Quanto custa uma volta ao mundo

Por Filipe Morato Gomes
Quanto custa uma volta ao mundo

Se quer um número, uma volta ao mundo custa exatamente 10.950€! É uma afirmação estúpida, não é? Também acho.

Para além de como faço para comprar voos baratos, perguntam-me muitas vezes “quanto custa uma volta ao mundo“. É uma questão que normalmente devolvo com outra pergunta – “quanto custa um carro?”. Porque, claro está, a resposta só pode ser: “depende”. Naturalmente! Todos concordam que um Lamborghini custa bem mais que um Fiat Uno. O mesmo se passa com as viagens.

Mas as pessoas gostam de ter números. Algo que as ajude a planear uma viagem dessa natureza. É normal.

Há tempos, recebi uma mensagem de um leitor que me escrevia assim: “há pela internet milhares de páginas sobre viagens à volta do mundo, muitas incluem dicas, roteiros, must-do, don’t-do, mas poucas tratam de uma questão básica: o plafond“. É verdade.

Ninguém gosta de falar de dinheiro, de dizer quanto gastou em 8, 10, 12 meses de viagem à volta do mundo. Na verdade, na cultura ocidental o dinheiro é assunto privado. Não é assim em todo o mundo – no sudeste asiático, é normal perguntarem-lhe quanto ganha por mês ou quanto custou algo que tem na mão -, mas no ocidente, sim.

Apesar disso, a principal razão é outra: porque depende. Mesmo. E, em última análise, o meu orçamento de nada serve para a sua viagem.

Tudo depende do seu estilo de viagem, do conforto mínimo que exige para as suas viagens, do ritmo da própria aventura.

Depende dos países que quer visitar (um mês no Laos custa muito menos do que um mês na Austrália, por exemplo). Depende do que está disposto a sacrificar em viagem (pode dormir por dois ou duzentos euros por noite; pode satisfazer-se com comida de rua ou preferir restaurantes mais distintos). E depende ainda da rapidez com que se viaja (quanto mais rápido se viajar, mais caro fica, pois o custo/dia do transporte dilui-se menos – viajar devagar tem muitas vantagens). Em suma, depende de cada viajante. Por mais números que queiram ter, essa é a mais pura das verdades.

Fatores que influenciam o orçamento da viagem

Sem pretender ser uma lista exaustiva, é um bom ponto de partida.

Destinos

Os países que escolhe têm um impacto muito significativo no custo final da viagem. Generalizando, a Europa, a Austrália, as ilhas do Pacífico, o Japão e os Estados Unidos, por exemplo, são destinos que considero caros. O Camboja, o Laos, a Guatemala e a Índia são destinos bem mais baratos. Conclusão: planeie a sua volta ao mundo com mais tempo na Ásia e América Central do que na Europa, América do Norte, África e Oceânia.

Transportes

O transporte é outro item que altera significativamente o orçamento. Viaje de bicicleta, comboios ou autocarros públicos e use o metro nas grandes cidades e, regra geral, gastará menos do que se preferir os táxis ou alugar um carro. E voe o menos possível, exceto onde haja companhias low cost, como no Sudeste Asiático e na Europa, onde pode ser mais barato voar do que apanhar um comboio.

Passe mais tempo em cada sítio e diluirá o custo dos transportes pelo seu budget diário de forma mais suave (a não ser que esteja na Austrália ou Nova Zelândia, onde alugar uma autocaravana pode ser uma das formas mais baratas de viajar).

Alojamento

E o alojamento, claro. Está disposto a ficar em camaratas de hostels ou hotéis mais baratos e a partilhar a casa de banho? Se a resposta for negativa, o seu orçamento vai naturalmente sofrer com isso. Considere estadias gratuitas via Couchsurfing ou aluguer de quartos e apartamentos via airbnb. Bem pesquisado, consegue ficar bem instalado e ainda acaba por poupar dinheiro.

Alternativamente, mantenha-se atento às promoções flash do booking.com, muitas vezes com descontos de 50% sobre o preço de tabela. Isto para além, naturalmente, de pesquisar nos especialistas em hostels HostelWorld.

Refeições

Se puder e quiser cozinhar, não há melhor forma de poupar em países onde os serviços se pagam bem, como na Noruega, na Austrália ou no Japão. Tenha apenas atenção para intercalar refeições caseiras com idas a restaurantes locais, nem que sejam tasquinhas de rua simples e baratas, para não descurar a gastronomia local (eu acredito que a gastronomia é uma parte importante da experiência de viagem).

