A caminho do norte da Namíbia
Já era hábito as pessoas se rirem sempre que conversávamos sobre o nosso destino. “Querem ir com esse carro até Etosha?”, interrogavam, de sorriso gozão nos lábios, olhando de soslaio para o automóvel branco onde nos deslocávamos. “Não, queremos ir ainda mais para Norte, fazer um safari no Parque Etosha, conhecer as mulheres Herero e visitar uma aldeia Himba, para lá de Opuwo”. Íamos para o norte da Namíbia. E então sorriam com ar condescendente, ou soltavam sonoras gargalhadas, que estávamos loucos, coitados, que o VW Golf modelo Chico de fabrico sul-africano nunca haveria de lá chegar.
Agora que penso nisso, em retrospetiva, lembrando o carro atolado no meio de um riacho repentino, pensando nas estradas de lama que atravessámos, imaginando os furos que nunca tivemos apesar das estradas de terra e pedra, não deixo de dar razão a quem se ria ao olhar para o nosso Chico: estávamos loucos, porventura cegos pelo desejo de contactar a tribo Himba e conhecer o Parque Nacional Etosha. Tinham motivos para desconfiar. Mas a verdade é que chegámos lá.
Veja o safari 5-Day Taste of Etosha da Nature Travel Namibia.
E fazer um safari no Etosha foi uma experiência fascinante.
Tinha saído de carro alugado de Joanesburgo, capital da África do Sul, acompanhado por outro viajante português há praticamente duas semanas; cruzáramos todo o Botswana, com passagem por Gabarone e o Delta do Okavango, antes de atravessarmos a fronteira com a Namíbia rumo a Windhoek e depois Tsumeb, um povoado muito agradável já na região nortenha de Oshikoto.
Tsumeb é uma cidade de pequena dimensão mas bastante interessante. Para os padrões do sudoeste de África é, até, bela, ao ponto de muitos dos seus habitantes a considerarem, com indisfarçável orgulho, a mais encantadora cidade de toda a Namíbia. Pode até ser, mas não foi a beldade de Tsumeb que me levou a Tsumeb – é que a cidade fica a escassos 100 quilómetros de uma das entradas do Parque Etosha.
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Um safari ao volante de um carro normal
O Parque Nacional Etosha é um dos grandes parques naturais do sul do continente africano. Um espaço protegido de caçadores furtivos e outros perigos para a conservação da vida selvagem. Um parque natural propício para fazer um safari. Avistar leões, rinocerontes, elefantes, zebras, girafas, com sorte um leopardo, e uma infindável variedade de vida selvagem no seu habitat é o objetivo de todos – eu incluído. É o típico safari africano que o Etosha permite.
Regra geral, os safaris são feitos em jipes ou camiões bem equipados, com plataformas de observação elevadas e protegidas por gradeamento para permitir aos turistas e fotógrafos desfrutarem de ângulos perfeitos, em segurança e sem a intermediação de um vidro poeirento entre eles e a abundante vida selvagem.
O nosso pequeno e velho VW Chico era, pois, o oposto de tudo o recomendável para fazer um safari, mas nem por isso a experiência foi menos exuberante. Pelo contrário. Fazer um safari num carro comum e conduzido pelas nossas próprias mãos foi das coisas mais inusitadas que fiz em viagem. E valeu a pena!
Ainda não tinha cruzado o portão de entrada no parque propriamente dito e estava já boquiaberto. Dezenas de zebras e girafas caminhavam por entre a vegetação rasteira na berma da estrada, indiferentes aos humanos que por ali se quedavam, especados, de câmaras em riste na sua direção. Para mim, que nunca tinha estado num parque natural africano das dimensões do Etosha até ter empreendido esta aventura, estava dado o mote para algumas horas de pura magia.
Atravessámos uma vasta extensão do parque, unindo os dois principais portões de acesso à reserva natural conduzindo sem mapa nem informação dos rangers sobre a localização dos grupos de leões e outras espécies.
A luz não estava muito boa para fotografar, procurámos em vão leões, mas vimos muitos animais logo no início do parque: zebras, girafas, búfalos, avestruzes, centenas de antílopes.
Nos lugares com maior concentração animal, havia jipes com turistas europeus em safaris organizados; noutros locais, livres que estávamos da ditadura de um safari organizado, éramos nós e a Natureza. Maravilhoso!
