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Belo Horizonte por quem lá vive: Ricardo Ferraz

Mirante Mangabeiras, Belo Horizonte
Vista do Mirante das Mangabeiras, um dos bairros mais “chiques” de Belo Horizonte

Depois de um longo intervalo estival, volto hoje a esta série que tanto aprecio, com testemunhos de portugueses a viver pelo mundo. Faço-o com uma incursão à brasileiríssima Belo Horizonte, capital de Minas Gerais – e onde eu estive há mais de 10 anos -, pela mão do Ricardo Ferraz.

O Ricardo tem 34 anos, é Gerente de Projetos Eólicos e está a viver em Belo Horizonte há 13 meses. Convidei-o a partilhar connosco a sua visão de Belo Horizonte (ou BH), marcada pela fantástica gastronomia mineira e, claro, pelos botecos que abundam na cidade.

É um olhar diferente e mais rico sobre Belo Horizonte – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da cidade, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. Este é o 12º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.

Conteúdos do Artigo

Em Belo Horizonte com o Ricardo Ferraz (entrevista)

Define Belo Horizonte numa palavra.

Uai, “não tem mar, vai pro bar”, !

Não é uma palavra, mas é uma frase que define BH na perfeição, representando a distância ao mar, que é substituída pela vida de boteco. Numa palavra, seria “boteco”!

Uai – Interjeição mineira utilizada no início ou no final das frases para exprimir espanto e/ou admiração. Equivale ao “Ué” no resto do Brasil.

– Interjeição mineira equivalente ao tão português ”pá”.

Belo Horizonte é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.

É uma cidade muito boa para viver. Quando vim para cá, já tinha uma ideia do “género” de cidade que ia encontrar, porque já a tinha visitado algumas vezes.

A expectativa principal era de uma cidade que gira à volta da sua fama de capital brasileira, e talvez mundial, dos botecos (equivalente a tasca). BH, como é conhecida Belo Horizonte, tem mais de 12.000 botecos, bares e restaurantes!

Quando cheguei, esperava uma cidade com uma grande gastronomia e com um povo acolhedor. Com o passar do tempo, confirmei todas as expectativas e entendi profundamente o “amor” que o mineiro tem pelo “Happy Hour”, pelo convívio de boteco, que substitui a falta de praia. Para ir à praia, o mineiro desloca-se de vez em quando para Vitória ou para o Rio de Janeiro no fim de semana.

E o que mais te marcou em Belo Horizonte?

Quatro pontos marcaram-me positivamente em BH. A gastronomia, as pessoas, o clima e a segurança.

A qualidade e diversidade da gastronomia que é, sem dúvida, a melhor do Brasil e tem algumas similaridades com a culinária portuguesa.

A forma acolhedora como os mineiros recebem os forasteiros. A única coisa estranha é que esse acolhimento é muito bom quando estão em grupos oriundos do mesmo meio profissional, mas não se estende tão facilmente aos círculos pessoais ou familiares, o que julgo dever-se às características do povo mineiro, que mistura um pouco as características de interior com as de cidade grande. Por vezes fica a sensação que é um povo extremamente sociável, mas depois entendes que precisa de te conhecer melhor para te acolher dentro do seu círculo privado.

O clima, em que a temperatura se mantém por volta dos 26-27 graus na maior parte do ano durante o dia, baixando para 20-21 à noite, o que o torna extremamente agradável. No inverno por vezes baixa um pouco para os 18-19 durante o dia e 10-11 de noite, que já proporciona a sensação do “friozinho gostoso” que os brasileiros tanto gostam de sentir. No verão chove muito e faz mais calor (33-34 graus), que é a parte menos agradável.

Para quem morou (e/ou visitou) noutros lugares do Brasil, a sensação de segurança em BH é extremamente reconfortante. Ao contrário da maior parte do país, em Belo Horizonte pode andar-se tranquilamente de vidros abertos e a pé na maior parte da cidade.

Aspeto negativo, só mesmo o trânsito, que é cada vez mais caótico, como em qualquer grande cidade brasileira. E a mania dos mineiros de não deixarem ninguém passar à sua frente no trânsito, de forma por vezes absurda! Aliás andar no trânsito aqui é quase como uma epidemia coletiva, que cada vez se alastra mais por toda a cidade.

Como caracterizas as pessoas de Belo Horizonte?

Bom, os “belohorizontinos” são pessoas felizes, que adoram aproveitar os milhares de bares que a cidade tem e conviver neles. Têm alguns “tiques” de interioridade misturados com os de grande cidade e são muito ligados às fazendas do interior (os “sítios”).

