alguém a um bar ou discoteca. Controle o orçamento, mas não se maltrate. Para que a sua experiência de viagem seja ainda mais memorável. Ou, como se diz numa publicidade, “porque você merece”. in Coisas que eu diria a quem planeia fazer a primeira grande viagem:

Cabe a cada viajante encontrar o seu equilíbrio.

Dicas para viajar mais barato no Japão

O Japão é caro – já o disse. Mas há muitas coisas que pode fazer para diminuir os gastos. Para além do relato da minha experiência (acima), que pode usar como inspiração, há um conjunto de outras dicas práticas que, no terreno, podem fazer a diferença.

Assim, se o controlo orçamental é uma prioridade, eis algumas coisas que pode fazer durante a sua viagem ao Japão.

Visitar poucos destinos

Uma das melhores formas de poupar dinheiro no Japão é viajar devagar. Sendo os transportes um custo importante, se fizer uma viagem de 10-15 dias onde visite apenas Tóquio e Kyoto, por exemplo, pouco gastará com as deslocações. Neste caso, nem compensa comprar o Japan Rail Pass.

Usar as linhas de autocarros JR

Para quem tem o Japan Rail Pass, para além de montar o itinerário baseado nos destinos cobertos pelo passe, convém saber que há algumas cidades onde a empresa JR tem também transporte rodoviário.

Aconteceu-me isso em Kanazawa, quando fui surpreendido com autocarros JR junto à estação de comboios (não sabia que existiam mas, a partir desse momento, passei a usá-los sempre). Nesses transportes, os detentores do Japan Rail Pass não pagam, pelo que vale a pena aproveitar.

Viajar de autocarro à noite

Se chegar à conclusão de que não compensa comprar o Japan Rail Pass, pondere fazer viagens noturnas de autocarro. Não só os autocarros são genericamente mais baratos do que os comboios de alta velocidade, como há a possibilidade de fazer viagens longas à noite e, com isso, poupar nas despesas de alojamento. Uma das empresas que vale a pena verificar é a Willer.

Fazer Couchsurfing

Se estiver disposto a partilhar a casa – ou o quarto – com o seu anfitrião, experimente o Couchsurfing. Mesmo que não consiga em todos os destinos, vai poupar muito dinheiro e ter uma experiência muito enriquecedora. Porque fazer couchsurfing é mais que poupar dinheiro em hotéis.

Comprar refeições prontas nos supermercados

Outra forma de poupar dinheiro no Japão é comprar refeições prontas a aquecer e bento box nos supermercados e estações de metro. As bento box são caixas de comida geralmente fria, para comer em viagem, muito populares entre os utilizadores dos comboios de longa distância.

Além disso, nos supermercados Family Mart, Lawson ou 7 Eleven encontra comida pré-cozinhada, de qualidade e a um preço aceitável.

Aproveitar os descontos de almoço

Se quiser experimentar restaurantes bons e caros, saiba que muitos deles oferecem menus de almoço muito mais baratos do que as refeições “normais” ao jantar. Isto é válido na maioria das cidades, incluindo Tóquio e Kyoto.

Comprar 1 day pass em Kyoto

Caso utilize os autocarros da cidade – como é previsível -, esta é uma dica prática para poupar alguns euros em Kyoto. Compensa desde que faça mais de duas viagens de autocarro num dia.

Cambiar dinheiro em vez de usar cartões

O Japão é uma sociedade onde o “dinheiro de plástico” é pouco utilizado, mesmo em hotéis e restaurantes, e eu optei por levar algum dinheiro e cartões. Ou seja, usei os dois métodos – cambiar dinheiro e levantar nos ATM. E cheguei a uma conclusão.

Para não perder dinheiro, é quase sempre mais benéfico levar euros e cambiar no Japão do que usar os cartões de débito ou crédito. Especialmente se o câmbio for feito em casas de câmbio.

Se optar por cambiar em máquinas automáticas (sim, há máquinas para cambiar dinheiro), tenha no entanto atenção à taxa de câmbio da máquina; algumas oferecem taxas péssimas. Nesse caso, não troque o dinheiro na máquina e procure uma casa de câmbio.

Veja também 15 dicas para viajar mais barato.

Não deixe de visitar o Japão

Espero com estas partilhas ajudá-lo a perceber um pouco melhor quanto custa viajar no Japão. E, tão ou mais importante, mostrar-lhe onde pode poupar para ajustar a sua viagem ao orçamento disponível. Porque o Japão, apesar de mais caro que a maioria dos destinos, não tem de ser inacessível ao comum dos viajantes.

Guia prático

Hospedagem no Japão

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Seguro de viagem para o Japão

Os cuidados de saúde no Japão são extremamente caros, pelo que é fundamental ter um seguro de viagem com boas coberturas para diminuir o prejuízo em caso de doença ou uma eventual hospitalização.

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.