Só não cumpri um dos principais objetivos (viajar de forma independente tem destas coisas). Por azar, tinha chovido bastante no dia anterior e, por isso, os leões tinham-se resguardado noutras zonas do parque. Não sabíamos onde, e a tração às quatro rodas teria dado jeito para nos aventurarmos parque adentro. Felizmente, tinha visto leoas numa estrada nacional do Botswana – assim, sem mais, vindas da berma -, a um par de metros do vidro do nosso carro. Mas não a juba imponente de um leão macho.
Apesar disso, fazer um safari no Parque Etosha, ao volante de um pequeno VW Chico, ficará para sempre guardado como uma das mais memoráveis experiências das minhas andanças pelo mundo.
Quando saímos pelo portão sul do Parque Etosha, o VW estava cheio de lama mas intacto, eu cansado mas com a alma cheia. “Louco”, talvez – mas feliz!
Guia prático
Como organizar um safari no Etosha
Para fazer um safari no Parque Nacional Etosha, a melhor forma de o fazer é contactando empresas locais que organizam esses passeios. Abaixo, encontra algumas as melhores opções de tours que passam no norte da Namíbia, incluindo para vários níveis de preços.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
O melhor das (minhas) viagens
A Matinal desafiou-me a partilhar “o que há de melhor em viajar”, incentivando-me a recorrer ao baú de memórias para partilhar experiências marcantes vividas em viagem. Assim nasce esta série de artigos com alguns dos melhores momentos das viagens que tenho feito pelo mundo:
- De barco pelas águas tropicais de Bacuit, Filipinas
- Explosões de lava no vulcão Yasur em Tanna, Vanuatu
- A magia de Petra, Jordânia
- Safari no parque Etosha, Namíbia
- Viver e amar em Ubud, Bali
- Desova das tartarugas em Tortuguero, o milagre da vida na Costa Rica
- Explorando o parque Zion, EUA
- Viajar de autocaravana na Nova Zelândia
- Estocolmo: espelho meu, existe cidade na Europa mais bela do que eu?
- Despertar com os monges de Luang Prabang
- 4×4 no deserto de Gobi, Mongólia
Que prazer foi ler hoje este pequeno texto sobre um dos meus lugares favoritos neste mundo. Cresci no Norte da Namíbia e tudo me liga a este país tão rico de Natureza. Para uma próxima, aconselho a estadia no norte (Oshakati) que fica a 200km de outra saída mais a norte do Etosha, no Rocha’s Restaurante e Hotel. Um sitio maravilhoso onde passei a maior parte dos dias da minha infância.
Olá Luciana,
Obrigado pelas palavras simpáticas e pela sugestão.
Beijo e boas viagens.
Obrigado pelo entusiasmante relato e pela belas fotos.
Vim aqui parar porque vou para lá, dentro de um mês, eu e a minha esposa, também num sistema semelhante, com uma viatura ligeiro e com os alojamentos reservados independentemente por mim.
O que mais me preocupa é se devo ou não fazer um upgrade para um 4×4, ou pelo menos um SUV, visto que também vamos às dunas. Experiência de África já tenho (Kruger, Quénia e Gâmbia), mas condução em estradas de terra batida, só mesmo a experiência recente no Pantanal, mas aí a distancia máxima são 100km até à cidade mais próxima.
Muito obrigado por me deixar mais tranquilo.
João
Caro João Vila Verde,
Vá descansado! A ligação por estrada entre Windhoek (a capital do país) e a porta sul do Parque Nacional de Etosha é em alcatrão e faz-se numa manhã. Se optar por entrar pela porta Leste (Namutoni) a estrada também é de alcatrão até Tsumeb e de Tsumeb a Windhoek. Este percurso é, no entanto mais longo.Lá dentro do parque as pistas são em terra, mas bem mantidas, sem grandes sobressaltos e é absolutamente proibido sair delas. Quanto às dunas, sugiro que contrate em Walvisbay um tour de um dia ou de meio dia em 4×4 para poder gozar em segurança toda aquela grandiosidade. Não deve, em circunstancia alguma, aventurar-se sozinho nas dunas, mesmo com um 4×4. E, para ver o que vale a pena, tem que ir acompanhado por um concessionário, caso contrário poderá apenas andar até ao início das dunas. Se optar por seguir a minha sugestão vai subir e descer as dunas mais altas do mundo conduzido por um guia experiente que lhe mostrará muito mais coisas do que será capaz de descobrir sozinho. Vale mesmo a pena! Boa viagem e divirta-se no País dos Contrastes que eu adoro e conheço muito bem pois desde 2002 que organizo e lidero safaris por lá.