São completamente loucos por futebol e alimentam uma das maiores rivalidades do mundo – entre o Atlético Mineiro e o Cruzeiro. Principalmente no futebol, por vezes parece que, para eles, o mundo todo gira à volta de BH.

Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Belo Horizonte sem…”

…viver a intensidade de um Happy Hour num bom boteco.

E, se possível, participar no concurso Comida di Buteco, que acontece todos os anos em abril. Dezenas de botecos participam num concurso em que têm de confecionar um prato com um ou dois ingredientes obrigatórios e os clientes votam a seu gosto.

Vamos complicar a conversa e tentar fazer um roteiro de 3 dias em Belo Horizonte. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.

Dia 1 – Lagoa da Pampulha – passear na região da lagoa, alugar uma bicicleta se for fim de semana. Mirante das Mangabeiras, um dos bairros mais “chiques” da cidade, com grandes mansões e com um mirante (miradouro) com uma vista espetacular sobre Belo Horizonte. Almoçar no Boi Lourdes na Savassi. Ir à Torre do Alta Vila – no bairro do Belvedere, na zona alta de BH, a torre onde se encontra o Hard Rock Café de BH, com uma altura de 101 metros e um restaurante no topo, tem uma vista arrebatadora sobre toda a região metropolitana de BH. Jantar num boteco no bairro de Santo António ou do Carmo, dois bairros contíguos que têm os melhores botecos da cidade.

Dia 2 – Passar o dia no Inhotim – Instituto de Arte Contemporânea e Jardim Botânico, o museu que é muito mais que um museu, a 50 km de BH. Jantar num restaurante no bairro de Lourdes, que tem restaurantes de topo (por exemplo, o Vecchio Sogno).

Dia 3 – Parque Municipal, uma espécie de Central Park de BH. Se for domingo, aproveitar a feirinha de artesanato que fica ao lado. Mercado Central (almoçar por lá). Passear na Praça da Liberdade e visitar o Memorial Minas Gerais – Vale, com toda a história do estado e em Savassi (passear pelas ruas sem trânsito automóvel, com imensas lojas e bares). Jantar num boteco da Savassi.

Veja o que fazer em Belo Horizonte, as dicas da Camila Navarro.

De certeza que sabes alguns truques e dicas para se poupar dinheiro em Belo Horizonte. Conta-nos.

Comprar em mercados em vez de supermercados; comer nos botecos mais típicos em vez de restaurantes, fazer compras no bairro Barro Preto, onde se encontra tudo a preços muito baixos, comprar na feirinha de domingo.

Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar?

Falar de comida em BH é fácil e difícil ao mesmo tempo. Fácil porque há muitas opções de pratos; difícil porque é complicado resumir. Mas vamos lá, àqueles que fazem parte do coração da comida mineira:

Pão de Queijo, Queijo de Minas e Cachaça. Este triângulo é o ex-líbris da gastronomia mineira.

Pão de Queijo, Minas Gerais
Pão de Queijo, Minas Gerais

O Pão de Queijo é tão baum, mai tão baum, que até dá dó de vendê! O Queijo Canastra não se pode comercializar fora do estado de Minas Gerais quando oriundo de produção artesanal. E a cachaça mais famosa do mundo é daqui. Centenas de cachaças caseiras e algumas industriais alimentam a alma de qualquer mineiro. Imprescindível para quem quer fazer uma boa caipirinha.

Feijão tropeiro, uma mistura de feijão carioquinha com farofa, ovo e linguiça.

Torresmo, Linguiça e Mandioca Frita

Fígado acebolado, Frango com polenta, Angú, Ragú…

Os pratos típicos têm obrigatoriamente de ser acompanhados por uma qualquer cerveja, que por aqui só tem duas temperaturas, gelada e estupidamente gelada! Para que o turista não se surpreenda quando vier a BH (e em geral no Brasil), não estranhem que o garçon vá abrindo cervejas atrás de cervejas, mesmo que não sejam pedidas! E o estado de Minas Gerais produz dezenas de cervejas artesanais de grande qualidade.

Ah, e nunca se sai da mesa sem se pedir a “saideira” – a última cerveja -, que se bebe já depois da decisão de abandonar o boteco!

Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?

Botecos: Bar do Antônio, um dos mais famosos da cidade, onde tudo é bom! Café Cultura, muito bem localizado e sempre cheio. Adriano o Imperador da Cerveja, onde se pode comer uma deliciosa Costelinha de Porco ao Molho Barbecue, acompanhada de cerveja de trigo.

