Luang Prabang
Tenho saudades do Laos. Estive no país em finais de 2004 e nunca mais lá voltei. Digo repetidamente que quero visitar Luang Prabang novamente, despertar com os monges budistas recolhendo oferendas nas ruas, quem sabe embasbacar-me com a Planície dos Jarros pela primeira vez, dar uma segunda oportunidade a Vang Vieng, espreitar Vientiane com a expectativa de ser surpreendido e conhecer por fim as zonas mais rurais do país, incluindo a região das quatro mil ilhas e todo o sul laosiano.
A verdade é que, depois de abandonar repentina e precocemente o Laos para cobrir o tsunami ao largo de Banda Aceh, na ilha indonésia de Sumatra, para o jornal Público, o regresso a Luang Prabang ainda não se concretizou.
Passaram 11 anos.
Apesar do tempo – que dizem tudo levar -, a imagem de centenas de monges budistas percorrendo as ruas de Luang Prabang às primeiras horas da manhã, impecavelmente alinhados para recolherem as oferendas dos seus habitantes, está bem presente na minha memória.
De olhos ainda sonolentos, sai à rua para observar o acontecimento que, para os de Luang Prabang, nada tem de extraordinário. Para eles, faz parte da rotina. O quotidiano de uma cidade. E talvez isso faça com que o cerimonial seja tão interessante para quem, como eu, vinha de uma realidade ocidental, tão distinta do estado quase zen que paira em Luang Prabang.
Para além da estética do momento, o que tornava esta recolha de oferendas tão especial era a dignidade dos monges no ato da recolha de víveres e a generosidade com que os habitantes os proviam de víveres essenciais. Não de trata de esmolas, mas sim de um imenso respeito pelos monges que vivem de forma despojada nos muitos templos de Luang Prabang.
Pensando bem, é daqueles momentos especiais que guardo com imenso carinho. No Moleskine preto que quase sempre me acompanha em viagem, escrevi:
De todos os templos de Luang Prabang – e são imensos – filas de monges de todas as idades saíam para as ruas, onde mulheres sentadas ou ajoelhadas e homens de pé lhes entregavam uma porção de algo. Muito arroz pegajoso, pequenas doses de comida embrulhada em folhas de bananeira, uma peça de fruta, algum dinheiro e um ou outro doce faziam a maior parte das oferendas.
Alguns turistas compravam víveres de vendedoras que oportunamente apareciam e juntavam-se aos habitantes locais em vários pontos dos arruamentos da cidade. Se templos como o de Xieng Thong são, por si só, de uma beleza avassaladora, esta visão matinal colorida pelo laranja e açafrão das roupas dos monges ultrapassou todas as expectativas.
É isso. Lembro-me como se tivesse sido esta madrugada.
Leio agora que, nos últimos tempos, o ritual matinal perdeu alguma dignidade pela intromissão do turismo na cerimónia. Que as coisas se tornaram numa espécie de “circo”, com vendedores sem escrúpulos a pressionarem os turistas para comprarem oferendas e participarem na cerimónia (mesmo sem saber preparar sticky rice ou comportar-se de acordo com a tradição); que os turistas se acotovelam para conseguirem as melhores fotografias do momento, aproximando-se demasiado ao ponto de interferirem com o normal desenrolar do ritual. Ao ponto dos hotéis de Luang Prabang, blogs e guias de viagem sentirem necessidade de preparar listas de dos and don’t’s.
É triste que assim seja.
Luang Prabang é uma localidade acolhedora, tradicional e de reduzida dimensão. É fácil o turismo mochileiro interferir demasiado, adulterar, como aconteceu em Vang Vieng com os passeios de tubing rio abaixo.
Felizmente, não foi isso que vi em 2004. Prefiro guardar na memória o ritual simples em que os poucos viajantes de então apreciavam respeitosamente e (quase) sem interferências a recolha das doações de víveres para o dia, que a população de Luang Prabang entregava aos seus monges budistas.
Lembro-me como se tivesse sido esta madrugada.
E esse momento, tal como o vivi, perdurará para sempre como um dos pontos altos das minhas viagens pelo sudeste asiático.
Seguro de viagem
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O melhor das (minhas) viagens
A Matinal desafiou-me a partilhar “o que há de melhor em viajar”, incentivando-me a recorrer ao baú de memórias para partilhar experiências marcantes vividas em viagem. Assim nasce esta série de artigos com alguns dos melhores momentos das viagens que tenho feito pelo mundo:
- De barco pelas águas tropicais de Bacuit, Filipinas
- Explosões de lava no vulcão Yasur em Tanna, Vanuatu
- A magia de Petra, Jordânia
- Safari no parque Etosha, Namíbia
- Viver e amar em Ubud, Bali
- Desova das tartarugas em Tortuguero, o milagre da vida na Costa Rica
- Explorando o parque Zion, EUA
- Viajar de autocaravana na Nova Zelândia
- Estocolmo: espelho meu, existe cidade na Europa mais bela do que eu?
- Despertar com os monges de Luang Prabang
- 4×4 no deserto de Gobi, Mongólia
A minha passagem pelo Laos foi de apenas algumas horas, mas fiquei com curiosidade para conhecer mais. Entrei no Laos aquando da minha visita ao norte da Tailândia, mais especificamente no Triângulo Dourado onde o rio Mekong aproxima a Tailândia, Myanmar e o Laos. Deu para fazer algumas compras baratas e provar uma espécie de licor afrodisíaco. Ficou muito para conhecer, mas o meu destino era a Tailândia. Pode ser que num futuro próximo consiga visitar o Laos como aqui descreves. Obrigada pelo teu post.
Eu é que agradeço o comentário. Beijo e boas viagens pelo mundo (e sim, não deixes de visitar o Laos numa das próximas viagens!)