Patrícia, que dádiva suas palavras!
Vou guardar com carinho para minha visita à Namíbia, daqui a duas semanas!
Abraço,
Iara
Olá, João
Um pequeno testemunho, de quem também fez (algum)a Namíbia, em viagem independente, em 2010.
Éramos só mulheres (quatro) e hesitámos muito, por razões monetárias, em alugar um 4×4 ou não, acabando por nos decidirmos por
O nosso. , no cômputo geral, portou-se muito bem. (Os dois furos que tivémos – em 3000 km – não lhe poderão ser imputados. (Sorte a do FMG, que não teve nenhum furo!) Mas, se não tiver que ater-se a limitações de orçamento, a minha recomendação é, definitivamente, o 4×4.
Embora viajantes (ferozmente) independentes, tanto para Sossussvlei como para Walvis Bay, contratámos um tour. No primeiro caso, um tour colectivo, em autocarro, que comprámos no nosso lodge. No segundo, um tour em jeep, que comprámos em Swakopmund, com um guia só para nós quatro.
Tal como diz a Patrícia – que perceberá disto muito mais do que eu -, a estrada de Windhoek a Etosha é óptima. Já da opinião dela sobre a estrada no interior do parque, a não ser que tenha havido enormes alterações desde 2010, discordo em absoluto – a estrada era péssima, uma das chamadas corrugated roads, provocando uma tremenda vibração e tornando a progressão muito lenta, o que deve ser tido em conta no timings de planeamento. (E eu já guiei umas centenas de quilómetros em rípio, na Argentina). Em Etosha é pior.
O nosso itinerário foi Windhoek / Waterberg.Plateau / Etosha / Kamandjab (aldeia himba) / Palmwag / Twifelfontein / Brandberg#White Lady / Henties Bay / Cape Cross / Skeleton Coast / Swakopmund / Walvis Bay#Sandwich Harbour / Sossussvlei / Solitaire / Windhoek.
Se puder contribuir com alguma informação (velha de cinco anos, como vê), estou ao dispor.
M. Céu Fialho
Boa viagem e parabéns, vai fazer uma viagem lindíssima!
Queria eu dizer, acabando por nos decidirmos por um carro alto, que não era um 4×4.
Filipe, você me emocionou e me convenceu! Muito obrigada!
Com um condutor assim nunca ficas em entalado… Pior eé quando o carro foi devolvido o condutor… esticou-se…
Mas o press card international resolve tudo lol
Abraços Mate
#N1
Boa tarde,
Pelo que percebi, nunca será demais tentar alugar um 4×4, ainda que não me vá meter nas dunas.
Pela pouca experiência que tenho em desertos, seja que carro for, levar sempre bastante água e alguma comida.
Vou estar cerca de 15 dias na Namíbia, a partir da próxima semana e gostava de conhecer o máximo possível. Alguma sugestão de percurso? Devo ficar mais de um dia no Etosha?
A Namíbia deverá ser o país africano com mais registos fotográficos, mas de facto quem não os quer fazer também? :)
Muito grato por qualquer dica e um forte abraço.
Olá Filipe eu e o meu companheiro vamos fazer a viagem pela Namíbia em dezembro / janeiro. Uma das questões que gostaria de lhe colocar é também em relação à escolha do tipo de viatura; estamos inclinados para um modelo convencional e assim poupar algum dinheiro para ver mais coisas. Para a vista ao Parque Etosha estamos a pensar fazer as visitas com o pessoal do parque, logo a minha ideia é ir de Namutoni para Torrabay passando Okaukoejo – será possível este trajeto em estrada de asfalto ou será necessário alugar um carro 4*4 para este bocado (visto as visitas do parque não as irmos fazer no carro que levarmos)?
Obrigado aguardo resposta
Atenciosamente
Henriqueta silva
Olá Filipe, queria fazer uma viagem dessas mas gostaria de me integrar num grupo porque não conheço ninguém com interesse numa viagem à Namíbia; será que tem conhecimento de alguma agência ou organizador de grupos? Obrigada e desculpe. Maria Helena Monteiro