Viver em Belo Horizonte: Bar do Antonio
Bar do Antonio, o boteco de Belo Horizonte preferido do Ricardo

Restaurantes: Monjardim Costelaria e Botequim, onde podes comer uma maravilhosa costela bovina ao bafo com mandioca cozida com manteiga. Recomendo muito! Xapuri, na Lagoa da Pampulha, representa a comida tradicional num expoente mais sofisticado. Considerado o melhor da cidade na comida típica.

Mix Café/Restaurante: Café com Letras, na Savassi, é um lugar imperdível onde a música, os livros e a comida se misturam de forma perfeita.

Como é a movida em Belo Horizonte? O que sugeres a quem queira sair à noite?

Ao domingo é noite de ir ao Chalezinho ouvir música sertaneja e ver uma concentração anormal de mulheres bonitas! A minha noiva vai bater-me quando ler isto, mas esse “anormal” em BH é mesmo fora do normal.

Às quintas-feiras é noite do Alambique, também de sertanejo.

Para quem gosta de ambientes mais disco, a NaSala é o spot a visitar.

Para quem quer rock, o triângulo Circus Rock Bar, Lord Pub e Jack Bar são obrigatórios, com bandas ao vivo de quarta a domingo, de excelente qualidade!

Além disso, existe um monte de festas de alta qualidade nas redondezas de BH, é só estar atento. Tudo o que se passa em Belo Horizonte pode ser consultado nos sites GuiaBH e SouBH.

Escolhe um café e um museu.

A Livraria Mineiriana e o Inhotim. Na Livraria Mineiriana pode ler um livro e ao mesmo tempo desfrutar de um bom capuccino com sorvete. Existem outras boas na cidade, mas esta combina a qualidade com a boa localização, no bairro da Savassi.

Atualização: a Livraria Mineiriana encerrou permanentemente.

O Inhotim é muito mais que um museu. Quando estava a poucos dias de me mudar de Fortaleza para BH, o vice-cônsul de Portugal em Fortaleza disse-me o seguinte: “Vais mudar para BH? Tens lá um dos museus mais espetaculares do mundo, o Inhotim. Uma verdadeira experiência”.

É realmente, para muita gente, uma experiência renovadora, devido às suas “excêntricas” obras de arte contemporânea, que apelam a sentimentos interiores profundos, quer as compreendamos ou não. Maior ou menor apreciador de arte, ninguém consegue ficar indiferente a algumas das obras e às belezas naturais do enquadramento de todo o espaço do museu. Fica em Brumadinho, a 50 km de BH.

Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Belo Horizonte?

Sem dúvida, devem ficar na área dentro da Avenida do Contorno, especialmente na Savassi. Dá para andar a pé para muitos lugares e é perfeitamente seguro. Os hotéis são caros no Brasil e não há muito a cultura do hostel, mas encontram-se algumas opções mais baratas. Para grupos de até 4-6 pessoas, existem também os flats, uma espécie de aparthotel.

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Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Belo Horizonte?

Para roupa, no bairro da Savassi, encontram-se muitas lojas relativamente baratas e enquadradas num ambiente de ruas sem trânsito automóvel.

Para artesanato, bugigangas e comida típica, não perder a Feirinha de Artesanato, todos os domingos de manhã, na Avenida Afonso Pena. É a maior feira ao ar livre da América Latina.

Os principais shoppings são o BH Shopping, o Patio Savassi e o Diamond Mall, onde as coisas são mais caras, mas com toda a sofisticação de qualquer shopping de topo.

Last but not least”, o ex-libris comercial da cidade, o Mercado Central, onde se encontra tudo o que se queira comprar.

Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Belo Horizonte.

Por estranho que pareça, o supermercado gourmet VerdeMar é o lugar (na realidade a cadeia tem vários espalhados pela cidade) onde posso dizer que adoro ir em BH. No Brasil, é em geral difícil encontrar certos ingredientes, e o VerdeMar tem tudo e mais alguma coisa para quem gosta de experimentar todo o tipo de comida. Verdadeiramente gourmet!

Como eu adoro cozinhar, é o meu lugar de eleição. Já para não falar do pão que eles fazem. É o único lugar que me vai matando a saudade do pão português desde que saí de Portugal há 4 anos! Além de fazerem pizzas no forno, crepes, sushi e muito mais.

“Até mais, . Falouuu!”

Obrigado, Ricardo. Encontramo-nos numa próxima viagem a Belo Horizonte.

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.