Época do ano

Pense também na época do ano em que viaja. Tem mesmo de ir ao Rio de Janeiro em janeiro ou fevereiro, quando os preços duplicam à espera do Carnaval? O seu orçamento depende disso mesmo. Escolha as épocas intermédias (antes ou logo a seguir à época alta num destino) e os seus custos diminuirão consideravelmente.

Viajar sozinho ou acompanhado?

Viajar acompanhado tem vantagens e desvantagens. No que toca ao custo da viagem, é quase sempre mais barato viajar a dois porque dessa forma pode dividir custos no alojamento (se preferir quartos privados em vez de dormitórios, metade de um quarto duplo é sempre mais barato do que um single), transporte (no caso de querer alugar um carro ou autocaravana) e até em refeições (cozinhar para dois não custa o dobro de cozinhar para um). Seja como for, não tenha medo de viajar sozinho.

Taxa de câmbio

É um fator que o viajante não controla, mas muito importante. Um Euro forte torna uma volta ao mundo muito mais barata.

Tours e Atividades

Escolha bem as atrações que visita. Petra é um local arqueológico extraordinário, mas a entrada para um dia custa 55 dólares norte-americanos. E Angkor Wat, que tanto amo, custa 40 dólares para 3 dias. Só você poderá decidir se esses valores são ou não comportáveis com o seu orçamento de viagem. O mesmo se aplica a museus, palácios e monumentos.

E os tours organizados, valem mesmo a pena? Só você poderá avaliar se aquele city tour lhe interessa, ou se prefere caminhar por sua conta durante dois dias para ver de forma diferente o que teria visto em 3 horas.

E aqueles momentos em que nos apetece perder a cabeça? Esses afetam – e de que maneira! – o orçamento de uma viagem. Os 500 dólares para ver gorilas de montanha no Uganda poderiam dar para três semanas de viagem na Índia. E não fazer aquele salto de bunjee jumping na Nova Zelândia daria para muitos dias de viagem no Laos.

Naturalmente, não estou a dizer para nada fazer em viagem (é claro que é um crime ir a Siem Riep e não visitar os templos de Angkor por causa de 40 dólares), mas sim para considerar esses elementos na hora de construir o orçamento e, dessa forma, decidir em consciência.

Uma última nota: se lhe apetecer mesmo perder a cabeça com algo específico, escolha o sítio certo para o fazer: nadar com tubarões-baleia em Ningaloo (Austrália) é muito mais caro que em Donsol (Filipinas) ou nas Islas Mujeres (México).

Há uns tempos, enumerei 15 dicas para viajar mais barato. Talvez, nesta fase, possa aproveitar para ler essas sugestões. E depois volte aqui. Eu espero…

Afinal, quanto custa uma volta ao mundo?

Vamos falar claro. Viajar custa dinheiro.

Vamos falar ainda mais claro. Provavelmente, viajar custa menos do que imagina. E pode até custar menos do que ficar em casa. Não há muito tempo, por exemplo, uma amiga que trabalha como freelancer na sua área foi para a Índia durante 4 meses porque em Portugal não conseguia viver com o dinheiro que tinha, e na Índia sim.

Mas, afinal, quanto custa uma volta ao mundo?

Se quer um número, uma volta ao mundo custa exatamente 10.950€! É uma afirmação estúpida, não é? Também acho.

Por isso, esqueça o valor, e vamos então ao desafio de tentar orçamentar uma volta ao mundo fictícia. As suas voltas ao mundo serão sempre diferentes das minhas, mas vamos tentar.

Dois dos pontos fulcrais para orçamentar uma viagem de longa duração são decidir quanto tempo quer viajar e para onde quer / pode ir.

Vamos assumir um ano de viagem, que é um valor “redondo”. Misturando países caros com destinos baratos, alojamento em hostels ou hotéis baratos mas limpos, usando preferencialmente transportes públicos ou voos low cost, comendo street food e em restaurantes sem luxos, digamos que uma média de 30€-40€ por dia tem que chegar. Incluindo todas as despesas iniciais com voos, vacinas e um seguro para volta ao mundo – e ainda atividades em viagem bem selecionadas.

Há quem viaje por muito menos, da mesma forma que há quem considere impossível gastar “tão pouco”. Ou seja, é uma boa referência. Mas podem ser 20€ por dia. Ou 50€. Ou mais. Porque, claro, depende de si. É a sua viagem – e só você sabe o grau mínimo de conforto que exige e o estilo de viagem de que mais gosta.

