Em tempos escrevi um texto que falava do misticismo de Ubud, a povoação balinesa que me apaixonou sobremaneira desde a primeira visita. Corria o ano de 2004, estava a meio da minha primeira volta ao mundo, e Bali vivia momentos complexos após o atentado que ceifou duas centenas de vidas em dois bares da Rua Legian, no epicentro da vida noturna de Kuta, principal cidade da “ilha dos deuses”.
Nessa altura, o desânimo imperava um pouco por toda a ilha. “Somos um povo de paz”, lembro-me de ouvir dizer em conversas tidas nessa minha passagem por Bali, da boca de balineses que não compreendiam as razões dos atentados. “Somos um povo de paz”, repetiam.
E é precisamente em Ubud, coração da cultura balinesa, onde essa paz mais se sente. Uma terra de tradições fortes, uma imensa espiritualidade e arquitetura deslumbrante.
Vindo de Kuta, a chegada a Ubud foi uma lufada de ar fresco. Dava para perceber que a cidade possuía algo de místico e cativante. Um passeio pelas ruas da povoação revelou instantaneamente um mundo de tradições, crenças fortes, espiritualidade e uma forma de vida onde a união da família é um valor essencial. A arquitetura local era rica, bonita, diferente de tudo o que havia já visto noutros lugares.
Voltei a Bali em 2012 com a excitação juvenil de quem vai visitar um grande amor, já depois de Julia Roberts ter mostrado ao mundo as belezas de Ubud no filme «Comer, Orar e Amar». Como seria de esperar, Ubud estava diferente: maior, mais madura e com mais turismo, mas não havia perdido ainda aquela áurea de misticismo e tranquilidade que fazem dela uma cidade tão especial.
E especial é a palavra certa.
Ubud é terra de paisagens magnânimas. Os arrozais que rodeiam a malha urbana num abraço verde – ah, os arrozais! –, cultivados de sol a sol por gente trabalhadora, em terrenos férteis moldados por socalcos e pequenos muros de terra para suster a água, são a envolvente perfeita para uma cidade sensorial como Ubud. Belos, verdejantes, de geometria imperfeita. “O arroz é um grãozinho tão pequenino mas que dá tanto trabalho”, comentou a minha filha. É verdade.
Ubud é também uma cidade de arquitetura ímpar. Os complexos habitacionais são excecionalmente belos e complexos, com vários edifícios em redor de um pátio ou de um bem arranjado jardim central, e ainda um templo – sempre um templo! – localizado do lado das montanhas.
Ubud é ainda um viveiro de artistas. Artesãos, escultores de madeira, joalheiros, dançarinos, pintores de telas ou batik, tingindo com cera os tecidos tradicionais indonésios. Gente com sensibilidade, inspirada pela paleta de verdes com que os arrozais pintalgam a paisagem, pelo colorido das flores e dos templos ornamentados, pelo incrível azul que cobre os céus de toda a ilha, pela tranquilidade que respiram em Ubud.
Ubud é também um local de grande devoção religiosa. Há centenas de templos na cidade. Todas as manhãs, as mulheres preparam oferendas para deleite dos deuses Hindus. Contêm flores, incensos e arroz cozinhado, tudo arrumado sobre pedaços quadrangulares de folha de bananeira, colocados nas casas, nas ruas e, claro, nos templos. É por isso um prazer indisfarçável caminhar de manhã cedo em Ubud, passear por entre casas, ruas e templos pejados de oferendas, com o cheiro a incenso penetrando narinas acima para tranquilizar o espírito.
Sim, Ubud é especial. Boa onda. Tranquilo.
Ao contrário de outros momentos que elegi como o melhor das (minhas) viagens, Ubud não se resume a um momento, a um episódio, a algo que tenha acontecido e me marcado profundamente. Ao invés, Ubud é um estado de alma, um lugar para estar, sentir, amar, viver.
Sim, julgo até que poderia viver em Ubud. E isso é provavelmente o maior elogio que eu posso fazer a um destino.
Seguro de viagem
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O melhor das (minhas) viagens
A Matinal desafiou-me a partilhar “o que há de melhor em viajar”, incentivando-me a recorrer ao baú de memórias para partilhar experiências marcantes vividas em viagem. Assim nasce esta série de artigos com alguns dos melhores momentos das viagens que tenho feito pelo mundo:
- De barco pelas águas tropicais de Bacuit, Filipinas
- Explosões de lava no vulcão Yasur em Tanna, Vanuatu
- A magia de Petra, Jordânia
- Safari no parque Etosha, Namíbia
- Viver e amar em Ubud, Bali
- Desova das tartarugas em Tortuguero, o milagre da vida na Costa Rica
- Explorando o parque Zion, EUA
- Viajar de autocaravana na Nova Zelândia
- Estocolmo: espelho meu, existe cidade na Europa mais bela do que eu?
- Despertar com os monges de Luang Prabang
- 4×4 no deserto de Gobi, Mongólia
Boas, gostava imenso de ir viver para Bali mas não tenho noção de quanto preciso mensalmente, podem-me ajudar?