Em todo o caso, assumindo que 30€ por dia é suficiente para o seu estilo de viagem, numa volta ao mundo de um ano gastaria os referidos 11.000€, mais coisa menos coisa. Se precisar de 40€ por dia, gastaria 14.600€. Se 20€ forem suficientes, só precisaria de 7.300€ para viajar durante um ano. Se acha que só lá vai com 100€ por dia, então precisa de 36.500€ para um ano de viagem. É matemática.

Pela minha parte, já dei duas voltas ao mundo: uma em 2004/05, sozinho, partilhada neste Alma de Viajante, e onde gastei muito menos que 30€ / dia; outra em 2012, em família, que resultou no Diário da Pikitim e onde a despesa total por pessoa ultrapassou ligeiramente os 40€, pelo facto de termos passado boa parte do tempo em destinos pouco amigos da carteira (como a Austrália ou as ilhas do Pacífico), termos efetuado algumas extravagâncias (alugar uma casa em Bali, fazer Skydive na Nova Zelândia ou mergulhar com tubarões-baleia na Austrália, por exemplo) e termos gasto bastante dinheiro num bilhete volta ao mundo para incluir, precisamente, as ilhas do Pacífico.

Ver Como comprar bilhetes Volta ao Mundo.

Fomos publicando crónicas da volta ao mundo em família na revista Fugas, o que ajudou a financiar parte da viagem. Apesar disso não acontecer com a maioria dos viajantes, pode sempre ir trabalhando nos locais por onde passa (em hostels ou restaurantes, por exemplo) e assim ir financiando o resto da aventura.

Preparei um ficheiro em Excel para o ajudar a orçamentar uma viagem. Tem todos os países do mundo, com custos de vida distintos, e um orçamento baseado num estilo de vida mediano, sem luxos mas abdicando de dormitórios. Incluí a esporádica saída noturna, uma ou outra atração, uma ou outra ida ao restaurante mas privilegiando as tascas locais e a street food. Chamemos-lhe um estilo flashpacker.

Se prefere algo mais hard-core ou, ao invés, precisa de hotéis com mais conforto, mais idas ao restaurante e mais atividades, altere os valores-base dos budget diários para valores que se aproximem mais da sua realidade – as contas ajustar-se-ão automaticamente.

É para usar a seu bel-prazer. Não pretende substituir o seu estudo e planeamento, mas apenas servir de guia na fase inicial na tarefa de orçamentar uma volta ao mundo. Sei perfeitamente que a pergunta “quanto custa uma volta ao mundo” está na sua cabeça e eu não respondi a ela de forma categórica e definitiva. O “depende” é uma resposta muito vaga, mas talvez este guia o ajude a ajustar a sua viagem ao orçamento disponível. Ou a ajustar o orçamento à sua viagem de sonho.

Folha Excel (planilha) para orçamentar uma volta ao mundo.

(nota: os budgets diários considerados estão sujeitos a afinações de acordo com o vosso feedback; falta decidir os budgets para cada país – estão todos com o valor por defeito de 30€ / dia)

Em resumo, não lhe respondi cabalmente à pergunta “quanto custa uma volta ao mundo” mas espero com isto ajudá-lo a orçamentar a sua viagem.

Uma nota final

Muitos viajantes ficam presos à ideia de viajar o mais barato possível. Embora o dinheiro seja, naturalmente, um fator importante, mais relevante que isso é a oportunidade de desfrutar da viagem, de se divertir, de aproveitar para conhecer e fazer coisas novas. Por isso, julgo que não faz sentido, por exemplo, ir a Petra sem ver as ruínas nem ir a Siem Riep sem visitar Angkor Wat. E comer sandes todos os dias não tem assim tanta piada.

Ou seja, se um destino é demasiado caro para o seu orçamento, escolha um outro onde possa efetivamente fazer coisas, comer razoavelmente bem (é diferente de comer caro) e sair à noite de vez em quando com os novos amigos.

Adapte a viagem ao seu orçamento.

Se por agora tem pouco dinheiro, não deixe de fazer a sua volta ao mundo. Mas concentre-se no Sudeste Asiático, na Índia, na América Central e em outras regiões com custo de vida mais baixo; e deixe a Noruega, o Japão ou a Austrália para outra viagem. A vida dar-lhe-á oportunidades de os visitar.

Em suma, ajuste a sua viagem ao dinheiro disponível. Mas não deixe de viajar.

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.